quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Numero 255


Esta semana a noticia bomba não foi o caos do Rio de Janeiro, mas a divulgação de alguns dos 251.000 documentos até então secretos enviados por embaixadores norte-americanos e que caíram nas mãos de alguns jornais graças ao WikiLeaks.

Dois fieis leitores se apressaram a me enviar material que reproduzo a seguir.
Ontem tive oportunidade de ler um artigo no Observatório da Imprensa, em que o articulista deixa a entender a falta de relevância desses documentos. Chega a dizer mesmo que se trata de fofocas. Discordo.
O que se pode ver neles é a proverbial arrogância de políticos, embaixadores e autoridades norte-americanas, que classificam os líderes mundiais de forma depreciativa.
Um embaixador norte-americano que afirma ser a primeira-ministra alemã uma pessoa que não é capaz de formular um pensamento não está fazendo fofoca. Está emitindo um parecer arrogante a respeito da mais alta autoridade política alemã. E é um parecer OFICIAL, caso contrário, se fosse uma FOFOCA, ele seria publicado pelas revistas Contigo, Caras e outras do mesmo naipe. Não ficaria catalogado entre documentos secretos.
O caos do Rio, fora da ótica triunfalista da mídia, pode ser lido aqui também, num artigo da mais alta importância, porque desnuda problemas que não serão resolvidos pela ocupação, e que, evidentemente, são problemas que não aparecem no horário nobre...
Outros assuntos relevantes estão nos artigos escrito pelo jornalista José de Castro e pelos dirigentes do Conselho Nacional de Educação. O primeiro versa sobre as chuvas que caíram em Belo Horizonte na semana passada e o segundo aborda a questão levantada por um parecer a respeito de uma das obras de Monteiro Lobato.
Temos também um informe precioso para os professores: a possibilidade de baixarem filmes africanos, asiáticos e latino-americanos. E um novo livro sobre a História de Belo Horizonte, próprio para alunos do nível fundamental.
Vejam tudo isso e mais alguma coisa no boletim de hoje.
Bom proveito!



Enviado por Leila Brito e Guilherme Souto:

Vazamento de mensagens causa crise diplomática global
US embassy cables leak sparks global diplomatic crisis
28/11/2010, do jornal britânico Guardian
Tradução do coletivo da Vila Vudu, com colaboração do Viomundo

Os EUA foram lançados em uma crise diplomática mundial com o vazamento, para o jornal britânico Guardian e outros veículos internacionais, de mais de 250 mil telegramas secretos de embaixadas dos EUA, alguns dos quais enviados em fevereiro de 2010.
Na prim
eira matéria de uma série sobre telegramas diplomáticos diários enviados pelas embaixadas dos EUA e classificados como “secretos” o Guardian já pode informar que líderes árabes têm pressionado privadamente em defesa de ataque aéreo contra o Irã e que funcionários de embaixadas dos EUA receberam instruções para espionar líderes da ONU.
Essas duas primeiras revelações já reverberam em todo o mundo. Mas os telegramas secretos aos quais WikiLeaks teve acesso também revelam avaliações feitas por Washington sobre várias outras questões internacionais altamente sensíveis.
Entre os telegramas vazados há notícias de importante alteração nas relações entre China e República Popular Democrática da Coreia, sobre a crescente instabilidade no Paquistão e detalhes dos esforços clandestinos dos EUA para combater a al-Qaeda no Iêmen.
Dentre centenas de outras revelações que causarão furor em todo o mundo, os telegramas detalham:
• Grave temor em Washington e Londres sobre a segurança do programa nuclear do Paquistão, com autoridades alertando que enquanto o país corre o risco de colapso econômico, funcionários públicos poderiam contrabandear material nuclear suficiente para terroristas construirem a bomba;
• Suspeitas de corrupção no governo afegão, com um telegrama alegando que o vice-presidente Zia Massoud estava carregando 52 milhões de dólares em dinheiro quando foi parado durante uma visita ao Emirados Árabes Unidos. Massoud nega que tenha tirado dinheiro do Afeganistão.
• Como os ataques de hacker que forçaram o Google a abandonar a China em janeiro foram orquestrados por um membro importante do Politburo, que deu uma busca com seu nome na versão global do buscador e encontrou artigos que o criticavam pessoalmente.
• A extraordinariamente próxima relação entre Vladimir Putin, o primeiro-ministro russo, e Silvio Berlusconi, o primeiro-ministro italiano, que está causando intensa suspeição nos Estados Unidos. Os telegramas detalham de supostos “presente suntuosos” a contratos lucrativos no setor de energia e o uso, por Berlusconi, de um sombrio italiano que fala russo como intermediário.
•  Alegações de que a Rússia e seus serviços de inteligência estão usando chefes da máfia para praticar operações criminosas, com um telegrama falando que a relação é tão próxima que o país se tornou “um virtual estado mafioso”.
• Críticas devastadoras das operações militares britânicas no Afeganistão por comandantes militares dos Estados Unidos, pelo presidente afegão e por autoridades locais de Helmand. Os despachos revelar desprezo particular pelo fracasso de dar segurança a Sangin — a cidade que custou mais baixas britânicas que qualquer outra no país.
• Declarações impróprias de um integrante da família real britânica sobre uma agência de segurança do Reino Unido em um país estrangeiro.
Os EUA têm contatos particularmente íntimos com a Grã-Bretanha e alguns dos telegramas saídos da embaixada de Londres em Grosvenor Square serão lidos com extremo desconforto em Whitehall e Westminster. Incluem desde sérias críticas políticas contra David Cameron até pedido para que a embaixada fornecesse informações especiais de inteligência sobre membros do Parlamento britânico.
O arquivo de telegramas inclui denúncias específicas de corrupção contra líderes estrangeiros, e duras críticas, feitas pelo pessoal diplomático de embaixadas dos EUA, aos governantes de países onde estão instaladas, desde pequenas ilhas do Caribe até a China e a Rússia.
O material inclui uma referência a Vladimir Putin como “um cão alfa”, a Hamid Karzai como doido, “homem de reações paranóicas” e a Angela Merkel, da qual os norte-americanos dizem que “evita riscos e raramente tem alguma ideia criativa”. E há telegrama em que Mahmoud Ahmadinejad é comparado a Adolf Hitler.
Os telegramas incluem nomes de países envolvidos no financiamento de terroristas e descreve “quase desastre ambiental” há cerca de um ano, com uma carga de urânio enriquecido de um “estado bandido” [ing. “rogue state”]. Há telegramas em que se expõem detalhadamente negociações secretas entre EUA e Rússia sobre um míssil nuclear em Genebra; há também um perfil do líder líbio Muammar Gaddafi, o qual, segundo diplomata dos EUA, andaria por toda parte acompanhado de uma “voluptuosa loira” enfermeira ucraniana.
Os telegramas cobrem as atividades da secretária de Estado Hillary Clinton no governo Obama, e há milhares de arquivos do governo de George Bush. A secretária Clinton comandou pessoalmente essa semana uma tentativa frenética de limitação de danos em Washington, preparando governos estrangeiros para as revelações. Contatou líderes na Alemanha, Arábia Saudita, no Golfo, na França e no Afeganistão.
Embaixadores dos EUA em outras capitais foram instruídos a informar antecipadamente seus respectivos hospedeiros sobre os vazamentos e sobre relatos pouco lisonjeiros ou relatórios cruamente francos de transações entre eles e os EUA, que foram escritos para serem mantidos sob eterno sigilo. Washington enfrenta agora a difícil tarefa de convencer contatos em todo o mundo de que, no futuro, alguma conversação será mantida sob regras confiáveis de sigilo.
“Estamos nos preparando para o que vier e condenamos WikiLeaks pela divulgação de material secreto”, disse o porta-voz do departamento de Estado PJ Crowley. “Porão sob ameaça vidas e interesses. É atitude irresponsável”.
O conselheiro jurídico do Departamento de Estado escreveu ao fundador de Wikileaks Julian Assange e a seu advogado londrino, advertindo que os telegramas foram obtidos por meios ilegais e que a divulgação geraria risco a vida de incontáveis inocentes (…) a operações militares em andamento (…) e à cooperação entre países”.
O arquivo eletrônico contendo os telegramas diplomáticos de embaixadas dos EUA em todo o mundo, ao que se sabe, foi recolhido por um soldado norte-americano no início do ano e entregue a WikiLeaks. Assange repassou o arquivo ao jornal britânico Guardian e a quatro outros jornais: o New York Times, Der Spiegel na Alemanha, Le Monde na França e El País na Espanha. Os cinco jornais planejam publicar excertos dos telegramas mais significativos, mas decidiram nem divulgar o arquivo completo nem publicar nomes que ponham em risco a vida de indivíduos inocentes. WikiLeaks diz que, ao contrário do que teme o departamento de Estado, também planeja divulgar só alguns excertos de telegramas e encobrir as identidades.
Os telegramas divulgados hoje revelam como os EUA usam suas embaixadas como parte de uma rede global de espionagem, com diplomatas encarregados de arrancar não só informações dos seus contatos, mas também detalhes pessoais, como números e detalhes de cartões de créditos, de telefones e, até, material para exames de DNA.
Instruções secretas sobre “inteligência humana” assinadas por Hillary Clinton ou sua antecessora, Condoleeza Rice, instruem os funcionários a reunir informações sobre instalações militares, detalhes de armas e veículos de líderes políticos, além de scans de íris, impressões digitais e DNA.
Os mais controversos alvos dessas ações são os líderes da ONU. Essa específica instrução exigia especificação de “sistemas de telecomunicações e de tecnologia de inteligência usados pelos mais altos funcionários da ONU e respectivas equipes e detalhes das redes VIP privadas usadas para comunicação oficial, incluindo upgrades, medidas de segurança, senhas e chaves pessoais de decodificação”.
Quando o Guardian informou Crowley sobre o conteúdo dos telegramas específicos, o porta-voz do departamento de Estado disse: “Permita-me garantir a você: nossos diplomatas são apenas isso, diplomatas. Não se envolvem em atividades de inteligência. Representam nosso país em todo o mundo, mantêm contatos abertos e transparentes com outros governos e com figuras do mundo privado e reportam ao nosso governo. É o trabalho dos diplomatas há centenas de anos.”
Os telegramas também lançam luz sobre questões diplomáticas mais antigas. Um telegrama, por exemplo, revela que Nelson Mandela ficou “furioso” quando um alto conselheiro impediu que ele se encontrasse com Margaret Thatcher para explicar por que o Conselho Nacional Africano tinha objeções à política britânica de “engajamento construtivo” com o regime do apartheid.
“Entendemos que Mandela desejasse muito encontrar-se com Thatcher, mas [o secretário Zwelakhe] Sisulu argumentou persuasivamente contra o encontro”, segundo o telegrama. E continua: “Mandela já várias vezes dissera o quanto desejava encontrar-se com Thatcher para manifestar as objeções co CNA à política britânica. Surpreendeu-nos portanto que o encontro não tenha acontecido em sua visita a Londres em meados de abril e desconfiamos que os linhas-duras do CNA intrometeram-se nos planos de Mandela”.
Os telegramas diplomáticos dos EUA levam a marca “Sipdis” – secret internet protocol distribution. Foram compilados como parte de um programa que seleciona telegramas considerados moderadamente secretos, mas que podem ser partilhados com outras agências e os descarrega automaticamente nos websites protegidos das embaixadas, e linkados com o sistema de internet Siprnet militar.
São classificados em vários níveis, até “SECRET NOFORN” [ing. no foreigners, “proibidos para estrangeiros”]. Mais de 11 mil telegramas são marcados como “secretos e cerca de 9,000 são “noforn”. As embaixadas de origem da maioria dos telegramas são Ancara, Bagdá, Amã, Kuwait e Tóquio.
Mais de 3 milhões de funcionários e soldados norte-americanos, muitos deles extremamente jovens, têm credencial que lhes dá possibilidade de acesso a esse material, apesar de os telegramas conterem nomes e identificação de informantes estrangeiros e contatos considerados sensíveis em regimes ditatoriais. Alguns dos telegramas são identificados como “protegido” ou “estritamente protegido”.
Na primavera passada, um analista de inteligência de 22 anos, Bradley Manning, foi acusado de ter vazado muitos desses telegramas, junto com um vídeo em que se via a tripulação de um helicóptero Apache matando dois repórteres da agência Reuters em Bagdá, em 2007; material que, depois, foi distribuído por WikiLeaks. Manning está preso e é provável que seja julgado por uma corte marcial. (…)
Um ex-hacker, Adrian Lamo, que denunciou Manning às autoridades norte-americanas, disse que o soldado lhe dissera, em mensagens por chat, que os telegramas diplomáticos mostravam “como o primeiro mundo explora o terceiro, em detalhes”.
Disse também, segundo Lamo, que Clinton “e vários milhares de diplomatas em todo o mundo vão ter um ataque do coração quando acordarem, um belo dia, e descobrirem que todo o arquivo de toda a política externa está acessível ao grande público, em formato que permite pesquisas” (…) “onde quer que haja um posto norte-norteamericano, ali há um escândalo diplomático que será revelado”.
Perguntado sobre por que material tão sensível circulava em rede acessível a milhares de funcionários do governo, o porta-voz do departamento de Estado disse ao Guardian: “Os ataques de 11/9 e o período imediatamente posterior revelaram falhas no sistema de distribuição de informações dentro do governo. Desde os ataquea de 11/9, o governo dos EUA tomou medidas para facilitar significativamente a partilha de informações. Esses esforços visaram a oferecer aos especialistas da diplomacia, aos militares e aos agentes de inteligência e da justiça acesso mais rápido e mais fácil a mais dados, para que pudessem fazer seu trabalho com mais eficácia”.
E acrescentou: “Temos tomado medidas agressivas nas últimas semanas e meses para aumentar a segurança de nossos sistemas e para evitar vazamento de informações”.



A crise no Rio e o pastiche midiático
LUIZ EDUARDO SOARES


Sempre mantive com jornalistas uma relação de respeito e cooperação. Em alguns casos, o contato profissional evoluiu para amizade. Quando as divergências são muitas e profundas, procuro compreender e buscar bases de um consenso mínimo, para que o diálogo não se inviabilize. Faço-o por ética –supondo que ninguém seja dono da verdade, muito menos eu--, na esperança de que o mesmo procedimento seja adotado pelo interlocutor. Além disso, me esforço por atender aos que me procuram, porque sei que atuam sob pressão, exaustivamente, premidos pelo tempo e por pautas urgentes. A pressa se intensifica nas crises, por motivos óbvios. Costumo dizer que só nós, da segurança pública (em meu caso, quando ocupava posições na área da gestão pública da segurança), os médicos e o pessoal da Defesa Civil, trabalhamos tanto –ou sob tanta pressão-- quanto os jornalistas.
Digo isso para explicar por que, na crise atual, tenho recusado convites para falar e colaborar com a mídia:
(1) Recebi muitos telefonemas, recados e mensagens. As chamadas são contínuas, a tal ponto que não me restou alternativa a desligar o celular. Ao todo, nesses dias, foram mais de cem pedidos de entrevistas ou declarações. Nem que eu contasse com uma equipe de secretários, teria como responder a todos e muito menos como atendê-los. Por isso, aproveito a oportunidade para desculpar-me. Creiam, não se trata de descortesia ou desapreço pelos repórteres, produtores ou entrevistadores que me procuraram.
(2) Além disso, não tenho informações de bastidor que mereçam divulgação. Por outro lado, não faria sentido jogar pelo ralo a credibilidade que construí ao longo da vida. E isso poderia acontecer se eu aceitasse aparecer na TV, no rádio ou nos jornais, glosando os discursos oficiais que estão sendo difundidos, declamando platitudes, reproduzindo o senso comum pleno de preconceitos, ou divagando em torno de especulações. A situação é muito grave e não admite leviandades. Portanto, só faria sentido falar se fosse para contribuir de modo eficaz para o entendimento mais amplo e profundo da realidade que vivemos. Como fazê-lo em alguns parcos minutos, entrecortados por intervenções de locutores e debatedores? Como fazê-lo no contexto em que todo pensamento analítico é editado, truncado, espremido –em uma palavra, banido--, para que reinem, incontrastáveis, a exaltação passional das emergências, as imagens espetaculares, os dramas individuais e a retórica paradoxalmente triunfalista do discurso oficial?
(3) Por fim, não posso mais compactuar com o ciclo sempre repetido na mídia: atenção à segurança nas crises agudas e nenhum investimento reflexivo e informativo realmente denso e consistente, na entressafra, isto é, nos intervalos entre as crises. Na crise, as perguntas recorrentes são: (a) O que fazer, já, imediatamente, para sustar a explosão de violência? (b) O que a polícia deveria fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas? (c) Por que o governo não chama o Exército? (d) A imagem internacional do Rio foi maculada? (e) Conseguiremos realizar com êxito a Copa e as Olimpíadas?
Ao longo dos últimos 25 anos, pelo menos, me tornei “as aspas” que ajudaram a legitimar inúmeras reportagens. No tópico, “especialistas”, lá estava eu, tentando, com alguns colegas, furar o bloqueio à afirmação de uma perspectiva um pouquinho menos trivial e imediatista. Muitas dessas reportagens, por sua excelente qualidade, prescindiriam de minhas aspas –nesses casos, reduzi-me a recurso ocioso, mera formalidade das regras jornalísticas. Outras, nem com todas as aspas do mundo se sustentariam. Pois bem, acho que já fui ou proporcionei aspas o suficiente. Esse código jornalístico, com as exceções de praxe, não funciona, quando o tema tratado é complexo, pouco conhecido e, por sua natureza, rebelde ao modelo de explicação corrente. Modelo que não nasceu na mídia, mas que orienta as visões aí predominantes. Particularmente, não gostaria de continuar a ser cúmplice involuntário de sua contínua reprodução.
Eis por que as perguntas mencionadas são expressivas do pobre modelo explicativo corrente e por que devem ser consideradas obstáculos ao conhecimento e réplicas de hábitos mentais refratários às mudanças inadiáveis. Respondo sem a elegância que a presença de um entrevistador exigiria. Serei, por assim dizer, curto e grosso, aproveitando-me do expediente discursivo aqui adotado, em que sou eu mesmo o formulador das questões a desconstruir. Eis as respostas, na sequência das perguntas, que repito para facilitar a leitura:
(a) O que fazer, já, imediatamente, para sustar a violência e resolver o desafio da insegurança?
Nada que se possa fazer já, imediatamente, resolverá a insegurança. Quando se está na crise, usam-se os instrumentos disponíveis e os procedimentos conhecidos para conter os sintomas e salvar o paciente. Se desejamos, de fato, resolver algum problema grave, não é possível continuar a tratar o paciente apenas quando ele já está na UTI, tomado por uma enfermidade letal, apresentando um quadro agudo. Nessa hora, parte-se para medidas extremas, de desespero, mobilizando-se o canivete e o açougueiro, sem anestesia e assepsia. Nessa hora, o cardiologista abre o tórax do moribundo na maca, no corredor. Não há como construir um novo hospital, decente, eficiente, nem para formar especialistas, nem para prevenir epidemias, nem para adotar procedimentos que evitem o agravamento da patologia. Por isso, o primeiro passo para evitar que a situação se repita é trocar a pergunta. O foco capaz de ajudar a mudar a realidade é aquele apontado por outra pergunta: o que fazer para aperfeiçoar a segurança pública, no Rio e no Brasil, evitando a violência de todos os dias, assim como sua intensificação, expressa nas sucessivas crises?
Se o entrevistador imaginário interpelar o respondente, afirmando que a sociedade exige uma resposta imediata, precisa de uma ação emergencial e não aceita nenhuma abordagem que não produza efeitos práticos imediatos, a melhor resposta seria: caro amigo, sua atitude representa, exatamente, a postura que tem impedido avanços consistentes na segurança pública. Se a sociedade, a mídia e os governos continuarem se recusando a pensar e abordar o problema em profundidade e extensão, como um fenômeno multidimensional a requerer enfrentamento sistêmico, ou seja, se prosseguirmos nos recusando, enquanto Nação, a tratar do problema na perspectiva do médio e do longo prazos, nos condenaremos às crises, cada vez mais dramáticas, para as quais não há soluções mágicas.
A melhor resposta à emergência é começar a se movimentar na direção da reconstrução das condições geradoras da situação emergencial. Quanto ao imediato, não há espaço para nada senão o disponível, acessível, conhecido, que se aplica com maior ou menor destreza, reduzindo-se danos e prolongando-se a vida em risco.
A pergunta é obtusa e obscurantista, cúmplice da ignorância e da apatia.
(b) O que as polícias fluminenses deveriam fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas?
Em primeiro lugar, deveriam parar de traficar e de associar-se aos traficantes, nos “arregos” celebrados por suas bandas podres, à luz do dia, diante de todos. Deveriam parar de negociar armas com traficantes, o que as bandas podres fazem, sistematicamente. Deveriam também parar de reproduzir o pior do tráfico, dominando, sob a forma de máfias ou milícias, territórios e populações pela força das armas, visando rendimentos criminosos obtidos por meios cruéis.
Ou seja, a polaridade referida na pergunta (polícias versus tráfico) esconde o verdadeiro problema: não existe a polaridade. Construí-la –isto é, separar bandido e polícia; distinguir crime e polícia-- teria de ser a meta mais importante e urgente de qualquer política de segurança digna desse nome. Não há nenhuma modalidade importante de ação criminal no Rio de que segmentos policiais corruptos estejam ausentes. E só por isso que ainda existe tráfico armado, assim como as milícias.
Não digo isso para ofender os policiais ou as instituições. Não generalizo. Pelo contrário, sei que há dezenas de milhares de policiais honrados e honestos, que arriscam, estóica e heroicamente, suas vidas por salários indignos. Considero-os as primeiras vítimas da degradação institucional em curso, porque os envergonha, os humilha, os ameaça e acua o convívio inevitável com milhares de colegas corrompidos, envolvidos na criminalidade, sócios ou mesmo empreendedores do crime.
Não nos iludamos: o tráfico, no modelo que se firmou no Rio, é uma realidade em franco declínio e tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidade econômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociais predominantes, em nosso horizonte histórico. Incapaz, inclusive, de competir com as milícias, cuja competência está na disposição de não se prender, exclusivamente, a um único nicho de mercado, comercializando apenas drogas –mas as incluindo em sua carteira de negócios, quando conveniente. O modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, pesado, anti-econômico: custa muito caro manter um exército, recrutar neófitos, armá-los (nada disso é necessário às milícias, posto que seus membros são policiais), mantê-los unidos e disciplinados, enfrentando revezes de todo tipo e ataques por todos os lados, vendo-se forçados a dividir ganhos com a banda podre da polícia (que atua nas milícias) e, eventualmente, com os líderes e aliados da facção. É excessivamente custoso impor-se sobre um território e uma população, sobretudo na medida que os jovens mais vulneráveis ao recrutamento comecem a vislumbrar e encontrar alternativas. Não só o velho modelo é caro, como pode ser substituído com vantagens por outro muito mais rentável e menos arriscado, adotado nos países democráticos mais avançados: a venda por delivery ou em dinâmica varejista nômade, clandestina, discreta, desarmada e pacífica. Em outras palavras, é melhor, mais fácil e lucrativo praticar o negócio das drogas ilícitas como se fosse contrabando ou pirataria do que fazer a guerra. Convenhamos, também é muito menos danoso para a sociedade, por óbvio.
(c) O Exército deveria participar?
Fazendo o trabalho policial, não, pois não existe para isso, não é treinado para isso, nem está equipado para isso. Mas deve, sim, participar. A começar cumprindo sua função de controlar os fluxos das armas no país. Isso resolveria o maior dos problemas: as armas ilegais passando, tranquilamente, de mão em mão, com as benções, a mediação e o estímulo da banda podre das polícias.
E não só o Exército. Também a Marinha, formando uma Guarda Costeira com foco no controle de armas transportadas como cargas clandestinas ou despejadas na baía e nos portos. Assim como a Aeronáutica, identificando e destruindo pistas de pouso clandestinas, controlando o espaço aéreo e apoiando a PF na fiscalização das cargas nos aeroportos.
(d) A imagem internacional do Rio foi maculada?
Claro. Mais uma vez.
(e) Conseguiremos realizar com êxito a Copa e as Olimpíadas?
Sem dúvida. Somos ótimos em eventos. Nesses momentos, aparece dinheiro, surge o “espírito cooperativo”, ações racionais e planejadas impõem-se. Nosso calcanhar de Aquiles é a rotina. Copa e Olimpíadas serão um sucesso. O problema é o dia a dia.
Palavras Finais
Traficantes se rebelam e a cidade vai à lona. Encena-se um drama sangrento, mas ultrapassado. O canto de cisne do tráfico era esperado. Haverá outros momentos análogos, no futuro, mas a tendência declinante é inarredável. E não porque existem as UPPs, mas porque correspondem a um modelo insustentável, economicamente, assim como social e politicamente. As UPPs, vale dizer mais uma vez, são um ótimo programa, que reedita com mais apoio político e fôlego administrativo o programa “Mutirões pela Paz”, que implantei com uma equipe em 1999, e que acabou soterrado pela política com “p” minúsculo, quando fui exonerado, em 2000, ainda que tenha sido ressuscitado, graças à liderança e à competência raras do ten.cel. Carballo Blanco, com o título GPAE, como reação à derrocada que se seguiu à minha saída do governo. A despeito de suas virtudes, valorizadas pela presença de Ricardo Henriques na secretaria estadual de assistência social --um dos melhores gestores do país--, elas não terão futuro se as polícias não forem profundamente transformadas. Afinal, para tornarem-se política pública terão de incluir duas qualidades indispensáveis: escala e sustentatibilidade, ou seja, terão de ser assumidas, na esfera da segurança, pela PM. Contudo, entregar as UPPs à condução da PM seria condená-las à liquidação, dada a degradação institucional já referida.
O tráfico que ora perde poder e capacidade de reprodução só se impôs, no Rio, no modelo territorializado e sedentário em que se estabeleceu, porque sempre contou com a sociedade da polícia, vale reiterar. Quando o tráfico de drogas no modelo territorializado atinge seu ponto histórico de inflexão e começa, gradualmente, a bater em retirada, seus sócios –as bandas podres das polícias-- prosseguem fortes, firmes, empreendedores, politicamente ambiciosos, economicamente vorazes, prontos a fixar as bandeiras milicianas de sua hegemonia.
Discutindo a crise, a mídia reproduz o mito da polaridade polícia versus tráfico, perdendo o foco, ignorando o decisivo: como, quem, em que termos e por que meios se fará a reforma radical das polícias, no Rio, para que estas deixem de ser incubadoras de milícias, máfias, tráfico de armas e drogas, crime violento, brutalidade, corrupção? Como se refundarão as instituições policiais para que os bons profissionais sejam, afinal, valorizados e qualificados? Como serão transformadas as polícias, para que deixem de ser reativas, ingovernáveis, ineficientes na prevenção e na investigação?
As polícias são instituições absolutamente fundamentais para o Estado democrático de direito. Cumpre-lhes garantir, na prática, os direitos e as liberdades estipulados na Constituição. Sobretudo, cumpre-lhes proteger a vida e a estabilidade das expectativas positivas relativamente à sociabilidade cooperativa e à vigência da legalidade e da justiça. A despeito de sua importância, essas instituições não foram alcançadas em profundidade pelo processo de transição democrática, nem se modernizaram, adaptando-se às exigências da complexa sociedade brasileira contemporânea. O modelo policial foi herdado da ditadura. Ele servia à defesa do Estado autoritário e era funcional ao contexto marcado pelo arbítrio. Não serve à defesa da cidadania. A estrutura organizacional de ambas as polícias impede a gestão racional e a integração, tornando o controle impraticável e a avaliação, seguida por um monitoramento corretivo, inviável. Ineptas para identificar erros, as polícias condenam-se a repeti-los. Elas são rígidas onde teriam de ser plásticas, flexíveis e descentralizadas; e são frouxas e anárquicas, onde deveriam ser rigorosas. Cada uma delas, a PM e a Polícia Civil, são duas instituições: oficiais e não-oficiais; delegados e não-delegados.
E nesse quadro, a PEC-300 é varrida do mapa no Congresso pelos governadores, que pagam aos policiais salários insuficientes, empurrando-os ao segundo emprego na segurança privada informal e ilegal.
Uma das fontes da degradação institucional das polícias é o que denomino "gato orçamentário", esse casamento perverso entre o Estado e a ilegalidade: para evitar o colapso do orçamento público na área de segurança, as autoridades toleram o bico dos policiais em segurança privada. Ao fazê-lo, deixam de fiscalizar dinâmicas benignas (em termos, pois sempre há graves problemas daí decorrentes), nas quais policiais honestos apenas buscam sobreviver dignamente, apesar da ilegalidade de seu segundo emprego, mas também dinâmicas malignas: aquelas em que policiais corruptos provocam a insegurança para vender segurança; unem-se como pistoleiros a soldo em grupos de extermínio; e, no limite, organizam-se como máfias ou milícias, dominando pelo terror populações e territórios. Ou se resolve esse gargalo (pagando o suficiente e fiscalizando a segurança privada /banindo a informal e ilegal; ou legalizando e disciplinando, e fiscalizando o bico), ou não faz sentido buscar aprimorar as polícias.
O Jornal Nacional, nesta quinta, 25 de novembro, definiu o caos no Rio de Janeiro, salpicado de cenas de guerra e morte, pânico e desespero, como um dia histórico de vitória: o dia em que as polícias ocuparam a Vila Cruzeiro. Ou eu sofri um súbito apagão mental e me tornei um idiota contumaz e incorrigível ou os editores do JN sentiram-se autorizados a tratar milhões de telespectadores como contumazes e incorrigíveis idiotas.
Ou se começa a falar sério e levar a sério a tragédia da insegurança pública no Brasil, ou será pelo menos mais digno furtar-se a fazer coro à farsa.


À espera do dilúvio final
José de Souza Castro

A desculpa é a mesma dos outros anos: choveu mais do que o esperado. Mais dois anos, e o prefeito Márcio Lacerda (PSB), poderá anunciar um número redondo: foi a maior chuva dos últimos 100 anos. Hoje, em entrevista de mais de 11 minutos no MGTV 1ª Edição da TV Globo, ele foi mais modesto: “Chuva como esta não dava em Belo Horizonte há 98 anos”.

No começo da madrugada de terça-feira, boa parte dos 2,45 milhões de moradores da capital mineira dormiam tranquilamente e muitos puderam continuar assim, sem perceber o drama de centenas de pessoas retiradas de suas casas pelo dilúvio. Como registrou horas depois o Portal O Tempo: “Segundo o Centro de Climatologia TempoClima/PUC Minas, em apenas oito horas choveram 145 mm em Belo Horizonte, volume que corresponde a mais de 50% do esperado para todo o mês na capital. De acordo com os bombeiros, até o final desta manhã foram registrados 22 chamados por risco de desabamento, 74 por inundação e 42 solicitações por queda de árvores. Foi a maior chuva na capital desde 1912.”

José Saramago, o genial autor de “Caim”, poderia ter escrito: “Ao princípio pareceu não se notar a diferença do efeito das cataratas que continuamente se despenhavam do céu com um rugido ensurdecedor”. Os efeitos... Vamos ao que escreveu no dia seguinte, quarta-feira, o jornal “Estado de Minas”:

“Falha de avaliação do risco da chuva pode ter sido uma das causas dos transtornos para moradores de três regiões da capital. Embora soubesse da possibilidade de um temporal, a Prefeitura de Belo Horizonte teria decidido não causar pânico à população e nada comunicou aos moradores até o começo da chuva. Segundo meteorologistas, a PBH foi informada na manhã de segunda-feira sobre a previsão de uma tempestade.”

Pois é, quando Deus enviou o dilúvio para apagar os pecados do mundo antigo, ele também só avisou a Noé, a tempo de ele construir a barca. Não avisou a todos os que seriam atingidos, para não causar pânico, certamente. Márcio Lacerda e sua laboriosa equipe aprenderam bem com Deus.

Mas, se não é para avisar, para não criar pânico, por que hoje, na sua amável entrevista à Globo – amável, porque os dois entrevistadores foram muito gentis nessa hora de grande tristeza do nosso alcaide – Márcio Lacerda informou que a prefeitura importou equipamentos de radares meteorológicos, que estão à espera do desembaraço na alfândega, para construir 42 pontos de coletas de dados às margens dos córregos? Eles vão indicar a ocorrência de temporais e “a gente pode avisar com alguma antecedência”, disse o prefeito. Ah, bom...

Márcio Lacerda parece que já tem solução para as enchentes, ao contrário do que ele deixou transparecer em abril último, quando disse que a solução para a greve dos professores municipais era a polícia (não foi preciso, a greve terminou depois de 27 dias, com um reajuste salarial de 4,11% e muitas promessas de melhorias futuras).

O que não faltou na entrevista de hoje foram promessas. Prometeu decretar nos próximos dias Estado de Calamidade Pública numa área, a ser delimitada ainda, atingida pelas enchentes de terça-feira, para ajudar financeiramente os desabrigados e os que sofreram prejuízos. (Disse que no ano passado a prefeitura gastou cerca de R$ 3 milhões para ajudar os que sofreram com as chuvas no Barreiro e “vamos fazer a mesma coisa”.) Prometeu que os radares meteorológicos estarão instalados e funcionando até 2011. Prometeu que o governador Anastasia vai ajudar técnica e financeiramente com as obras de contenção de enchentes. Que serão concluídas as obras em andamento do PAC, que representam gastos municipais, estaduais e federais de R$400 milhões. Que existem mais R$ 400 milhões de recursos assegurados para outras obras que o prefeito prometeu licitar no primeiro semestre de 2011. Que em dois ou três anos serão retiradas as últimas 4 mil famílias (eram 14 mil há oito anos, segundo Lacerda) moradoras em encostas que podem desabar com as chuvas e que todas terão casa-própria construída pelo governo. Que, que, que... Ou, como diria Shakespeare: Palavras, palavras, palavras.

Cético, eu? É que ainda me lembro de começo dos anos 80, quando o então prefeito Hélio Garcia tomou empréstimos internacionais de 20 milhões de dólares para resolver definitivamente o problema da poluição da Pampulha...

O atual prefeito diz que 400 milhões de reais estão sendo gastos, 400 milhões estão assegurados, mais 300 milhões de Contagem também ajudarão a conter as enchentes na capital, mas que esses 1,100 bilhão serão insuficientes.

De fato, não haverá bueiro suficiente para escoar tanto dinheiro público, que, na área de saneamento, tem o mau hábito de se esvair também pelos bolsos dos políticos e dos empreiteiros.

Mas eu nem sei se haverá dinheiro, pois o próprio prefeito reconhece que está fazendo mesuras com o chapéu alheio. Pois prometeu na entrevista resolver problemas em três anos, mas avisou: se ele fosse gastar apenas recursos da Prefeitura, seriam necessários pelo menos 10 anos. Espero que tenha combinado com os russos.

Enquanto isso, Márcio Garcia – ops! Lacerda – poderia tomar pelo menos uma medida efetiva. Mandar suspender imediatamente aquela campanha publicitária que faz a alegria do Departamento Comercial da TV Globo, por exemplo, dizendo como é bom viver em Belo Horizonte. Talvez assim deixasse de atrair, para a capital, multidões de desesperançados do interior do Estado em busca da nova Canaã e que acabam agravando o problema das encostas e das áreas sujeitas às inundações.


Enviado por Laura Nogueira

Publicado na Folha de São Paulo de 25 de novembro

A questão étnico-racial na educação do país
ANTONIO CARLOS C. RONCA, FRANCISCO APARECIDO CORDÃO e NILMA GOMES

O Conselho Nacional de Educação (CNE) tem função normativa e é sua atribuição, como órgão de Estado, pronunciar-se sobre temas relativos à educação nacional. A questão étnico-racial é um desses temas.
Recentemente, a Câmara de Educação Básica (CEB) aprovou, por unanimidade, o parecer CNE/CEB nº 15/2010, com orientações quanto às políticas públicas para uma educação antirracista, no qual faz referência ao livro "Caçadas de Pedrinho", de Monteiro Lobato.
O referido parecer foi elaborado a partir de denúncia recebida, e no seu posicionamento apresenta ações e recomendações; dentre estas, reafirma os critérios anteriormente definidos pelo MEC para análise de obras literárias a serem adotadas no Programa Nacional Bibl ioteca da Escola (PNBE).
Em nenhum momento a CEB cogitou a hipótese de impor veto a essa obra literária ou a outra similar, impondo qualquer forma de censura, discriminação e segregação, seja com relação a grupos, segmentos e classes sociais, seja com relação às suas distintas formas de livre criação, manifestação e expressão.
O CNE entende que uma sociedade democrática deve proteger o direito de liberdade de expressão e, nesse sentido, não cabe veto à circulação de nenhuma obra literária e artística. Porém, essa mesma sociedade deve também garantir o direito à não discriminação, nos termos constitucionais.
Reconhecendo o importante valor literário da obra de Monteiro Lobato, especificamente do livro "Caçadas de Pedrinho", mas também sendo coerente com todos os avanços da legislação educacional brasileira, o parecer discute a presença de estereótipos raciais na literatura e apresenta sugestões e orientações ao MEC, à e ditora e aos que atuam na formação de professores.
Uma dessas orientações é a de que a editora tome o mesmo cuidado em relação à temática étnico-racial como o que já foi adotado em relação à questão ambiental no livro, sugerindo a inclusão, na apresentação, de uma nota de esclarecimento, a fim de contextualizar a obra, sem perder de vista o seu valor literário.
Mais do que focar a análise no autor em si, o que está em questão é colocar em pauta a necessária discussão sobre a temática étnico-racial na educação e sua efetivação como política pública.
O CNE está aberto ao debate. A repercussão do seu posicionamento revela o quanto ainda é preciso falar sobre a questão racial e discutir formas de superação do racismo e o quanto esse é um tema de interesse nacional.
Os receios, as ressalvas e os apoios feitos ao parecer são compreendidos pelo CNE, especialmente no que tange à necessidade de se contextualizar obras clá ssicas.
Entendemos que, assim como é importante o contexto histórico em que se produziu a obra, tão ou mais importante é o contexto histórico em que se produz a leitura dessa obra. É preciso considerar quem são os leitores e que efeitos de sentidos, usos e funções serão atribuídos a determinada obra na atualidade. A obra permanece, mas os leitores e a sociedade mudam.
É em função desse novo contexto que cabe, sim, interrogar em que condições a sociedade e, sobretudo, a escola lerão obras produzidas em momentos nos quais pouco se questionava o preconceito racial e o racismo. O propósito central do parecer e do CNE é, portanto, pautar a questão étnico-racial como tema relevante da educação nacional.
________________________________________
ANTONIO CARLOS CARUSO RONCA é presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE).
FRANCISCO APARECIDO CORDÃO é presidente da Câmara de Educação Básica do CNE.
NILMA GOMES é a relatora do parecer nº 15 da Câmara de Educação Básica do CNE.



Livro

HISTÓRIA DE BELO HORIZONTE

Obra didática para as séries iniciais do ensino fundamental.
Apresenta duas unidades:

Primeira unidade: com quatro capítulos organizados segundo o critério temporal ou cronológico. Aborda fatos e processos da História da capital mineira, desde a ocupação inicial do território, com a Fazenda do Cercado, até a realidade da metrópole belo-horizontina no século XXI.

Segunda unidade: temática, com seis capítulos sobre histórias setoriais da cidade - moradias, transportes, comércio, educação, saúde e lazer e cultura.

Principais características da obra:
- texto didático orientado pelas temáticas da atualidade e conforme diretrizes dos PCN;
- muito bem ilustrada, com muitas fotografias e desenhos didáticos;
- divertida, com muitas tirinhas, charges e vários fatos engraçados da História da cidade;
- atividades orais para o aluno ao longo dos capítulos e atividades que exigem registro somente ao final do estudo dos capítulos.

O jornalismo ‘independente’ de Ali Kamel, a ‘bomba’ do Faustão que parou Ipanema. E mais: Procter & Gamble, Grendene e Coca-Cola
Leia em






O Estado não caiu de Marte
Na abertura da primeira Conferência do Desenvolvimento, nesta quarta-feira, em Brasília, o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães defendeu que o Brasil precisa investir em planejamento e no incremento das taxas de desenvolvimento do país, especialmente em áreas estratégicas como educação, saúde e cultura. A idéia do planejamento, lembrou, ainda tem muitos inimigos, dentro e fora do Brasil. "Ela não é muito aceita por aqueles que pensam que é o mercado que deve decidir sobre o planejamento". O fracasso do Consenso de Washington, porém, recoloca essa questão na ordem do dia. O artigo é de Katarina Peixoto.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17211&boletim_id=795&componente_id=13196




III SIMPÓSIO NACIONAL ANÔNIMOS NA HISTÓRIA.
TEMÁTICA: História e Direitos Humanos - 09 a 11 de dezembro do corrente ano. Auditório da Reitoria. UFS.
simposioanonimos.com
Na abertura teremos a homenagem a 11 (onze) anônimos da História. Entregaremos troféus a sujeitos anônimos que trabalharam ou trabalham com os Direitos humanos e não são (re) conhecidos pelo grande público. Um dos homenageados é um pescador que comia ovos de tartaruga e matava esse animal para sua alimentação e atualmente tornou-se educador de outros pescadores para não cometerem o mesmo que no passado ele fizera. E o que isto tem a ver com os Direitos Humanos? É só pensar no direito a natureza, a vida... e ao respeito aos outros (animais).
Outro homenageado é um médico que atuou nos primeiros tempos dos casos da AIDS em Sergipe. Também serão homenageados aqueles que trabalham ou trabalharam com moradores de (na) rua, com presos, com a terceira idade e com as minorias sociais, etc. Incluem-se nessa homenagem um representante dos alunos da terceira idade que participaram do curso de historia de Sergipe (carga horária 180 horas) e sujeitos ordinários, perscrutados por alunos das disciplinas Temas de História de Sergipe I e II do curso presencial e à distância. Os discentes pesquisaram, com auxilio do professor Dr. Antonio Lindvaldo Sousa, vários homens e mulheres acima de 65 (sessenta e cinco) anos de idade, moradores em diversos lugares do território sergipano. Tivemos mais de 50 entrevistas de História oral para escolher 3 (três) homenageados. A maioria das entrevistas contem memórias que nos fazem pensar a História de Aracaju e outras localidades de Sergipe a partir do "olhar" não oficial. Suas trajetórias de vida nos fazem refletir sobre os caminhos diversos da História. Entre essas entrevistas, destaquemos a memória de um descendente de índios e um vaqueiro. Ambos são personagens anônimos da história de Sergipe nem sempre “ouvidos” como parte das fontes que nos chegam aos bancos escolares.
As homenagens trazem auto-estima aos “anônimos” e à comunidade de que eles fazem parte.
Com este propósito, a universidade corrobora para diminuir a distância entre ela e a sociedade.



Audiovisual das Américas, Diversidade Cultural e Mídia Digital
29 de novembro a 12 de dezembro
Pioneiro no país, Imagem dos Povos irá oferecer parte de seu acervo de filmes pela internet
19 filmes serão disponibilizados no site oficial do evento para escolas e associações comunitárias entre os dias 29 de novembro e 12 de dezembro
O festival internacional IMAGEM DOS POVOS realizará mais uma ação para aproximar o público das produções audiovisuais das Américas e África, entre os dias 29 de novembro e 12 de dezembro. Durante esse período e pela primeira vez no país, um Festival disponibilizará, durante 14 dias para escolas, associações comunitárias e organizações culturais o acesso gratuito via internet ao repertório de filmes africanos, caribenhos e afro americanos. A iniciativa do festival faz parte também das atividades comemorativas do mês da consciência negra.
O repertório de filmes estará disponível no site www.imagemdospovostv.com e serão exibidos por streaming. A escola, organização ou associação interessada em acessar os filmes deve solicitar a inscrição através do e-mail iptv@imagemdospovos.com.br. Esta mensagem será respondida com uma senha de acesso que terá a validade de 24 horas a partir do primeiro acesso. Cada senha dará direito a acesso a apenas um filme por vez, no entanto, uma mesma instituição pode solicitar acesso a filmes diferentes durante o período de exibição via internet.
Os filmes poderão ser assistidos diretamente na tela do computador ou conectados em projetores ou aparelhos de televisão. No entanto, é necessário estar conectado pela internet durante todo o tempo da projeção. Caso seja necessário, no espaço de 24 horas, a sessão poderá ser interrompida e reiniciada.
A seleção de filmes:
Os filmes que estarão disponíveis na internet foram organizados em três blocos, segundo sua origem:
África: Serão disponibilizados 16 filmes dirigidos por jovens cineastas africanos. Os filmes foram divididos em cinco programas diferentes pela curadora Mahen Boneti:
Primeiro programa - A idade da Inocência
Segundo programa - Cinema Popular (o Chamado de Nollywwod)
Terceiro programa - Libertação Popular (O espírito da Independência)
Quarto programa - Popular Longing for Home (Procura por Novos Espaços)
Quinto programa - Redemption.
Caribe: No segundo bloco estão reunidas produções relacionadas com o Caribe. Serão apresentados dois programas dirigidos por Steve e Sthèphanie James com produção da Shakti Productions de Guadalupe no Caribe. Esses dois programas apresentam as experiências de mulheres afro caribenhas em diversos lugares do mundo.
Brasil: O terceiro bloco é composto de uma animação realizada em Belo Horizonte “Oxossi e o pássaro das feiticeiras”, do diretor Tatu Guerra.
A sinopse completa dos filmes disponíveis em cada bloco está disponível no endereço: www.imagemdospovostv.com.




O Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas (CPDOC/FGV) convida para a palestra Think Tanks: The Global, Regional and National Dimension, com o professor James McGann.
Dr. McGann é Senior Fellow no Foreign Policy Research Inistitute, onde dirige o Think Tanks and Civil Societies Program e coordena o International Survey of Think Tanks que avalia a influência política e econômica de 817 think-tanks em 95 países.
Haverá tradução simultânea.
Think Tanks: The Global, Regional and National Dimension
Dr. James McGann (Senior Fellow, Foreign Policy Research Institute
Data: 7 de dezembro, 17h
Local: Auditório 12º andar - Fundação Getulio Vargas
Praia de Botafogo 190, Rio de Janeiro
Dúvidas ou informações sobre este evento, escreva para ri@fgv.br.
A FGV não permite o acesso de pessoas com shorts ou bermudas nem com sandálias tipo havaiana.


Concurso Docente UNESP/Rio Claro
Sociologia e História Econômica

Acham-se abertas, nos termos do Despacho do Despacho nº 1346/2010-RUNESP, de 04, publicado no Diário Oficial do Estado – DOE – Poder Executivo – Seção I de 05.11.2010, com base no Estatuto e Regimento Geral da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – UNESP, bem como na legislação em vigor, as inscrições para o concurso público de provas e títulos para provimento de 01 (um) cargo de PROFESSOR ASSISTENTE, com titulação mínima de Doutor, em Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa – RDIDP, junto ao Departamento de Planejamento Territorial e Geoprocessamento do Instituto de Geociências e Ciências Exatas do Campus de Rio Claro, no conjunto de disciplinas “Sociologia” e “História Econômica do Brasil”.

INSCRIÇÕES
2.1. inscrições serão recebidas, em dias úteis, no período de 24.11.2010 a 03.01.2011,
no horário das 9 às 11 e das 14 às 17 horas, na Seção de Comunicações,
à Av. 24-A, 1515 – Bairro Bela Vista – Rio Claro-SP.

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