quarta-feira, 30 de março de 2011

Numero 272



Hoje temos um assunto nacional e um internacional mas que se interpenetram. E o “ouro negro” é o denominador comum... prá variar...
fonte: www.viomundo.com.br 23 de março de 2011 às 15:01 Coordenador da FUP:


O pré-sal e o tsunami na geopolítica do petróleo por João Antônio de Moraes*

Uma nova ordem mundial começa a alterar a geopolítica do petróleo e, mais do que nunca, precisamos entender este processo e tratar o pré-sal como uma riqueza extremamente estratégica. O acidente nuclear no Japão, as mudanças políticas no Norte da África e no Oriente Médio e a visita de Barack Obama ao Brasil são fatos correlatos que colocam em alerta os movimentos sociais na defesa da nossa soberania energética. O tsunami japonês varreu, pelo menos temporariamente, os planos de expansão nuclear de dezenas de países que apostam nesta fonte de energia como principal alternativa para reduzir a dependência de hidrocarbonetos (óleo e gás natural). A tendência é que estes recursos se tornem cada vez mais estratégicos para saciar a fome de energia do planeta. Hoje os combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás) são responsáveis por mais de 80% da matriz energética global. As estimativas da Agência Internacional de Energia são de que o consumo de petróleo continue aumentando em termos absolutos, ultrapassando nos próximos dez anos a marca de 100 milhões de barris por dia. Em função disso, já estamos assistindo à corrida das principais nações em busca de novas fronteiras produtoras de petróleo e gás para garantir suas necessidades de abastecimento. Não por acaso, o Brasil foi o primeiro pouso de Barack Obama na América Latina. Por trás de sua “cordial” visita, estão intenções nada amistosas. Os Estados Unidos são o maior consumidor de petróleo do planeta (utilizam 25% da produção global) e também o mais vulnerável em meio à onda de revoltas que assola o Norte da África e o Oriente Médio, principal fonte abastecedora do país. Em troca de petróleo, o império norte-americano tem apoiado e sustentado ditaduras e governos autoritários nestas regiões, intervindo militarmente sempre que seus interesses são ameaçados. É o que está acontecendo agora na Líbia, da mesma forma como aconteceu no Irã, no Iraque e no Afeganistão. Mas as movimentações de peças no tabuleiro de xadrez do mundo árabe levam os analistas políticos a acreditarem que uma nova coalizão de forças colocará em xeque a posição confortável que os Estados Unidos usufruíam no Oriente Médio até então. Para que Washington diminua sua dependência da região, o Brasil é a bola da vez. Com o pré-sal, nosso país será uma das maiores reservas de petróleo do planeta e é de olho nesta riqueza que os Estados Unidos vêm tentando fechar acordos e parcerias com o governo brasileiro e a Petrobrás. A FUP e os movimentos sociais são contrários à tese de que o pré-sal deve fazer do Brasil um grande exportador de petróleo. Queremos que este estratégico recurso seja explorado de forma sustentável para desenvolver toda a sua cadeia produtiva. Desde a construção de navios e plataformas até a indústria petroquímica e plástica. É desta forma que o país irá gerar emprego e renda e não exportando petróleo cru para abastecer países ricos, como os Estados Unidos, que durante décadas exploram e usufruem de recursos energéticos alheios para sustentar seus absurdos níveis de consumo. O pré-sal, como disse a presidenta Dilma, é o passaporte para que as gerações futuras tenham um país desenvolvido, com oportunidades para todos. Mas isso só será possível investindo na cadeia produtiva do petróleo aqui no Brasil, fomentando a indústria nacional, gerando emprego e renda para milhões de brasileiros. por João Antônio de Moraes é coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros — FUP.


Cercar a Rússia, visar a China: O verdadeiro papel da NATO na grande estratégia dos EUA Diana Johnstone*, em 02.12.10, no Diario.info, sugestão do pessoal da Vila Vudu, ajustado para o brasileiro Embora escrito antes da Cúpula da OTAN em Lisboa, este texto de Diana Johnstone mantém toda a atualidade. Depois de desmascarar os objetivos da OTAN, a autora conclui: “Os governos euro-atlânticos proclamam a sua «democracia» como prova do seu direito absoluto de intervir nos assuntos do resto do mundo. Com base na falácia de que os «direitos humanos são necessários para a paz», proclamam o seu direito de fazer a guerra. Uma questão crucial é se a «democracia ocidental» ainda tem força para desmantelar esta máquina de guerra antes que seja tarde demais:

Nos dias 19 e 20 de Novembro, reúnem-se em Lisboa dirigentes da OTAN numa cúpula chamada de “Conceito Estratégico da OTAN”. Entre os tópicos para discussão encontra-se uma série de “ameaças” assustadoras, desde a guerra cibernética até à alteração climática, assim como belas coisas protetoras como armas nucleares e uma inútil Linha Maginot de alta tecnologia destinada a fazer parar os mísseis inimigos em pleno vôo. Os dirigentes da OTAN não conseguirão evitar falar da guerra no Afeganistão, essa cruzada interminável que une o mundo civilizado contra o esquivo Velho da Montanha, Hassan i Sabah, chefe dos Assassinos do século onze na sua mais recente encarnação como Osama bin Laden. Sem dúvida vai haver muita conversa sobre os “nossos valores comuns”.


A maior parte do que vai ser discutido é ficção com uma etiqueta de preço.


A única coisa que falta na agenda da cúpula Conceito Estratégico é uma discussão a sério sobre estratégia. Isto, em parte, resulta de a OTAN, enquanto tal, não ter qualquer estratégia, e não poder ter a sua própria estratégia. A OTAN é na verdade um instrumento da estratégia dos Estados Unidos. O seu único Conceito Estratégico operacional é o que é posto em prática pelos Estados Unidos. Mas até esse é um fantasma esquivo. Segundo parece, os dirigentes americanos preferem posições impressionantes, “soluções espetaculares”, em vez de definirem estratégias. Um dos que pretendem definir uma estratégia é Zbigniew Brzezinski, padrinho dos mujahidin afegãos quando estes podiam ser utilizados para destruir a União Soviética. Brzezinski não evitou declarar abertamente o objetivo estratégico da política dos Estados Unidos no seu livro de 1993, O Grande Tabuleiro de Xadrez: “A supremacia americana”. Quanto à OTAN, descreveu-a como uma das instituições que servem para perpetuar a hegemonia americana, “fazendo dos Estados Unidos um participante-chave até nos assuntos intra-europeus”. Na sua “rede global de instituições especializadas”, que obviamente incluem a NATO, os Estados Unidos exercem o seu poder através de uma “permanente negociação, diálogo, difusão e procura de um consenso formal, apesar de o poder ser sempre proveniente duma única fonte, nomeadamente, Washington, D.C.” Esta descrição cai como uma luva na conferência “Conceito Estratégico” de Lisboa. Na semana passada, o secretário-geral dinamarquês da NATO, Anders Fogh Rasmussen, anunciou que “estamos muito perto de um consenso”. E este consenso, de acordo com o New York Times, “seguirá provavelmente a formulação do presidente Barack Obama: trabalhar para um mundo não nuclear mantendo, apesar disso, um dissuasor nuclear”. Esperem aí, será que isto faz sentido? Não, mas é o tipo de consenso da OTAN. A paz através da guerra, o desarmamento nuclear através do armamento nuclear, e acima de tudo, a defesa dos estados membros enviando forças expedicionárias para enfurecer os nativos de países distantes.

Uma estratégia não é um consenso escrito por comissões.

O método americano de “permanente negociação, diálogo, difusão e procura de um consenso formal” neutraliza qualquer resistência que possa aparecer ocasionalmente. Assim, a Alemanha e a França resistiram inicialmente à entrada da Geórgia na OTAN, assim como ao célebre “escudo anti-míssil”, considerados ambos como provocações abertas capazes de provocar uma nova corrida às armas com a Rússia e de prejudicar as frutuosas relações da Alemanha e da França com Moscou, sem qualquer resultado útil. Mas os Estados Unidos não aceitam um não como resposta, e continuam a repetir os seus imperativos até esmorecer a resistência. A única exceção recente foi a recusa da França em aderir à invasão do Iraque, mas a reação irritada dos Estados Unidos assustou a classe política conservadora francesa, o que levou ao apoio de Nicolas Sarkozy, pró-americano.

À procura de “ameaças” e “desafios”

O verdadeiro conteúdo do que passa por um “conceito estratégico” foi declarado pela primeira vez e posto em ação na primavera de 1999, quando a OTAN desafiou a lei internacional, as Nações Unidas e a sua própria carta inicial entrando numa guerra agressiva, fora do seu perímetro de defesa, contra a Iugoslávia. Esse passo transformou a OTAN de uma aliança defensiva para uma aliança ofensiva. Dez anos depois, a madrinha dessa guerra, Madeleine Albright, foi escolhida para presidir o “grupo de especialistas” que passou vários meses realizando seminários, consultas e reuniões para preparação da agenda de Lisboa. Entre os mais importantes nesses encontros estavam Lord Peter Levene, presidente do Lloyd’s de Londres, a gigantesca seguradora, e o antigo diretor executivo da Royal Dutch Shell, Jeroen van der Veer. Estas figuras da classe dirigente não são propriamente estrategistas militares, mas a sua participação serve para garantir à comunidade internacional de negócios que vão ser levados em consideração os seus interesses a nível mundial. É bem verdade que o rol de ameaças enumeradas por Rasmussen num discurso do ano passado dava a entender que a OTAN trabalhava para a indústria dos seguros. Disse ser necessário que a OTAN tratasse do combate à pirataria, da segurança cibernética, da alteração climática, de incidentes radicais do clima tais como tempestades e inundações catastróficas, da elevação dos níveis do mar, da movimentação em grande escala de populações para áreas desabitadas, por vezes atravessando fronteiras, da escassez de água, secas, da diminuição da produção de alimentos, do aquecimento global, das emissões de CO2, do recuo dos gelos do Ártico, que revelam recursos até agora inacessíveis, da eficiência de combustíveis, da dependência de recursos externos, etc. A maior parte das ameaças apresentadas nem mesmo de longe podem ser interpretadas como exigindo soluções militares. Obviamente, não são os “estados vilões” nem os “bastiões de tirania” nem os “terroristas internacionais” que são responsáveis pela alteração climática, no entanto Rasmussen apresenta-os como desafios para a OTAN. Por outro lado, alguns dos resultados destes cenários, como os movimentos de populações provocados pela elevação dos níveis do mar ou pela seca, podem de fato ser considerados como potenciais causas de crises. O aspecto sinistro desta enumeração é precisamente que esses problemas são avidamente agarrados pela OTAN como exigindo soluções militares. A maior ameaça para a OTAN é ficar obsoleta. E a procura de um “conceito estratégico” é a procura de pretextos para se manter em ação.

A ameaça da OTAN para o mundo

Embora ande à procura de ameaças, é a própria OTAN que constitui uma ameaça crescente para o mundo. A ameaça básica é a sua contribuição para o reforço da tendência liderada pelos Estados Unidos para abandonar a diplomacia e as negociações em favor da força militar. Isto percebe-se claramente quando Rasmussen inclui os fenômenos climáticos na sua lista de ameaças para a OTAN, quando eles deviam ser, pelo contrário, problemas para a diplomacia e negociações internacionais. O perigo crescente é que a diplomacia ocidental está moribunda. Os Estados Unidos deram o tom: nós somos virtuosos, nós temos o poder, o resto do mundo tem que obedecer, senão… A diplomacia é desprezada como sendo uma fraqueza. O Departamento de Estado há muito que deixou de estar no centro da política externa dos Estados Unidos. Com a sua ampla rede de bases militares em todo o mundo, assim como adidos militares em embaixadas e inúmeras missões em países clientes, o Pentágono é incomparavelmente mais poderoso e influente no mundo que o Departamento de Estado. Os últimos secretários de Estado, longe de procurarem alternativas diplomáticas à guerra, desempenharam de fato um papel preponderante na defesa da guerra em vez da diplomacia, desde Madeleine Albright nos Balcãs ou Colin Powell acenando com falsos tubos de ensaio no Conselho de Segurança das Nações Unidas. A política é definida pelo Conselheiro de Segurança Nacional, por diversos grupos de opinião financiados por privados e pelo Pentágono, com a intervenção de um Congresso que, por sua vez, é formado por políticos ansiosos em obter contratos militares para as suas clientelas. A OTAN está arrastando os aliados europeus de Washington pelo mesmo caminho. Tal como o Pentágono substituiu o Departamento de Estado, a OTAN está a ser utilizada pelos Estados Unidos como um potencial substituto para as Nações Unidas. A “guerra do Kosovo” de 1999 foi um primeiro passo importante nessa direção. A França de Sarkozy, depois de ter entrado no comando conjunto da OTAN, está destruindo os serviços de diplomacia franceses, tradicionalmente competentes, reduzindo a sua representação civil em todo o mundo. Os serviços de relações externas da União Europeia que estão sendo criados por Lady Ashton não vão ter nem política nem autoridade próprias.

Inércia burocrática

Por detrás dos seus apelos aos “valores comuns”, a OTAN é impulsionada sobretudo pela sua inércia burocrática. A própria aliança é uma excrescência do complexo militar-industrial dos Estados Unidos. Há sessenta anos que as aquisições militares e os contratos do Pentágono têm sido uma fonte essencial da investigação industrial, dos seus lucros, de empregos, de carreiras no Congresso e até mesmo de financiamentos universitários. A interação destes diversos interesses converge para determinar uma estratégia implícita dos Estados Unidos de conquista do mundo. Uma rede global sempre em expansão, de 800 a mil bases militares em solo estrangeiro. Acordos militares bilaterais com estados-clientes que oferecem formação em troca da compra obrigatória de armas fabricadas nos Estados Unidos e da reestruturação das suas forças armadas, trocando a defesa nacional pela segurança interna (ou seja, repressão) e a possível integração nas guerras de agressão lideradas pelos Estados Unidos. Utilização dessas relações estreitas com as forças armadas locais para influenciar a política interna de estados mais fracos. Exercícios militares permanentes com estados clientes, que fornecem ao Pentágono um conhecimento perfeito sobre o potencial militar dos estados clientes, os integram na máquina militar dos Estados Unidos e alimentam uma mentalidade de “prontos para a guerra”. Posicionamento estratégico da sua rede de bases, exercícios com “aliados” e militares de forma a cercar, isolar, intimidar e acabar por provocar importantes nações consideradas potenciais rivais, nomeadamente a Rússia e a China. A estratégia implícita dos Estados Unidos, tal como as suas ações dão a entender, é uma conquista militar gradual para garantir o domínio do mundo. Uma característica original deste projeto de conquista do mundo é que, embora extremamente ativo, dia após dia, é praticamente ignorado pela grande maioria da população da nação conquistadora, assim como pelos seus aliados mais estreitamente dominados, ou seja, pelos estados da OTAN. A propaganda infindável acerca das “ameaças terroristas” (as pulgas do elefante) e outras diversões mantêm a maioria dos americanos totalmente inconscientes quanto ao que está acontecendo, tanto mais facilmente quanto os americanos praticamente desconhecem o o resto do mundo e portanto não se interessam minimamente. Os Estados Unidos podem varrer do mapa um país antes que a grande maioria dos americanos saiba onde é que ele se encontra. A tarefa principal dos estrategistas dos Estados Unidos, cujas carreiras passam pelos grupos de opinião, conselhos de diretores, firmas de consultoria e governo, é muito mais justificar este gigantesco mecanismo do que tentar dirigí-lo. Em grande medida, ele dirige-se a si mesmo. Desde o colapso da “ameaça soviética”, que os políticos andam à procura de ameaças invisíveis ou potenciais. A doutrina militar dos Estados Unidos tem como objetivo atuar preventivamente contra qualquer rival potencial para a hegemonia mundial dos Estados Unidos. Desde o colapso da União Soviética, é a Rússia que mantém o maior arsenal bélico para além dos Estados Unidos e a China está crescendo rapidamente em poder económico. Nenhum deles ameaça os Estados Unidos ou a Europa ocidental. Pelo contrário, ambos estão dispostos e desejosos de se concentrarem em negócios pacíficos. Mas encontram-se cada vez mais alarmados com o cerco militar e com os exercícios militares provocatórios realizados pelos Estados Unidos mesmo à sua porta. A implícita estratégia agressiva pode ser obscura para a maioria dos americanos, mas é certeza absoluta que os dirigentes dos países visados percebem o que está acontecendo.

O Triângulo Rússia-Irã-Israel

Actualmente, o principal “inimigo” explícito é o Irã. Washington afirma que o “escudo anti-míssil”, que tenta impor aos seus aliados europeus, se destina a defender o ocidente do Irã. Mas os russos vêem muito claramente que o escudo anti-míssil está virado contra eles. Primeiro de tudo, sabem perfeitamente bem que o Irã não tem mísseis desses nem nenhum motivo para os usar contra o ocidente. É perfeitamente óbvio para todos os analistas bem informados que, mesmo que o Irã desenvolvesse armas nucleares e mísseis, seriam destinados a funcionar como dissuasor contra Israel, a superpotência nuclear regional que tem mãos livres para atacar os países vizinhos. Israel não quer perder essa liberdade de atacar, e naturalmente opõe-se ao dissuasor iraniano. Os propagandistas israelenses clamam em voz alta contra a ameaça do Irã, e têm trabalhado incansavelmente para infectar a OTAN com a sua paranóia. Israel até já foi descrita como o “29º membro da OTAN global”. Os funcionários israelenses têm trabalhado assiduamente junto de uma Madeleine Albright receptiva para se assegurarem de que os interesses israelenses são incluídos no “Conceito Estratégico”. Nos últimos cinco anos, Israel e a OTAN tomaram parte em exercícios navais conjuntos no Mar Vermelho e no Mediterrâneo, assim como em exercícios terrestres conjuntos desde Bruxelas até à Ucrânia. Em 16 de outubro de 2006, Israel tornou-se no primeiro país não europeu a fazer um acordo chamado “Programa de Cooperação Individual” com a OTAN para cooperação em 27 áreas diferentes. Vale a pena notar que Israel é o único país fora da Europa que os Estados Unidos incluem na área da responsabilidade de seu Comando Europeu (em vez do Comando Central que cobre o resto do Médio Oriente). Num seminário de Relações OTAN-Israel em Herzliya em 24 de Outubro de 2006, a ministra de relações exteriores israelense de então, Tzipi Livni, declarou que “a aliança entre a OTAN e Israel é uma coisa natural… Israel e a OTAN partilham uma visão estratégica comum. Sob muitos aspectos, Israel é a linha da frente que defende o nosso estilo de vida comum”. Nem toda a gente nos países europeus considera que os colonatos israelenses na Palestina ocupada refletem “o nosso estilo de vida comum”. Esta é sem dúvida uma das razões pelas quais o aprofundamento da união entre a OTAN e Israel não assumiu a forma aberta de dar a Israel uma vaga na OTAN. Principalmente depois do selvagem ataque a Gaza, uma decisão dessas iria levantar objeções nos países europeus. No entanto, Israel continua a fazer-se convidado da OTAN, apoiado ardentemente, claro, pelos seus fieis seguidores no Congresso dos Estados Unidos. A causa principal desta crescente simbiose Israel-OTAN foi identificada por Mearsheimer e Walt: é o vigoroso e poderoso lobby pró-Israel nos Estados Unidos. [1] Os lobbies israelenses também são fortes na França, na Grã-Bretanha e no Reino Unido. Têm desenvolvido com entusiasmo o tema de Israel como a “linha da frente” na defesa dos “valores ocidentais” contra o islã militante. O facto de o islã militante ser principalmente um produto dessa “linha da frente” cria um círculo vicioso perfeito. A atitude agressiva de Israel para com os seus vizinhos regionais seria uma responsabilidade grave para a OTAN, capaz de ser arrastada para guerras do interesse de Israel que não interessam mesmo nada à Europa. Mas há uma sutil vantagem estratégica na conexão israelense que, segundo parece, está sendo usado pelos Estados Unidos… contra a Rússia. Subscrevendo a histérica teoria da “ameaça iraniana”, os Estados Unidos podem continuar a afirmar, sem corar, que o planjado escudo anti-míssil é dirigido contra o Irã, e não contra a Rússia. Não é que esperem convencer os russos. Mas pode ser utilizado para fazer com que os protestos deles pareçam “paranóicos” – pelo menos aos ouvidos dos ingênuos ocidentais. Meu caro, de que é que eles se queixam, se nós “restabelecemos” as nossas relações com Moscou e convidamos o presidente russo para a nossa alegre assembleia de “Conceito Estratégico? No entanto, os russos sabem muito bem que: O escudo anti-míssil vai ser construído em volta da Rússia, que tem mísseis, que mantem como dissuasores. Neutralizando os mísseis russos, os Estados Unidos ficam de mãos livres para atacar a Rússia, sabendo que a Rússia não pode retaliar. Portanto, digam o que disserem, o escudo anti-míssil, se funcionar, servirá para facilitar uma eventual agressão contra a Rússia.

O cerco em volta da Rússia

O cerco em volta da Rússia continua no Mar Vermelho, no Báltico e no círculo Ártico. Funcionários dos Estados Unidos continuam a afirmar que a Ucrânia deve integrar a OTAN. Ainda esta semana, numa coluna do New York Times, Ian J. Brzezinski, filho de Zbigniew, avisou Obama quanto ao perigo do abandono da “visão” de uma Europa “unida, livre e segura” incluindo “a inclusão da Geórgia e da Ucrânia na OTAN e na União Europeia”. O fato de a grande maioria da população da Ucrânia ser contra a entrada na OTAN não foi levada em consideração. Para o atual rebento da nobre dinastia Brzezinski é a minoria que conta. Abandonar a visão “isola os que, na Geórgia e na Ucrânia, vêem o seu futuro na Europa. Reforça as aspirações do Kremlin a uma esfera de influência…” A noção de que “o Kremlin” aspira a uma “esfera de influência” na Ucrânia é absurda, considerando os laços históricos extremamente fortes entre a Rússia e a Ucrânia, cuja capital Kiev foi o berço do estado russo. Mas a família Brzezinski é proveniente da Galícia, a parte da Ucrânia ocidental que pertenceu outrora à Polônia, e que é o centro da minoria anti-russa. A política externa dos Estados Unidos é frequentemente influenciada por essas rivalidades estrangeiras que a grande maioria dos americanos ignora completamente. Os Estados Unidos continuam com a sua insistência incansável em absorver a Ucrânia, apesar de isso implicar a expulsão da frota russa do Mar Negro da sua base na península da Crimeia, onde a população local é esmagadoramente de língua russa e pró-russa. Isto é a receita para uma guerra com a Rússia, se alguma vez ocorrer. E entretanto os funcionários americanos continuam a declarar o seu apoio à Geórgia, cujo presidente treinado pelos americanos espera abertamente levar a OTAN a apoiar a sua próxima guerra contra a Rússia. Para além das manobras navais provocatórias no Mar Negro, os Estados Unidos, a OTAN e a Suécia e a Finlândia que não são (ainda) membros da OTAN, realizam regularmente importantes exercícios militares no Mar Báltico, praticamente à vista das cidades russas de São Petersburgo e Kaliningrado. Estes exercícios envolvem milhares de efetivos terrestres, centenas de aeronaves, incluindo os caças a jato F-15, aviões AWACS, assim como forças navais que incluem o U.S. Carrier Strike Group 12, barcos de desembarque e navios de guerra de uma dúzia de países. Talvez o mais sinistro disto tudo, os Estados Unidos têm envolvido persistentemente, na região do Ártico, o Canadá e os estados escandinavos (incluindo a Dinamarca através da Gronelândia) num posicionamento estratégico militar abertamente dirigido contra a Rússia. O objetivo deste posicionamento no Ártico foi afirmado por Fogh Rasmussen quando referiu, entre as “ameaças” que a OTAN tem que enfrentar, o fato de que o “gelo do Ártico está recuando, libertando recursos que até agora têm estado cobertos pelos gelos”. Ora bem, podíamos pensar que esta descoberta de recursos seria uma oportunidade para a cooperação na sua exploração. Mas não é essa a disposição oficial dos Estados Unidos. Em outubro passado, o almirante americano James G. Stavridis, comandante supremo da OTAN na Europa, disse que o aquecimento global e a corrida aos recursos podia levar a um conflito no Ártico. O almirante Christopher C. Colvin, da Guarda Costeira, responsável pela linha costeira do Alasca, disse que a atividade mercante marítima russa no Oceano Ártico constituía uma “preocupação especial” para os Estados Unidos e pediu mais recursos militares na região. O Serviço Geológico dos EUA crê que o Ártico contém um quarto dos depósitos mundiais inexplorados de petróleo e de gás. Sob a Convenção da Lei dos Mares das Nações Unidas, de 1982, um estado costeiro tem direito a uma EEZ [Zona Económica Exclusiva] de 200 milhas náuticas e pode reclamar mais 150 milhas se provar que o fundo do mar é a continuação da sua plataforma continental.

A Rússia está requerendo isso.

Depois de pressionar o resto do mundo a adoptar a Convenção, o Senado dos Estados Unidos ainda não ratificou o Tratado. Em janeiro de 2009, a OTAN declarou que o “Alto Norte” era de “interesse estratégico para a Aliança” e, desde então, a OTAN tem realizado vários importantes jogos de guerra nitidamente em preparação de um eventual conflito com a Rússia sobre os recursos do Ártico. A Rússia desmantelou fortemente as suas defesas no Ártico depois do colapso da União Soviética e tem apelado para a negociação de compromissos quanto ao controle de recursos. Em setembro passado, o primeiro-ministro Vladimir Putin apelou por esforços conjuntos para proteger o frágil ecossistema, atrair o investimento estrangeiro, promover tecnologias amigáveis ao ambiente e tentar solucionar as disputas através da lei internacional. Mas os Estados Unidos, como de costume, preferem resolver as questões pela força. Isso pode levar a uma nova corrida armamentista no Ártico e até mesmo a confrontos armados. Apesar de todas estas movimentações provocatórias, é muito pouco provável que os Estados Unidos procurem uma guerra com a Rússia, embora não se possam excluir confrontos e incidentes aqui e além. Segundo parece, a política dos Estados Unidos é cercar e intimidar a Rússia de tal modo que ela aceite um estatuto de semi-satélite que a neutralize no futuro conflito previsível com a China.

O alvo China

A única razão para ter a China na mira é a mesma da razão proverbial para escalar a montanha: ela está ali. É grande. E os Estados Unidos têm que estar no topo de tudo. A estratégia para dominar a China é a mesma seguida para com a Rússia. É a guerra clássica: cerco, assédio, apoio mais ou menos clandestino a questões internas. Como exemplos desta estratégia: Os Estados Unidos estão reforçando de forma provocativa a sua presença militar ao longo das costas chinesas do Pacífico, oferecendo “proteção contra a China” a países asiáticos do leste. Durante a guerra fria, quando a Índia recebia o seu armamento da União Soviética e assumia uma postura não alinhada, os Estados Unidos armaram o Paquistão como seu principal aliado regional. Agora os Estados Unidos estão desviando os seus favores para a Índia, a fim de manter a Índia fora da órbita da Organização de Cooperação Xangai e de a utilizar como um contrapeso à China. Os Estados Unidos e seus aliados apoiam qualquer dissidência interna que possa enfraquecer a China, seja o Dalai Lama, os Uighurs, ou Liu Xiaobo, o dissidente preso. O Prêmio Nobel da Paz foi atribuído a Liu Xiaobo por uma comissão de legisladores noruegueses chefiados por Thorbjorn Jagland, o eco de Tony Blair na Noruega, que foi primeiro-ministro e ministro das relações exteriores da Noruega, e tem sido um dos principais defensores da OTAN em seu país. Numa conferência patrocinada pela OTAN de parlamentares europeus no ano passado, Jagland declarou: “Quando somos incapazes de impedir a tirania, começa a guerra. É por isso que a OTAN é indispensável. A OTAN é a única organização militar multilateral com raízes na lei internacional. É uma organização que a ONU pode usar quando necessário – para impedir a tirania, tal como fizemos nos Balcãs”. Isto é uma espantosa adulteração dos fatos, considerando que a OTAN desafiou abertamente a lei internacional e as Nações Unidas quando declarou guerra nos Balcãs – onde na realidade havia conflitos étnicos mas não havia “tirania” alguma. Ao anunciar a escolha de Liu, a comissão norueguesa do Nobel, chefiada por Jagland, declarou que “há muito que considerava que há uma estreita ligação entre os direitos humanos e a paz”. A “estreita ligação”, para seguir a lógica das próprias afirmações de Jagland, é que, se um estado estrangeiro não respeita os direitos humanos segundo as interpretações ocidentais, pode ser bombardeado, tal como a OTAN bombardeou a Iugoslávia. De fato, os mesmos poderes que mais barulho fizeram sobre os “direitos humanos”, nomeadamente os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, são os que mais guerras fazem em todo o mundo. As afirmações do norueguês tornam claro que a atribuição do Prêmio Nobel da Paz a Liu (que passou algum tempo na Noruega quando jovem) correspondia na realidade a uma confirmação da OTAN.

“Democracias” para substituir as Nações Unidas

Os membros europeus da OTAN pouco acrescentam ao poder militar dos Estados Unidos. A sua contribuição é acima de tudo política. A sua presença mantém a ilusão duma “Comunidade Internacional”. A conquista do mundo que está sendo tentada pela inércia burocrática do Pentágono pode ser apresentada como a cruzada das “democracias” do mundo para espalhar a sua ordem política esclarecida pelo resto de um mundo recalcitrante. Os governos euro-atlânticos proclamam a sua “democracia” como prova do seu direito absoluto de intervir nos assuntos do resto do mundo. Com base na falácia de que os “direitos humanos são necessários para a paz”, proclamam o seu direito a fazer a guerra. Uma questão crucial é se a “democracia ocidental” ainda tem força para desmantelar esta máquina de guerra antes que seja tarde demais.


* Diana Johnstone é analista de política internacional especializada em assuntos militares [1] No seu livro “The Israel Lobby and U.S. Foreign Policy” (2007), descrevem este lobby como uma “coligação informal de indivíduos e organizações que trabalham ativamente para guiar a política externa dos Estados Unidos numa direcção pró-Israel”. O livro “concentra-se principalmente na influência do lobby sobre a política externa dos Estados Unidos e nos seus efeitos negativos para os interesses americanos” (N.T.) Tradução de Margarida Ferreira PS do Viomundo: Brilhantes analistas descobriram virtudes no texto do voto brasileiro que aprovou o envio de um investigador dos Direitos Humanos ao Irã. Teria sido um tapa com luva de pelica nos Estados Unidos. [Pausa para a gargalhada]. Podem esperar sentados por uma articulação internacional que resulte numa investigação de Guantánamo. [Pausa para nova gargalhada]. O que interessa a Washington é isolar o Irã politicamente para facilitar a troca de regime. O resto é delírio tropical. Leia sobre o novo passo dado pela OTAN, na Líbia.



Nas bancas...


1975, um grande ensaio antes do golpe na Argentina Em termos sulamericanos, 1975 marcou a superioridade da interpretação internacional realizada pelo bloco que tomaria o poder em 24 de março de 1976. A paz no Vietnã, em janeiro de 1973, não havia inaugurado uma era de decadência dos Estados Unidos na região, como pensava a esquerda, mas justamente o contrário, uma etapa de maior virulência. Essa etapa, claro, supunha o controle de todo o continente. 1975 foi o ano dos grandes ensaios para o golpe na Argentina. As Forças Armadas conseguiram do governo constitucional de Isabel Perón o encargo de articular a repressão e foram se articulando dentro e fora da estrutura do Estado. O artigo é de Martín Granowsky, do Página/12. http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17584&boletim_id=867&componente_id=14182


Para impedir uma nova crise alimentar Os países e regiões que enfrentam fome precisam de maior margem de manobra para proteger a produção local de alimentos, prevenir o dumping e estabilizar o abastecimento. Parte desta margem para definir políticas é hoje minada pelas regras da Organização Mundial de Comércio. Os estoques de alimentos precisam ser vistos de novo como ferramentas essenciais, tanto para enfrentar emergências quanto para estabilizar os preços e o abastecimento, para os agricultores e os consumidores. A concentração fundiária precisa ser interrompida. O artigo é de Jim Harkness. http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm?home_id=109&alterarHomeAtual=1


Multidão protesta em Londres contra cortes nos serviços públicos Mais de 300 mil pessoas foram às ruas da capital britânica neste sábado para se opor aos planos do governo de cortes de gastos públicos, na maior manifestação popular do gênero em décadas. “Eu nasci em 1945, no final da guerra, então eu cresci com educação pública e gratuita, eu fui para a universidade, eu tive acesso à saúde pública por toda minha vida e tudo isso agora está indo com os planos do governo, que são um assalto ideológico à esfera pública”, disse à Carta Maior a professora Harriet Bradley, da Universidade de Bristol. http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17607&boletim_id=869&componente_id=14211


EUA e aliados querem legitimar doutrina da intervenção humanitária As razões pelas quais Estados Unidos, França e Inglaterra dediciram liderar uma ação militar na Líbia contra o regime de Muammar Kadafi ainda não estão muito claras. Os ataques realizados já ultrapassaram os limites de uma "zona de exclusão aérea", tal como previsto na resolução aprovada pela ONU. Em entrevista à Carta Maior, o historiador e cientista político Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira analisa as revoltas populares que estão acontecendo no Oriente Médio e no norte da África. Sobre o conflito líbio, ele avalia que as razões da posição de EUA, França e Inglaterra não estão muito claras e podem estar relacionadas a questões internas destes países e também à vontade de legitimar a doutrina da intervenção humanitária. http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm?home_id=111&alterarHomeAtual=1



Reproduzida pelos pintores, biografada por escritores, representada por estrelas de cinema, Cleópatra é um dos grandes mitos da História. Optando por um olhar inovador e contemporâneo, a autora deste livro capta uma Cleópatra sedutora e fascinante, mas também culta e inteligente, uma mulher do nosso tempo no Egito de 20 séculos atrás. Cleópatra possuía uma cultura invejável: grande negociante, estrategista militar, falava pelo menos oito línguas e era versada em filosofia, alquimia e matemática. Distante da imagem de simples objeto sexual, que certos filmes e livros tentaram passar, Cleópatra era uma política hábil e uma líder respeitável, em um período fundamental para a consolidação do poder de Roma. Ao optar por um olhar desmistificador, Arlete Salvador, jornalista especializada em política, nos apresenta um livro fascinante. Ao se decidir por uma narrativa leve, revela uma rainha mais próxima do(a) leitor(a), com dúvidas e inquietações que poderiam ser de qualquer um(a) de nós. Daí que o livro, escrito com surpreendente bom humor, é daqueles que se deixa ler com grande prazer. Editora Contexto 160 páginas, $29,90. "Palmas, a última capital projetada do séc. XX: uma cidade em busca do tempo". A autora é a Profa. Dra. Valéria Cristina Pereira da Silva (DR em Geografia pela UNESP). O livro é gratuito pelo site www.culturaacademica.com.br (precisa se cadastrar - ele é bem simples). O livro é resultado das pesquisas para a tese dela. Palmas, a última capital projetada do séc. XX: uma cidade em busca do tempo é um livro cuja tessitura envolve e ata-nos ao imaginário das cidades projetadas, na sua temporalidade complexa e pouco estudada. O espaço urbano figura fortemente como o lugar da construção de sentido, nestas cidades que surgiram, estética, estilísticas e emocionalmente no ápice da modernidade e encontram, hoje, a sua aproximação/mutação pós-moderna. A cidade de Palmas, capital do Tocantins, é o centro desta discussão trajetiva, mas também Brasília apresenta traços singulares na sua condição de cidade projetada e planejada. No percurso de interpretar essas cidades construídas de forma compacta e simultânea o método evidencia as dobras existentes entre razão e sensibilidade. Numa escultórica acrobacia das palavras a linguagem vai cinzelando e revelando a cidade na sua construção simbólica. Um livro pós-moderno e artesanal para ser degustado nos limiares da travessia de um tempo a outro. A força tempestiva das palavras encontra também uma serenidade arguta, onde ciência e arte se fundem não para produzir o conhecido, mas como preconizou Lyotard o desconhecido cujo sentido secreto seja, talvez, nos sensibilizar. Leia no www.outraspalavras.net


Palestina: adeus às divisões? Inspirados no Egito e ultra-conectados, jovens vão às ruas e dizem ao Fatah e Hamas que luta pela liberdade precisa superar espírito de facção Hegemonia e Império Nova guerra revela: poder norte-americano não declinou, como muitos pensaram. Mas nem é ilimitado, nem eterno. Por José Luís Fiori Quando dois mundos se cruzam Noam Chomsky analisa uma grande surpresa: no início dos anos 2010, os trabalhadores egípcios conquistam direitos; os norte-americanos sofrem derrotas Perigo: cinema brasileiro "O crítico voltado às produções nacionais enfrenta duas ordens de pressão: de um lado, da ditadura do sucesso; de outro, da chantagem do fracasso". Por José Geraldo Couto Uma mensagem a todos os membros de Cafe Historia PROMOÇÕES CULTURAIS O Café História está com duas promoções culturais. Confira e participe: I. Teatro - Veja como concorrer a dois pares de ingressos para o espetáculo "Uma Peça sem Nome", em cartaz no Rio de Janeiro: http://cafehistoria.ning.com/page/uma-peca-sem-nome


II. Livros - Qualquer leitor do Café História poderá comprar livros no site da Editora Contexto com 20% de desconto. Veja como: http://cafehistoria.ning.com/page/pandemias-1


MURAL DO HISTORIADOR Prorrogação do site da ANPUH, Seminário sobre as relações Brasil e Estados Unidos e Teatro. CAFÉ EXPRESSO NOTÍCIAS Historiadora brasileira elucida novas formas de antissemitismo CONTEÚDO DA SEMANA "História e Patrimônio" é um Grupo de Estudos do Café História, criado por Beatriz Almeira. O Grupo - um dos mais tradicionais de nossa rede - já ultrapassa os 500 participantes e promove discussões importantes para a área do patrimônio. Atualmente, no grupo, estão sendo discutidos pesquisas e trabalhos científicos do Patrimônio Brasileiro, bens que merecem ser patrimoniados e especializações na área. CINE HISTÓRIA O belo "Mistério na Rua 7". DOCUMENTO HISTÓRICO Escrita em 2 de Novembro de 1917 pelo então secretário britânico dos Assuntos Estrangeiros, Arthut James Balfour, a "Declaração Balfour" foi um documento oficial no qual Balfour deixa clara a sua simpatia pela criação de um Estado judaico. Visite Cafe Historia em: http://cafehistoria.ning.com/?xg_source=msg_mes_network


Terra e Liberdade: a revolução espanhola de volta ao cinema por CARLOS EDUARDO CARVALHO A revolução aparece em fotos amareladas, recortes de jornais, um lenço vermelho com um punhado de terra. A mala de recordações do avô revirada pelo olhar curioso da jovem neta. Tudo aquilo é novidade para ela? Seriam histórias contadas e recontadas pelo velho e seus amigos, sabidas de cor pelos netos, e que só agora, na dor da morte, ela quer enfim olhar com vistas próprias? Ou só terá descoberto a mala e aquele mundo quando o avô já se fôra?... LEIA NA ÍNTEGRA: http://espacoacademico.wordpress.com/2011/03/26/terra-e-liberdade-a-revolucao-espanhola-de-volta-ao-cinema/


Revoltas Árabes A área de História Contemporânea do Instituto de História e os laboratórios do NIEJ e do Tempo Presente, têm o prazer de convidar os leitores do Café História para a mesa redonda "Revoltas árabes e reflexão histórica". O evento acontece no próximo 1º de abril de 2011, às 10:00, no Instituto de História da UFRJ: Largo do São Francisco, N.1, Sala 106. A mesa de palestrantes será composta por Francisco Carlos Teixeira da Silva (UFRJ), Michel Gherman (UFRJ) e Murilo Sebe Bon Meihy (PUC-RJ). E o tema, claro, serão as recentes revoltas em países do mundo árabe. Para maiores informações, entre em contato com o labniej@gmail.com. Exposição no Arquivo Nacional O projeto Memórias Reveladas, que busca organizar e divulgar documentos da ditadura militar no Brasil, traz a público a exposição "Registros de uma guerra surda", uma amostra não apenas da documentação oficial, mas também daquilo que foi produzido por órgãos de imprensa e organizações que se dedicavam a combater o regime. A exposição se divide em cinco modulos e poderá ser visitada entre 4 de abril e 15 de julho de 2011, das 08h30 às 18h, no Arquivo Nacional (RJ). O Centro de Relações Internacionais CPDOC/FGV convida para a palestra O que há de novo na ordem global: a última década em perspectiva, com Walter Russell Mead e Josef Joffe, dia 7 de abril de 2011, às 18h30, no Rio de Janeiro. Josef Joffe é pesquisador na Universidade de Stanford, Senior Fellow do Stanford's Freeman Spogli Institute for International Studies e Marc and Anita Abramowitz Fellow em Relações Internacionais na Hoover Institution. Desde 2009, é associado ao Olin Institute for Strategic Studies da Universidade de Harvard. Joffe é também editor do jornal semanal alemão Die Zeit. Walter Russell Mead é o Henry A. Kissinger Senior Fellow no Council on Foreign Relations (CFR) e um dos maiores especialistas em política externa americana. É autor de Special Providence: American Foreign Policy and How It Changed the World (2004) e God and Gold: Britain, America and the Making of the Modern World (2007). O evento contará com tradução simultânea, é aberto a todos e não há necessidade de inscrição. Mais informações em http://www.fgv.br/cpdoc/ri ou pelo telefone 21 3799-5605 21 3799-5605 . Data: 7 de abril de 2011, quinta-feira Horário: 18h30 Local: Auditório 12º andar - Fundação Getulio Vargas Praia de Botafogo, 190.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Numero 271



Amigos, amigas, colegas professores

É com grande alegria que comunico a todos vocês que saiu dia 21 o Guia do Livro Didático do Ensino Médio, ou seja, a relação das coleções que foram aprovadas pelo MEC para escolha dos professores de ensino médio em todo o Brasil.

A nossa coleção ESTUDOS DE HISTÓRIA foi aprovada, o que muito nos envaidece.



Para aqueles que desejarem ler a análise de nossa coleção pelo MEC, é só acessar aqui:
http://www.fnde.gov.br/index.php/pnld-guia-do-livro-didatico


E aqueles que desejarem conhecer mais detalhadamente a coleção podem consultar o blog:
http://colecaoestudosdehistoria.blogspot.com


Se não for pedir muito, gostaria que vocês divulgassem junto aos professores de História de ensino médio das escolas públicas. Dependemos desse “boca-a-boca”, porque o MEC não permite que os autores possam ir até as escolas para apresentar a coleção.
Desde já agradecemos!


No Boletim desta semana a preocupação ambiental aparece nos dois primeiros artigos. Curiosamente, como estava discutindo com minha colega e co-autora Helena Campos, não se vê, nem nos blogs, nem na TV, nem nos jornais, qualquer análise critica ao problema chave das usinas nucleares japonesas.
E qual seria este problema chave? O próprio modelo de desenvolvimento capitalista. Os japoneses são um povo que vive locupletado de produtos eletro-eletrônicos, que consomem uma energia brutal. Num país onde, acredito eu, a energia fornecida por hidrelétricas, se existir, deve ser mínima, a solução é o uso massivo da energia atômica. Ora, é sabido que tais usinas nucleares são sujeitas a desastres (como os recentes nos EUA e na ex-URSS). Como o Japão é um território sujeito a tremores de terra quase diários, é uma temeridade ter usinas lá. Mas elas existem e... há uma hora em que a magnitude da fúria da natureza surpreende até mesmo os mais previdentes...
Ninguém, que eu saiba, até agora foi capaz de elaborar essa crítica.



Os desastres ambientais
Que o preço de tantas vidas humanas nos leve a refletir, conscientizar e mobilizar, para enfrentarmos o modo de produção capitalista que chegou ao seu limite
16/03/2011
Editorial edição 420 do Brasil de Fato
O mundo ficou consternado, chocado, imóvel diante do maior desastre ambiental sofrido pelo território japonês, com a eclosão de um terremoto em escala jamais visto no país, seguido de um tsunami.
Apesar das cenas que motivariam Dante Alighieri a repintar o “final dos tempos” e da sensação de impotência que acometeu todas as pessoas, os fatos nos ajudam a refletir sobre a natureza desses fenômenos que têm se repetido com frequência cada vez maior.
Em primeiro lugar, paira ainda no ar a falta de pesquisa científica que nos ajude a decifrar os movimentos da natureza e que auxiliem os seres humanos a conviver com ela neste planeta. Sabe-se, no entanto, que a maior parte dos desastres ambientais, das mudanças climáticas, das frequência das chuvas etc., está ocorrendo como consequência da intervenção humana na natureza. Portanto, são respostas que a natureza dá à agressão sofrida previamente. Nesse caso, chama atenção o descaso das autoridades nacionais e internacionais para investirem pesado em recursos científicos que permitissem esses estudos e pudéssemos chegar a evitar esses fenômenos.
Em segundo lugar, falta a ação dos governos para evitar ou minimizar suas consequências sobre a população. A maior parte dos governos não dá a menor importância para medidas de precaução e medidas que possam proteger a população. Portanto, há uma irresponsabilidade política e de classe das elites governantes. Por exemplo, na China, o governo mantém criatórios de cobras e víboras em todas as regiões do país, pois descobriu-se que elas reagem com algumas horas de antecedência aos abalos sísmicos da Terra. Assim, são filmadas permanentemente e as autoridades, ao perceberam determinados movimentos anormais, avisam a população e fazem a evasão em massa. Em Cuba e no Japão, agredidos com frequência com terremotos e ciclones, os governos organizaram sistemas de construção e abrigos em massa para a população se proteger. Só isso consegue explicar que, no Japão, tivemos “apenas” 3,3 mil mortes (até o fechamento desta edição).
Já no Haiti, há pouco mais de um ano, o terremoto na capital causou centenas de milhares de mortos, provocou o deslocamento de um milhão de pessoas, que até hoje vivem em barracas. Sem nenhuma solução. Houve ajuda de bilhões de dólares de todos os povos, mas esses recursos nunca chegaram ao povo, aos necessitados.
Esse descaso não é condição de pais pobre, é condição de elites governantes irresponsáveis. Vejam o caso dos Estados Unidos. Há seis anos a cidade de New Orleans foi arrasada por um furacão. Milhares de desabrigados, e cerca de mil mortos. Até hoje, no país mais rico do mundo, milhares de pessoas continuam sem casa e sem poder regressar a New Orleans.
Aqui no Brasil, já é vergonhoso, para não dizer irresponsável. A cada chuvarada, em qualquer parte do país, dezenas de mortos se amontoam, do Sul ao Nordeste. Mesmo assim, seguimos em frente sem nenhuma mudança concreta, até o próximo desastre. Em plena capital de São Paulo, a mais rica e moderna do país, continua morrendo gente dentro dos carros, nas inundações. E ninguém se sente responsável!
Em terceiro lugar, é necessário identificar quais as práticas dos seres humanos, e sobretudo da ganância do capital, que se apropria e esgota os recursos naturais, provocando no futuro novos desastres ambientais. E haver a determinação de proibi-los. Como disse Leonardo Boff em recente entrevista ao Brasil de Fato, todas nossas ações como seres vivos estão interligadas com todos os outros seres da natureza, e qualquer abuso terá certamente consequências. Nossa sobrevivência está interligada com a sobrevivência de todos os demais seres vivos, animais e vegetais que coabitam este planeta. Portanto, a natureza não pode ser vítima da ação inescrupulosa da propriedade privada e do lucro, agressão que o modo de produção capitalista está impondo em todos os países.
Em quarto lugar, estamos diante de uma crise civilizatória. Precisamos repensar urgentemente a forma de organizar a vida social, nas grandes megalópoles, que reúnem, num só espaço, 10, 15, 20 milhões de seres humanos. Isso é o anúncio de desastres futuros. Não é possível ter soberania alimentar, proteger a população de desastres naturais, de falta de combustível ou transporte público em cidades organizadas dessa forma. Imaginemos um pequeno terremoto de alguns graus em cidades como São Paulo, Bombaim, Xangai...
E, em quinto lugar, voltou à pauta o grau de seguridade das usinas nucleares. Porque o problema não está na segurança da própria usina, considerada em padrões aceitáveis em todo mundo, pelo nível de ciência desenvolvida até agora. Mas os cientistas esqueceram de combinar com a natureza. O problema está no entorno da usina.
Que o preço de tantas vidas humanas e de outros seres vivos da natureza nos leve a refletir, conscientizar e mobilizar, para enfrentarmos o modo de produção capitalista que chegou ao seu limite.



Uma advertência ao mundo
A era nuclear iniciou não muito longe de Fukushima, quando os EUA se converteram na primeira nação na história da humanidade a lançar bombas atômicas sobre outro país, duas bombas que destruíram Hiroshima e Nagasaki, matando centenas de milhares de civis. O jornalista Wilfred Burchett foi o primeiro a descrever a “praga atômica” como a chamou: “nestes hospitais encontro gente que, quando as bombas caíram não sofreram nenhuma lesão, mas que agora estão morrendo por causa das sequelas”. Mais de 65 anos depois de Burchett escrever sua advertência ao mundo, o que aprendemos de fato? O artigo é de Amy Goodman.
– Democracy Now (
WWW.cartamaior.com.br)
Ao descrever a devastação em uma cidade do Japão, um jornalista escreveu: “É como se uma patrola gigante tivesse passado por cima e arrasado tudo o que existia. Escrevo sobre estes fatos como uma advertência ao mundo”. O jornalista era Wilfred Burchett, que escrevia desde Hiroshima, Japão, em 5 de setembro de 1945. Burchet foi o primeiro jornalista do Ocidente a chegar a Hiroshima após o lançamento da bomba atômica. Informou sobre uma estranha enfermidade que seguia matando as pessoas, inclusive um mês depois desse primeiro e letal uso de armas nucleares contra seres humanos. Suas palavras podiam perfeitamente descrever as cenas de aniquilação que acabam de se verificar no noroeste do Japão. Devido ao agravamento da catástrofe na central nuclear de Fukushima, sua grave advertência ao mundo segue mais do que vigente.

O desastre se aprofunda no complexo nuclear de Fukushima após o maior terremoto da história do Japão e o tsunami que o sucedeu, deixando milhares de mortos. As explosões nos reatores número 1 e número 3 liberaram radiação em um tal nível que ela foi detectada por uma navio da Marinha dos EUA a uma distância de 160 quilômetros, obrigando-a a afastar-se da costa. Uma terceira explosão ocorreu no reator número 2, fazendo com que muitos especulassem que um compartimento primário, onde fica o urânio submetido à fissão nuclear, teria sido danificado. Pouco depois o reator número 4 foi atingido por um incêndio, apesar dele não estar funcionando quando o terremoto atingiu o país. Cada reator utilizou o combustível nuclear armazenado em seu interior e esse combustível pode provocar grandes incêndios, liberando mais radiação no ar. Todos os sistemas de resfriamento falharam, assim como os sistemas de segurança adicionais. Uma pequena equipe de valentes trabalhadores permanece no lugar, apesar da radiação perigosa, que pode ser letal, tratando de bombear água do mar às estruturas danificadas para esfriar o combustível radioativo.

O presidente Barack Obama assumiu a iniciativa de liderar um “renascimento nuclear” e propôs novas garantias de empréstimos federais de 36 bilhões de dólares para promover o interesse das empresas de energia na construção de novas plantas nucleares (o que se soma aos 18,5 bilhões de dólares aprovados durante o governo de George W. Bush). A primeira empresa de energia que esperava receber esta dádiva pública foi a Southern Company, por dois reatores anunciados para a Georgia. A última vez que se autorizou e se concretizou a construção de uma nova planta de energia nuclear nos Estados Unidos foi em 1973, quando Obama estava no sétimo ano na Escola Punahou, em Honolulu. O desastre de Three Mile Islan, em 1979, e o de Chernobyl, em 1986, efetivamente fecharam a possibilidade de avançar em novos projetos de energia nuclear com objetivos comerciais nos Estados Unidos. No entanto, este país segue sendo o maior produtor de energia nuclear comercial no mundo. As 104 plantas nucleares são velhas e se aproximam do fim de sua vida útil originalmente projetada. Os proprietários das plantas estão solicitando ao governo federal a prorrogação de suas licenças para operar.

A Comissão Reguladora Nuclear (NRC, na sigla em inglês) está encarregada de outorgar e controlar estas licenças. No dia 10 de março, a NRC emitiu um comunicado de imprensa “sobre a renovação da licença de operação da usina nuclear Vermont Yankee, próxima de Brattleboro, Vermont, por mais vinte anos”. Está previsto que o pessoal da NRC conceda logo a renovação da licença”, dizia o comunicado de imprensa. Harvey Wasserman, da NukeFree.org, me disse: “O reator número 1 de Fukushima é idêntico ao da planta de Vermont Yankee, que agora aguarda a renovação da sua licença que o povo de Vermont pretende encerrar. É importante levar em conta que esse tipo de acidente, esse tipo de desastre, poderia ter ocorrido em quatro reatores na Califórnia, caso o terremoto de 9 graus na escala Richter tivesse atingido o Cânion do Diabo em San Luis Obispo ou San Onofre, entre Los Angeles e San Diego. Poderíamos perfeitamente estar testemunhando agora a evacuação de Los Angeles ou San Diego se esse tipo de coisa tivesse ocorrido na Califórnia. E Vermont tem o mesmo problema. Há 23 reatores nos Estados Unidos que são idênticos ou quase idênticos ao reator n° 1 de Fukushima. A maioria dos habitantes de Vermont, entre eles o governador do Estado, Peter Shumlin, apoia o fechamento do reator Vermont Yankee, desenhado e construído pela General Eletric.

A crise nuclear no Japão repercute mundialmente. Houve manifestações em toda a Europa. Eva Joly, membro do parlamento europeu, disse em uma manifestação: “A ideia de que esta energia é perigosa, mas que podemos manejá-la, foi rechaçada hoje. E sabemos como eliminar as plantas nucleares: necessitamos de energia renovável, energia eólica, energia geotérmica e energia solar. A Suíça deteve seus planos de renovar as licenças de seus reatores e 10 mil manifestantes em Stuttgart pediram à chanceler alemã Angela Merkel o fechamento imediato das sete plantas nucleares alemãs construídas antes da década de 80. Nos Estados Unidos, o deputado democrata de Massachussetts, Ed Markey, disse: “o que está acontecendo no Japão neste momento dá indícios de que também nos Estados Unidos poderia ocorrer um grave acidente em uma usina nuclear”.

A era nuclear iniciou não muito longe de Fukushima, quando os Estados Unidos se converteram na primeira nação na história da humanidade a lançar bombas atômicas sobre outro país, buas bombas que destruíram Hiroshima e Nagasaki, matando centenas de milhares de civis. O jornalista Wilfred Burchett foi o primeiro a descrever a “praga atômica” como a chamou: “nestes hospitais encontro gente que, quando as bombas caíram não sofreram nenhuma lesão, mas que agora estão morrendo por causa das sequelas. Sua saúde começou a se deteriorar sem motivo aparente”. Mais de 65 anos depois de Nurchett sentar-se em meios aos escombros com sua castigada máquina de escrever Hermes e escrever sua advertência ao mundo, o que aprendemos de fato?

(*) Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna
(**) Tradução: Katarina Peixoto



A entrevista escondida
Por Washington Araújo em 22/3/2011 – do Observatório da Imprensa

Existem notícias que nos fazem rever o conceito do valor-notícia. Estou com isto em mente após ler a entrevista que o ex-governador José Roberto Arruda (DF) concedeu em setembro de 2010 à revista Veja. Na entrevista, Arruda decidiu dar uma espécie de freio de arrumação em suas estripulias heterodoxas como governador do Distrito Federal: atuou como principal protagonista no festival de vídeos dirigido pelo ex-delegado de polícia Durval Barbosa e que tratavam de um único tema: a corrupção graúda correndo solta nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do Distrito Federal.
Na entrevista publicada na quarta-feira (17/3) no sítio de Veja encontramos o ex-governador desarrumando as biografias de seus antigos companheiros de partido, pessoas como os senadores Agripino Maia, Demóstenes Torres, Cristovam Buarque e até o sempre correto Marco Maciel. Não faltaram mísseis dirigidos aos deputados ACM Neto, Rodrigo Maia e Ronaldo Caiado. E também ao presidente do PSDB, o agora deputado Sérgio Guerra. Na fala de Arruda sobra ressentimento e, mesmo tendo passado alguns meses, ainda trai uma certa conotação de vingança.
Não. Não estou desmerecendo o valor de uma única palavra de Arruda nessa entrevista. Após ler os desmentidos de todos os novos citados no escândalo conhecido como o "panetone do DEM" (ver, neste Observatório, "Panetones na Redação" e "Mídia encara corrida de obstáculos"), confesso que nenhum me convenceu: a defesa esteve muito inferior ao ataque desferido e onde as palavras deveriam ser adjetivas conformaram-se como nada mais que substantivas. Naquele velho diapasão do "nada como tudo o mais além, ainda mais em se tratando deste assunto, muito pelo contrário". Ou seja, a bateria antimíssil deixou muito a desejar e, considerando a virulência verbal dos agora acusados de receberem apoio financeiro no mínimo com "origem suspeita", os desmentidos surgem como bolhas de sabão que tanto animam festas infantis. Desmancham-se no ar.
Miúdos e graúdos
O que me causou profunda estranheza nessa entrevista nem foi seu conteúdo, menos ainda seu personagem. O que me deixou perplexo, com todas as pulgas aninhadas em volta da orelha, foi o timing da publicação da entrevista. Por que Veja, tendo entrevistado o ex-governador em setembro de 2010, somente agora, quase 190 dias depois, resolveu levá-la ao conhecimento de seu público leitor? O ponto é que o mais robusto episódio de explícita corrupção, o único escândalo com tão formidável aparato midiático, com dezenas de vídeos reproduzidos nos principais telejornais do Brasil, merecia ter um tratamento realmente jornalístico: descobrindo-se novos fatos, novos meliantes, novas falcatruas, tudo teria que vir à luz, a tempo e a hora.
Convém refrescar a memória com essas autoexplicativas manchetes dos principais jornais brasileiros no dia 28/11/2009:

** O Globo: "Governador do DEM é suspeito de pagar propina a deputados". E diz que "PF grava José Roberto Arruda negociando repasse de dinheiro com assessor";
** Folha de S.Paulo: "Governo do DF é acusado de corrupção";
** O Estado de S.Paulo: "Polícia flagra ‘mensalão do DEM’ no governo do DF". E diz que o esquema "teria até mesmo participação do governador Arruda".
No dia seguinte, 29/11/2009, as manchetes continuaram com tintas denunciatórias:
** O Globo teve como manchete principal "PF: Arruda distribuía R$ 600 mil todo mês";
** Folha de S.Paulo optou por "Documento liga vice-governador do DF a esquema de corrupção";
** O Estado de S.Paulo não deixou por menos: "Em vídeo, Arruda recebe R$ 50 mil".
E, para concluir essa sessão "refresca memória", compartilho as manchetes dos jornalões no dia 30/11/2009:
** O Globo abriu sua edição com a manchete "Arruda: TSE vê indício de caixa 2";
** Folha de S.Paulo destacou na primeira página: "Vídeos mostram aliados de Arruda recebendo dinheiro";
** O Estado de S. Paulo abriu manchete com "Vídeos ‘letais’ levam DEM a preparar expulsão de Arruda", destacando em subtítulo que "Provas contundentes da PF deixam governador em situação insustentável".
** Até o fluminense Jornal do Brasil passou a tratar do assunto com a importância que o assunto requeria: "Aliados deixam Arruda isolado".
Tudo bem, este foi o início da divulgação do escândalo. E, como sempre acontece, o início de todo escândalo político tende a ser megapotencializado. É assim aqui no Brasil, na Itália, no Reino Unido, no mundo todo. No caso atual, pela primeira vez um governador no Brasil esteve trancafiado por tão longo tempo: 60 dias, de 11 de fevereiro a 12 de abril de 2010. A carceragem se deu na sede da Superintendência da Polícia Federal, em Brasília.
Antes de completar um ano de sua divulgação, o escândalo produziu a cassação de mandatos de diversos deputados distritais, a renúncia de um senador da República, a instauração de diversos inquéritos para apurar responsabilidades de políticos miúdos e graúdos e também de procuradores do Ministério Público do Distrito Federal.
E foi nesse meio tempo que, segundo os advogados de Arruda, em setembro de 2010, o ex-governador concedeu a entrevista ao carro-chefe da Editora Abril. O que as teclas de meu micro querem saber é por que Veja escondeu comprometedora entrevista de Arruda.
Insidiosa, rastejante
Tenho exposto aqui neste Observatório minhas teses sobre a forma e o modus operandi de como a imprensa, a grande imprensa, tem se comportado como agremiação político-partidária. E essa defasagem de mais de seis meses entre a data da entrevista e a data de sua divulgação é de chamar a atenção.
Quais as reais motivações para que fosse esquecida, largada na gaveta de um editor aparentemente displicente? Por onde andaria aquele polvo-caçador-de-corruptos-no-Planalto que não deu a mínima trela para essa entrevista? Ninguém na redação de Veja considerou um mísero grama de valor-notícia para buscar a versão dos "novos acusados"? Ou seria mais um desserviço à campanha presidencial de José Serra? Desserviço que, com certeza, cobriria tal campanha de portentosa agenda negativa, incluindo sob suspeição até mesmo o presidente de seu partido.
Todos sabemos que o papel da imprensa é informar a população. Aprendemos isso ainda nos primeiros dias de aula de qualquer curso de jornalismo, mesmo aqueles chamados "meia-boca". Por que à população brasileira foram suprimidas tais informações?
É, não é necessário muitos decênios de madura experiência como analista da política brasileira para entender que dentre as mil possíveis razões para que ocorresse tal ocultação uma delas sobressai, insidiosa, sibilina, rastejante: a entrevista de Arruda, que hoje causa apenas perplexidade, publicada em setembro de 2010 traria em seu cerne forte componente explosivo capaz de desarrumar por completo o pleito presidencial de 2010.
Mas, como dizem nossos oráculos da imprensa... o leitor vem sempre em primeiro lugar.



A visita do presidente Obama ao Brasil (que deve ser mais propriamente chamada de "ocupação do território brasileiro pelas tropas de segurança do presidente americano") fez a alegria da mídia golpista e de governantes sem espinha dorsal.

Governador e prefeito do Rio (um, tucano de berço, o outro, por adoção - embora hoje estejam no PMDB) foram simplesmente barrados pela segurança de Obama em eventos na cidade e no estado em que foram democraticamente eleitos. E se curvaram. Como não têm luz própria, não há novidade nisso.
Leia a matéria completa aqui:
http://blogdomello.blogspot.com/2011/03/no-brasil-todo-presidiario-e-preso.html

A mão (quase) invisível da contra-revolução
Como o Pentágono articula ditadores árabes e indústrias de armamentos -- os maiores interessados em frustrar a jovem insurgência democrática

Bahrain, encruzilhada árabe
Protestos recomeçam, espalham-se pela capital e são reprimidos com lei marcial. Cumplicidade de Washington com o despotismo torna-se mais clara

A aposta da Turquia
Cada vez mais disposto a exercer um papel destacado na geopolítica do Oriente Médio, país tem posição particular na crise líbia

Inside Job e as entranhas do capitalismo
Documentário vencedor do Oscar disseca ideologia que submeteu mundo às finanças e desnuda relações entre grande capital e poder. Por Romualdo Pessoa, nosso novo colaborador

Incrível: como os EUA querem invadir as redes sociais
Sistema controlado pelo exército criará falsos perfis para disseminar propaganda pró-Washington e tentar sufocar opiniões contrárias. Por Cauê Ameni
ESPECIAL: DOSSIÊ LÍBIA

Gaddafi e a esquerda
Immanuel Wallerstein sustenta: ditador nada tem de antiimperialista. Sua eventual vitória indicaria que a revolução já pode ser esmagada pela violência

Intervenção nossa de cada dia
Os Estados têm suas razões para intervir na Líbia. Mas e nós, cidadãos comuns? Por Tadeu Breda, em Latitude Sul

A síndrome da Líbia contaminará a OPEP?
Panorama político nos principais exportadores mundiais de combustíveis sugere forte instabilidade; velha ordem petroleira não será restabelecida. Por Humberto Márquez
(16/3/2011)

O Império tenta enquadrar a revolução
Por que a presença de uma frota da OTAN, diante do litoral líbio, nada tem a ver com a democracia. Quais os verdadeiros motivos para uma intervenção
(1º/3/2001)


Como enxergar a revolta árabe pela ótica da multidão
Há dois modos de mirá-la: com os olhos do poder ou da multidão. A primeira predomina na grande mídia. Como vê-la pelo outro lado? Por Bruno Cava
(1º/3/2011)


Líbia: o ditador desmascarado
Vendaval árabe abala Muamar Gaddafi, o coronel que foi aliado do “socialismo real”, estimulou atentados e terminou nos braços de Bush, Blair e Silvio Berlusconi

(22/2/2011)

XXVI SIMPÓSIO NACIONAL HISTÓRIA
ANPUH
50 anos
São Paulo, 17 a 22 de julho de 2011
Universidade de São Paulo (USP)
Cidade Universitária
01 de janeiro a 21 de março de 2011
Inscrições de trabalhos nos Simpósios Temáticos aprovados.
01 de janeiro a 30 de junho
Inscrições nos Minicursos.
01 de abril a 11 de julho
Inscrições de ouvintes.
Para ler as instruções de todas as modalidades de inscrição disponíveis, clique aqui.
Os Textos Completos, obrigatórios no ato da inscrição, e imprescindíveis para a avaliação de seu Coordenador, poderão ser revistos de 1 a 15 de junho.
http://www.snh2011.anpuh.org

quarta-feira, 16 de março de 2011

Numero 270





Tenho uma ex-aluna, Aline Antunes, que foi para o Japão e lá constituiu família. Mantenho contato com ela por email, ela sempre tem coisas interessantes para contar. Já me enviou algumas fotos belíssimas de lá, como essas duas aqui.



Claro que a preocupação com ela foi grande, tão logo surgiram as primeiras notícias do terremoto e do tsunami. Felizmente ela está bem, como demonstrado no email que ela enviou para mim, para a família e amigos do Brasil. Nota-se ainda a preocupação com novos tremores, com a radiação, mas... felizmente parece estar tudo bem.

Quando a gente pensa que já nos acostumamos com "as coisas", leia-se, com a tragédia.. deparamo-nos com mais expectativas...

Sobre o vazamento radioativo a situação esta no seguinte pé: o governo em seu ultimo pronunciamento disse estar com a situação sob controle, mas o que ele ainda não explicou foi porque continua ampliando as medidas de segurança. Toquio esta situada a mais ou menos 200km da usina. No momento não ha nenhum risco de contaminação radioativa por aqui.. (só para esclarecer o material esta vindo pelo ar uma vez que tiveram que abrir os reatores para evitar uma explosão). Mas caso apareçam novos complicadores teremos mais essa para resolver. O governo o tempo todo tem nos orientado através da mídia sobre o que fazer caso confirmem radioatividade no ar.

Quanto aos tremores a situação ainda é de alerta. Agora a noite.. depois das 10:00 da noite, quando já pensávamos em ter uma noite tranquila.. alertas. Dois grandes tremores.. na mesma região.. inclusive em Iwate, onde morei. A TV assim como os celulares, são capazes de nos informar através de sirenes (e mensagens no caso da TV) alguns segundos antes do tremor. Parece bobagem mas o negocio ajuda pra caramba. Noite passada por exemplo, enquanto dormiamos, o telefone acionou a sirene três vezes...é desesperador mas não tem como ser de outra forma, pois a situação em si.. é desesperadora. Pelo menos dá para dar uma respirada antes do que estar por vir..

Bom, em suma.. diante do que se tornou o Japão desde sexta -feira,, "nada-de-novo-no front".. Os canais, todos eles, estão 24 horas .. 24 horas.. falando sobre o terremoto. Em alguns momentos sinto como se fosse lavagem cerebral mas o problema é que a situação é emergencial, para não dizer desesperadora.. e mais.. desta vez... estou mergulhada nela...

Mais uma vez, peco-lhes que fiquem tranquilos pois se estamos vendo o numero de 1000 /1500 mortos ainda temos que dar graças a Deus e ao povo japonês. Um tremor desta magnitude, na maioria dos paises do mundo, nos daria uma realidade não muito diferente daquela que nos "petrificou" com o tsunami da Indonesia em Dezembro de 2004. Se temos estes numero é pela força de vontade, profissionalismo e seriedade que esse povo daqui carrega consigo. E que aprendamos mais essa com eles...

Amanha, pela manha, mandarei mais noticias... Agora vou (tentar) dormir..
Fiquem com Deus.. e continuem rezando... pois tenho certeza que nossos corações estão batendo num mesmo ritmo.

Amo vocês por demais.
Obrigada pelo carinho, atenção e preocupação.
Com todo o meu amor
Aline



As mulheres não são homens

A cultura patriarcal tem uma dimensão particularmente perversa: a de criar a ideia na opinião pública que as mulheres são oprimidas e, como tal, vítimas indefesas e silenciosas. Este estereótipo torna possível ignorar ou desvalorizar as lutas de resistência e a capacidade de inovação política das mulheres.
Boaventura de Sousa Santos (
WWW.cartamaior.com.br)
No passado dia 8 de março celebrou-se o Dia Internacional da Mulher. Os dias ou anos internacionais não são, em geral, celebrações.
São, pelo contrário, modos de assinalar que há pouco para celebrar e muito para denunciar e transformar. Não há natureza humana assexuada; há homens e mulheres. Falar de natureza humana sem falar na diferença sexual é ocultar que a “metade” das mulheres vale menos que a dos homens. Sob formas que variam consoante o tempo e o lugar, as mulheres têm sido consideradas como seres cuja humanidade é problemática (mais perigosa ou menos capaz) quando comparada com a dos homens. À dominação sexual que este preconceito gera chamamos patriarcado e ao senso comum que o alimenta e reproduz, cultura
patriarcal.

A persistência histórica desta cultura é tão forte que mesmo nas regiões do mundo em que ela foi oficialmente superada pela consagração constitucional da igualdade sexual, as práticas quotidianas das instituições e das relações sociais continuam a reproduzir o
preconceito e a desigualdade. Ser feminista hoje significa reconhecer que tal discriminação existe e é injusta e desejar activamente que ela seja eliminada. Nas actuais condições históricas, falar de natureza humana como se ela fosse sexualmente indiferente, seja no plano filosófico seja no plano político, é pactuar com o patriarcado.

A cultura patriarcal vem de longe e atravessa tanto a cultura ocidental como as culturas africanas, indígenas e islâmicas. Para Aristóteles, a mulher é um homem mutilado e para São Tomás de Aquino, sendo o homem o elemento activo da procriação, o nascimento de uma
mulher é sinal da debilidade do procriador. Esta cultura, ancorada por vezes em textos sagrados (Bíblia e Corão), tem estado sempre ao serviço da economia política dominante que, nos tempos modernos, tem sido o capitalismo e o colonialismo. Em Three Guineas (1938), em resposta a um pedido de apoio financeiro para o esforço de guerra, Virginia Woolf recusa, lembrando a secundarização das mulheres na nação, e afirma
provocatoriamente: “Como mulher, não tenho país. Como mulher, não quero ter país. Como mulher, o meu país é o mundo inteiro”.

Durante a ditadura portuguesa, as Novas Cartas Portuguesas publicadas em 1972 por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, denunciavam o patriarcado como parte da estrutura fascista que sustentava a guerra colonial em África. "Angola é nossa" era o correlato de "as mulheres são nossas (de nós, homens)" e no sexo delas se defendia a
honra deles. O livro foi imediatamente apreendido porque justamente percebido como um libelo contra a guerra colonial e as autoras só não foram julgadas porque entretanto ocorreu a Revolução dos Cravos em 25 de Abril de 1974.

A violência que a opressão sexual implica ocorre sob duas formas, hardcore e softcore. A versão hardcore é o catálogo da vergonha e do horror do mundo. Em Portugal, morreram 43 mulheres em 2010, vítimas de violência doméstica. Na Cidade Juarez (México) foram assassinadas nos últimos anos 427 mulheres, todas jovens e pobres, trabalhadoras nas
fábricas do capitalismo selvagem, as maquiladoras, um crime organizado hoje conhecido por femicídio. Em vários países de África, continua a praticar-se a mutilação genital. Na Arábia Saudita, até há pouco, as mulheres nem sequer tinham certificado de nascimento. No Irão, a vida de uma mulher vale metade da do homem num acidente de viação; em tribunal, o testemunho de um homem vale tanto quanto o de duas mulheres; a mulher pode ser apedrejada até à morte em caso de adultério, prática, aliás, proibida na maioria dos países de cultura islâmica.

A versão softcore é insidiosa e silenciosa e ocorre no seio das famílias, instituições e comunidades, não porque as mulheres sejam inferiores mas, pelo contrário, porque são consideradas superiores no seu espírito de abnegação e na sua disponibilidade para ajudar em tempos difíceis.
Porque é uma disposição natural. Não há sequer que lhes perguntar se aceitam os encargos ou sob que condições. Em Portugal, por exemplo, os cortes nas despesas sociais do Estado actualmente em curso vitimizam em particular as mulheres. As mulheres são as principais provedoras do cuidado a dependentes (crianças, velhos, doentes, pessoas com
deficiência). Se, com o encerramento dos hospitais psiquiátricos, os doentes mentais são devolvidos às famílias, o cuidado fica a cargo das mulheres. A impossibilidade de conciliar o trabalho remunerado com o trabalho doméstico faz com que Portugal tenha um dos valores mais baixos de fecundidade do mundo. Cuidar dos vivos torna-se incompatível com desejar mais vivos.

Mas a cultura patriarcal tem, em certos contextos, uma outra dimensão particularmente perversa: a de criar a ideia na opinião pública que as mulheres são oprimidas e, como tal, vítimas indefesas e silenciosas.

Este estereótipo torna possível ignorar ou desvalorizar as lutas de resistência e a capacidade de inovação política das mulheres. É assim que se ignora o papel fundamental das mulheres na revolução do Egipto ou na luta contra a pilhagem da terra na Índia; a acção política das mulheres que lideram os municípios em tantas pequenas cidades africanas e a sua luta
contra o machismo dos lideres partidários que bloqueiam o acesso das mulheres ao poder político nacional; a luta incessante e cheia de riscos pela punição dos criminosos levada a cabo pelas mães das jovens assassinadas em Cidade Juarez; as conquistas das mulheres indígenas e islâmicas na luta pela igualdade e pelo respeito da diferença, transformando por dentro as culturas a que pertencem; as práticas inovadoras de defesa da agricultura familiar e das sementes tradicionais das mulheres do Quénia e de tantos outros países de África; a resposta das mulheres palestinianas quando perguntadas por auto-convencidas feministas europeias sobre o uso de contraceptivos: “na Palestina, ter filhos é lutar contra a limpeza étnica que Israel impõe ao nosso povo”.
Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).


Uma mulher admirável, a Aracy, de Guimarães Rosa. Vivendo na Alemanha, na época do Nazismo, ajudou muitos judeus a fugirem das garras da SS e da Gestapo. Leia sobre ela um artigo lindo de Eliane Brum:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI216621-15230,00-DUAS+MULHERES+INDOMAVEIS.html



Enviado por Vania Facury:
O Rio ganhou dois presentes da história
Elio Gaspari, Folha de São Paulo, 9 de março de 2011.
Um grande livro e o cais de desembarque dos escravos ajudarão a cidade a conhecer seu passado
HÁ MUITO TEMPO o Rio de Janeiro não recebia notícias tão boas de seu passado. É provável que uma equipe de arqueólogos do Museu Nacional tenha encontrado nas escavações da zona portuária as lajes de pedra do cais do Valongo. Entre 1758 e 1851, por aquelas pedras passaram pelo menos 600 mil escravos trazidos d'África. Metade deles tinham entre 10 e 19 anos.
Devolvido à superfície, o cais do Valongo trará ao século 21 o maior porto de chegada de escravos do mundo. Se ele foi soterrado e esquecido, isso se deveu à astuta amnésia que expulsa o negro da história do Brasil. A própria construção do cais teve o propósito de tirar do coração da cidade o mercado de escravos.
A região da Gâmboa tornou-se um mercado de gente, mas as melhores descrições do que lá acontecia saíram todas da pena de viajantes estrangeiros. Os negros ficavam expostos no térreo de sobrados da rua do Valongo (atual Camerino). Em 1817, contaram-se 50 salas onde ficavam 2.000 negros (peças, no idioma da época).
Os milhares de africanos que morreram por conta da viagem ou de padecimentos posteriores, foram jogados numa área que se denominou Cemitério dos Pretos Novos.
Ele foi achado em 1996, durante a reforma de uma casa e, desde então, está sob os cuidados de arqueólogos e historiadores. O cemitério foi soterrado por um lixão, verdadeiro monumento à cultura da amnésia. Devem-se à professora americana Mary Karach 32 páginas magistrais sobre o Valongo. Estão no seu livro "A Vida dos Escravos no Rio de Janeiro - 1808-1850".
Com o possível achado do cais, o prefeito Eduardo Paes anunciou que transformará a área num museu a céu aberto. (Cesar Maia prometeu algo parecido com o cemitério, mas deu em pouca coisa.) Felizmente, as obras do porto respeitarão as restrições recomendadas pelos arqueólogos, até porque, se o Cais do Valongo não estiver exatamente onde se acredita, estará por perto.
O segundo presente são os dois volumes de "Geografia Histórica do Rio de Janeiro - 1502-1700", do professor Mauricio de Almeida Abreu. É uma daquelas obras que só aparecem de 20 em 20 anos. (O livro de Karasch, que está na mesma categoria, é de 1987.)
Ele leu tudo e, em diversos pontos controversos, desempatou controvérsias indo às fontes primárias. Erudito, bem escrito, bem exposto, é um prazer para o leitor. Além disso, os dois pesados volumes da obra estão criteriosamente ilustrados. Nele aprende-se, por exemplo, que o primeiro plano urbano da cidade, do tempo de Mem de Sá, foi traçado por um degredado, Nuno Garcia. (Fuçando-se, sabe-se que era um homicida.)
A edição de 3.000 exemplares, copatrocinada pela Prefeitura do Rio, é um luxo, mas o preço ficou salgado (R$ 198). Sua aparência de livro de mesa pode jogá-lo numa armadilha: quem o tem raramente o lê e quem quer lê-lo não tem como comprá-lo. A prefeitura poderia socorrer a patuleia, providenciando uma edição mais barata ou, até mesmo, uma versão eletrônica.
Quem quiser saber mais (e muito) sobre o Valongo e o Cemitério dos Pretos Novos, pode buscar na internet, em PDF:
Valongo: O Mercado de Escravos do Rio de Janeiro, 1758-1831, do professor Cláudio de Paula Honorato.
À flor da terra: O Cemitério dos Pretos Novos do Rio de Janeiro, de Júlio César Medeiros da Silva Pereira.


O Café História inaugura hoje a sua mais nova seção: "Mural do Historiador". Neste seção, vamos publicar promoções, notícias rápidas, informar sobre concursos, editais, novos sites, fontes na internet e outras informações que não podem faltar no mural do historiador.

Na estréia da nova seção, você confere:

- Livros com 20% de desconto para leitores do Café História

- Concurso de Monografias

- Memória da Educação na Internet

Faça uma visita ao Café História e saiba mais sobre cada assunto.

E atenção: também esperamos usar a nova seção para eventual divulgação de blogs de história independetes (que estão fora do CH).Então, se você quiser ver o seu blog mais conhecido, envie o seu link para cafehistoria@gmail.com. O seu blog poderá ser divulgado em breve para mais de 33 mil pessoas! Escolheremos os mais criativos, originais, bem organizados e atualizados. E, claro, o blog deve dedicar-se à conteúdos de história.

Visite Cafe Historia em
:
http://cafehistoria.ning.com/?xg_source=msg_mes_network

ESPECIAL: Japão, o risco nuclear e as imagens do desastre
Cortes de energia tentam evitar derretimento dos reatores. Cresce, em todo o mundo, rede de apoio às vítimas. Fotos e novas tecnologias revelam (ver aqui: 1 2) gravidade da destruição.
À sombra da catástrofe nuclear
Blindagem da usina de Fukushima foi rompida: dúvida é a intensidade da radiação que será liberada. Contaminação durará décadas e pode assemelhar-se à de Chernobyl
Acidente japonês é muito pior que se pensou
Governo e mercados começam a admitir dimensões do vazamento -- omitidas até há pouco para preservar interesses de investidores em energia atômica
Brasil: há razão em optar pelo átomo?
Mesa-redonda nesta quarta-feira, na USP, estimulará debate que precisa envolver um ator até agora ausente: a sociedade civil


A Agência Carta Maior está com um especial sobre a Fome e a desordem financeira mundial. São vários artigos, que merecem ser lidos quando você tiver um tempinho...
http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm?home_id=112&alterarHomeAtual=1



Contos da Resistência 1 – Estudantes e Igreja
O primeiro episódio de Contos da Resistência retrata a atuação de estudantes e da Igreja contra a ditadura militar. Relatos emocionantes de presos políticos e vítimas do regime marcam o documentário.... ASSISTA EM: http://antoniozai.wordpress.com/2011/03/09/contos-da-resistencia-1-estudantes-e-igreja/


O destino das revoltas árabes está no reino do petróleo
Os sauditas acolheram Osama Bin Laden e a Al Qaeda e os Talibã. Já para não dizer que "contribuíram" com a maioria dos comandos suicidas do 11 de Setembro. E agora os sauditas julgam-se os últimos muçulmanos ainda capazes de combater um mundo que se ilumina. Temo que o destino deste movimento festivo na história do Oriente Médio a que temos assistido venha a ser decidido no reino do petróleo, do rei Abdulah (foto), dos lugares sagrados e da corrupção. Estejam alerta. O artigo é de Robert Fisk.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17540


Desordem financeira: as vítimas do livre mercado
No programa 60 Minutos, domingo passado, a principal reportagem tratava sobre o massivo aumento do número de estudantes sem vaga nas escolas públicas dos Estados Unidos. Em um dos condados da Flórida, esse número está aumentando de 15 a 30 alunos por dia. Mas em sua maior parte, os principais meios de comunicação mantem-se distantes, o mais longe possível, destas histórias sobre a nova onda de insensibilidade nos Estados Unidos.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17537



O LabepeH (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino de História - CP/FAE - UFMG) convida você para a sessão inaugural de 2011, "LabepeH promove Diálogos". O projeto "LabepeH promove Diálogos" foi criado em 2005 e tem como papel fundamental efetivar a relação entre pesquisa, ensino e extensão no campo do Ensino de História, articulando a Universidade Federal de Minas Gerais e as escolas da Educação Básica. Atualmente o projeto é coordenado pelos professores Araci Rodrigues Coelho (CP) e Pablo Lima (FaE).
Na sessão do dia 17 de março, quinta-feira, teremos uma mesa redonda sobre "A História Indígena no ensino de História", com a participação de Circe F. Bittencourt (Historiadora, Profa. da PUC São Paulo), Naine Terena de Jesus (Mestre em Artes pela UNB, doutoranda em Educação pela PUC São Paulo).
A sessão LabepeH promove Diálogos ocorrerá no dia 17 de março de 2011, no Auditório Luiz Pompéu da Faculdade de Educação da UFMG, às 19h.
Atenção: Faça sua inscrição nesse email informando seus dados (nome completo, vinculação institucional e email).



O Laboratório de Estudos Africanos (LeÁfrica), inaugurando suas atividades do ano letivo de 2011 no Instituto de História da UFRJ, convida alunos, professores, pesquisadores e público interessado para a palestra da Profa. Dra. Rachel Jean-Baptiste (Universidade de Chicago), intitulada
"Uma certa moralidade: sexualidade, ordem e vida urbana em Libreville colonial no século XX, Gabão".
Rachel Jean-Baptiste é professora assistente de História da África do Departamento de História da universidade de Chicago, especialista em história social, cultural e política da África Central. Sua pesquisa atual tem como foco questões de gênero, sexualidade, vida urbana, colonialismo e legislação no século XX no Gabão. Outros de seus projetos de pesquisa no local incluem ainda como temas casamentos inter-raciais e a mestiçagem, bem como a codificação do direito costumeiro. Maiores informações sobre a Profa. Rachel Jean Baptiste vide site
http://history.uchicago.edu/faculty/jean-baptiste.shtml

Data: 18 de março de 2011, sexta-feira.
Horário: 15h
Local: Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Largo de São Francisco de Paula, n. 1. Centro. Rio de Janeiro. Sala 109 (térreo)
A palestra terá a duração de 50 min e terá tradução alternada realizada pela Profa. Dra. Lise Sedrez