quarta-feira, 20 de abril de 2011

Numero 275











Clique aqui para assistir um vídeo em que os autores apresentam a coleção Estudos de História, para o ensino médio:

http://www2.ftd.com.br/hotsite/PNLD/2011/view/livro.cfm?col_cod=126&materia=His&disc_cod=20#



E por favor, divulguem para todos os seus amigos. O prazo para que os professores façam sua escolha é de menos de dois meses, e é impossível irmos a todo o país para apresentar o trabalho que elaboramos.
Se você conhece professores de História que trabalham no ensino médio em escolas públicas, apresente a eles este vídeo ou indique o blog
http://colecaoestudosdehistoria.blogspot.com


Grato,
Ricardo





Do jornal Brasil de Fato:
Universidade do desastre


Antes de implantar a obrigatoriedade do ensino de “educação financeira” para os níveis fundamental e médio, chegou a hora de concentrar esforços por uma educação para a mídia e a tecnologia
Silvio Mieli

Ele previu os ataques de 11 de setembro, alertou que o acidente de Chernobyl iria se repetir, chama Barak Obama de “Top model do discurso politico” e define a internet como um instrumento de controle social. Acusado de pessimista, apocalíptico e retrógrado, o filósofo e arquiteto francês Paul Virilio não é um profeta, já que não anuncia desígnios divinos, nem prediz acontecimentos por dedução ou intuição. Quase octogenário, sua missão urgente é a de revelar os acidentes da tecnologia para entender o outro lado do progresso.
A militarização do cotidiano, a prevalência do tempo sobre o espaço, as consequências das tecnologias ditas interativas e um poder cada vez mais baseado na imagem são alguns dos temas caros a este pensador fundamental. Segundo ele, deixamos de nos agregar em torno de uma “sociedade de opinião”, transformando-nos numa “sociedade da emoção”. Considera assustador o mundo inteiro suspirar diante da mesma imagem em tempo real, ainda que seja a do tsunami do Japão.
Virilio define-se um dromólogo: estudioso da velocidade (do grego dromos, corrida) e da aceleração da técnica contemporânea. Para ele, ao lado da desigualdade social surge a necessidade de se compreender a violência baseada no excesso de velocidade. Considera a riqueza como a face oculta da velocidade e a velocidade como a outra dimensão da riqueza. “A velocidade é tão importante quanto a riqueza na fundação do político. Se tempo é dinheiro, a velocidade é poder”, conclui.
Virilio não acredita no fim do mundo. Acha, ao contrário, que iremos inventar um pensamento universal e até mesmo um novo modelo de universidade, responsável pelo estudo do desempenho do progresso. Assim como a ideia de universidade nasceu a partir da barbárie e das catástrofes dos sécs. 11 e 12, encontramo-nos agora diante de uma crise ecológica e econômica sem precedentes. Portanto temos que desenvolver um novo modelo universal para lidar com essa situação, em torno de uma espécie de “Universidade do Desastre”, conforme define seu projeto.
Fica uma lição prática, clara e direta da pedagogia de Paul Virilio ao Brasil de hoje. Antes que vingue algum projeto para implantar a obrigatoriedade do ensino de “educação financeira” para os níveis fundamental e médio, chegou a hora de concentrar esforços por uma educação para a mídia e a tecnologia. Até para prevenirmos futuros desastres.
Silvio Mieli é jornalista e professor universitário
Publicado originalmente na edição 423 do Brasil de Fato



Costa do Marfim: o que a mídia não conta
Flávio Aguiar resgata a história do país africano e revela: deposição de Gbagbo não é vitória da democracia, mas consagração da presença francesa no país. No Blog do Velho Mundo

Na prática, o desenlace dessa fase do enfrentamento armado na Costa do Marfim entre partidários dos dois candidatos, significa o retorno ao primeiro plano da política do país e da região da perspectiva da “Françáfrica”. Essa expressão – Francefrique em francês – foi cunhada por Houphuet Boigny, o presidente/ditador daquele país africano e que o governou desde a década de 60, quando houve a independência, até sua morte, em 1993.
Boigny foi um jovem sindicalista e depois político marfinense, que, mais do que liderar, tornou-se o fiel da balança da independência. Primeiro, teve afinidades com os comunistas, sem se tornar membro do partido. Depois entrou para a política… francesa, tendo se tornado representante outre-mer no parlamento em Paris.
Com o processo de independência, firmou-se como um aliado da França e do Ocidente na região. Daí a idéia da Françáfrica. Agiu encarniçadamente contra a influência soviética e chinesa na África; opôs-se ao MPLA de Angola; favoreceu Kasabuvu e Moise Tshombe no Congo, contra Patrice Lumumba, que terminaria assassinado. Era próximo de todo o establishment conservador francês. Moveu a capital administrativa do país de Abidjan (que continua sendo o centro econômico) para sua cidade natal, Yamoussoukro.
Nesta fez construir a maior basílica do mundo, a de Nossa Senhora da Paz, mais larga, mais comprida e mais alta do que a do Vaticano. Construiu um Centro para Convenções Internacionais suntuoso. Visitei-o em 1996, e nele deparei com uma sala de conferências para mais de 300 pessoas, toda decorada exclusivamente com madeiras do Brasil, de mogno à araucária, de jacarandá a pau-rosa etc.
De certo modo, os conflitantes atuais, Gbagbo e Ouattara, são “crias” do reinado de Boigny, que, por sua vez, era garantido pela presença permanente de duas divisões do exército francês, em território marfinense – aliás, o maior exportador de cacau do mundo. Ouattara cresceu à sombra de Boigny; foi seu ministro, e tornou-se um quadro importante do FMI; já Gbagbo desenvolveu vínculos com os socialistas franceses – não rompidos até hoje, pois uma facção do PS continua a apoiá-la – e foi exilado na França durante vários anos.
Voltando ao país ainda antes da morte de Boigny, que o anistiou com a frase “a árvore perdoa o passarinho que a deixou”, ou algo parecido, conseguiu eleger-se presidente em 2000. Era professor de história de inclinação marxista (cheguei a ve-lo uma vez, durante minhas visitas ao país como professor convidado de literatura brasileira). Chefiou num governo de tendência social-democrata, mas aos poucos foi mergulhando na intrincada e violenta política do país e na disputa entre grupos armados.
Depois de sua ascensão à presidência, eclodiu uma revolta separatista no norte do país, que faz fronteira com Burkina-Faso e o Mali. Na raiz dessa revolta está uma das políticas de Boigny, que atraía imigrantes dos países vizinhos com concessão de terras, para povoar o território e acrescer a produção agrícola.
Na região proliferou um movimento que sempre estranhou tanto a elite (afrancesada e católica) do sul do país quanto a política de proximidade com o PS de Gbagbo. Esse movimento tornou-se apoiador, há tempos, de Ouattara. Em 2002 o confronto virou uma autêntica guerra civil, com combates inclusive em Abidjan e nas cercanias, mas a partir do controle que manteve na capital Gbagbo conseguiu impor-se e consolidar-se no poder.
O processo de “paz”, garantido por tropas da ONU, levou à última eleição, no ano passado, com um resultado controverso. A Comissão Eleitoral deu a vitória a Ouattara (sempre apoiado pelo norte, pela França e seus aliados); a Comissão Constitucional, que tinha a última palavra, anulou votações na região norte e deu a vitória a Gbagbo.
A Comissão de Observadores da ONU inclinou-se por Ouattara, secundada por países africanos da região. Ficou a pergunta sobre se essa inclinação foi pre-determinada, além de insuflada pela França, cuja preferência por Ouattara era evidente desde sempre. Inclusive levantou-se hoje que este último e Sarkozy são amigos bastante próximos.
A violenta intervenção da França no conflito, desequilibrando-o em favor do candidato da oposição, foi apontada, além da defesa de interesses econômicos e geo-políticos, como atendendo a um interesse interno de Sarkozy, que tem estado mal nas pesquisas para a futura eleição nacional, ameaçado tanto pela esquerda quanto pela extrema-direita, além de em seu próprio território político de centro-direita, com a possibilidade da candidatura de Dominique Strauss-Kahn que, de membro do PS francês, evoluiu para diretor-presidente do FMI.
Sem os blindados e os helicópteros da ONU e da França, a resistência de Gbagbo teria, no mínimo, durado mais. E o argumento de que o ataque contra o palácio presidencial atendeu à necessidade de “proteger civis” e poupar suas vidas carece de credibilidade, dada a evidente preferência por Ouattara e a má-vontade em relação a Gbagbo, ambas manifestas há tempos.
Aliás, esse quadro refletiu-se em boa parte do comportamento da mídia, que erguia a voz num fortissimo con brio sempre que havia denúncias de violação dos direitos humanos por parte das tropas deste, e tocava piano baixíssimo sempre que as denúncias atingiam as tropas favoráveis a Ouattara, isso numa guerra hoje sabidamente sujíssima de parte a parte. A Al Jazeera chegou a publicar uma análise criteriosa desse comportamento da mídia internacional.
A guerra, na Costa do Marfim, ainda não acabou. Pode ser que venha a acabar, se Ouattara, o vencedor no campo do conflito, conseguir colocar-se na posição de magistrado, mediar conflitos num país dividido, neutralizar os grupos armados mais belicosos de seu próprio lado e agir no sentido de reconciliar as diversas facções políticas, étnicas e religiosas. Significativamente, por exemplo, as comemorações mais ruidosas de sua vitória se deram no bairro de Abobo, densamente povoado por migrantes do norte do país.
Embora em condição de desigualdade, os dois contendores estão agora “frente a frente” no Hotel du Golf, um dos mais requintados de Abidjan, transformado em quartel do oposicionista, protegido pela ONU, e agora também em prisão do derrotado e de sua família, formalmente também sob proteção da mesma ONU que ajudou a derrotá-lo.
Mas tudo isso vai depender agora também da disposição de Sarkozy e de seu movimento de ressucitar a “Françáfrica” de Boigny. Diante desse quadro turbulento e enevoado, soa grotesca a observação da secretária de estado norte-americana Hillary Clinton de que a queda de Gbagbo deve servir de lição para os ditadores do mundo que desrespeitam a vontade de seu povo. É uma frase de alguém que olha para a história de seu próprio país e só consegue ver um desenho animado de Walt Disney. Certamente, não dos melhores.



Oslo Freedom Forum 2010 - Legendado em Português
Ver: http://www.youtube.com/watch?v=kIpX13oZbY4

Assista o criador do Wikileaks explicando porque seu trabalho é necessário para preservar a democracia. As legendas pecaram um pouco. Por três vezes você verá a palavra ILUMINAÇÃO, que não é comumente usada. Geralmente denominamos de ILUMINISMO.






NEAD lança livro "Transgênicos para quem?" em cinco cidades
Livro produzido pelo Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (Nead) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) defende que discussão sobre transgênicos não pode se restringir à problemática selecionada pela genética e pela biologia molecular como ciências dominantes. A obra, lançada em março na França, na Assembléia Nacional de Paris, tem lançamento marcado no Brasil, em cinco cidades – Brasília, Porto Alegre, Curitiba, Campinas e Piracicaba. Nesta semana, os livros serão lançados em Porto Alegre (18) e em Curitiba (19).
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17701&boletim_id=893&componente_id=14521




Leia no WWW.outraspalavras.net:



Cuba começa a definir seu futuro
Mudanças propostas pelo Partido Comunista vão além da Economia. Setores sociais reivindicam participação. Bispos querem mais investimento privado


"As guerras que você não vê"
O escritor John Pilger apresenta sua obra mais recente: um documentário sobre relações (muito íntimas) entre mídia e chefes militares

Aristocráticas terras fora-da-lei
Dois livros jogam luz sobre paraísos fiscais, onde transitam alegremente (e sonegam impostos...) o crime organizado e os executivos globais

Por um imposto sobre as exportações de ferro
Além de recuperar, para a sociedade, parte do imenso lucro da Vale e outras mineradoras, medida sinalizaria que país quer ter política industrial. Por Paulo Kliass



Assim se armou o Japão nuclear
Radiografia de um programa que envolveu ocultamento de riscos, ambição militar e desprezo tecnocrático pela democracia. Pergunta incômoda: algum país teria feito melhor? Por Gavan McCormack, do Le Monde Diplomatique

Yes, nós temos bananas
Riqueza do Brasil em produtos primários não é, necessariamente, maldição. Mas país precisa definir políticas claras, para convertê-la em desenvolvimento sustentável para todos. Por Felipe Amin Filomeno

Na net, toda a polêmica sobre o Código Florestal
Debate sobre mudanças na lei e suas consequências está na rede. A seguir, um guia para acompanhá-lo e tomar posição. Por Iara Vicente



Oriente Médio: retrato do Império em apuros
Numa região decisiva do planeta, EUA perdem grandes aliados e parecem sem rumo. Mas as consequências de seu declínio são incertas. Por Immanuel Wallerstein

"Sou 100% palestino e 100% judeu"
Ícone da resistência cultural contra a ocupação (assassinado em 4 de abril), o cineasta e dramaturgo Juliano Mer-Khamis fala sobre sua vida, obra e arte

Europa bloqueia o Trem da Dignidade
Incidente na fronteira França-Itália expõe xenofobia e desprezo pelos imigrantes. Mas também revela que eles mobilizam-se e têm aliados. Por Luís Nagao


Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural participa do Ministério Público Itinerante
Jequitinhonha, Januária, Montes Claros e Serro recebem a visita dessa Promotoria
A Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais participará das ações do projeto Ministério Público Itinerante nas cidades de Jequitinhonha (12 e 13 de abril), Januária (13 de maio), Montes Claros (24 e 25 de maio) e Serro (31 de maio e 1º de junho). Serão convidados representantes de 180 municípios do norte de Minas e das regiões do Jequitinhonha e Mucuri.

Segundo o promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda, serão ministrados nessas cidades minicursos, com duração de três horas, sobre como e porque preservar os atrativos culturais e turísticos. O objetivo é capacitar os gestores locais (prefeitos, vereadores, secretários, membros dos Conselhos Municipais de Defesa do Patrimônio Cultural, arquitetos, historiadores e outros) e aproximá-los do Ministério Público.

O curso será constituído de uma palestra e uma mesa redonda em que representantes de instituições convidadas explicarão seus papéis e responderão a perguntas dos participantes. Participarão: Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha); Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan); Comando do Corpo de Bombeiros (Cobom); Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG), entre outras.

Em Jequitinhonha a palestra será realizada na tenda do projeto Ministério Público Itinerante (Praça de Eventos na rua Sabino Pinheiro, 131, Centro) às 17 horas. Serão distribuídos materiais de capacitação e fornecidos certificados.

As inscrições podem ser feitas pelo email gepcultural@mp.mg.gov.br ou pelo telefone (31) 3250-4620 (31) 3250-4620 .

Apresentações culturais regionais, definidas pelas cidades visitadas, farão a abertura dos eventos, que também contarão com a presença de artesãos locais e venda de comidas típicas.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Numero 274






Como não podia deixar de ser, o assunto principal deste número é o fato terrível que aconteceu semana passada na escola de Realengo, no Rio de Janeiro. Trouxemos, para reflexão de nossos leitores, alguns artigos que fogem totalmente ao sensacionalismo barato a que ficamos expostos pela televisão.


São artigos que nos fazem pensar, nos levam a tentar enxergar além do evento.






Tragédia de Realengo no Rio de Janeiro

A propósito do massacre na escola de Realengo no Rio de Janeiro, no dia 7 de abril de 2011. Transcrevemos o capítulo 6.2 do livro Violência no mundo, ontem e hoje: uma visão interdisciplinar, de Antonio de Paiva Moura. Belo Horizonte: Editora Fundac-bh, 2009.


Atos amoucos e assemelhados


Fora das favelas, no mundo globalizado e na democracia liberal criou-se o tipo jovem de classe média que atua sobre um tipo de exclusão social. Trata-se da falta de oportunidade de exercer papéis relevantes. A exclusão de exercer papéis relevantes na vida leva os indivíduos à autoperdição, no dizer de Hannah Arendt. Analisando os constantes massacres nas escolas dos EUA e da Europa, Kurz (2002) os denomina de atos amoucos .


A primeira constatação é a de que esses massacres têm lugar, desde os anos 90, em uma sequência cada vez mais compacta. Uma porcentagem grande e desproporcional dos autores é de jovens e até mesmo de crianças. Um número muito reduzido de tais amoucos é mentalmente perturbado no sentido clínico; ao contrário, a maioria é considerada normal, antes de praticar uma chacina. Os atos amoucos, em sua fase aguda, tiveram início nos EUA, no dia 19 de abril de 1995, quando o americano Timothy Mc Weigh, um veterano da guerra do Golfo, em Oklahome City, teve como alvo o edifício federal “Alfred Murrah”, proporcionando a morte de 168 pessoas e ferindo mais 500 outras. Em 1997, na cidade de West Paduch (Kentucky) quando um adolescente de 14 anos matou a tiros, após a oração matinal, três colegas de escola e feriu cinco outros. Em 1998, em Jonesboro (Arkansas) um menino de 11 e outro de 13 anos abriram fogo contra sua escola, matando quatro meninas e uma professora. Ainda em 1998, em Spring Field (Oregon) um jovem de 17 anos matou a tiros, em uma escola, dois colegas e feriu 20 outros. Em 1999, dois jovens de 17 e 18 anos provocaram o célebre banho de sangue de Littleton (Colorado) usando armas de fogo e explosivos mataram, em sua escola, 12 colegas e um professor. Mais que qualquer outro, esse episódio tornou-se objeto de investigação científica, tendo como instrumento alguns documentários cinematográficos.


Nos anos 90, em menor escala, houve disparos de armas, de alunos no Canadá, na Escócia, no Japão e na Alemanha. Em 2001, um francês, graduado e desempregado abriu fogo contra a Câmara Municipal de Nanterre, matando oito políticos locais. Em São Paulo, no dia 3 de dezembro de 1999, no cinema Morumbi Shopping, no momento em que era exibido o filme “Clube da Luta”, para uma platéia de 28 pessoas, o estudante de Medicina, Mateus da Costa Meira saiu do sanitário com uma submetralhadora e descarregou quase todas as balas contra a plateia, matando três pessoas e ferindo outras cinco. Naquela data tinha 24 anos de idade. Foi condenado a 120 anos de cadeia e a acusação conseguiu anular a tese de insanidade mental, apresentada pela defesa do réu. Em todos esses casos os atores assumem o risco de serem mortos. Segundo Kurz, junto com essas aventuras cresce o número de suicídio entre jovens. O ato amouco forma, na cultura global da violência, o vínculo lógico de agressão aos outros e auto-agressão, uma espécie de síntese de assassinato e suicídio encenados. A maioria dos amoucos não só mata indiscriminadamente como também executa a si próprio em seguida. O autor potencial de um latrocínio, de um assalto ou de um seqüestro, é também um suicida potencial; o suicida potencial é também um amouco potencial. Os amoucos são robôs da consciência capitalista que ficaram fora do controle de atores e vítimas da crise; a concorrência que coloca a vida dos outros e a do apostador em risco. Os atentados de 11 de setembro de 2001 eram islamitas, mas foram treinados no ocidente e usaram as armas e os instrumentais fabricados no ocidente. As técnicas terroristas que usaram para destruir o Word Trade Center foram aprendidas no ocidente racionalista, calculista e iluminista.


No Brasil atual, alguns crimes praticados por jovens da classe média tiveram certa conotação com atos amoucos, cujas causas não são explícitas, mas podem estar localizadas no preconceito social historicamente mantido no país desde os tempos coloniais. O burguês e o pequeno burguês têm necessidade de mostrar que são diferentes, não só pela ostentação de seu vestuário, do carro de luxo, mas também nas atitudes. A vaidade de poder ser perverso, como os personagens de Sade. A cultura da perversão sádica contabiliza, desde 1997, o assassinato do índio Pataxó, Galdino José dos Santos, cometido por cinco rapazes de Brasília, que atearam fogo no índio que dormia num ponto de ônibus. A gente só queria dar um susto em um mendigo, não sabíamos que era índio. Antonio Novely Vilanova, filho de um juiz, foi preso com seus amigos Max Rogério Alves, Eron Chaves de Oliveira, mas nunca ficaram em celas e não cumpriram as penas impostas (LOBATO, 2007).


No dia 24 de junho de 2007, cinco estudantes espancaram uma doméstica na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. A vítima foi Sirley Dias de Carvalho, 32 anos. Seus agressores foram os estudantes Rubens Pereira Aruda Bruno, de 19 anos, Direito; Felippe de Macedo Nery Neto, 20, de Administração; Júlio Junqueira Pereira, 21, de Gastronomia, Rodrigo dos Santos Bassalo da Silva, 21, de Turismo, além de Leonardo Andrade, 19, Técnico em Informática. Apenas por diversão, no estilo de Marquês de Sade, o bando parou o carro no ponto de ônibus e passou a chutá-la, xingá-la e a esbofeteá-la, enquanto Leonardo ficou ao lado, de pé, dando gargalhadas. Para negar o preconceito social eles caíram em contradição e revelaram outro preconceito, dizendo que achavam que a moça era uma prostituta. Por ser uma “prostituta” podia ser executada sumariamente. O preconceito não nasce e nem se desenvolve no interior de pequenos grupos. Vem sempre de classes ou categorias superiores, na tentativa de eliminar substratos inferiores. O pai de Júlio Leonardo teria formado seu filho no sentido de levar vantagem em tudo? Teria educado seu filho no sentido de respeitar a criadagem, tratar os empregados com dignidade? Teria dito a seu filho que é necessário respeitar uma prostituta como ser humano? Possivelmente, Leonardo, desde a infância fora educado para exibir as melhores roupas, ou brinquedos mais ricos e sofisticados.


Um derivado dos amoucos são os skinheads, os carecas, grupo que apareceu recentemente no Brasil, por imitação a grupos europeus e norte-americanos, pertencentes à supremacia branca. O protesto dos skinheads é contra programas de ação social iniciados após a ditadura militar. Conforme relato de Bracht (2008), a lista de delitos cometidos por skinheads é muito grande. Em fevereiro de 2000, vinte elementos atacaram Edson Neris da Silva, um adestrador de cães na praça da República, em São Paulo, alegando que o rapaz estava de mãos dadas com outro homem. Em Porto Alegre, dois punks foram espancados por cerca de quinze skinheads, em 2002. No ano seguinte, em São Paulo, os skinheads obrigaram dois rapazes trajando roupa punk a saltarem de um trem em movimento. A rivalidade dos skinheads aos punks vem de suas origens ligadas à ideia de delinquência juvenil. Na verdade, os punks são anarquistas desarmados que visam provocar a sociedade bem comportada. Durante a ditadura militar, os punks eram odiados pelos governantes e pelas senhoras mães de adolescentes, porque imaginavam que eles iam seduzir seus filhos. Mas hoje, quem não os toleram são os skinheads. Não podemos negar que esses grupos são resíduos das gangs nazistas, carregadas de preconceitos sociais.


As diversas abordagens a atos amoucos e assemelhados não oferecem argumento seguro sobre a razão de tanta destrutividade humana no momento atual. As classes médias foram as mais atingidas pela globalização e pela reviravolta econômica, processada pela globalização e pelo neoliberalismo. Beck (2003) diz que a individualização verificada na sociedade nazista transformou-se na atomização da atualidade, em que o indivíduo perde tudo e não tem perspectiva de ser algo na vida. Formula uma questão realmente embaraçosa: em que medida se pode proceder à desmontagem dos sistemas de seguridade ou até mesmo das tradições de proteção familiar sem que as pessoas se atomizem. Qual será a conseqüência de uma modernização, do tipo tabua rasa, que abole os seres humanos de tal modo, em sua segurança, a ponto de deixá-los, quem sabe, a espancar os outros para dar um sentido qualquer à vida. E que talvez, também as transforme em almofada de carimbo das ideologias alheias, as quais eles só usarão para impor seus desvarios.


Tenho a impressão de que atualmente, a atomização se verifica até mesmo nos centros do rico ocidente. Muita gente se sente exageradamente insegura quanto às condições elementares da existência. O medo de já não ter um chão sob os pés não cessa de crescer. Por trás da fachada de bem-estar e segurança a angústia existencial atingiu o conjunto da classe média (Beck, 2003:82).


A classe média sofre com o desmonte de serviços públicos e a concorrência que se travou entre os prestadores de serviços autônomos e dos profissionais liberais. Nas empresas, a concorrência entre funcionários ficou marcada com o, controle de qualidade total (CQT), que proporciona redução dos quadros efetivos, redução de salários e aumento da jornada de trabalho. É como diz Kurz (2004), a nova pobreza não decorre da exploração na produção, mas pela exclusão dela. A terceirização colocou o trabalhador cada vez mais inseguro; em situações ilegais; em ocupações irregulares e a as rendas transitam no limite do mínimo necessário para a existência ou caem abaixo disso. Pouco antes de morrer, Herbert de Souza, Betinho (1935/1997), disse que durante a Guerra Fria o capital explorava o trabalho para se desenvolver. Hoje, dispensa o trabalho vivo para poder se desenvolver ainda mais. A empresa sem trabalhador; a economia sem empregos e o consumidor sem renda. Nada parece deter esse rumo em direção ao grande apartheid global, onde uma minoria detém cada vez mais poder e riqueza e uma crescente maioria é excluída, é jogada na indigência mais cruel de todos os tempos (SOUZA. 1996).


No filme de Gus Van Sant, “Elefante”, sobre a tragédia da escola de segundo grau “Columbine” (Colorado), a questão da atomização e da angústia existencial aparece na cena do garoto tocando piano, momento em que ele demonstra sentir a falta de perspectiva de vida e de notoriedade. Repentinamente abandona o piano e procura outra coisa. Michael Moore, no filme “Tiros em Columbine”, tenta explicar o fenômeno em que os dois jovens eram tão saudáveis e não deixavam transparecer os conflitos que carregavam, sendo um fenômeno muito atual, espelhado na política agressiva de seu país. Bill Clinton tenta justificar o ataque contra Kosovo como se estivesse falando de um jogo de beisebol e não de uma carnificina autoritária.


Referências

BECK, Ulrich. Liberdade ou capitalismo: conversa com Johannes Willms. Tradução de Luiz Antonio Oliveira de Araújo. São Paulo: UNESP, 2003.

BRACHT, Alessandro. Caminhos da violência: um retrato da obscura trajetória dos skinheads. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, n.32, maio 2008.

HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque de. Dicionário Aurélio básico da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.

KURZ, Robert. A pulsão de morte da concorrência. Tradução de Luiz Repa. Folha de São Paulo, São Paulo, 16 mai. 2002.

KURZ, Robert. O declínio da classe média. Tradução de Luiz Repa. Folha de São Paulo, São Paulo, 19 dez. 2004.

LOBATO, Eliana. Marginais da classe média. Isto é, São Paulo, n.1966, 4 jul. 2007.


1. Amouco, do malaio, Amok, como substantivo, o que defende cega e obstinadamente um partido ou um chefe, que jura morrer pelo seu chefe. Na Índia tem a conotação semântica do indivíduo apaixonado, fanático, na defesa das suas opiniões, das suas admirações. Como adjetivo designa a pessoa desesperada, voltada a morrer, a suicidar-se (HOLANDA FERREIRA, 1988).

2 O conceito de atomização diz da insignificância do indivíduo; diminuição e degradação de seu valor social. Pessoas desarraigadas; gente que foi apartada de suas tradições; empobrecidas física e mentalmente. Trata-se de uma das formas de alienação contemporânea. A solidão resultante da dicotomização da família; single life, o celibato e o divórcio; a redução da prole, tudo isso concorre para a atomização, que ao invés de construir degrada a pessoa humana (Beck, 2003: 81).

Antonio de Paiva Moura é mestre em história e professor da UEMG



Fábrica de Wellingtons

Por Bruno Cava, do Outras Palavras e Universidade Nômade


No começo do ano, escrevi sobre como a cobertura da grande imprensa em horas de comoção costuma ser pusilânime. Reproduz a morte à exaustão, explora a comiseração humana, estimula a cultura do medo. Tudo para fortalecer a agenda de segurança pública: mais vigilância, mais controle, mais punição. Se o luto consiste na esconjuração do que o morto tem de morto, para fazer valer a sua potência de vida, no (eterno) retorno do diferente que persevera em viver; a mídia da impotência fecha o zoom e pergunta aos entrevistados: e agora, como sobreviver na falta, como conviver com a morte?


O jornalismo brasileiro agonizou de vez. Cada vez mais se impõe o desejo por um mundo pós-jornais que nos livre desse horror editorial.


Enquanto isso, na surrada narrativa cristã da Queda, fala-se em falência de valores. Como se o Brasil não fosse, desde o ovo, um país profundamente desigual, semicolonial, escravagista, ultra-violento, cuja cordialidade não passa de hipocrisia letrada, da condescendência humanistóide cevada nas mais chiques vernissages de seus salões acadêmicos.


Nunca houve impunidade por aqui, mas excesso de punição. Quem crê no sistema penal para mitigar mazelas sociais desconhece a via dolorosa que vai da ação policial às prisões, passando por autuações, inquéritos, varas criminais, tribunais de justiça, recursos, varas de execução etc. Em suma, pelos mil filtros e desvios e atalhos que tornam o sistema penal uma máquina de triturar pobres e negros. Sem qualquer serventia para uma pauta de esquerda, senão uma idealista, pois está idealizando o poder punitivo. A bem da verdade, dar vivas a um estado mais forte e repressor, sob qualquer pretexto imaginável, não tem como configurar uma posição emancipadora.


Sobrou até para a internet, novamente achincalhada pela velha mídia, desesperada ante a audiência perdida para a cauda longa de sites, blogues e redes sociais. Videogames? Que graça… a periferia do Rio já vive num regime de brutalidade permanente, direta e difusa.


Nenhum morador do subúrbio carioca precisa jogar Counterstrike para vivenciar ao vivo e em cores a guerra. Sim, mais um caso em que negro pobre chacina negros e pobres, ou melhor, negras. Este crime tem cor e sexo. Vale lembrar como, no homicídio passional, a mulher geralmente morre (marido traído mata esposa e esposa traída, a amante).


Wellington é um cidadão como eu e você que, submetido a circunstâncias extremas por um longo período, acabou cometendo um ato extremo. Wellington nunca será santo nem demônio: um personagem demasiado real, tomado de dramas e carências, encharcado do fel da sociedade.


Esquizofrenia não causa assassinato por si mesma. Nem todos levam na boa uma vida de opressão sistemática, vinda de todos os lados, sem rota de fuga.


Menos Febrônio Índio do Brasil ou Pièrre Rivière, mais para Seung-Hui Cho, jovem aliás da mesma idade de Wellington. Em 2007, matou 32 pessoas num instituto tecnológico americano, nos mesmos moldes do massacre em Realengo. Era um imigrante coreano num país atravessado por racismo, que reclamava ser tratado como bicho pelos colegas, — abandonado a tratamentos inúteis por psiquiatras aborrecidos, vagamente interessados no paciente.


Na última década, a ascensão social e racial dos brasileiros acentuou a cultura do preconceito contra o diferente. No momento que pobres e minorias empoderam-se, que se formam mil classes-médias, a postura da reação torna-se mais agressiva, despudorada e odiosa. Ódio contra pobres, mulheres, negros, indígenas, minorias LGBT. Agrava-se um contexto de preconceito e repulsa que alimenta a criançada, — fascista menos por natureza do que por copiar acriticamente a atitude de adultos, por absorver a violência disseminada nas frinchas do nosso sistema político.


Daí a gravidade de discursos inflamados de políticos como Bolsonaro e de religiosos fanáticos (inclusive parlamentares). Por sinal, mesmo sem desejá-lo, o “único deputado de direita do Brasil” serviu de grande referência da pequena, porém sintomática manifestação fascista e neonazista ontem, na Avenida Paulista — tão famosa ultimamente por seus atentados homofóbicos na madrugada.


Esse fenômeno também aparece de modo mais “cordial”, no almoço de domingo ou na roda do bar, quando, diante dos jovens, se discriminam pessoas diferentes, se contam piadas racistas ou contra nordestinos, se fazem comentários machistas, se propagam ideais punitivos e vingativos. Inadvertidamente ou nem tanto, banhamos os nossos adolescentes nas águas podres do que de pior temos em nós, de preconceito, de medo, de bullying, de sectarismo, de incompreensão, de completa ausência de generosidade e mesmo de desprezo pela alteridade. Quanta burrice, agora querer levantar mais muros, espalhar mais câmeras, colocar mais guardas, punir com mais violência!



O resultado a olhos vivos é isso aí: doze crianças mortas. Não deveria surpreender tanto. Torço para que o espetáculo ao redor do caso não abra a caixa de Pandora, inspirando ações semelhantes no futuro. Desta vez, pelo menos, Wellington sequer deu o gostinho para alguém sair bradando pela “pena de morte contra vagabundo”. – .


Textos recomendados pelo autor: . “Alô, alô, Realengo“, por José Ribamar Freire, no Blog do Picica

“A Columbine brasileira e o nosso mito da tolerância“, por Raphael Douglas, no Amálgama “Esquizofrenia não é caso de polícia“, do Blog do Rovai

“Como fechar os olhos para a hipótese da misoginia“, do Escreva Lola escreva

“A tragédia no Rio“, do Descurvo.

E se você ficou abalado com o episódio, o excelentemente bem escrito texto antidepressivo de Alex Castro em Dez Anos.





8 de abril de 2011 às 23:45 por Ana Flávia C. Ramos, em Tabnarede


Tragédias como a ocorrida na Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, sempre provocam grande comoção pública, indignação e, obviamente, tristeza pelas muitas crianças perdidas no atentado. Além desses sentimentos, tais fatos provocam também um grande tsunami de “especialistas”, mobilizados em velocidade estonteante pela mídia, para dar laudos e explicações quase matemáticas sobre as motivações do assassino. O atirador Wellington Menezes de Oliveira, segundo as informações desses “cientistas da tragédia” (que variam de “criminólogos” a policiais militares), era tímido, solitário, filho adotivo, “usuário” constante do computador (a “droga” dos tempos modernos segundo os “analistas”), ateu, islâmico, fanático, fundamentalista, portador do vírus da AIDS e, provavelmente, vítima de bullying na escola.


Certamente não há como contestar que todo ato humano, e por isso histórico, se explica a partir da análise de uma cadeia de relações complexas. Como digo aos alunos, nada tem resposta simples e direta. Entretanto, o tipo de questão levantada para entender o terrível ato de Wellington Menezes de Oliveira diz muito mais sobre nós mesmos do que sobre ele. Todos os nossos preconceitos estão embutidos nessas respostas. De fato, não sabemos, e talvez nunca saibamos, por que exatamente ele atirou contra cada uma das crianças (em sua maioria meninas), assim como não sabemos sobre as reais motivações dos muitos atentados como esse, ocorridos em países como Estados Unidos e Dinamarca. Mesmo depois de tudo o que se discutiu, ainda é difícil, por exemplo, explicar Columbine (abril de 1999).


Uma das coisas que mais tem me chamado a atenção é a recorrência da explicação que elege o bullying escolar como um dos fatores que podem desencadear esse tipo de ato violento. A explicação não é nova, Columbine é prova disso. Há mais de dez anos atrás, dois meninos entram em uma escola, de capa preta (quase como em um filme hollywoodiano) e atiram em seus colegas. “Especialistas”, gringos agora, se apressam em dizer as razões: divórcio nas famílias, videogames, filmes violentos, Marilyn Manson, porte de armas facilitado e, como não poderia faltar, bullying na escola. É inegável que o bullying é uma realidade. É indiscutível que ele é extremamente nocivo e doloroso aos alunos que sofrem com ele. É evidente que há urgência em iniciar um debate para saber como sanar o problema. Mas a pergunta que fica é: o que de fato é o bullying? Ele é um sinal (histórico) de que? E ainda mais: ele é um problema restrito à escola? Por que os alunos são tão cruéis com seus colegas? Michael Moore, cineasta norte-americano explosivo, tentou dar a sua interpretação para o atentado de Columbine com o documentário Bowling for Columbine (2002). Moore, ao invés de repetir os clichês da mídia, foi implacável na destruição do senso comum das justificativas moralistas para o evento. Item por item, desde a desagregação da família, Manson, até a polêmica questão do porte de armas foram desconstruídos em sua narrativa. O foco centrou-se em respostas muito mais interessantes, localizadas não nos dois jovens assassinos, mas na sociedade americana. O imperialismo militarista dos Estados Unidos, a ação violenta em outros países, a política do medo (incentivada pelo Estado e pela grande mídia), que reforça e superestima dados sobre a violência urbana, sobre o fim de mundo, e, principalmente, a intolerância com todo tipo de diferença. Racismo, preconceito, homofobia, conflitos religiosos e luta de classes são só alguns dos ingredientes do caldeirão de ódios em que se transformou a sociedade americana.


Como crescer no Colorado, na “livre” América, e não ser conspurcado por esses valores? Como não idolatrar armas e achar que elas são um meio prático de solucionar problemas? Como viver imune a uma sociedade individualista, capitalista, que divide os seus cidadãos o tempo todo em “winners” e “losers”? E mais ainda, como não se deixar levar por uma sociedade que até hoje não consegue lidar com a diferença entre brancos e negros? Uma sociedade que até os anos 1960 não oferecia direitos, oportunidades e tratamentos iguais a todos os seus cidadãos, tem o que para oferecer ao pensamento dos estudantes? Os americanos, ainda hoje, estão preparados para o respeito à diferença? A relação que eles mantêm com os muçulmanos diz muito. Definitivamente a liberdade e o respeito ainda não se transformaram em uma unanimidade por lá. É claro que mesmo Moore não chega a dar respostas definitivas sobre a questão. E mais ainda: é evidente que ele considera a forma pela qual a instituição ESCOLA trata seus alunos (hierarquias e classificações hostis), ignorando muitas vezes o bullying, tem sua responsabilidade no massacre. Assim como é nítido que a venda facilitada de armas e munição são coadjuvantes importantes da história. Mas Moore foi corajoso ao lançar em cada um dos americanos a responsabilidade da tragédia e discutir aquilo que ninguém teve coragem (ou má fé) de fazer. Nem a mídia, nem o governo, nem a sociedade. É preciso encarar os “monstros”, com franqueza, e não apenas “satanizar” o ambiente escolar, para dar algum significado para esses eventos.


Ontem no Terra Magazine o antropólogo Roberto Albergaria afirmou que a mídia e a sociedade brasileira desejavam o impossível: explicações para um “desvario sem significado”. Segundo ele, o que Wellington Menezes praticou foi o que os estudos franceses chamam de “violência pós-moderna”, caracterizada por uma ruptura irracional, sem explicação. De fato, talvez tenha sido um “ato irracional”, fruto de um momento de insanidade. Mas acredito que esse tipo de resposta não nos ajuda a resolver coisas importantes sobre nós mesmos.


A tragédia no Realengo, a meu ver, pode e deve ser início de um debate importante sobre a nossa sociedade. A tragédia na escola do Rio de Janeiro acontece num contexto bastante relevante. Em outubro de 2009, Geyse Arruda foi hostilizada por seus colegas de faculdade porque, segundo eles, ela não sabia se vestir de modo “apropriado” para freqüentar as aulas. Em junho de 2010, Bruno, goleiro do Flamengo, é suspeito de matar a ex-namorada, Elisa Samudio, por não querer pagar pensão ao filho. Suposta garota de programa, Samudio foi hostilizada na opinião de muitos brasileiros. Após rompimento, Mizael Bispo, inconformado, mata sua ex-namorada Mércia Nakashima em maio de 2010. Em novembro de 2010, grupos de jovens agridem homossexuais na Avenida Paulista, enquanto Mayara Petruso incita o assassinato de nordestinos pelo Twitter. E mais recentemente, em cadeia nacional, Jair Bolsonaro faz discurso de ódio contra homossexuais e negros. Tudo isso instigado e complementado pelo discurso intolerante, preconceituoso, conservador e mentiroso do candidato José Serra à presidência da República. A mídia? Estava ao lado de Serra, corroborando em suas artimanhas, reforçando preconceitos contra Dilma, contra as mulheres e contra os tantos mais “adversários” do candidato tucano.


Wellington matou mais meninas na escola carioca. Se, por um lado, jamais saberemos as reais razões que o fizeram agir dessa forma, por outro sabemos o quanto a sociedade brasileira tem sido, no mínimo, indulgente com atos de intolerância, machismo, ódio e preconceito contra mulheres, negros e homossexuais. Se não há uma ligação direta entre esses diversos acontecimentos, eles pelo menos nos fazem pensar o quanto vale a vida de alguém em um contexto de tantos ódios? Quantas mulheres morrerão hoje vítimas do machismo? Quantos gays sofreram violência física? Quantos negros sentirão declaradamente o ódio racial que impregna o nosso país? O que é o bullying se não o prolongamento para a escola desse tipo de mentalidade? Quantas pessoas apoiaram as declarações de ódio de Bolsonaro via Facebook? Aquilo que acontece no ambiente escolar nada mais é do que um microcosmo do que a sociedade elege como valores primordiais. E o Brasil, que por tanto tempo negou a “pecha” de racista e preconceituoso, vê sua máscara cair.


Não adianta culpar o bullying, achando que ele é um problema de jovens, um problema das escolas. Não adiante grades e detectores de metal nas entradas ou a proibição da venda de armas. Como professora, sei que o que os alunos reproduzem em sala nada mais é do que ouviram da boca de seus pais ou na mídia. Não adianta pedir paz e tolerância no colégio enquanto a mídia e a sociedade fazem outra coisa. Na escola, o problema do bullying é tratado como algo independente da realidade política, econômica e social do país. Mas dá pra separar tudo isso? Dá pra colocar a questão só em “valores” dos adolescentes, da influência do malvado do computador ou dos videogames? Ou é suficiente chamar o ato de Wellington de uma “violência pós-moderna” sem explicação? Das muitas agressões cotidianas, a da escola do Realengo é apenas uma demonstração da potencialidade de nossos ódios. A única coisa que me pergunto é: teremos a coragem de fazer esse tipo de discussão?

Ana Flávia C. Ramos é professora, historiadora pela Unicamp




Quando escrever dói


Massacres no território sagrado da escola são comuns nos EUA, de cultura armamentista. Em alguns países da Europa e, recentemente, na Ásia, também se registram casos. No Brasil, que em plebiscito nacional recusou o desarmamento da população, é a primeira vez. Entramos de vez no labirinto da estupidez e da barbárie? Sulamita Esteliam (WWW.cartamaior.com.br)


Estou por demais mexida para escrever com propriedade. Mas a palavra, escrita ou falada, tem sido a minha vida. Não posso fugir à minha sina. Ademais, traçar linhas, mal ou bem, baixa a pressão da alma, alivia o espírito. Assim como cantar e dançar espanta os males, afugenta o cramunhão da amargura, da tristeza que sufoca e anestesia.


Só que hoje, 7 de abril de 2011 – Dia Nacional dos Jornalistas, os amigos que me perdoem – é impossível cantar ou dançar, muito menos comemorar. Resta-me escrever.


A notícia da chacina na escola de Realengo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, me chegou em meio ao café da manhã; e ao último telejornal matutino. Eu, que mal ligo a TV – desde que acompanhar o noticiário deixou de ser obrigação profissional -, passei o dia agarrada ao sofá, zapeando as principais emissoras. Olhos e ouvidos incrédulos, atentos, derramados.


Chorei o dia inteiro.


Não há limite para a natureza humana quando ela se aproxima da animalidade.


Sou cada uma das mães e dos pais, irmãs e irmãos, avós e avôs, tias e tios, amigos que se salvaram, de cada uma das crianças vitimadas.


Tenho filha ainda adolescente. Tenho um casal de netos e mais uma sobrinha, todos na faixa de idade, e no período escolar, das crianças-adolescentes escolhidas pelas balas certeiras do desespero. Na cabeça, no tórax e no abdômen. Inconsciente!?


Doze “brasileirinhos”, que tiveram a vida abreviada, como bem lembrou a presidenta Dilma, que também é mãe e avó. E que, por isso, chorou.


Meninas em sua absoluta maioria: dez. Maioria também dentre as dezenas de feridos, dos quais onze permanecem internados, quatro dos quais em estado grave. É o que diz o noticiário da noite.

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Por que meninas-alvos-preferenciais!? O algoz não pode mais responder. Suicidou-se, ao que consta. Barrado em sua regência macabra – por um soldado, destemido ou solidário, que lhe atirou nas pernas. Buscou o beneplácito da morte.


O sargento Alves, travestido em herói, e mais dois colegas foram trazidos por crianças feridas, mas corajosas e determinadas. Instadas pela professora, abençoada, fugiram. Escaparam à fúria assassina. Pediram socorro a uma guarnição militar, em trabalho na redondeza.


Do contrário, Wellington Menezes de Oliveira, um jovem de 23-24 anos, ex-aluno da escola, reservado e sem antecedentes criminais, teria levado outras dezenas de vidas com ele. Tinha munição para muito mais terror.

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Por que alguém invade um escola para matar inocentes? O que o motiva?


Wellington planejou, se armou, treinou, se abasteceu. Esperou o momento certo. Sabia que não seria barrado na confraternização dos 40 anos da escola. Antes de matar, destruiu as provas da premeditação. E escreveu uma carta-testamento. Nela, prevê a própria morte, dá instrução para o funeral; e pede que “os puros” orem para que ele renasça no perdão de Deus.


Louco, obcecado ou reprimido em surto psicótico? Como lidar com isso?

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Chacinas ocorrem no Brasil todos os dias. Nossas metrópoles, de há muito, vivem em guerra civil. Crianças e jovens morrem, cotidianamente, esmagados pela violência urbana. Flagelo de séculos de desigualdade, agregada ao flagelo do tráfico e das drogas, que avançam rumo ao interior e levam nosso futuro. Sempre os mesmos: a maior parte meninos, pobres e negros.


Há ocorrências de rixas entre alunos, de agressões e, até, morte de professores – como aconteceu numa faculdade de Belo Horizonte, em dezembro último. Nada que se compare ao que ocorreu na Escola Municipal Tasso da Silveira.


Massacres no território sagrado da escola, lugar de comunhão de ideias e troca de experiências, de construção de universos próprios e coletivos, são comuns nos Estados Unidos, de cultura armamentista. Em alguns países da Europa e, recentemente, na Ásia, também se registram casos.


No Brasil, que em plebiscito nacional recusou o desarmamento da população, é a primeira vez. Entramos de vez no labirinto da estupidez e da barbárie?

* Sulamita Esteliam é jornalista e escritoraa. Autora dos livros Estação Ferrugem, romance-reportagem que resgata a história da região operária de Belo Horizonte-Contagem, Vozes, 1998; Em Nome da Filha – A História de Mônica e Gercina, sobre violência contra mulher em Pernambuco; e o infantil Para que Serve Um Irmão, os dois últimos ainda inéditos. http://www.atalmineira.wordpress.com //sulamitaesteliam@hotmail.com



REALENGO, 7/4/2011

Deixar a vida para entrar no espetáculo

Por Eugênio Bucci em 9/4/2011 Psicanalistas, psicólogos e criminologistas vêm apontando traços comuns no perfil desses sujeitos que, de repente – e de uma vez –, descarregam suas armas contra adolescentes dentro da escola. Leia o restante da matéria aqui: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=636IPB012





Contra a tortura do soldado Manning

Publicado em 11/04/2011 por Cristina Moreno de Castro

texto de José de Souza Castro:


Os primeiros 100 dias do governo Dilma foram lembrados hoje pela imprensa. Em geral, os comentários foram positivos. A Folha de S. Paulo, que não pode ser acusada de governista, diz em editorial que o novo governo abandonou “a atitude seletiva para com valores internacionais, tais como os direitos humanos, que nos aproximava de regimes autocráticos e gerava desnecessário atrito com os países desenvolvidos” que precisam ser confrontados em torno de “contenciosos concretos, que não faltam”. Não deu qualquer exemplo, o que me permito fazer aqui.


Há mais de dez meses se encontra preso numa base da Marinha nos Estados Unidos o soldado Bradley Manning, acusado de passar informações sigilosas ao WikiLeaks. Está preso sob tortura, segundo PJ Crowley, porta-voz do Departamento de Estado, que renunciou logo após fazer a denúncia, no mês passado, durante seminário no MIT (Massachusetts Institute of Technology). “O que o Departamento da Defesa está fazendo a Bradley Manning é ridículo, contraproducente e estúpido”, classificou Crowley.


O presidente Barack Obama não podia mais fugir ao tema, como vinha fazendo, e saiu pela tangente: disse que havia sido informado pelo Pentágono de que os procedimentos eram “apropriados”.


Um procedimento de forma alguma apropriado, porém, para um presidente que chegou à Casa Branca dizendo que um dos objetivos principais de seu governo seria recuperar a imagem global dos EUA. Na época, Obama considerava o tratamento degradante que o governo Bush dava aos prisioneiros como uma ação contrária aos interesses nacionais dos EUA.


Em artigo publicado pelo jornal britânico Guardian, há um mês, Daniel Ellsberg, o analista militar que em 1971 tornou públicos os “Pentagon Papers” (estudo altamente secreto do Departamento de Defesa sobre a Guerra do Vietname), ironizou a declaração do presidente dos Estados Unidos:


“Se Obama acredita nisso, acreditará em qualquer coisa. Seria de esperar que fizesse mais e melhor do que perguntar aos criminosos se estão agindo como devem agir. Posso até ouvir a voz do presidente Nixon, dizendo à imprensa: “Os empregados da manutenção dos encanamentos da Casa Branca que assaltaram o escritório do Dr. Daniel Ellsberg em Los Angeles informaram-me que seus atos são apropriados e conforme nossos padrões básicos.”


Como se sabe, Nixon acabou renunciando. Mas os tempos são outros, e nem Ellsberg espera que Obama renuncie por causa de torturas de um soldado num quartel dos Estados Unidos. No entanto, ele aponta um caminho a ser seguido pelo presidente: “Mas, se o presidente Obama realmente desconhece as reais condições da prisão de Manning – se realmente acredita, como disse, que “parte dos procedimentos adotados [ser mantido nu, em isolamento, impedido de dormir, sob iluminação direta e sob vigilância de câmeras 24 horas por dia] têm a ver com preservar a integridade física do prisioneiro”, apesar do laudo do psicólogo da prisão, que diz exatamente o contrário –, então, estão mentindo ao presidente, e é preciso que o presidente retome as rédeas do próprio governo.”


Duvido que o caso tenha sido discutido durante a recente visita de Obama ao Brasil, embora alguns ingênuos esperem que Dilma Rousseff discuta direitos humanos durante sua próxima visita à China.


Enquanto nada disso acontece, a Avaaz.org, uma rede de ativistas para mobilização social global através da Internet, criada em 2007, está recolhendo assinaturas em petição a ser enviada a Obama, pedindo o fim da tortura de Manning e a observação da lei. Quem quiser assinar, pode fazê-lo aqui: https://secure.avaaz.org/po/bradley_manning/?vl





Enviado por Leila Brito:


A OEA, respeitada organização intergovernamental, pediu ao Brasil para interromper a construção de Belo Monte – uma hidrelétrica imensa que iria destruir delicados ecossistemas da Amazônia – e a Presidente Dilma tem quatro dias para responder. Com essa pressão internacional sem precedentes, nós temos a chance de finalmente parar Belo Monte. A Organização dos Estados Americanos respondeu ao apelo direto das comunidades amazônicas afetadas, com um pedido oficial para o governo brasileiro interromper a construção de Belo Monte. A OEA alerta que o Brasil pode estar violando tratados inter-americanos se prosseguir com esta barragem desastrosa. O prazo final para o Brasil responder a OEA é esta sexta feira. Nós temos apenas alguns dias para dizer à Presidente Dilma, ao Ministério das Relações Exteriores e à Secretaria de Direitos Humanos que nós estamos do lado da OEA e dos povos amazônicos. Envie uma mensagem agora exigindo que o Brasil honre o seu compromisso internacional com os direitos humanos e pare Belo Monte imediatamente. http://www.avaaz.org/po/belo_monte/?v


As comunidades amazônicas foram forçados a recorrer à OEA depois que a Presidente Dilma ignorou seus apelos, colocando grandes interesses financeiros de empreiteiras acima da preservação ambiental. Belo Monte vai custar 30 bilhões de reais e a maioria desse dinheiro vai para grandes empreiteiros que foram os maiores doadores da campanha presidencial da Dilma. Mas se nós investirmos uma fração do que será gasto em Belo Monte em energia renovável, poderemos suprir as demandas do Brasil por energia, apoiando o desenvolvimento sustentável sem comprometer centenas de hectares da floresta mais preciosa do mundo. Este ano, mais de 600.000 brasileiros pediram para a Presidente Dilma parar Belo Monte. A petição contra Belo Monte foi entregue pessoalmente aos seus principais assessores em Brasília, em uma marcha emocionante de povos indígenas que chamou a atenção da mídia no Brasil e no mundo. Mas mesmo assim, o governo ignorou o nosso chamado. Agora países de todas as Américas estão se juntando à luta. Vamos agir neste momento crucial e mostrar que os brasileiros apóiam a solicitação da OEA. Envie uma mensagem para Presidente Dilma, Ministério das Relações Exteriores e a Secretaria de Direitos Humanos dizendo que os brasileiros estão junto com a OEA e as comunidades amazônicas para pedir um fim a Belo Monte: http://www.avaaz.org/po/belo_monte/?vl


Belo Monte não é o que queremos para o futuro do Brasil. Enquanto nos preparamos para a Rio+20, a maior conferência ambiental do planeta, essa é a chance de o Brasil ser uma liderança mundial como um exemplo de desenvolvimento aliado à sustentabilidade. A declaração da OEA oferece uma nova oportunidade de mudança, trazendo aliados internacionais para a luta contra Belo Monte. Vamos aumenta a pressão sobre o governo, agindo e divulgando esta campanha. Com esperança, Emma, Graziela, Ben, Alice, Luis e toda a equipe Avaaz.


Leia mais: Comissão da OEA pede que Brasil suspenda construção da represa de Belo Monte: http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5ghObml-y57D7oM6HTkI6fbmnNbpg?docId=CNG.b784413f83000616dda24915663acf14.4e1


Belo Monte: OEA solicita suspensão do processo de licenciamento e construção http://www.ecoagencia.com.br/index.php?open=noticias&id=VZlSXRlVONlYHZFSjZkVhN2aKVVVB1TP








Guerra civil na Líbia? por HENRIQUE RATTNER

Os povos do mundo árabe têm sofrido nas últimas décadas sob a dominação de governos autocráticos impiedosos e opressores que roubaram suas riquezas e perseguiram qualquer voz dissidente. E o ocidente aceitou, por conveniência ou por interesses comerciais, essa situação degradante que fere os princípios básicos dos direitos e da dignidade humanos. A única alternativa que parecia existir era o regime do islamismo extremista, do tipo da teocracia iraniana... LEIA NA ÍNTEGRA: http://espacoacademico.wordpress.com/2011/04/09/guerra-civil-na-libia/



Informo que a Revista Espaço Acadêmico, edição nº 119, Abril de 2011, foi publicada. Acesse: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/issue/current

Destacamos, nesta edição, o DOSSIÊ MOVIMENTOS SOCIAIS E PODER POPULAR, organizado por Frederico Daia Firmiano e Silvia Beatriz Adoue. Agradecemos, a ambos pela contribuição com a REA e seus leitores. Somos gratos, também a todos que contribuíram com o dossiê, colunistas e colaboradores.



Revolta árabe: o sucesso das revoluções que fracassam

Ainda esse ano, haverá eleições na Tunísia e no Egito. Essa é mudança tremenda no mundo árabe. Eleições não resolvem todos os problemas, mas marcam novos parâmetros. Outros terão de ser conquistados. Novas formas de participação, novos espaços para participação, novos sonhos democráticos que acabarão por enterrar, de vez, os restos rançosos do neoliberalismo. Nem todas as transferências de lucros do petróleo do mundo substituem a vida social e politicamente digna. O artigo é de Jiajay Prashad. http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17671&boletim_id=888&componente_id=14439



Boaventura de Sousa Santos:

Para Portugal sair da crise

Em artigo publicado nesta sexta-feira no jornal Público, o sociólogo Boaventura de Sousa Santos diz que a receita do Fundo Monetário Internacional (FMI) para Portugal só vai causar o aprofundamento da crise, a exemplo de outros países onde ela foi aplicada. "Claro que pode haver complicadores", ressalta. "Os portugueses podem revoltar-se. O FMI pode admitir que fez um juízo errado e reverter o curso, como aconteceu na crise da Ásia Oriental, em que as políticas do FMI produziram o efeito contraproducente". http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17667&boletim_id=887&componente_id=14419






O Informe Manaus está disponibilizando um serviço de banco de imagens(www.informemanaus.com.br/fotos)

com cerca de 5.000 fotos de Manaus, distribuídas em várias categorias. São fotos que podem ser visualizadas por qualquer pessoa que queira conhecer melhor a capital amazonense, por meio de imagens atuais e antigas. Serve, por exemplo, como ótima fonte de referência a estudantes que necessitem de fotografias da cidade para a realização de trabalhos escolares.










Na próxima semana ocorrerá o workshop Saúde e Desenvolvimento na África e na Diáspora Africana: Benin, Brasil e o Caribe Britânico na Segunda Metade do Século XIX.

A programação segue abaixo.


Dia 18 de abril de 2011 14:00h - Palestra da Profa. Rita Pemberton "Social Conditions in the Caribbean after Emancipation"

Dia 20 de abril de 2011 Workshop Internacional Saúde e Desenvolvimento na África e na Diáspora Africana: Benin, Brasil e o Caribe Britânico na Segunda Metade do Século XIX


Convidamos vocês a participarem do workshop no qual serão apresentados os estudos em andamento dos pesquisadores que fazem parte do projeto sobre a história da saúde de africanos e afro-descendentes nas Américas e na África Ocidental. O encontro também pretende estabelecer diálogos com pesquisadores e estudantes interessados nas temáticas relativas à saúde, terapêuticas e diáspora africana em perspectiva histórica.

O projeto é financiado pelo programa holandês South-South Exchange Programme for Research on History of Development (SEPHIS).

As inscrições podem ser feitas através do email: cscaldeira@coc.fiocruz.br.

Serão conferidos certificados de participação.


Programação: 9:30 a 10:00 – Café da manhã

10:00 a 12:30 – Mesa com a participação dos seguintes pesquisadores: Kaori Kodama (COC-Fiocruz) e Tânia Salgado Pimenta (COC-Fiocruz) – The impacts of the cholera epidemics in Rio de Janeiro and in Salvador (1855-56): some considerations on the mortality and on ethnicity Rita Pemberton (Coordenadora do Projeto, Department of History, University of West Indies ) – Cholera and Crisis: Barbados, 1854. Elisée Soumonni (Université d’Abomey-Calavi) – Benin Disease Environment in the Nineteenth Century Magali Romero Sá (COC-Fiocruz) e Marilza Herzog (IOC-Fiocruz) – Onchocerciasis in Brazil: occurence and dissemination Juliana Manzoni (COC-Fiocruz) e Marcos Chor Maio (COC-Fiocruz) – Among “blacks and mixed races”: sickle cell trait and sickle cell anemia in Brazil in the 1930s and 1940s





Alternativas para a crise portuguesa

Boaventura Santos apresenta um leque de saídas concretas e alerta: "pacote que FMI prepara enterrará as melhores aspirações da sociedade"


Por uma nova economia energética

Ricardo Abramovay sustenta: para enfrentar aquecimento global não bastam novas tecnologias. É preciso superar consumismo e opção pelas mega-usinas


Código Florestal: uma chance contra o retrocesso

Ambientalistas fazem manifestação em Brasília. Movimentos e parte da base de apoio ao governo no Congresso tentam evitar votação imediata do substitutivo Aldo Rebelo. Por Iara Vicente


Noam Chomsky: sobre intervenções e hipocrisias

Para filósofo, soberania nacional não é absoluta; e na Líbia, era preciso defender os rebeldes. Mas os interesses das potências ocidentais são outros...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Número 273

Muitos assuntos neste Boletim: A radiação no Japão, ainda o Wikileaks, a Comissão da Verdade, Faltou alguem no enterro do Zé, a negociata dos EUA com os sauditas, o golpe de 1964... Ganhe seu tempo: leia tudo!!!



O melhor de WikiLeaks Por Leneide Duarte Plon, de Paris em 5/4/2011 (do Observatório da Imprensa) "A questão do equilíbrio entre o poder do Estado e o contrapoder exercido pelos cidadãos é legítima e dificilmente contestável quando se trata de Estados totalitários. Mas é menos evidente quando se trata de Estados democráticos." A frase é do ex-embaixador francês no Senegal, o escritor Jean-Christophe Rufin, num artigo publicado originalmente no jornal Le Monde e reproduzido na publicação fora de série Le meilleur de WikiLeaks (O melhor de WikiLeaks), lançada na França pelas Edições Le Monde. Rufin se pergunta se é legítimo questionar e pôr em risco as instituições democráticas fruto da livre expressão da vontade popular, como o fez WikiLeaks, o polêmico site criado pelo australiano Julian Assange. "A partir de que patamar se passa da mobilização útil à ameaça contra o contrato social?" escreve o escritor. A dificuldade de exercer plenamente o contrapoder em relação a Estados democráticos foi colocada em praça pública pelo site WikiLeaks no caso da divulgação de documentos secretos originários de embaixadas americanas referindo-se à política de países como a França, a Grã-Bretanha e o Brasil, entre muitos outros. "Desejável e problemática" Depois de várias semanas publicando e analisando o conteúdo de diversos dos famosos telegramas, o jornal Le Monde – um dos cinco órgãos de imprensa (com o espanhol El País, o inglês The Guardian, o americano The New York Times e o semanário alemão Der Spiegel) que publicaram e analisaram os documentos recebidos pelo fundador do site – deu a seus leitores acesso a uma seleção de alguns dos telegramas secretos com a publicação da revista Le meilleur de WikiLeaks, na qual, além de alguns dos mais polêmicos telegramas, o debate é enriquecido com análises e artigos contraditórios. O embaixador dos Estados Unidos na França, Charles Rivkin, por exemplo, se mostra totalmente contrário à divulgação por entender que "a confidencialidade é um elemento intrínseco da diplomacia e a divulgação de documentos secretos coloca em risco a segurança de pessoas no mundo todo". Em seu artigo, Timothy Garton Ash, historiador e professor de estudos europeus da Universidade de Oxford, escreveu que "a divulgação dos telegramas americanos é, ao mesmo tempo, desejável e problemática". Mas termina seu texto dizendo que aposta que "o governo americano deve se arrepender amargamente de sua decisão bizarra de confiar toda uma biblioteca diplomática recente a um sistema informático militar tão bem protegido que um jovem de 22 anos pode copiá-lo facilmente num CD de Lady Gaga". Princípios fundadores da democracia Aurélien Colson, professor de Ciências Políticas na França e respeitado pesquisador do segredo e da transparência na diplomacia, escreve, no artigo intitulado "Em direção de um novo equilíbrio entre segredo diplomático e direito de saber?", que ao divulgar os telegramas diplomáticos do Departamento de Estado destinados a permanecerem secretos, WikiLeaks poderia invocar os pais da diplomacia e da democracia americana. Ele afirma em seu artigo: "Entre a independência de 1776 e a Constituição de 1787, George Washington, Benjamin Franklin, George Mason e outros republicanos estabeleceram como princípio a recusa do segredo nas negociações internacionais. Essa recusa traduzia uma rejeição americana dos hábitos da diplomacia europeia de então, que costumava fazer acordos obscuros e tratados secretos em nome de monarcas que não tinham que dar contas de seus atos." Nesse caso, não é o criador de WikiLeaks quem deveria ser julgado, mas sim Barack Obama e Hillary Clinton, que com a diplomacia do segredo traem os princípios fundadores da democracia americana.


Crise nuclear japonesa, acreditar em quê? A maior crise existente no Japão hoje é a crise de confiança. Já não é possível acreditar em nenhum comunicado que faz a Tóquio Eletricidade (Tepco), nem no que diz o governo japonês. Não há como acreditar em nada do que o governo japonês fala. Não se sabe com que critério científico o governo determina o perímetro de 30 km de evacuação. Mas não resta dúvida de que esse perímetro não é aumentado pois isso representará milhares de milhões de ienes de indenizações. O artigo é de Tomi Mori. Tomi Mori (*) - Esquerda.net (WWW.cartamaior.com.br) Entrando na quarta semana após o início da tragédia, já que ela ainda está longe de terminar, temos alguns dados já relativamente estabilizados. As mortes oficiais somam 11.620, os desaparecidos 16.444 (não há muita possibilidade de que sejam encontrados vivos depois de tantos dias), 2.877 feridos e 191.625 construções destruídas ou danificadas. Esses números podem ser considerados como a primeira parte da tragédia. A outra parte diz respeito às casas, plantações e vidas desorganizadas pela tragédia nuclear, que continua sem que possamos dizer em que estágio da crise nos encontramos. Estima-se que serão necessários 300 bilhões de dólares para reparar os estragos causados. Estamos no início, no meio ou próximos do final da crise? Falta de credibilidade A maior crise existente no Japão hoje é a crise de confiança. Essa crise fenomenal de confiança, no mais amplo sentido da palavra, deriva da atitude das autoridades envolvidas na crise nuclear, ou seja, a Tóquio Eletricidade (Tepco) e o governo do primeiro-ministro Naoto Kan. A Tóquio Electricidade, operadora da central nuclear Fukushima 1, desde que começou a tragédia, tem agido de tal maneira que já não é possível acreditar em nenhum comunicado que faz. O próprio primeiro-ministro japonês, no início da crise, foi ao escritório da empresa, em Tóquio, para reclamar da maneira como havia sido comunicado. Foi o último a saber, já que a empresa havia se manifestado na imprensa primeiro. Os primeiros vazamentos, que a operadora alegou serem "inofensivos", acarretaram entre outras coisas uma situação na qual os moradores próximos à unidade não mais poderão voltar às suas casas. Vários trabalhadores foram contaminados pela radioatividade, ocasionada pela falta de segurança no trabalho, fruto de informações erradas ou, quem sabe, literalmente mentirosas. Desde que se iniciou a tragédia nuclear, a operadora fornece dados das medições de radioatividade, mas ninguém é capaz de dizer quais são os critérios utilizados. Se esses critérios são adequados, se os equipamentos utilizados são apropriados, ninguém está em condições de julgar. Mesmo com toda a artimanha utilizada para não agravar o que já era grave, as ações da empresa despencaram. E só não viraram pó, como se diz no jargão financeiro, porque continuam a jogar às escondidas, sem dizer claramente o que deveria ser dito numa situação tão grave como é a atual. Não restam dúvidas que, em primeiro lugar, vêm as motivações económicas e só depois as sociais, como a segurança e a vida das pessoas. As semanas estão a passar, mas não há nenhuma informação concreta de como tudo isso irá terminar. Durante a semana, foi anunciada a desativação de quatro reactores. Em qualquer situação, é um trabalho que vai levar algumas décadas. Era o óbvio, depois que deitaram água salgada, na tentativa desesperada de refrigerar os reatores. Mas ao invés de diminuir as dúvidas, o que temos à nossa frente é uma quantidade ainda maior de questões não respondidas. Quanto tempo irá levar para que a situação esteja sob controle? A operadora tem como impedir uma fuga que coloque em risco a vida das pessoas? Agora que entramos na Primavera e a temperatura aumenta, como substituir a água do mar? O exército vai deitar sorvete em cima dos reatores com helicópteros? Neste momento, nas proximidades de Fukushima 1, a temperatura ainda é baixa, provavelmente oscilando até aos 5 graus. Mas, o que será feito quando a temperatura ambiente atingir mais de 30 graus? O governo aventa a possibilidade de jogar resina, mas o que isso significa? Não há como acreditar em nada do que o governo japonês fala. Não se sabe com que critério científico o governo determina o perímetro de 30 km de evacuação. Mas não resta dúvida de que esse perímetro não é aumentado pois isso representará milhares de milhões de ienes de indenizações. Quanto maior o perímetro, maior a indenização a ser paga e o governo, claramente, faz essas contas, mesmo que isso signifique o risco de milhares de pessoas. O governo, como qualquer governo, tem de falar alguma coisa, mas é incapaz de encontrar uma solução rápida que possa evitar um tragédia de grandes proporções. Na inexistência de explicações confiáveis, sou forçado a especular e tudo indica que a situação hoje é pior e mais dramática do que no dia 11 de março, quando houve o terremoto. Falta de confiança afeta economia A visita do presidente Sarkozy ao Japão corresponde ao temor existente, em todo o mundo, de que a crise japonesa possa causar problemas ainda maiores num mundo que já está bastante complicado. Os otimistas diziam que o mundo estava saindo da crise de 2008. Outros mais críticos, diziam que estávamos a caminho, não da recessão mas, sim, da depressão. Independente de estar a favor desta ou daquela opinião, a atual crise japonesa, sem sombra de dúvidas, só faz piorar a situação mundial. A dependência da energia nuclear de alguns países é gritante, basta ver a França de Sarkozy. A França, que sonhava vender centrais nucleares até para os marcianos, se fosse possível, viu o seu projecto despedaçar-se. E, mais do que isso, pode ocorrer um indesejável e poderoso movimento anti-nuclear, coisa que o presidente francês pretende evitar, antecipando-se aos acontecimentos e tentando se transformar no paladino da segurança nuclear, como se isso fosse possível... A falta de um posicionamento claro por parte do governo tem acarretado uma paralisia em todas as áreas da atividade social. Ainda é cedo para se fornecer números, mas além de várias empresas já terem sido afetadas, com falta de peças e componentes, ainda estamos apenas no início de problemas maiores na economia japonesa. No próximo verão, já está claro que a falta de energia irá causar graves problemas. O maior deles será a falta de energia em Tóquio, coração da economia japonesa. Como resolver essa questão? Este ano, os japoneses poderão exercer amplamente a sua criatividade, mas é pouco provável que isso impeça que marchemos para uma situação recessiva. Setores da burguesia imperialista japonesa acreditam que na tragédia surge a oportunidade de auferir grandes lucros. Tem algum sentido, já que as pessoas terão de comprar frigoríficos, televisões,camas, construir casas, etc... Mas não se pode dizer que isso vá revitalizar a economia japonesa. Em função da crise nuclear, do seu prolongamento e desdobramentos, a palavra que sintetiza a atual situação japonesa é "volátil". Qualquer que seja a próxima tragédia, ela já não será uma surpresa. (*) Correspondente em Tóquio do Esquerda.net Quem tem medo da verdade? Passar à resistência clandestina era a opção de colocar a própria integridade física em risco. Mas essa foi a opção de milhares de brasileiros. Nada menos que 479 pessoas foram eliminadas, 163 das quais se tornaram desaparecidos políticos. Denominar a ditadura de “ditabranda” é piada de péssimo gosto. Pior ainda é a insistência de alguns comandos militares de comemorar o 31 de março como uma “revolução democrática”, em desafio à cúpula militar que retirou esta data do calendário de efemérides. O artigo é de Nilmário Miranda. Nilmário Miranda (*) - Especial para Carta Maior

Eu não tinha 17 anos quando veio o golpe, destruindo meus sonhos das grandes reformas de base. Morava na então pequena Teófilo Otoni (MG). Os ferroviários da lendária Estação de Ferro Bahia-Minas cruzaram os braços. Foi o único e solitário protesto (no ano seguinte a EFBM foi extinta). Em poucos dias nada menos que 74 pessoas foram presas pelos “revolucionários” e levados ao QG dos golpistas em Governador Valadares. Ferrovias, comerciários, bancários, estudantes, militantes da Igreja, do Partidão, do PTB, pequenos comerciantes – dentre eles meu pai, uma pessoa pacata, educada, incapaz de fazer mal a ninguém, uma alma gentil. Chocou-me também a prisão de Dr. Petrônio Mendes de Souza, ex-prefeito, médico dos pobres, figura hierática. Lá pelos dias encontrei-me com o filho do ferroviário Nestor Medina, carismático, inteligente, autodidata, homem de grande dignidade. Desde aquela noite fiz juras de por todos os dias enquanto durasse, combateria a ditadura, o que realmente aconteceu. No ano seguinte mudei para Belo Horizonte para estudar e participar da resistência. 1968 foi o ano do crescimento da oposição à ditadura. A Marcha dos Cem Mil no Rio; as duas greves (Contagem e Osasco) desafiando a rigorosa legislação anti operária; a fermentação no meio cultural; a Frente Ampla que uniu o impensável (a UDN de Carlos Lacerda, o PSD de JK, o PTB de Jango); as primeiras ações da resistência armada. A recusa da Câmara de conceder a licença para processar Márcio Moreira Alves foi um pretexto para a edição do AI-5 em 13 de dezembro, instituindo o Terror de Estado. Eu respondia a processo pelo LSN depois da prisão por 32 dias após a greve de Contagem; vi-me em um dilema: sair do país, para o exílio; ou cair na clandestinidade. Estudava Ciências Econômicas na UFMG. Optei pela resistência na clandestinidade, aos 21 anos. Todas as portas foram fechadas; os espaços para a oposição foram extintos. Desde as prisões em Ibiúna de mais de 700 estudantes de todo o país, as odiosas listas negras para os trabalhadores rebeldes, a “aposentadoria” forçada de três ministros do STF como recado para amordaçar a Justiça, a censura prévia na imprensa, o fim do habeas corpus. A polícia política tinha dez dias de prazo para apresentar o detido ao juiz militar, e a criação de centros de detenção e tortura na prática era a institucionalização da tortura. Passar à resistência clandestina era a opção de colocar a própria integridade física em risco. Mas essa foi a opção de milhares de brasileiros. Nada menos que 479 pessoas foram eliminadas, 163 das quais se tornaram desaparecidos políticos. Denominar a ditadura de “ditabranda” é piada de péssimo gosto. Pior ainda é a insistência de alguns comandos militares de comemorar o 31 de março como uma “revolução democrática”, em desafio à cúpula militar que retirou esta data do calendário de efemérides. Aprovar e instalar a Comissão Nacional da Verdade, confiando à sete pessoas idôneas, probas e éticas a tarefa de passar os 21 anos da ditadura à limpo dá uma interpretação fiel ao que se passou no país para constar dos livros e currículos escolares, inclusive das academias militares. É mais uma grande e importante etapa na construção de nossa democracia, incorporando o direito à verdade. (*) Nilmário Miranda é jornalista, Presidente da Fundação Perseu Abramo, ex Ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH). Líbia: exposta afinal a negociata EUA-sauditas Pepe Escobar Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu Vocês invadem o Bahrain. Nós derrubamos Muammar Gaddafi na Líbia. Essa, em resumo, é a negociata acertada entre o governo de Barack Obama e a Casa de Saud. Duas fontes diplomáticas na ONU confirmaram, independentes uma da outra, que Washington, pela boca da secretária de Estado Hillary Clinton, deu sinal verde para que a Arábia Saudita invadisse o Bahrain e esmagasse o movimento pró-democracia no país vizinho, em troca de um voto “sim” da Liga Árabe para aprovar uma zona aérea de exclusão sobre a Líbia – único “fundamento” que levou à Resolução n. 1.973. As fontes são dois diplomatas, um europeu e outro de país BRICS; os dois falaram separadamente, a um professor e intelectual norte-americano e ao jornal Asia Times Online. Não terão seus nomes divulgados. Um dos diplomatas disse: “Por isso não era possível votar a favor da Resolução 1973. Acompanhávamos o argumento segundo o qual Líbia, Bahrain e Iêmen são casos similares; para nós, era preciso nomear missão de investigação para ir à Líbia. Mantemos nossa posição: entendemos que a resolução não é clara e pode ser interpretada na direção de mais beligerância.” Como Asia Times Online noticiou, é mito que toda a Liga Árabe teria aprovado a zona aérea de exclusão sobre a Líbia. Dos 22 membros plenos, só 11 votaram. Seis desses são membros do Conselho de Cooperação do Golfo, o clube de reinos/ditaduras do Golfo apoiados pelos EUA, dos quais a Arábia Saudita é o cão-chefe. A Síria e a Argélia votaram contra. A Arábia Saudita teve de dobrar apenas outros três membros, para obter o número necessário de votos presentes, e aprovar o que queria aprovar. Tradução: só 9, dos 22 membros da Liga Árabe votaram a favor da zona aérea de exclusão. A votação foi, de fato, operação conduzida pela Casa de Saud, com o secretário-geral da Liga Árabe Amr Moussa interessado em mostrar serviço a Washington, interessado em obter a presidência do Egito. E assim aconteceu que, um dia, houve um Grande Levante Árabe de 2011. E então, inexorável, desceu sobre ele a contrarrevolução comandada por EUA-sauditas. (...) Digam o que disserem Barack Obama, Clinton e outros, nada alterará os fatos – resultado da suja dança do par EUA-Sauditas. Para saber quem lucra com a intervenção militar na Líbia, vide “Não hábusiness como a guerra-business”, Asia Times Online, 30/3/2011, em português. E acrescente àquela lista de beneficiários também a dinastia al-Khalifa no Bahrain, uma cesta sortida de fabricantes e mercadores de armas e todos os suspeitos neoliberais de sempre loucos para privatizar tudo que encontrem, na nova Líbia – até a água. E nem se falou até aqui dos abutres ocidentais que já sobrevoam a indústria de petróleo e gás da Líbia. Mas a mais surpreendente descoberta, de fato, é a extensão da hipocrisia do governo Obama. Pode-se dizer que nunca antes na história desse mundo vira-se governo dos EUA apresentar um descarado golpe geopolítico no norte da África e no Golfo Persa, como se fosse operação humanitária. E quanto a chamar a nova (mais uma!) guerra dos EUA contra nação muçulmana, de mera “ação militar cinética”? (...) Prendam os suspeitos de sempre (...) Na Líbia, vê-se hoje um curioso desenvolvimento: a OTAN está permitindo o avanço das forças de Gaddafi ao longo da costa mediterrânea, deixando que façam recuar os “rebeldes”. Já há dois dias não há novos “ataques aéreos cirúrgicos”. O objetivo da OTAN é, provavelmente, chantagear também o Conselho Nacional de Transição [ing. Interim National Council (INC)] infestado de desertores líbios, inclusive um ex-ministro da Justiça Mustafa Abdel Jalil; o ex-secretário de planejamento Mahmoud Jibril; e o ex-morador de Virginia, vizinho da CIA nos EUA por 20 anos e “novo comandante militar” dos “rebeldes” Khalifa Hifter. O ingênuo, embora decente e louvável Movimento de Jovens 17 de Fevereiro – que começou o levante em Benghazi – foi completamente posto de lado. Aí está a primeira guerra africana da OTAN, como o Afeganistão foi a primeira guerra da OTAN no Centro/Sul da Ásia. Já firmemente configurado como braço armado da ONU, esse OTAN-Globalcop está em marcha, implementando o “conceito estratégico” que foi aprovado na cúpula de Lisboa em novembro passado (sobre isso, vide “Bem vindos ao OTANSTÃO”, 20/10/2010, Asia Times Online, em português. A Líbia de Gaddafi tem de ser varrida do mapa, para que o Mediterrâneo – o mare nostrum da antiga Roma – torne-se lago da OTAN. A Líbia é a única nação do norte da África não subordinada ao AFRICOM, ao CENTCOM ou a qualquer dos muitos “parceiros” da OTAN. Outras nações africanas não parceiras da OTAN são a Eritreia, A República Árabe Democrática Sawahiri, o Sudão e o Zimbabwe. Além do mais, dois membros da “Iniciativa Istambul de Cooperação” [ing. Istanbul Cooperation Initiative] da OTAN – o Qatar e os Emirados Árabes Unidos – combatem hoje ao lado do AFRICOM/OTAN, pela primeira vez. Tradução: parceiros da OTAN e do Golfo Persa fazem hoje guerra na África. A Europa? Provinciana demais. O Globalcop já deu as costas à Europa. No duplifalar oficial do governo Obama, há ditadores que podem contar com “o braço dos EUA” – por exemplo, o Bahrain e o Iêmen. Esses podem relaxar e fazer, na prática, virtualmente o que bem entenderem. Quanto aos candidatos a “alteração de regime”, na África, no Oriente Médio e na Ásia, esses, abram o olho. O OTAN-Globalcop vai pegar vocês. Com negociatas e acordos sujos, ou sem.
FALTOU ALGUÉM NO VELÓRIO DO ZÉ José Ribamar Bessa Freire 03/04/2011 - Diário do Amazonas Os dois morreram com a mesma idade: 79 anos. Os dois foram abatidos pela mesma doença maligna contra a qual lutaram bravamente por um longo período. José Alencar (1931-2011), vice-presidente do Brasil, câncer no intestino. François Mitterand (1916-1996) presidente da França, câncer na próstata. Ambos tiveram funerais solenes com pompa de chefe de Estado. No velório do francês, porém, foi registrada uma presença, que esteve ausente no enterro do brasileiro. Leia a íntegra no blog do Mello: http://blogdomello.blogspot.com/2011/04/faltou-alguem-no-velorio-do-ex-vice.html

O golpe de 1964: luta de classes no Brasil – a propósito de “Jango”, de Silvio Tendler

por ADRIANO NERVO CODATO O filme mais emblemático e que documentou com mais detalhes a vida política nacional dos anos 60 foi sem dúvida “Jango” (35 mm., 117 min., 1984). Assisti-lo é ver (ou rever) todos os conflitos que deixaram expostos os motivos da luta social no Brasil sem que seja preciso reavivar o debate no seio da esquerda sobre a pergunta renitente: “Por que perdemos?”... LEIA NA ÍNTEGRA: http://espacoacademico.wordpress.com/2011/04/02/o-golpe-de-1964-luta-de-classes-no-brasil-a-proposito-de-jango-de-silvio-tendler/

Fukushima: radioatividade 5 milhões de vezes superior ao limite O nível de iodo radioativo nas águas marinhas próximas da central nuclear de Fukushima é cinco milhões de vezes superior ao limite legal, informou nesta terça-feira a concessionária da central, Tepco. Japão fixa limites de radioatividade para pescado e marisco. Esta decisão foi tomada depois da descoberta de níveis de radioatividade anormalmente elevados, nos últimos dias, em pequenas enguias pescadas ao largo da província de Ibaraki, a Sul de Fukushima e a Norte de Tóquio. O Japão já proibiu a venda de vários legumes e leite cru, produzidos nas quatro províncias perto da central de Fukushima 1. http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17654&boletim_id=879&componente_id=14359

Golpe de 1964: os jornais e a "opinião pública" Estudar e conhecer melhor os vínculos dos grupos de mídia com a articulação golpista do início da década de 60, além de ser nosso dever para com aqueles que tombaram pelo caminho, pode nos ajudar – e muito – a compreender o que ainda ocorre na democracia brasileira de nossos dias. Quais justificativas eram utilizadas pela própria mídia para contornar a evidente contradição existente entre o seu discurso em “defesa da democracia” e, ao mesmo tempo, a articulação e a pregação abertas de um golpe de estado contra o presidente da República democraticamente eleito? O artigo é de Venício A. de Lima. http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm?home_id=113&alterarHomeAtual=1

A Representação da UNESCO no Brasil, O Programa Ações Afirmativas na UFMG, o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Educação - NEPER/UEMG CONVIDAM: LANÇAMENTO COLEÇÃO HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA EM BELO HORIZONTE Dia 13 de abril de 2011, quarta- feira Horário – 08:30 h às 18:00 h Programação: 8:30 – Recepção - Grupo de Choro da Escola de Música da Universidade do Estado de Minas Gerais 09:00 – Sessão solene de lançamento da Coleção História Geral da África 10:30 Mesa: Brasil-África: Heranças Históricas: Perspectivas Contemporâneas 15:00 - Mesa: Diáspora Africana: Território, Identidade Negra e Educação. 17:00 - Mesa: História da África e Cultura Afro-brasileira: Perspectivas Educacionais Local – Faculdade de Educação da UFMG - Auditório Neidson Rodrigues Av. Antônio Carlos 6627 – Pampulha – BH/MG Serão emitidos certificados de participação.mes/ Informações acesse: http//www.unesco.org/new/pt/brasilia/special-themes

Programa Ações Afirmativas na UFMG Faculdade de Educação - FaE /UFMG Av. Antônio Carlos, 6627 - Pampulha Belo Horizonte/MG CEP: 31.210-901 Tel.: (31) 3409-6188 (31) 3409-6188 - Horário de atendimento: segunda a sexta de 14 às 18 horas Email: acoesafirmativas@yahoo.com.br

Calendário referente ao processo seletivo do curso de Especialização em História da Cultura e da Arte/2011: Inscrições: período de 11/04 a 20/04/2011 processo seletivo: dias 25 e 26/04/2011 resultado do processo seletivo: dia 27/04/2011 preenchimento do cadastro prévio pelo aluno: dias 27 e 28/04/2011 Início das aulas: 03/05 Uma mensagem a todos os membros de Cafe Historia ENTREVISTA O historiador, o embaixador e outras histórias Fábio Koifman, historiador e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), é o novo entrevistado do Café História. Koifman é autor do livro "Quixote das Trevas - o embaixador Souza Dantas e os refugiados do Nazismo", que revela os esforços de um ilustre brasileiro que desafiou o Terceiro Reich ao emitir centenas de vistos para judeus refugiados durante a Segunda guerra Mundial. Leia: http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/arquivo-conversa-cappuccino-10

PROMOÇÕES Se você ainda quiser comprar qualquer título da Editora Contexto com um desconto de 20%, precisa se apressar. A promoção está acabando. Veja como é fácil em: http://cafehistoria.ning.com/page/pandemias-1

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CAFÉ EXPRESSO NOTÍCIAS Arqueólogos encontram esculturas do período asteca no México DOCUMENTO HISTÓRICO A primeira edição da Revista Veja. ENQUETE HISTÓRICA Qual dessas revistas abaixo você mais utiliza em suas pesquisas em história? O Cruzeiro, Realidade, Fon-Fon, Veja, Manchete. CONTEÚDO DA SEMANA Página disponibiliza mais de trinta vídeos sobre História Medieval. MURAL DO HISTORIADOR Produção de Trabalhos Acadêmicos Matéria Cavaleiresca Exposição no Arquivo Nacional Visite Cafe Historia em: http://cafehistoria.ning.com/?xg_source=msg_mes_network


Retratos da Revolução, aos cem dias Por que a revolta árabe repercute pelo mundo. Que forças procuram dominá-la. Como ela altera nossas ideias de transformação social. Por Antonio Martins O conto do imperialismo humanitário Petróleo, influência geopolítica, interesses eleitoreiros: há muito por trás do ataque à Líbia -- menos desejo sincero de afastar o ditador... Por Romualdo Pessoa Londres luta pelos serviços públicos O gigantesco protesto de massa dos ingleses, contra as medidas "de austeridade" que o governo conservador quer impor Honduras sem máscaras Sem temer os mísseis do Pentágono, o governo — mostra a ONU — continua a tolerar torturas, assassinatos políticos e impunidade. Por Sérgio Ferrari

As consequências de um voto Ex-chanceler brasileiro critica com sutileza posição do governo Dilma frente ao Irã e sugere: nova postura da diplomacia pode enfraquecer projeção internacional do país. Por Celso Amorim, em Carta Capital Reforma política: mudar tudo será a melhor opção? Em três semanas, a comissão criada por José Sarney reescreveu nosso sistema político. Mas o Congresso estará à altura das transformações que propostas? Por Marcos Coimbra Para livrar a Cultura das velhas pressões Lei Cultura Viva procura consolidar avanços alcançados pelos Pontos de Cultura -- e mobiliza centenas de coletivos autônomos espalhados pelo país. Do Vermelho Casal de sargentos gays responde a Bolsonaro Em entrevista ao Congresso em Foco, Fernando Alcântara e Laci Marinho dizem que as falas do deputado fluminense são uma reação de uma cúpula conservadora -- e cada vez mais minoritária -- das Forças Armadas

Extrema direita com discurso repaginado Na França, candidata Marine Lepen sobe nas pesquisas, acena para os mais pobres e tenta corrigir os exageros do pai. Mas os velhos cacoetes reaparecem quando fala sobre os imigrantes. Por Lamia Oualalou, no Opera Mundi

Repórteres Sem Fronteiras -- mas com partido Organização internacional já era vista com desconfiança devido a omissão diante de golpes militares. Agora, seu fundador admite simpatia pela extrema-direita francesa. Por Altamiro Borges, do Blog do Miro