terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Numero 263





Muitos artigos sobre o desastre ecológico que está acontecendo no Rio de Janeiro, em São Paulo, no sul de Minas e em tantos outros locais, me chegaram às mãos esta semana. Entre todos, selecionei que me foi enviado pela professora Vânia Facury, artigo escrito por Leonardo B off. Ele, mesmo fazendo coro a todos os que denunciam o descaso de governantes e a tolice das pessoas que ocuparam áreas de risco, levanta outra questão, bem mais séria, que é o nosso já secular desprezo pela Natureza, esquecendo-nos de que ela pode ser terrível, ao mesmo tempo em que nos abastece com o que precisamos para viver.

O preço de não escutar a Natureza
Leonardo Boff
O cataclisma ambiental, social e humano que se abateu sobre as três cidades serranas do Estado do Rio de Janeiro, Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, na segunda semana de janeiro, com centenas de mortos, destruição de regiões inteiras e um incomensurável sofrimento dos que perderam familiares, casas e todos os haveres tem como causa mais imediata as chuvas torrenciais, próprias do verão, a configuração geofísica das montanhas, com pouca capa de solo sobre o qual cresce exuberante floresta subtropical, assentada sobre imensas rochas lisas que por causa da infiltração das águas e o peso da vegetação provocam frequentemente deslizamentos fatais.
Culpam-se pessoas que ocuparam áreas de risco, incriminam-se políticos corruptos que destribuíram terrenos perigosos a pobres, critica-se o poder público que se mostrou leniente e não fez obras de prevenção, por não serem visíveis e não angariarem votos. Nisso tudo há muita verdade. Mas nisso não reside a causa principal desta tragédia avassaladora.
A causa principal deriva do modo como costumamos tratar a natureza. Ela é generosa para conosco pois nos oferece tudo o que precisamos para viver. Mas nós, em contrapartida, a consideramos como um objeto qualquer, entregue ao nosso bel-prazer, sem nenhum sentido de responsabilidade pela sua preservação nem lhe damos alguma retribuição. Ao contrario, tratamo-la com violência, depredamo-la, arrancando tudo o que podemos dela para nosso benefício. E ainda a transformamos numa imensa lixeira de nossos dejetos.
Pior ainda: nós não conhecemos sua natureza e sua história. Somos analfabetos e ignorantes da história que se realizou nos nossos lugares no percurso de milhares e milhares de anos. Não nos preocupamos em conhecer a flora e a fauna, as montanhas, os rios, as paisagens, as pessoas significativas que ai viveram, artistas, poetas, governantes, sábios e construtores.
Somos, em grande parte, ainda devedores do espírito científico moderno que identifica a realidade com seus aspectos meramente materiais e mecanicistas sem incluir nela, a vida, a consciência e a comunhão íntima com as coisas que os poetas, músicos e artistas nos evocam em suas magníficas obras. O universo e a natureza possuem história. Ela está sendo contada pelas estrelas, pela Terra, pelo afloramento e elevação das montanhas, pelos animais, pelas florestas e pelos rios. Nossa tarefa é saber escutar e interpretar as mensagens que eles nos mandam. Os povos originários sabiam captar cada movimento das nuvens, o sentido dos ventos e sabiam quando vinham ou não trombas d'água. Chico Mendes com quem participei de longas penetrações na floresta amazônica do Acre sabia interpretar cada ruído da selva, ler sinais da passagem de onças nas folhas do chão e, com o ouvido colado ao chão, sabia a direção em que ia a manada de perigosos porcos selvagens. Nós desaprendemos tudo isso. Com o recurso das ciências lemos a história inscrita nas camadas de cada ser. Mas esse conhecimento não entrou nos currículos escolares nem se transformou em cultura geral. Antes, virou técnica para dominar a natureza e acumular.
No caso das cidades serranas: é natural que haja chuvas torrenciais no verão. Sempre podem ocorrer desmoronamentos de encostas. Sabemos que já se instalou o aquecimento global que torna os eventos extremos mais freqüentes e mais densos. Conhecemos os vales profundos e os riachos que correm neles. Mas não escutamos a mensagem que eles nos enviam que é: não construir casas nas encostas; não morar perto do rio e preservar zelosamente a mata ciliar. O rio possui dois leitos: um normal, menor, pelo qual fluem as águas correntes e outro maior que dá vazão às grandes águas das chuvas torrenciais. Nesta parte não se pode construir e morar.
Estamos pagando alto preço pelo nosso descaso e pela dizimação da mata atlântica que equilibrava o regime das chuvas. O que se impõe agora é escutar a natureza e fazer obras preventivas que respeitem o modo de ser de cada encosta, de cada vale e de cada rio.
Só controlamos a natureza na medida em que lhe obedecemos e soubermos escutar suas mensagens e ler seus sinais. Caso contrário teremos que contar com tragédias fatais evitáveis.






A decisão do presidente Lula de não permitir a extradição de Cesare Battisti provocou o furor (falso ou verdadeiro não importa, pois midiático) do premier Berlusconi e de seus adeptos. E aqui no Brasil o Supremo Tribunal Federal volta a discutir o caso: coisa estranha, pois já havia discutido antes e determinara que a decisão seria do presidente da República. Ora, se Lula cumpriu o que o STF determinou, o que há para discutir de novo naquela egrégia Corte?
O jornalista Carlos Lindenberg aponta o que há de sutil neste caso. Leia e comente.

Fonte: Jornal Hoje em Dia
Carlos Lindenberg
As sutilezas do caso Cesare Battisti

O Supremo Tribunal Federal está a um passo de conceder ao ex-presidente Lula a chancela de mestre em assuntos futuros, se alguém lá sabe o que é isso. Explico: No último dia de seu governo de oito anos, no apagar das luzes de 2010, Lula decidiu que o ex-terrorista, ou que definição tenha, Cesare Battisti, não deve ser deportado e entregue às autoridades italianas, que o acusam de quatro assassinatos há décadas, quando aquele país estava às voltas com as extintas Brigadas Vermelhas. À decisão de Lula, a Itália reagiu com grande irritação com aqui e lá alguns defendendo até mesmo o rompimento de relações entre os dois países, um visível exagero, claro.
Sem entrar no mérito do processo político em que está metido Cesare Battisti - se ele é preso político ou um criminoso comum - e sem precisar remexer muito nas relações entre Brasil e Itália, salta aos olhos que o ato do então presidente Lula é indiscutivelmente uma decisão soberana da nação brasileira, goste ou não a Itália, aprovem ou não os adversários de Lula, cuja figura, aliás, não está em pauta. A sua decisão, sim. E Lula decidiu porque o Supremo Tribunal Federal não quis decidir, preferindo deixar a granada, já sem o pino, no colo do ex-presidente, pronta para explodir.
Poucos parecem lembrar que o processo de extradição de Cesare Battisti estava no Supremo Tribunal Federal para decisão.
O Supremo poderia ter decidido que o italiano deveria ser extraditado e por mais que o desagradasse, se fosse o caso, Lula não poderia fazer nada. Era a decisão de um dos três poderes da República, não por acaso aquele a quem cabe interpretar a Constituição e decidir segundo ela. E o que o Supremo decidiu? Que caberia ao presidente da República a decisão.
Ora se o Supremo decidiu, com votos contrários, o que é importante, que a decisão final caberia ao presidente da República, não resta outra coisa ao Supremo fazer senão colocar o ex-terrorista, ou que definição Cesare Battisti tenha, em liberdade.
Por que assim decidiu o presidente da República, por delegação do mesmo Supremo.
De modo que soou estranha decisão do presidente do STF, ministro Cézar Peluso, ao recusar a liberdade ao prisioneiro por solicitação de seu advogado e enviar o processo para o relator Gilmar Mendes voltar a examiná-lo. O ato do ministro Peluso criou a idéia de que o Supremo poderia desautorizar o presidente, embora tenha sido do relator a iniciativa de enviar o caso
para decisão final de Lula, o que foi interpretado à época como uma forma de o tribunal deixar o presidente da República em dificuldade. Lula decidiu, como se sabe, pela não extradição de Battisti. Como a decisão foi no último dia do seu governo criou-se também a idéia de que Lula, na verdade, estava deixando a bomba para estourar na mão da presidente que se empossaria no dia seguinte.
Agora sabe-se ou supõe-se saber que Lula decidiu contra a extradição por ter tido informações de que o Supremo, pela contagem dos votos, irá referendar a sua decisão, o que inviabiliza o raciocínio de que a bomba foi deixada para estourar no colo da presidente Dilma. Para quem pensa assim, vai dar chabu.
A menos que o Supremo, diante da repercussão do caso, acompanhe o voto, antes vencido, de Cezar Peluso e decida pela extradição, o que será estranho. Se era para decidir assim, por que não decidiu antes? Neste caso, estaria configurada a suspeita inicial do próprio governo de que ao mandar a decisão para Lula o que o Supremo queria era criar dificuldades políticas, num ano eleitoral, para o então presidente da República. Mas se ao contrário, o Supremo optar por acatar a decisão do presidente, a Corte Alta estará confirmando que Lula, de fato, é muito mais sabido do que muita gente pensa.
Quanto à reação da Itália, não é demais lembrar que há um acordo entre os dois países, pelo qual o governo de Roma estará investindo sete bilhões de euros na renovação da frota da Marinha brasileira.




O Bolsa Familia ainda continua a ser criticado. Agora vai ficar mais difícil, pois, como se pode ler no artigo a seguir, há comprovações estatísticas de que os índices da escola pública estão melhorando e isso pode ser efeito da maior permanência dos alunos nas escolas, exigência que tem de ser cumprida para que a família continue a receber o Bolsa Familia.

www.brasilianas.org
Enviado por luisnassif, qua, 19/01/2011 - 20:31
Por Ozzy

Bolsa Família melhora índices da escola pública

Autor(es): Linda Goular Correio Braziliense - 19/01/2011
Coordenadora do Plano de Mobilização Social pela Educação do MEC

Mais do que o controle para fins de concessão do benefício, o acompanhamento pelo MEC da frequência escolar de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade (Programa Bolsa-Família) tem gerado informações valiosas para o acompanhamento da trajetória educacional dos beneficiários. Ao cruzarmos tais informações com dados da Pnad e do censo escolar, vemos, por exemplo, que a frequência à escola está contribuindo não apenas para melhorar a vida dos beneficiários, mas, também, a de vários indicadores educacionais.

Uma das condicionalidades para a família não perder a bolsa é que os filhos entre seis e 17 anos frequentem, no mínimo, 85% das aulas todos os meses. Certamente, essa é forte motivação para os altos índices de frequência registrados, mas, uma vez na escola, esses meninos têm conseguido terminar o ensino fundamental e prosseguem no ensino médio. São cerca de 16 milhões de crianças, adolescentes e jovens, o que corresponde a perto de 40% do total dos alunos do ensino fundamental. No Nordeste, esse índice chega a alcançar quase metade das matrículas.
Impressionados com os dados, especialistas têm afirmado que, se as escolas conseguirem reter os estudantes fazendo com que concluam o ensino fundamental, teremos outro país. A média de anos de estudo da população, que é hoje de pouco mais de sete anos, aumentará sensivelmente.


Mas, sobretudo, teremos adultos que saíram da rua, aprenderam a conviver com as regras próprias do ambiente escolar e foram adquirindo hábitos de disciplina, de compartilhamento de aprendizagem com os colegas, acessando novos conhecimentos, ampliando os horizontes culturais. Serão, ao final, milhões de pessoas mais escolarizadas, que aspirarão para os filhos trajetória educacional maior, exigindo também, como direito, melhor qualidade de ensino e de oportunidades.

Situação bem diferente da atual. Segundo dados da Pnad/IBGE 2009, enquanto no estrato dos 20% mais ricos da população a escolaridade média dos que têm mais de 15 anos é de 10,7 anos, os 20% mais pobres nessa faixa etária têm apenas 5,3 anos de estudo. Nessa mesma faixa etária, entre os 20% mais ricos, 86% concluíram o ensino fundamental, enquanto no estrato dos 20% mais pobres apenas 40% alcançaram esse privilégio.

A boa novidade trazida pelo controle da frequência dos beneficiários do Bolsa Família é que isso começa a mudar graças ao desempenho dos alunos cuja renda familiar os coloca entre os 20% mais pobres da população. Bom exemplo é a evolução das matrículas de jovens de 15 a 17 anos no ensino médio. A análise do período compreendido entre 2004 e 2009 indica crescimento constante, que vai de 44,2% a 50,9%. Tomando como base, mais uma vez, os estratos dos 20% mais ricos e dos 20% mais pobres, o que se vê é pequeno crescimento entre os mais ricos, enquanto entre os mais pobres a taxa aumenta em mais de 50%.

Outro progresso notável refere-se às taxas de aprovação. Dados do censo da educação básica indicam que os beneficiários do Bolsa Família têm aprovação semelhante à média brasileira no ensino fundamental e bem superior no ensino médio. Melhor ainda: no Nordeste, ela é maior nos dois níveis de ensino. A situação só se inverte quando olhamos as taxas de abandono. Felizmente. Nesse caso, elas mostram que o percentual é menor entre os beneficiários, tanto no ensino fundamental quanto no médio. Em resumo, eles estão frequentando mais, abandonando menos e melhorando os índices de aprovação.
É razoável supor que, uma vez na escola, eles aproveitam a oportunidade para seguir uma trajetória escolar da qual estavam excluídos. O desafio maior fica por conta dos professores e gestores. É importante que eles conheçam e reflitam sobre tais dados. Acolher o beneficiário do Bolsa Família sem discriminação e com atenção redobrada, reconhecendo suas deficiências de formação formal e social, é fundamental para que se possa extrair deles todo o potencial de desenvolvimento.

O desafio para os gestores estaduais e municipais é articular políticas intersetoriais – educação, saúde, desenvolvimento social, entre outras – criando uma rede de proteção às famílias. São passos fundamentais para garantir o direito de aprender, primeiro passo para levar essas crianças e jovens à emancipação e ao exercício pleno da cidadania.
https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/1...


Para recordar. No site do Historianet uma síntese do que foi o Massacre de Chicago, o enfrentamento da polícia com manifestantes ocorrido em 1968, naquela cidade dos Estados Unidos.


O Massacre de Chicago
A BATALHA DE CHICAGO

Luiz Bernardo Pericás (www.historianet.com.br)

Manifestações, marchas e protestos marcaram o ano de 1968 em todo o mundo. A ofensiva Tet e o massacre de My Lai, no Vietnã, os levantes de maio na França, a Primavera de Praga, a invasão de tropas soviéticas na Tchecoslováquia e a tragédia da Praça de Tlatelolco, no México, são apenas alguns exemplos da radicalização da luta entre as forças progressistas e os agentes do establishment conservador, que tentavam a todo custo conter a “maré vermelha” em vários cantos do planeta. Nos Estados Unidos não foi diferente. Uma sucessão de acontecimentos significativos levou ao ápice as contradições da sociedade norte-americana, desembocando melancolicamente na Convenção Democrática Nacional, em agosto, e na escolha, pouco tempo depois, do republicano Richard Nixon para ocupar a Casa Branca.

O governo do então presidente Lyndon B. Johnson, na época, tinha somente 30% de aprovação da população. Sua política em relação à guerra na Indochina alcançava índices ainda piores, em torno de 23% apenas. A oposição ao conflito crescia nitidamente a cada mês, o que levou Johnson a desistir de concorrer nas eleições gerais. O caminho estava aberto para outros candidatos, inclusive para o vice-presidente Hubert Humphrey, ligado aos sindicatos filiados à AFL (American Federation of Labor) e visto por muita gente como “progressista”, ainda que fosse bastante associado à imagem e às políticas belicistas de Johnson. Também na disputa, nomes emblemáticos, como Eugene McCarthy e George McGovern. A decisão final se daria na Convenção Nacional do Partido Democrata, marcada para ocorrer no International Amphitheater, em Chicago, entre 26 e 29 de agosto.


Alguns dias antes, manifestantes começaram a chegar de todas as partes, em grande medida, instigados pelo evento partidário. O que deveria ser um protesto pacífico se tornou uma guerra. Por oito dias, a cidade se transformaria, literalmente, num campo de batalha. O “agosto em Chicago” foi, com suas devidas proporções, o equivalente, na “América”, ao “maio de 1968” em Paris. Ainda que outras manifestações anteriores tenham sido bem maiores em número de participantes (algumas chegavam a cem mil pessoas), aquela em Illinois seria mais importante em termos simbólicos.


A “batalha de Chicago” coroou um processo que se arrastava havia meses. É fundamental, entretanto, acompanhar aqui a seqüência dos fatos. No dia 4 de abril, o mais conhecido líder negro dos Estados Unidos, Martin Luther King, é assassinado em Memphis, Tennessee. Revoltas populares eclodem de leste a oeste do país. No dia 7 do mesmo mês, Bobby Hutton, “ministro da Defesa” do Partido dos Panteras Negras (Black Panthers Party), é assassinado, enquanto Eldridge Cleaver, o “ministro da Informação”, era ferido num tiroteio com a polícia. Os Panteras Negras se radicalizam. Cleaver seria, naquele ano, candidato à presidente dos Estados Unidos, pelo Peace and Freedom Party. Enquanto isso, Huey Newton, um dos fundadores do Black Panthers, era julgado por homicídio. Jovens afro-americanos depredam lojas, queimam pneus, destroem automóveis e entram em confrontos violentos com forças policiais em diversas cidades.

Ao mesmo tempo, estudantes de classe média tomam as ruas para apoiar a luta pelos direitos civis e em protesto contra a guerra do Vietnã (em abril, por exemplo, a Universidade de Columbia, em Nova Iorque, uma das mais prestigiosas do país, foi ocupada e fechada pelos alunos). Em 3 de junho, o artista plástico Andy Warhol é crivado de balas... mas sobrevive. Dois dias mais tarde, contudo, o Senador Robert F. Kennedy, o favorito para a sucessão presidencial, sofre um atentado, depois de discursar no Ambassador Hotel, em Los Angeles. O tiro que recebe é gravíssimo, e no dia seguinte, ele perde a vida. O ano esquentava...


Entre os protagonistas de 1968, destacavam-se o Partido Yippie (Youth International Party), liderado por Abbie Hoffman e Jerry Rubin, e o SDS (Students for a Democratic Society), encabeçado por Tom Hayden e Rennie Davies. Estas organizações já haviam realizado eventos importantes, como o Summer of Love e a manifestação do Pentágono. A experiência que ganharam com estes e outros meetings (como aqueles no Central Park e na Grand Central Station, em Nova Iorque, ou as marchas no verão daquele ano, em San Francisco), lhes deu condições de preparar uma atividade muito maior e mais arriscada para Chicago. Só que haveria uma grande diferença. Os encontros dos yippies, por exemplo, normalmente (mas nem sempre) eram festivos, não-violentos e promoviam a desobediência civil. Neles, hippies assistiam a shows de rock e evitavam qualquer problema com a polícia, ainda que eventualmente ocorressem choques com as autoridades. Mas em Chicago, tudo seria bem diferente.

Hoffman, Rubin, Hayden, Davies, assim como David Dellinger (editor da revista Liberation) e Vernon Grizzard (líder do movimento de resistência ao alistamento compulsório), convocaram cem grupos distintos que vinham se opondo à guerra. Pediram permissão às autoridades de Chicago para realizar um “festival da juventude”, mas tiveram seu pedido recusado. O prefeito Richard Daley já ouvira algumas ameaças que circulavam antes da Convenção, entre elas, de que ativistas invadiriam, à força, o International Amphitheater, ou de que bloqueariam as ruas de Chicago. Também tinham receio de que os protestos incitassem os bairros negros e criassem um caos urbano, aumentando ainda mais a tensão racial desde o assassinato de Luther King. Se já não bastasse tudo isso, havia o boato de que os manifestantes sabotariam o sistema de águas da cidade, contaminando o suprimento de toda a região com LSD, com o objetivo de fazer com que a população inteira fizesse uma “viagem” psicodélica coletiva. A situação também poderia se agravar por causa do assassinato pela polícia, no dia 22 de agosto, do jovem Dean Johnson, de apenas 17 anos de idade. O caso, de acordo com os agentes da lei, poderia ser o estopim e servir como desculpa para manifestações violentas dos ativistas.

É claro que boa parte dos temores era absurda, mas os governantes locais não iriam arriscar. Proibiram o evento programado. Mesmo assim, sem dar ouvidos ao prefeito, milhares de jovens decidiram marchar para a cidade. Montaram acampamento no Parque Lincoln. Se lá chegaram inicialmente dois mil militantes, em pouco tempo esse número subia para dez mil pessoas, entre hippies, yippies, “anarquistas”, ativistas negros, estudantes e até gangues de motociclistas. A multidão carregava bandeiras dos vietcongs e estandartes vermelhos. Muitos cartazes e banners lembravam Che Guevara, que havia sido assassinado no ano anterior na Bolívia.

A situação se tornava tensa. As provocações entre os jovens e a polícia eram constantes. No dia 23, Rubin e outros yippies tentaram indicar um porco, “Pigasus, the Pig”, para presidente dos Estados Unidos, no Civic Center Plaza. A polícia não deixou que a performance continuasse e deteve todo mundo, Rubin, o porco “Pigasus” e mais seis yippies.

No dia seguinte, sessenta militantes feministas da Women Strike for Peace tentaram entrar no Conrad Hilton Hotel, onde a maioria dos delegados democratas se hospedava, mas foram barradas pela polícia. Depois, centenas de ativistas, pressionados pela polícia, saíram do parque e tomaram as ruas de Chicago, destruindo automóveis com pedras e fechando diversos cruzamentos. Um grupo de 300 homens se dirigiu para o Hilton, tentando invadir o local. Também foram impedidos pela força pública. Outros 500, tentando ocupar o Loop, tiveram o mesmo destino.

Muita gente foi ao Parque Grant, e mais tarde, retornou ao Lincoln Park. Lá estava programado o “Festival of Life”, com apresentações de diversos artistas. Mas a polícia, de forma truculenta, acabou
com a festa. Encontravam-se ali também o poeta beatnik Allen Ginsberg, o escritor William Burroughs, e o dramaturgo francês Jean Genet. O show da banda MC5 e os discursos de Tom Hayden, Rennie Davies e Abbie Hoffman deveriam dar o tom dos protestos.

Os policiais, demonstrando enorme despreparo, agiam de maneira agressiva, atacando não só os manifestantes como também quaisquer pedestres que por lá passavam e até mesmo jornalistas. Para se ter uma idéia, dos 300 repórteres designados para cobrir os eventos nas ruas e no parque, mais de 60 estiveram envolvidos em incidentes que resultaram em ferimentos, danos no equipamento ou em prisão.
Os números mostram a disparidade de forças. Haviam sido enviados para “proteger” a cidade 11.900 policiais, 7.500 soldados do exército, 7.500 membros da Guarda Nacional e 1.000 agentes do Serviço Secreto. Os manifestantes eram em torno de 10.000, aproximadamente. No dia mais violento dos protestos, quando ocorreu a “batalha da Avenida Michigan”, houve 589 prisões, 119 policiais e 100 manifestantes feridos. Mas o provável é que a quantidade de ativistas feridos tenha sido bem maior, e que possa ter chegado a 500 ou mais.

Os acontecimentos de Chicago terminaram de maneira melancólica. Hubert Humphrey, da Velha Guarda do partido, foi escolhido para ser o candidato democrata à presidência dos Estados Unidos. Nas eleições gerais, contudo, o republicano Nixon seria o vitorioso. Uma lei federal, a “1968 Civil Rights Act”, foi promulgada, tornando crime cruzar as divisas dos estados para incitar rebelião. Por causa disso, os chamados “Oito de Chicago”, Dellinger, Davies, Hayden, Hoffman, Rubin, além de Lee Weiner (assistente de pesquisa da Northwestern University), John Froines (professor da Universidade do Oregon) e Bobby Seale (fundador dos Panteras Negras), foram acusados de ter promovido a confusão e duramente julgados. Seale seria afastado do grupo e julgado separadamente, tornando os outros conhecidos como “Chicago Seven”. O caso só iria ser encerrado em 1970, com Froine e Weiner sendo inocentados, e os outros recebendo uma multa de US$ 5 mil e cinco anos de prisão. Todas as sentenças seriam revogadas pouco tempo depois.

Os eventos de Chicago levaram ao ápice as contradições sociais, raciais e políticas dos Estados Unidos naquele ano. A partir daí, os setores conservadores conseguiriam conter e sufocar outras grandes manifestações políticas. Na década seguinte, os partidos “revolucionários” e os movimentos mais radicais já não teriam a mesma força para organizar e influenciar a juventude do país.



A história de um crime de 20 trilhões de dólares
Documentário que será lançado em fevereiro no Brasil mostra o comportamento criminoso de agentes políticos e econômicos que conduziu à crise mundial de 2008. Essa conduta criminosa provocou a perda do emprego e da moradia para milhões de pessoas. "Inside Job" (que ganhou o título de "Trabalho interno" em português) conta um pouco da história que Wall Street e seus agentes pelo mundo querem que seja esquecida o mais rápido possível. Documentário resultou de uma extensa pesquisa e de uma série de entrevistas com políticos e jornalistas, revelando relações corrosivas e promíscuas entre autoridades, agentes reguladores e a Academia.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17314&boletim_id=812&componente_id=13366


Entrevista com Noam Chomsky: WikiLeaks, crise econômica e outros temas relevantes
A estação alternativa de rádio estadunidense Democracy Now, na pessoa da sua principal animadora Amy Goodman, entrevistou à distância o linguista, filósofo e ativista libertário Noam Chomsky, em vésperas do seu 82º aniversário.

Leia. Comente
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1792


quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Numero 262


Beth Queijo me encaminhou este texto, de autor que não conheço, mas gostei muito do que li. Aparentemente os elementos que compõem o titulo parecem esdrúxulos, mas a costura que ele fez de tais elementos foi bastante interessante.
Leia e opine!

o texto é do Lúcio de Castro.
em seu blog no www.espn.com.br
A tragédia das chuvas, Ronaldinho, Carolina Dieckmann e a reforma agrária
Não demorou nem 12 horas. A trágica e absurda dimensão da catástrofe no estado do Rio ainda nem era totalmente conhecida e já tinha gente propondo que Ronaldinho Gaúcho doasse seu primeiro salário para as vítimas. Com o tal do tuiter virou onda, ganhou voz e multiplicou-se. Virou tema de discussão. Por trás dessa discussão, estão outras tragédias por trás da tragédia maior, obviamente incomparável em sua dor e drama.

Não é um caso raro, incomum. No Brasil é comum a cobrança para que jogadores de futebol resolvam os problemas das enchentes, sejam exemplos de conduta para a educação que o pai não dá em casa, se pronunciem e bem sobre qualquer assunto, tenham a obrigação de algo inteligente a dizer ou que sejam algo próximo a alguma vestal. Por trás de tal comportamento, boa parte das vezes, infelizmente e por mais difícil de assumir que seja, está um enorme preconceito de alguns com o fato de que meninos pobres, mulatos e descalços tenham ascendido na vida, freqüentem salões que não podem, desfilem com mulheres que também não podem e por aí vamos. Então tome cobrança. Tome vidas vigiadas. Tome ódio muitas vezes. Antes que alguém se apresse, claro que não estamos inocentando ninguém de culpas ou responsabilidades. Já tratamos nesse blog várias vezes sobre os meninos criados como bichos, ao arrepio da lei, que, tratados como bichos, viram... bichos mesmo. Apenas é preciso botar algumas coisas no seu devido lugar, responsabilidades nos devidos ombros.
Chegaremos ao salário de Ronaldinho, as enchentes, as responsabilidades... Antes é preciso situar algumas coisas. Como uma imagem que não me saiu da cabeça. Era uma madrugada dessas. A atriz Carolina Dieckmann falava sobre seus filhos. Que não gostaria de vê-los jogadores de futebol. Falava com tom meio jocoso e absoluto desdém. “A não ser que sejam como Leonardo ou Raí, estudem...”, proferiu algo assim... Outras declarações do tipo são comuns. Repletas de preconceitos. Vindas de quem? Fernanda Montenegro, Gianfrancesco Guarnieri, gente que sempre soube se posicionar diante das grandes causas e questões do Brasil? Não, Carolina Dieckmann, a parceira de Preta Gil. Detentora de um pensamento revolucionário, sempre ao lado de grandes questões...!!! Essa mesmo, zombava do nível dos jogadores de futebol. Também não me esqueço de um “Bola da Vez” marcante de Leonardo, agora técnico do Inter de Milão. Perguntaram para ele sobre o nível dos jogadores, como ele convivia com isso... Sua resposta foi demolidora: “a média em qualquer meio é fraca. Jornalistas, advogados, engenheiros. Jogadores não são diferentes”, algo assim. Mas cobramos sempre que sejam os exemplos citados acima.
Fala-se também constantemente numa suposta marra de jogadores. Aqui cabe um depoimento pessoal. Pois puxando pela memória não me recordo de nenhum jogador insuportável com quem tenha tido que conviver. Verdadeiramente marrentos. Irão falar de Romário... Pois se existe nisso tudo alguém fácil de lidar é esse. Pulemos. (existem bobos, mas isso também é em qualquer área!). No entanto, já convivi com jornalistas, atores, advogados e etc insuportáveis. Consulto um amigo que vive indo na casa da boleirada por aí fazer matéria. Sem saber minha opinião, dispara: “não existe coisa mais tranquila no mundo. Não me lembro de um insuportável. Já em outras áreas que conhecemos...”.

Mais uma vez tal cobrança me remete ao bate-papo que tive com Mestre Eduardo Galeano no começo desse blog sobre preconceitos, recalques e ódios contra os neguinhos que sobem na vida e a Casa Grande nunca aceitou. É só baixar a página que vai estar lá. Nesse momento trágico, ter como primeiro pensamento o salário de Ronaldinho Gaúcho, a obrigação de que ele faça isso ou aquilo, sem entrar no mérito se ele pode, deve ou o raio que seja, reflete muita coisa.
Por que diabos o primeiro pensamento não é para as verdadeiras causas de tanta desgraça? Por que diabos tantos gostam de aparecer falando em campanhas de doação, em se mostrar campeão de solidariedade (mais uma vez muita calma nessa hora, é claro que aprovamos tais ações, mas em muitos cujas práticas são sempre opostas, parece falso). Por que diabos ninguém fala algo primordial nessa história toda: que se nosso país não fosse, com a Argentina, o único das Américas que não passou por uma reforma agrária, não teríamos tanta gente apinhada em locais sem condição de moradia? Por que diabos ninguém nessa hora diz com todas as letras que muitos dos mortos não seriam números de uma tragédia se a estrutura fundiária desse país fosse uma das mais absurdas e concentradoras do mundo? Por que diabos não apareceu ninguém pra falar que a Votorantim, a Belgo-Mineira, a Manesmann tem mais de 11 milhões de hectares de terras no Brasil e que alguns bancos tem quase 6 milhões? Que essa concentração fundiária, como apontou a CNBB em sua Campanha da Fraternidade de 2010, expulsa gente para favelas, cortiços? Esses mesmos que morrem nessas tragédias em sua maioria? Existe a questão mundial do meio-ambiente também. Política, como a reforma agrária, esse palavrão que ninguém profere. Política, como o bilhão que evapora nas obras do Maracanã enquanto gente é levada pela água. E assim chegamos ao xis da questão. Política. A ser feita por cada um. Alguém viu em algum jornal ou na tv a lembrança de que os milhares de camponeses expulsos do campo viraram esses favelados que muitas vezes encontram a morte na primeira enchente? Como no Haiti, igualzinho, onde o mesmo êxodo rural causou a maioria absoluta das mortes no terremoto. Mas certamente é mais fácil cobrar exemplos e atitudes, regular a vida e botar para fora os recalques em cima de um Ronaldinho qualquer...




Guilherme Souto encaminhou esta entrevista com o Rudá Ricci, que já foi indicado várias vezes aqui no nosso Boletim.
Nesta entrevista, temas importantíssimos e quase nunca (ou nunca?) realmente discutidos são apresentados com a crueza que merecem. De fato, ao observarmos as últimas “reformas” educacionais, nos deparamos com o que ele afirma, que “o ser humano desapareceu” das preocupações dos gestores, pois o que interessa agora é unicamente o resultado dos inumeráveis exames que são cobrados, o ranking das escolas.
Outro item que considerei essencial está na resposta dele à quarta pergunta, quando aborda a questão do currículo escolar. Por que Matemática e Língua Portuguesa merecem 5 aulas semanais e História, Geografia e outras disciplinas devem se contentar com apenas 2? A linguagem se aprende apenas na disciplina Língua Portuguesa? Não se aprende lendo e discutindo os textos de História, as imagens e mapas? Leiam a entrevista e comentem!

Fonte: www.rudaricci.blospot.com
Sexta-Feira, 14 de janeiro de 2011
Revista AMAE Educando:
1- Por que o senhor afirma que estamos assistindo um empobrecimento do ímpeto de inovação educacional que marcou as últimas duas décadas do séc. XX?
R: Porque nas últimas duas décadas do século passado tivemos um movimento importante, envolvendo principalmente países latinos, de reformas educacionais progressistas, que focaram na lógica do desenvolvimento humano, que nunca é padronizado. Piaget e Vygotsky foram relidos e muitas teorias da área da neurologia foram incorporadas (como Antonio Damásio, Howard Gardner e até Oliver Sachs). Começamos a avançar neste campo, abrindo uma leitura ampla, que casou leitura sociológica, neurológica, psicológica e pedagógica. De repente, com a pressão internacional para se utilizar indicadores de resultado, de inspiração empresarial, começamos a retroceder. O foco passou a ser o próprio resultado e não mais o processo de aprendizagem. O ser humano sumiu da preocupação central das políticas públicas educacionais. O número e o ranking (como no IDEB, Simave ou Saresp) voltaram a ser mais importantes. Ora, quando o ser humano é substituído pelo ranking, o gestor deixa de se responsabilizar por articular políticas sociais e olhar o ser humano e descarrega a responsabilidade no professor e nos métodos de ensino. O problema é que todos dados indicam que o problema do desempenho do aluno está na família e nas condições sociais de sua vida. O erro continua do gestor, mas para o público externo estamos vendendo esta história que professor não sabe educar ou não tem formação. Temos relatos de professores com doutorado que não conseguem dar aula porque o grau de tensão e agitação na sala de aula o impede até de fazer chamada. Para piorar, alguns gestores adotam esta excrescência que é a premiação por desempenho dos alunos. Já sabemos quem terá melhor performance: o professor das regiões mais abastadas do país. Voltamos aos anos 1970.
2- Por que as reformas educacionais brasileiras realizadas nessa época fizeram com que dialogássemos com teorias conflitantes?
R: Porque iniciamos as inovações na área pedagógica (ENEM, PCNs e outras iniciativas), mas não prosseguimos e repercutimos na área da gestão. Fomos esquizofrênicos nas políticas educacionais. Veja a sala de aula. Continua com a lógica disciplinadora, racional, taylorista. Até mesmo a Escola Parque proposta por Anísio Teixeira é utopia hoje, tal a pobreza desta lógica escolar. Os professores ainda ganham por módulo-aula, que é um obstáculo para currículos que estejam focados em projetos ou dificuldades específicas de alunos. Em determinado momento, posso fazer uma viagem com alunos. Em outro, um breve filme. O módulo-aula é absolutamente ultrapassado. A arquitetura escolar é uma espécie de panopticon do século XIX. O centro de tudo é o corredor das salas de aula e não a biblioteca e a pesquisa. As salas são separadas entre si e a escola é separada das ruas. Uma instituição fechada, alimentada pela lógica da higienização social. As ruas, os problemas reais dos bairros dificilmente entram no currículo. Não formamos lideranças sociais, embora estejamos assumindo a liderança no mundo. Um contra-senso.

3- A motivação política foi preponderante em relação aos objetivos educacionais durante a implementação dessas reformas?
R: Sim. No caso brasileiro foi evidente. Todo movimento de professorado, incluindo as greves lideradas por sindicatos de professores, articulou questões de gestão, valorização profissional, articulação com sociedade civil e currículo (aqui, com forte influência das elaborações de Paulo Freire). Respirávamos as possibilidades da redemocratização do país. Infelizmente, grande parte do discurso sindical do setor foi se reduzindo à questão salarial. Muitos sindicatos de professores se partidarizaram nitidamente.

4- Qual é o item mais polêmico das reformas?
R: É o controle social e o currículo. A escola não chega às ruas. Atualmente, assessoro a Constituinte Escolar de Ipatinga. Fizemos duas rodadas de pesquisas com pais, alunos, diretores, lideranças sociais, funcionários de escolas e professores. Tudo está disponível no site www.constituinteescolar.com.br . É impressionante como a sociedade se sente divorciada de todo sistema educacional e escolar. A educação é, ainda, uma caixa preta para os pais e líderes sociais. O segundo problema é o currículo. Estamos naturalizando os conteúdos necessários, sem discussão pública. Por qual motivo se diz que matemática e português são básicos? De onde se tirou isto? Desde quando linguagem se limita à língua pátria? Desta maneira, um analfabeto não teria como se relacionar no mundo. E sabemos que isto não ocorre. Esta é uma versão das mais simplificadoras do que seria estímulo à autonomia e inteligência humanas. Inteligência significa decidir e não quantidade de informações adquiridas. Desta naturalização nascem as avaliações sistêmicas. E ficamos discutindo números do IDEB como se ao atingir o índice 6 estivéssemos no Olimpo. Fico estarrecido com esta infantilização. A ponta do iceberg fica sendo a tal promoção automática. Mas sem discutir currículo não há motivos para se discutir avaliação. Afinal, avaliamos o que desejamos alcançar. E o que desejamos alcançar neste século XXI?

5- Por que, no século XXI, o papel social das escolas alterou-se profundamente?
R: Porque as famílias perderam importância no processo de formação de crianças e, principalmente, adolescentes. Aumenta o número de famílias monoparentais, onde apenas a mãe reside com os filhos. E esta mãe trabalha e chega esgotada em casa. As escolas, sem perceber, jogam uma bomba no colo dessas mães com os “para casa” ou “tarefas” para os alunos desenvolverem em casa. Muitas vezes, a mãe nem sabe como ajudar. Em outras, a mãe responde pelos filhos para liquidar a fatura. Além deste problema central, e que é desconsiderado nos planejamentos escolares, temos outros da mesma natureza. Com o sentimento de abandono social, nossos alunos passam a disputar seu espaço na escola. O intervalo de aula é o maior laboratório de formação (ou deformação) moral de nossos estudantes. E não temos projeto pedagógico para este momento. Novo abandono, desta vez, na própria escola. Todos nós sabemos que nos intervalos ocorrem humilhações, paqueras, bullying e toda sorte de ações e confrontos entre tribos. Teríamos que criar educadores sociais para trabalhar nestes espaços. Temos que pensar atividades sociais e culturais. São Bernardo do Campo adotou, por exemplo, kits de esportes radicais e visitas de médicos para conversar sobre sexualidade e saúde com adolescentes. Pistas de skate, escaladas adaptadas, tablados para apresentação de grupos de dança e teatro, palcos improvisados para apresentação de bandas de jovens, uma infinidade de atividades culturais visitam as escolas a cada semana. Lembremos que são ações culturais e de lazer que oferecem os melhores resultados no combate à violência juvenil e uso de drogas. Há exemplos em todo mundo a respeito deste tema. A escola tem que ser vista como centro cultural e social. Não como instituição fechada. A questão é ainda mais aguda quando nos tornamos o segundo PIB da América. Somos uma potência em nosso continente. E já somos o 7º PIB mundial. Em cinco anos seremos o quinto mercado consumidor do mundo (atrás, apenas, da China, EUA, Alemanha e Japão). E o que estamos fazendo para formar uma geração de líderes que pensem e se responsabilizem pelo mundo? Nada. Só pensamos em dar dicas para o sucesso individual.

6- Qual a característica principal da atual política educacional brasileira?
R: Foco no resultado. Com eleições a cada dois anos, os gestores só pensam em apresentar resultados concretos. Deixaram de pensar em políticas estratégicas, de longo prazo. Querem dados para dizer que melhoraram o IDEB. E pressionam os professores. A premiação de professores por resultado é uma humilhação para a categoria. É como se dissessem que professor só faz bem se recebe mais dinheiro. A maior empresa de estudos de desempenho do mundo, a HAY, desmente tal versão. Eficiência e desempenho não dependem de salário. Obviamente que há uma base de dignidade e respeito público inserido no salário que se paga a um profissional. Mas os professores simplesmente não têm condições para desenvolver um trabalho adequado. As rotinas e exigências burocráticas são absurdas. Em pesquisas que coordeno junto à rede de ensino da cidade de São Paulo, os gestores de escolas ilustram rotinas absurdas, que os desviam da direção pedagógica. Todos profissionais das escolas vivem índices muito altos de estresse e depressão e outros sintomas da Síndrome de Burnout. E continuamos não pensando no concreto. Nossa política educacional paira sobre o real. É uma imensa abstração pensada em gabinetes.

7- Quais as iniciativas em curso com maiores chances de êxito?
R: Há iniciativas pulverizadas. No campo curricular, a educação fiscal e o orçamento participativo adolescente ou criança (OP Jovem, em Rio das Ostras/RJ; OPA, em Governador Valadares/MG; OP EDUCA, em São Carlos/SP, e assim por diante). Experiências de Constituinte Escolar envolvem toda comunidade escolar num pacto educacional muito importante. Há atividades e programas dispersos de formação técnica de professores. Cito, por exemplo, a UAB (universidade aberta do Brasil). No restante, estacionamos ou regredimos. Infelizmente.

8- Para os alunos, qual é o maior prejuízo quando as escolas se distanciam das ações sociais desenvolvidas pela comunidade?
R: Ela se aparta do mundo. Pior: cria um mundo próprio. Este é o problema do vestibular, o sistema de seleção para ingresso na universidade. O que se pergunta no vestibular, em grande medida, não tem importância alguma para a sociedade ou para a carreira do aluno. E exige memorização e não inteligência. Se adotarmos o ENEM como prova nacional e um processo de seleção sequencial (provas no final de cada ano do ensino médio), além de introduzir outros elementos classificatórios que demonstrem engajamento social (como trabalho voluntário de candidatos), poderíamos alterar toda lógica de reflexo condicionado que hoje se adota nos terceiros anos de ensino médio e cursinhos preparatórios. Utilizamos, infelizmente, técnicas de Pavlol, do século XIX. E os pais incentivam tais técnicas. Os alunos as chamam de dicas. Um jogo de mercado dos mais anti-éticos, um jogo de toma lá, da cá. Isto não é educação. É adestramento.

9- O que têm feito os projetos educacionais contemporâneos para suprir a redução do convívio familiar?
R: A adoção da escola em tempo integral. Há arremedos, como a Escola Integrada, que é um shopping de atividades não conectadas pedagogicamente. Visam apenas a manutenção do aluno por mais tempo na escola ou atividades educacionais. Aí entra o projeto Segundo Tempo do Ministério dos Esportes. Bem intencionado, mas equivocado pedagogicamente. Porque o professor de referência é o que define a unidade do projeto pedagógico. Não os oficineiros. O programa Mais Educação, do MEC, dá um passo na direção certa. O importante é entender que a história mundial da educação sempre teve em aparelhos públicos a responsabilidade da formação social. Os kibutzim formam o exemplo clássico. Mas era assim na Grécia Antiga, na Roma Antiga. Basta ler os estudos de Philippe Áries para verificar que o papel educador da família só surgiu no século XVII. É esta tradição histórica que norteia a escola em tempo integral. Mas é preciso mais ousadia. E tirar o escorpião do bolso dos governos.

10- Como o senhor define uma educação de qualidade?
R: É aquela que constrói a autonomia dos estudantes e a socialização. Sempre cito Hannah Arendt que dizia que o papel da educação é humanizar os homens. Porque não nascemos humanos. Simplesmente porque a humanidade se constrói pela socialização de experiências, via linguagem. Somos cristãos ou budistas, muçulmanos ou marxistas, liberais ou anarquistas, sem termos conhecido Marx, Jesus, Buda, Maomé, Bakunin ou Locke. Convertemos-nos diariamente em função da leitura das experiências de outros. Ou por sentirmos e sermos informados pela música, pelas artes plásticas, pela dança, pelo teatro, enfim, pela linguagem. A escola, para humanizar, precisa nos abrir este cardápio de multiplicidade de experiências, desejos, frustrações, experiências plasmadas na linguagem. Este cardápio é que nos faz tolerantes e humildes. É ele que nos faz humanos. Fora disto, nos aproximamos dos animais irracionais. Mesmo que em nome da cultura e inteligência. Mesmo que em nome do resultado educacional.









O leitor atento já percebeu que esta imagem não tem nada a ver com os assuntos que estão sendo tratados aqui. De fato! Nada a ver! Mas as ruinas do Foro Romano são muito bonitas, merecem aparecer aqui no boletim! Foto feita pelo autor do blog em 1993.




Ana Cláudia me enviou esta matéria. Achei oportuno publicar aqui. Acredito, como a autora da matéria, que são “palavras que precisavam ser ditas” sobre a esposa do Lula, que passou os últimos oito anos de sua vida sendo alvo de chacotas, porque não tinha os diplomas da antecessora e nem a beleza da atual segunda-dama. Ou seja, passou oito anos sendo alvo do preconceito e das ironias destiladas na mídia. Hildegard Angel tem algo a nos dizer. Vamos refletir!
Marisa Letícia Lula da Silva, palavras que precisavam ser ditas
por Hildegard Angel*, no R7, via Pastorador, sugestão do leitor Rios
Foram oito anos de bombardeio intenso, tiroteio de deboches, ofensas de todo jeito, ridicularia, referências mordazes, críticas cruéis, calúnias até. E sem o conforto das contrapartidas. Jamais foi chamada de “a Cara” por ninguém, nem teve a imprensa internacional a lhe tecer elogios, muito menos admiradores políticos e partidários fizeram sua defesa. À “companheira” número 1 da República, muito osso, afagos poucos.
Dirão os de sempre, e as mordomias? As facilidades? O vidão? E eu rebaterei: E o fim da privacidade? A imprensa sempre de olho, botando lente de aumento pra encontrar defeito? E as hostilidades públicas? E as desfeitas? E a maneira desrespeitosa com que foi constantemente tratada, sem a menor cerimônia, por grande parte da mídia? Arremedando-a, desfeiteando-a, diminuindo-a? E as frequentes provas de desconfiança, daqui e dali? E – pior de tudo – os boatos infundados e maldosos, com o fim exclusivo e único de desagregar o casal, a família?

Ah, meus queridos, Marisa Letícia Lula da Silva precisou ter coragem e estômago para suportar esses oito anos de maledicências e ataques. E ela teve. Começaram criticando-a por estar sempre ao lado do marido nas solenidades. Como se acompanhar o parceiro não fosse o papel tradicional da mulher mãe de família em nossa sociedade.
Depois, implicaram com o silêncio dela, a “mudez”, a maneira quieta de ser. Na verdade, uma prova mais do que evidente de sua sabedoria. Falar o quê, quando, todos sabem, primeira-dama não é cargo, não é emprego, não é profissão?
Ah, mas tudo que “eles” queriam era ver dona Marisa Letícia se atrapalhar com as palavras para, mais uma vez, com aquela crueldade venenosa que lhes é peculiar, compará-la à antecessora, Ruth Cardoso, com seu colar pomposo de doutorados e mestrados.
Agora, me digam, quantas mulheres neste grande e pujante país podem se vangloriar de ter um doutorado? Assim como, por outro lado, não são tantas as mulheres no Brasil que conseguem manter em harmonia uma família discreta e reservada, como tem Marisa Letícia.
E não são também em grande número aquelas que contam, durante e depois de tantos anos de casamento, com o respeito implícito e explícito do marido, as boas ausências sempre feitas por Luís Inácio Lula da Silva a ela, o carinho frequentemente manifestado por ele. E isso não é um mérito? Não é um exemplo bom? Passemos agora às desfeitas ao que, no entanto, eu considero o mérito mais relevante de nossa ex-primeira-dama: a brasilidade.
Foi um apedrejamento sem trégua, quando Marisa Letícia, ao lado do marido presidente, decidiu abrir a Granja do Torto para as festas juninas. A mais singela de nossas festas populares, aquela com Brasil nas veias, celebrando os santos de nossas preferências, nossa culinária, os jogos e brincadeiras. Prestigiando o povo brasileiro no que tem de melhor: a simplicidade sábia dos Jecas Tatus, a convivência fraterna, o riso solto, a ingenuidade bonita da vida rural. Fizeram chacota por Lula colar bandeirinhas com dona Marisa, como se a cumplicidade do casal lhes causasse desconforto.
Imprensa colonizada e tola, metida a chique. Fazem lembrar “emergentes” metidos a sebo que jamais poderiam entender a beleza de um pau de sebo “arrodeado” de fitinhas coloridas. Jornalistas mais criteriosos saberiam que a devoção de Marisa pelo Santo Antônio, levado pelo presidente em estandarte nas procissões, não é aprendida, nem inventada. É legitimidade pura. Filha de um Antônio (Antônio João Casa), de família de agricultores italianos imigrantes, lombardos lá de Bérgamo, Marisa até os cinco de idade viveu num sítio com os dez irmãos, onde o avô paterno, Giovanni Casa, devotíssimo, construiu uma capela de Santo Antônio. Até hoje ela existe, está lá pra quem quiser conferir, no bairro que leva o nome da família de Marisa, Bairro dos Casa, onde antes foi o sítio de suas raízes, na periferia de São Bernardo do Campo. Os Casa, de Marisa Letícia, meus amores, foram tão imigrantes quanto os Matarazzo e outros tantos, que ajudaram a construir o Brasil.
Outro traço brasileiro dela, que acho lindo, é o prestígio às cores nacionais, sempre reverenciadas em suas roupas no Dia da Pátria. Obras de costureiros nossos, nomes brasileiros, sem os abstracionismos fashion de quem gosta de copiar a moda estrangeira. Eram os coletes de crochê, os bordados artesanais, as rendas nossas de cada dia. Isso sim é ser chique, o resto é conversa fiada.
No poder, ao lado do marido, ela claramente se empenhou em fazer bonito nas viagens, nas visitas oficiais, nas cerimônias protocolares. Qualquer olhar atento percebe que, a partir do momento em que se vestir bem passou a ser uma preocupação, Marisa Letícia evoluiu a cada dia, refinou-se, depurou o gosto, dando um olé geral em sua última aparição como primeira-dama do Brasil, na cerimônia de sábado passado, no Palácio do Planalto, quando, desculpem-me as demais, era seguramente a presença feminina mais elegante. Evoluiu no corte do cabelo, no penteado, na maquiagem e, até, nos tão criticados reparos estéticos, que a fizeram mais jovem e bonita.
Atire a primeira pedra a mulher que, em posição de grande visibilidade, não fez uma plástica, não deu uma puxadinha leve, não aplicou uma injeçãozinha básica de botox, mesmo que light, ou não recorreu aos cremes noturnos. Ora essa, façam-me o favor! Cobraram de Marisa Letícia um “trabalho social nacional”, um projeto amplo nos moldes do Comunidade Solidária de Ruth Cardoso. Pura malícia de quem queria vê-la cair na armadilha e se enrascar numa das mais difíceis, delicadas e técnicas esferas de atuação: a área social.
Inteligente, Marisa Letícia dedicou-se ao que ela sempre melhor soube fazer: ser esteio do marido, ser seu regaço, seu sossego. Escutá-lo e, se necessário, opinar. Transmitir-lhe confiança e firmeza. E isso, segundo declarações dadas por ele, ela sempre fez. Foi quem saiu às ruas em passeata, mobilizando centenas de mulheres, quando os maridos delas, sindicalistas, estavam na prisão. Foi quem costurou a primeira bandeira do PT. E, corajosa, arriscou a pele, franqueando sua casa às reuniões dos metalúrgicos, quando a ditadura proibiu os sindicatos. Foi companheira, foi amiga e leal ao marido o tempo todo.
Foi amável e cordial com todos que dela se aproximaram. Não há um único relato de episódio de arrogância ou desfeita feita por ela a alguém, como primeira-dama do país. A dona de casa que cuida do jardim, planta horta, se preocupa com a dieta do maridão e protege a família formou e forma, com Lula, um verdadeiro casal. Daqueles que, infelizmente, cada vez mais escasseiam. Este é o meu reconhecimento ao papel muito bem desempenhado por Marisa Letícia Lula da Silva nesses oito anos.
Tivesse dito tudo isso antes, eu seria chamada de bajuladora. Esperei-a deixar o poder para lhe fazer a Justiça que merece.
*Hildegard Angel é colunista social no Rio de Janeiro, filha da estilista Zuzu Angel e irmã do ex-militante político Stuart Angel Jones; trabalhou como atriz no cinema e na televisão na década de 1970, dedicou-se ao colunismo social no jornal O Globo e desde 2003 no Jornal do Brasil.




VALE A PENA LER

O que está em causa: a "ajuda" do FMI paira sobre Portugal
Depois de décadas de “ajuda ao desenvolvimento” por parte do Banco Mundial e do FMI, um sexto da população mundial vive com menos de 77 centavos por dia. O que vai acontecer a Portugal (no seguimento do que aconteceu à Grécia e à Irlanda e irá acontecer à Espanha, e talvez não fique por aí) aconteceu já a muitos países em desenvolvimento. A intervenção do FMI teve sempre o mesmo objetivo: canalizar o máximo possível do rendimento do país para o pagamento da dívida. A “solução da crise” pode bem ser a eclosão da mais grave crise social dos últimos oitenta anos. O artigo é de Boaventura de Sousa Santos.
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http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17297&boletim_id=806&componente_id=13301



“A Itália é o laboratório do totalitarismo moderno”
Crescem a xenofobia e o racismo e a debilidade cultural da Itália se expande pelo continente europeu. Trono e altar se aliaram de novo, agora de maneira distinta. Hoje assistimos a uma fusão entre mercado, fé e política, que tratam de organizar nossas vidas, manipulando o direito. Na Itália, a corrupção não só não é perseguida, como está protegida pela lei. Aboliram a transparência e os controles ordinários para poder roubar melhor. Hoje o que manda é o uso personalista e autoritário das instituições. A sociedade se decompôs, o país está se desfazendo. A política faz uso ostensivo da força, e o direito se esfarela. A análise é de Stefano Rodotà, professor de Direito Civil na Universidade de La Sapienza, Roma.
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http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17295&boletim_id=806&componente_id=13303



Dois anos depois do “progressista” Barack Obama ter sido eleito o primeiro negro presidente da história estadunidense, a maior potência mundial vê a direita crescer e se fortalecer internamente.
Confira abaixo as entrevistas concedidas ao Brasil de Fato por quatro estadunidenses: o jornalista David Swanson, a ativista Medea Benjamin, o analista político Mark Engler e o economista Mark Weisbrot
http://www.brasildefato.com.br/node/5471




Maiores responsáveis por enchentes agora se preparam para lucrar com elas
Posted: 14 Jan 2011 05:29 AM PST
Governadores e prefeitos, como sempre, acusam-se. É a regra. Ou foi o governo anterior. Ou o prefeito. Nenhum deles tem culpa de nada. Se não apontam alguém de carne e osso, culpam os céus. Foi São Pedro. Ou a chuva. Mas, não importa. Todos sabemos quem são os culpados. Eles apenas aparecem na TV para cumprir a parte que lhes cabe no jogo: dizer que farão o que já deveriam ter feito.
http://blogdomello.blogspot.com/2011/01/maiores-responsaveis-por-enchentes.html



A guerra contra os imigrantes nos EUA
As reclamações contra os imigrantes nos EUA terminam quando o garçom serve a comida, a doméstica limpa a casa e o consumidor compra alfaces baratas no supermercado. A mão de obra mexicana é fundamental para que o sistema funcione. Mas não é indispensável. Há centenas de milhares de pobres no mundo que gostariam de estar no lugar dos mexicanos. E o sistema sabe disso, utilizando e manejando esse fato segundo sua conveniência. A única "vantagem" diferencial é que os mexicanos estão perto, são disponíveis e descartáveis. O artigo é de Jorge Durand.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17301&boletim_id=808&componente_id=13322



Os sintomas de uma nova crise alimentar mundial
Os preços mundiais do arroz, do trigo, do açúcar, da cevada e da carne seguiram altos ou registraram significativos aumentos em 2011, podendo replicar a crise de 2007-2008, alerta a FAO. No final de 2010, ocorreram protestos na China pelos altos preços das refeições de estudantes. Nos primeiros dias de 2011, já ocorreram protestos na Argélia e também na Tunísia, onde protestos de rua causaram a morte de pelo menos 20 pessoas. "Estamos entrando em um terreno perigoso", alerta economista da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17300&boletim_id=808&componente_id=13323






quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Numero 261




Bem, leitores, como muitos estão de férias, fizemos novamente um boletim pequeno, mas nem por isso menos substancial.
Quero chamar a atenção para os links de dois artigos da Agência Carta Maior, ambos relacionados à política interna norte-americana. São indícios importantes de que a situação não anda nada boa para o presidente Obama e, mais do que isso, de que a saúde política do país anda péssima.








fonte: www.viomundo.com.br
5 de janeiro de 2011 às 17:42
Capitalismo, o que é isso?
Blog do Emir Sader

As duas referências mais importantes para a compreensão do mundo contemporâneo são o capitalismo e o imperialismo.
A natureza das sociedades contemporâneas é capitalista. Estão assentadas na separação entre o capital e a força de trabalho, com aquela explorando a esta, para a acumulação de capital. Isto é, os trabalhadores dispõem apenas de sua capacidade de trabalho, produzir riqueza, sem os meios para poder materializá-la. Tem assim que se submeter a vender sua força de trabalho aos que possuem esses meios – os capitalistas -, que podem viver explorando o trabalho alheio e enriquecendo-se com essa exploração.
Para que fosse possível, o capitalismo precisou que os meios de produção –na sua origem, basicamente a terra – e a força de trabalho, pudessem ser compradas e vendidas. Daí a luta inicial pela transformação da terra em mercadoria, livrando-a do tipo de propriedade feudal. E o fim da escravidão, para que a força de trabalho pudesse ser comprada. Foram essas condições iniciais – junto com a exploração das colônias – que constituíram o chamado processo de acumulação originária do capitalismo, que gerou as condições que tornaram possível sua existência e sua multiplicação a partir do processo de acumulação de capital.
O capitalismo busca a produção e a comercialização de riquezas orientada pelo lucro e não pela necessidade das pessoas. Isto é, o capitalista dirige seus investimentos não conforme o que as pessoas precisam, o que falta na sociedade, mas pela busca do que dá mais lucro.
O capitalista remunera o trabalhador pelo que ele precisa para sobreviver – o mínimo indispensável à sobrevivência -, mas retira da sua força de trabalho o que ele consegue, isto é, conforme sua produtividade, que não está relacionada com o salário pago, que atende àquele critério da reprodução simples da força de trabalho, para que o trabalhador continue em condições de produzir riqueza para o capitalista. Vai se acumulando assim um montante de riquezas não remuneradas pelo capitalista ao trabalhador – que Marx chama de mais valia ou mais valor – e que vai permitindo ao capitalista acumular riquezas – sob a forma de dinheiro ou de terras ou de fábricas ou sob outra forma que lhe permite acumular cada vez mais capital -, enquanto o trabalhador – que produz todas as riquezas que existem – apenas sobrevive.
O capitalista acumula riqueza pelo que o trabalhador produz e não é remunerado. Ela vem portanto do gasto no pagamento de salários, que traz embutida a mais valia. Mas o capitalista, para produzir riquezas, tem que investir também em outros itens, como fábricas, máquinas, tecnologia entre outros. Este gasto tende a aumentar cada vez mais proporcionalmente ao que ele gasta em salários, pelo peso que as máquinas e tecnologias vão adquirindo cada vez mais, até para poder produzir em escala cada vez mais ampla e diminuir relativamente o custo de cada produto. Assim, o capitalista ganha na massa de produtos, porque em cada mercadoria produzida há sempre proporcionalmente menos peso da força de trabalho e, portanto, da mais valia – que é o que lhe permite acumular capital.
Por isso o capitalista está sempre buscando ampliar sua produção, para ganhar na competição, pela escala de produção e porque ganha na massa de mercadorias produzidas. Daí vem o caráter sempre expansivo do capitalismo, seu dinamismo, mobilizado pela busca incessante de lucros.
Mas essa tendência expansiva do capitalismo não é linear, porque o que é produzido precisa ser consumido para que o capitalista receba mais dinheiro e possa reinvestir uma parte, consumir outra, e dar sequência ao processo de acumulação de capital. Porém, como remunera os trabalhadores pelo mínimo indispensável à sobrevivência, a produção tende a expandir-se mais do que a capacidade de consumo da sociedade – concentrada nas camadas mais ricas, insuficiente para dar conta do ritmo de expansão da produção.
Por isso o capitalismo tem nas crises – de superprodução ou de subconsumo, como se queira chamá-las – um mecanismo essencial. O desequilíbrio entre a oferta e a procura é a expressão, na superfície, das contradições profundas do capitalismo, da sua incapacidade de gerar demanda correspondente à expansão da oferta.
As crises revelam a essência da irracionalidade do capitalismo: porque há excesso de produção ou falta de consumo se destróem mercadorias e empregos, se fecham empresas, agudizando os problemas. Até que o mercado “se depura”, derrotando os que competiam em piores condições – tanto empresas, como trabalhadores – e se retoma o ciclo expansivo, mesmo se de um patamar mais baixo, até que se reproduzam as contradições e se chegue a uma nova crise.
Esses mecanismos ajudam a entender o outro fenômeno central de referência no mundo contemporâneo – o imperialismo – que abordaremos em um próximo texto.
Emir Sader, sociólogo e cientista, mestre em filosofia política e doutor em ciência política pela USP – Universidade de São Paulo.



A importância da leitura e da escrita
Por Vilmar Berna*, do Portal do Meio Ambiente

Para compreender, adequadamente, a importância da leitura e da escrita em nossas vidas, precisamos compreender que assim como o nosso corpo material precisa de alimento, o espiritual também. É importante aqui corrigir uma falsa idéia, a de que os termos 'espiritual' ou 'espiritualidade' referem-se exclusivamente ao seu sentido religioso. É compreensível que isso ocorra, por que é aí que os que têm fé na divindade elaboram e abrigam suas idéias e sentimentos em relação ao sagrado.
Entretanto, ateus também tem fé, por exemplo, de que o mundo pode ser melhor e de que as pessoas podem mudar. Possuem seu lado espiritual, só que no sentido não religioso do termo, onde elaboram idéias, afetos, esperanças. E também espiritualidade, no sentido da religação com a natureza, com o Cosmo.
O que ressalto aqui é que nós e o mundo não somos feitos apenas de uma parte material que pode ser percebida pelos cinco sentidos, mas também das visões que temos desse mundo, de nós e dos outros. Por isso, nunca estamos prontos, mas na medida em que recebemos informações e estímulos, e vivenciamos experiências, construímos ou reconstruímos nossa visão de mundo.
Outra falsa idéia é a de que podemos comunicar a verdade. Podemos percebê-la, mas ao comunicar sobre ela, levamos junto uma parte de nossa subjetividade como observador. Então, não existe comunicação imparcial. O que é verdadeiro para um pode não ser para o outro. Por que, ao contrário do que se possa imaginar, a realidade como percebemos está em constante processo interno onde permanente é só a própria mudança.
Entre os grandes desafios para a humanidade é conseguir respeitar as diferenças entre os povos, as pessoas, as visões de mundo para que elas não se tornem obstáculos às relações. Por que não existe uma pessoa igual à outra, e também não pode existir verdade única, religião única, pensamento único. E isso inclui esta própria afirmação que acabo de fazer, daí a dificuldade de se andar em terreno firme e seguro quando o assunto é a subjetividade.
Então, ler e escrever é muito mais que dominar técnicas literárias, é obter as chaves desse mundo interior, de nossa verdade, e ter acesso a dos outros. Uma forma de nos ajudar a perceber, compreender e elaborar nossa própria subjetividade contribuindo para dar sentido ao mundo, a nós próprios e aos outros. Claro que existem outras formas de fazer isso, principalmente nas culturas orais, mas na cultura letrada, ler e escrever são fundamentais para ser e sentir-se adequadamente inseridos no mundo.
Precisamos disso, pois ao contrário do que possa imaginar, o processo de formação do sujeito é na verdade uma auto-formação. A educação, os livros, a cultura, os meios de comunicação exercem influências sobre nós, mas o que somos resulta de nossas escolhas. Comunicadores em geral, educadores, e escritores, em particular, cumprem com o papel social de nos ajudar a construir nossa subjetividade, nossa compreensão da verdade e utopias e, embora não escolham por nos, contribuem para iluminar nossos caminhos.
Outra falsa idéia é que a pratica é mais importante que a teoria. A prática começa nas idéias. A motivação para agir não está na própria ação, mas em nosso mundo interior. E como a leitura e a escrita nos conectam a este mundo, nos incentivam - ou não - a agir seja para manter as coisas como estão ou para mudá-las. Por isso, os primeiros a sofrerem censura e prisões em regimes opressores são os jornalistas, os artistas, incluindo os escritores, por que idéias podem ser armas mais poderosas que fuzis e granadas. Não é por um acaso que nos regimes democráticos exista tanta preocupação dos donos do poder de controlar os meios de comunicação.
A internet tem sido uma arma poderosa de resistência, uma forma de driblar a censura, algo inimaginável em outras épocas. Os poderosos estão tentando encontrar um jeito de impedir a liberdade na internet. Em países de regime totalitário certas palavras são bloqueadas pelos servidores e em países democráticos os poderosos estão buscando meios para impedir que informações desfavoráveis a eles continuem circulando na internet. Assistimos isso recentemente no episódio do Wikileaks, que criou um mecanismo aparentemente à prova de censura para a divulgação de segredos de Estado. Em vez dos poderosos escandalizarem-se com o fato de funcionários públicos estarem tramando em segredo contra o povo e a paz - usando funções públicas para cuidar de interesses privados, para se corromperem – para tentarem aperfeiçoar sistemas de controle democrático a fim de se livrarem das falhas do sistema, tentam por todos os meios - inclusive ocultos - de criminalizar os que democratizaram a informação secreta.
Um de nossos maiores desafios é aos escrevermos, ou falarmos, expressarmos o que estamos pensando ou sentindo. Por mais incrível que pareça, tem gente que diz uma coisa e pensa ou sente outra diferente. Por isso não nos comunicamos apenas com a fala ou a escrita, mas também com os gestos, os olhares, o tom de voz. E é aí que a internet e a escrita, por mais importantes que sejam para a comunicação, não substituem o contato pessoal, o olho no olho.
Expressar-se na forma escrita não é um simples ato de colocar palavras num papel ou digitar num teclado. A maior parte da ação de escrever é invisível para os olhos, acontece no mundo interior de quem escreve e pode refletir este esforço de buscar o equilíbrio entre as emoções, o pensamento e as praticas.
E mais. Com os blogs e as ferramentas de busca, escrever e ser lido tornaram-se atos quase simultâneos. Antes, o intervalo de tempo entre um e outro podia levar anos e dependia do escritor ter a sorte de encontrar um editor para intermediar seu acesso aos leitores. Além de contribuir para a democratização da informação e do pensamento, a internet, os novos celulares, a banda larga, tem facilitado a vida de quem gosta de escrever e quer ser lido. Publicar deixou de ser privilégio de poucos.
Escrever assemelha-se a alguém que organiza uma casa desarrumada. Arrasta e empurra idéias de um lado para o outro, constroem e reconstroem pensamentos, sonhos, como quem movimenta os móveis. E só depois de estar cheio dessas idéias, e quando elas começam a fazer sentido, é que a pessoa se sente pronta, na verdade, quase que obrigada a escrever, como uma espécie de libertação da mente. E aí começa outra etapa importante, a de garimpar as palavras mais certas e apropriadas para transmitir a mensagem. A chance de acertar logo de primeira é a mesma de um garimpeiro achar uma pepita de ouro na primeira tentativa.
Alguns chegam a comparar o ato de escrever com o nascimento de um filho. O período da gestação é o tempo gasto na elaboração das idéias e o parto é o ato de colocá-las para fora.
Pablo Neruda dizia que escrever é fácil, começa com letra maiúscula e acaba com um ponto e no meio se colocam idéias.
As idéias nascem em nós, nos outros autores e também estão por aí, ao alcance de todos que estiverem dispostos a ser veículo para elas.
Algumas idéias são tão universais que se repetem em vários escritos, povos e culturas diferentes, e independente do tempo e lugar, permanecem atuais e válidas para todos.
O ideal é quando o escritor consegue reunir à sua volta pessoas que compreendem que o ato de escrever não é apenas físico, mas requer recolhimento, silêncio interior, para ouvir-se e ouvir seus fantasmas, angústias, desejos, 'conversar' com seus amigos espirituais. Assim, para quem não conhece sobre o ato de escrever, pode parecer estranho quando o escritor se recolhe neste seu mundo, pois externamente, pode parecer que está distante e desinteressado sobre as pessoas ou ao que acontece à sua volta, mas pode ocorrer exatamente o contrário. Para um escritor os acontecimentos do cotidiano não costumam passar despercebidos, pois a vida é o seu laboratório.
E, assim como construimos redes de afetos no mundo físico, também o fazemos no mundo espiritual. Os escritores que gostamos formam nossa espécie de rede de 'amigos' espirituais, com os quais compartilhamos idéias, afinidades e valores, ainda que muitos já possam ter morrido a milênios ou vivam do outro lado do Planeta. Por isso, um escritor nunca esta só em seu mundo interior e ainda que tirem tudo dele, e aprisionem seu corpo, como já aconteceu muitas vezes nas Ditaduras, podem se refugiar em seu mundo interior, onde são livres, e, assim, sobreviverem espiritual e intelectualmente.
Mais que escrever para seu próprio prazer escreve-se por necessidade e dever. Escrever é a função social do escritor, seja para entreter, seja para ajudar na analise da conjuntura, mostrar alternativas, denunciar as falsas idéias e injustiças. Por isso, um texto não está completo quando é divulgado, mas quando é lido. E quando isso acontece, nenhum texto é igual ao outro, pois ao passar pelos olhos e pelo mundo interior do leitor, ganha nuances e identidade própria e particular.
Um mesmo texto lido por diferentes leitores será compreendido de forma diferente. Um texto que alguém ache maravilhoso pode ser comum para outra pessoa.
Sem os leitores, os textos não vão a lugar algum, não transformam coisa alguma, não amam nem são felizes. Não são os textos que mudam as coisas. São as pessoas.


* Vilmar Sidnei Demamam Berna é escritor e jornalista, fundou a REBIA - Rede Brasileira de Informação Ambiental e edita deste janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente) e o Portal do Meio Ambiente (http://www.portaldomeioambiente.org.br/). Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas –http://www.escritorvilmarberna.com.br/
(Envolverde/O autor)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=85208&edt=1


Uma nova guerra de secessão nos EUA?
Com ou sem 11/09, às vésperas de completar sua primeira década, os ciclos de confrontação norte-americanos revelam muito mais inimigos internos do que externos à democracia nacional. Neste contexto, Gabrielle Giffords é mais um símbolo das tensões pelas quais passam os EUA, e que não se consistiu na primeira, e nem será a última, destas, cada vez mais recorrentes e diversas, tragédias norte-americanas. Opositores de políticas sociais, do aborto à educação sexual, à ação afirmativa, confrontam-se não só nas cortes de justiça, mas frontalmente em piquetes, ameaças de morte e ataques reais. Estamos diante de nova Guerra de Secessão que poderá ter o resultado oposto, o da regressão? O artigo é de Cristina Soreanu Pecequilo.
> LEIA MAIS
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17293&boletim_id=803&componente_id=13278


A luta de classes política nos EUA
O nível de corrupção política nos Estados Unidos é assombroso. Agora tudo gira em torno do dinheiro para as campanhas eleitorais que se tornaram incrivelmente caras. As eleições da metade do mandato tiveram um custo estimado de US$ 4,5 bilhões, e a maior parte desse dinheiro veio de grandes empresas e contribuintes ricos. Estas forças poderosas, muitas das quais operando de forma anônima sob as leis dos EUA, trabalham sem descanso para defender aqueles que se encontram no topo da pirâmide da riqueza. O artigo é de Jeffrey Sachs.
> LEIA MAIS
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17290&boletim_id=802&componente_id=13266




A Revista Espaço Acadêmico, edição nº 116, JANEIRO de 2011, foi publicada. Acesse: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/issue/current

Por favor, colabore com a divulgação da revista: envie aos amigos, colegas e listas que participem.



O Programa de Pós-graduação em História da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes – abre inscrições no período de 10/01/2011 a 09/02/2011 para seleção de 15 vagas para o Mestrado. O mestrado é recomendado pela CAPES, tem como área de concentração História Social e linhas de pesquisa: 1) Cultura, relações sociais e gênero; e 2) Poder, trabalho e identidades.
O edital está disponível no site da Unimontes www.unimontes.br

Informações: (38) 3229-8239 (38) 3229-8239
(38) 3229-8142 (38) 3229-8142



Olá, Leitor do Café História!

Nesta primeira comunicação de 2011, o Café História tem muito o que comemorar. Em 18 de janeiro, a rede completa 3 anos de existência. E para comemorarmos esta importante data da rede, o Café História está lançando três novas seções:

Documentos Históricos - atualizado semanalmente, esta seção trará sempre aos leitores um importante documento histórico. Nesta primeira edição, trazemos o diploma do agora ex-presidente Lula. Confira! A seção está na coluna da esquerda da página principal do Café História.

Pesquisa Café História - Localizado na coluna da direita da página do Café História, esta seção, na verdade, é uma pesquisa muito importante que ajudará a rede a ter mais a sua cara. Responda as perguntas e ajude-nos a melhor ainda mais. Você também pode responder a pesquisa clicando diretamente no seguinte link:

https://spreadsheets.google.com/viewform?formkey=dDVvQjFBdFVoOGFjaldkdEJGRTROQ2c6MQ


Conteúdo da Semana - Em três anos de existência, o Café História já possui muitos conteúdos interessantes. A proposta desta seção é dar destaque para os principais conteúdos já publicados por você, participante da rede. Toda semana vamos eleger um conteúdo postado como o grande destaque. Neste primeira edição, escolhemos uma vídeo com mais de 2 mil visualizações? Quer saber qual é este vídeo? Acesso o Café e descubra!

E não perca as atualizações de hoje:

Miscelânea

A Querela de Nanquim

O chamado “Massacre de Nanquim”, evento disputado entre China e Japão nas últimas décadas, é um exemplo de como a memória se tornou uma espécie de munição simbólica no cenário internacional contemporâneo

Café Expresso Notícias

Historiador Carlos Fico lança blog de História do Brasil

Cemitério com vítimas do nazismo é encontrado na Áustria

Vídeo

Brasil Contemporâneo - Entrevista do Ex-Ministro Celso Amorim ao programa Hard Talk (2009)

Assista: http://cafehistoria.ning.com/video/brasil-contemporaneo


Fórum

Como funcionou a Ditadura Militar no Ceará ?

Participe: http://cafehistoria.ning.com/forum/topics/como-funcionou-a-ditadura


Visite Cafe Historia em: http://cafehistoria.ning.com/?xg_source=msg_mes_network

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Numero 260





Inicio de ano parece que tudo entra de férias...
O Boletim hoje está pequeno. Dois artigos do site do Nassif e dois da Folha de São Paulo. Um link para uma análise do neoliberalismo. Não recebi nenhum aviso de concursos ou seminários. O jeito é pensar na praia...preguiçosamente...







fonte: www.brasilianas.org
Balanço de Lula 1: a criação do mercado de massa
Enviado por luisnassif, qua, 29/12/2010 - 10:33

A grande discussão acadêmica do momento é se o governo Lula inaugurou uma nova era – ao consolidar uma economia de massa – ou se foi uma continuidade do governo FHC.
O divisor de águas é a formação da sociedade de massas, com a inclusão econômica e política, definindo uma nova etapa no desenvolvimento brasileiro, um novo paradigma para as políticas públicas.
Na primeira metade dos anos 2000 escrevi um conjunto de artigos explorando esse tema – e que acabaram se constituindo na espinha dorsal do meu livro "Os Cabeças de Planilha".
Não é um livro de historiador. É um livro de jornalista com alguns "insights" que, creio eu, só agora estão tendo desdobramentos junto ao mundo acadêmico. Um deles, o da reavaliação do "encilhamento", ainda não foi suficientemente cinzelado pela Academia, especialmente a estratégia política em torno da remonetização (introdução de um novo padrão monetário) da economia – que seria seguida no Plano Real. Há bons livros analisando os erros, mas nenhum casando os erros com a estratégia de tomada de poder por parte de Rui Barbosa - que serviu de base para o modelo desenhado por Gustavo Franco para o Real.
O ponto que, agora, domina o debate acadêmico – graças aos estudos do André Singer – é o do impacto político e econômico da formação de uma economia de massa. Já tinha delineado no meu livro.
No "Cabeças de Planilha" trabalho o conceito de "janelas de oportunidade" na vida dos países, aqueles momentos únicos que, sendo aproveitados, lançam o país em um novo patamar; não sendo aproveitados, entram na cota do desperdício histórico.
Identifico três janelas na história do país, todas elas relacionadas com a possibilidade de ampliação dos mercados econômico e político, através da inclusão de novas massas - o mesmo conceito aprofundado por Singer para analisar o governo Lula.
A primeira, o período da Proclamação, onde se junta a Abolição e a política de atração de imigrantes. Ali se poderia ter dado o primeiro grande salto na criação de uma sociedade moderna. Morreu devido aos erros do Encilhamento, à falta de políticas públicas que ajudassem na inclusão dos libertos, e as enormes dificuldades colocados no caminho dos imigrantes. Em vez de um salto, criaram-se as bases para a vergonhoso concentração de renda que dominaria o século 20. Enfim, havia falta de elite.
A segunda grande janela se deu na segunda metade dos anos 60. O processo de industrialização ganhara fôlego, tivera início o grande movimento de urbanização, acelerado pela seca no nordeste. A falta de uma política agrária, de fixação do homem no campo, a carência de investimentos nos sistemas de educação e saúde, em vez de um salto no mercado trouxeram o inchaço das grandes metrópoles. Quando esgotou-se o modelo exportador e o salto do "milagre", não havia mercado interno para sustentar o crescimento.
A terceira janela de oportunidade desperdiçada – dizia eu no livro – foi justamente o Plano Real.
Em geral abre-se a oportunidade de grandes movimentos de mobilidade social ou em eventos políticos traumáticos (como na Proclamação) ou em grandes desastres geográficos.
Com o Real, FHC recebeu o prato pronto, de presente. O fim da inflação trouxe para o mercado de consumo milhões de brasileiros, sem traumas políticos, sem tragédias ambientais. E isso em um momento de grande reorganização da estrutura das multinacionais, com o Brasil despontando como um dos países sede das unidades produtivas.
Esse movimento foi abortado porque inclusão social, criação de bases sólidas econômicas, nunca fizeram parte das prioridades de FHC. E essa história de que primeiro precisaria consolidar a estabilidade monetária não resiste aos fatos.
Têm estudos de Edmar Bacha, no primeiro semestre de 1995, admitindo que a luta contra a inflação já tinha sido completada e que, agora, seria o desenvolvimento. Impôs-se a estratégia de criação de grandes grupos financeiros à custa da apreciação do real. O contraponto tímido - de pessoas como Luiz Carlos Bresser Pereira e José Serra - se dava no campo do desenvolvimentismo tradicional, jamais na ampliação de políticas sociais como base para um novo mercado de massas.
Os poucos avanços que ocorrerem em educação e saúde foram decorrência exclusiva da Constituinte, que criou transferências obrigatórias para o setor. Durante toda sua gestão, o Ministro Pedro Malan tentou acabar com a vinculação.
Digo isso para salientar que é falsa a ideia de continuidade entre FHC e Lula na criação desse mercado de massa. E de que consumou-se com Lula porque as condições sociais e políticas impuseram-se por si próprias.
FHC jamais implementaria esse modelo, em nenhuma circunstância, porque não fazia parte de suas prioridades. Aliás, quem leu a entrevista com ele, com que fecho meu livro, perceberá uma absoluta ignorância de FHC em relação a pontos essenciais desse novo modelo, que o livro percebia latente, mas que só se materializou nos últimos anos. Sua única visão de país consistia na geração de grandes grupos financeiros, internacionalizados, que avançariam levando o país consigo.
Assim, considero correta a avaliação de que a grande marca de Lula, que mudou o Brasil no plano econômico, político, regional, foi o da criação do enorme mercado de massa, político e econômico. Esse é o divisor de águas, a mudança de paradigma.

fonte: www.brasilianas.org
As mudanças na progressão continuada
Enviado por luisnassif, ter, 04/01/2011 - 13:52
Da Folha

Alckmin muda progressão continuada
Modelo mais provável a ser adotado é aumentar de dois para três o número de séries em que aluno pode repetir
Hoje, escolas podem reter aluno em só dois ciclos do fundamental; mudança deverá ser implementada em 2012
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO

O governo Geraldo Alckmin (PSDB) decidiu alterar a progressão continuada na rede estadual de ensino. A principal mudança deverá ocorrer no sistema de reprovação dos estudantes.
Hoje, o aluno do fundamental só pode repetir ao final do quinto e do nono ano. A ideia é que a retenção ocorra também no terceiro ano. Assim, o número de ciclos sobe de dois para três.
A antecipação da reprovação permite que o aluno com sérias dificuldades seja recuperado mais rapidamente (em vez de demorar cinco anos para refazer uma série, passe a ser depois de três).
O provável efeito colateral será o aumento da repetência. Estudos mostram que o repetente tende a piorar de notas e tem mais chances de abandonar a escola.
A Folha apurou que já está finalizado estudo com o novo desenho do programa. "Pessoalmente, acho que vamos ficar mesmo com três ciclos", afirmou o novo secretário-adjunto da Educação, João Cardoso Palma Filho, ao ser indagado pela reportagem.
Ele ressaltou, porém, que o assunto ainda está em análise na secretaria.
CONSULTA

Deverá haver também consulta aos professores sobre a mudança, que deve entrar em vigor em 2012.
Segundo Palma Filho, outro ponto analisado é o modelo de reforço escolar.
O novo titular da Educação, Herman Voorwald, disse que irá se pronunciar amanhã. Logo após ser anunciado por Alckmin, ele disse que o sistema "é fundamental", mas precisa de revisão.
A mesma posição foi apontada pelo governador na campanha eleitoral.
Implementado no governo Mario Covas (PSDB), o sistema sofreu ataques durante a última disputa ao Palácio dos Bandeirantes.
Além das críticas eleitorais e de educadores, outro fator considerado é a mudança da regulamentação federal para o ensino fundamental.
No ano passado, o Conselho Nacional de Educação recomendou que no início da etapa haja um ciclo de três anos para evitar a reprovação de crianças com seis ou sete anos. Para o órgão, o aluno precisa de ao menos três para se alfabetizar e não faz sentido reprová-lo antes.
Implantação do sistema de ciclos pulou etapas
No papel, o modelo faz sentido, pois se há algo de estranho no mundo da pedagogia, está na noção de reprovação

POR QUE DIABOS UM ALUNO QUE TENHA IDO MAL EM LÍNGUA PORTUGUESA PRECISA REFAZER TODOS OS CONTEÚDOS DE MATEMÁTICA?
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Ciclos devem ter três, quatro ou cinco anos? Ou dois, como já se havia proposto? A discussão tem algo de bizantino e não vai ao cerne dos problemas enfrentados pela progressão continuada.
No papel, o sistema faz sentido. Se há algo de estranho no mundo da pedagogia, ele está na noção de reprovação.
Por que diabos um aluno que tenha ido mal em, digamos, língua portuguesa precisa refazer todos os conteúdos de matemática e ciências? Por que alguém que domine 50% da matéria é considerado apto a seguir com os estudos e a pessoa que responde a 49% das questões é reprovada? O que há de tão transcendental nesse 1%?
As perguntas se tornam mais candentes quando se considera o estrago que a repetência provoca na vida do aluno.Quando o jovem recebe a pecha de repetente, tende a desempenhar o papel por toda a vida acadêmica.
Com a redução da reprovação possibilitada pelos ciclos, caiu o índice de evasão escolar no ensino fundamental paulista. Entre 1998 e 2008, ele baixou de 4,6% para 1,4%, redução de 70%.
É muito mais razoável, como prevê a teoria da progressão continuada, que a escola identifique tão rapidamente quanto possível os alunos que não estão assimilando os conteúdos e procure corrigir a situação.
Isso envolve toda uma estrutura de avaliação fina, aulas de reforço e apoio psicopedagógico com o qual a rede pública não conta.
Pior até, a implantação do sistema de ciclos, iniciada em 1997, foi feita de forma desastrosa. A mudança foi ditada de cima para baixo sem explicar a alunos, pais e professores o que se pretendia.
Mestres boicotaram a reforma -com o fim da repetência, perderam uma poderosa ferramenta disciplinar. Pais não compreenderam nada ao verem seus filhos "passando de ano" sem saber ler.
Na prática, a progressão virou uma aprovação automática que, embora não explique as deficiências do ensino, ajuda a perenizá-las.
Mas não há mágica. Não é aumentando o número de ciclos que a situação vai mudar. Será preciso criar estruturas que a escola não tem e trazer melhores professores.




Folha de São Paulo
São Paulo, quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Interior do Paraná recebia degredados do Brasil Império

Solução possível era casar com índias, mas era necessário encarar a violência de nativos avessos à miscigenação
Além do frio, os condenados a passar 10 ou 20 anos em Guarapuava precisavam lidar com a falta de mulheres
RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO

Não era exatamente a Sibéria. De qualquer forma, a então distante e fria Guarapuava (PR), onde havia uma falta terrível de mulheres, foi a primeira cidade a receber os condenados ao degredo pela Justiça brasileira no século 19, entre 1812 e 1859.
Na época, considerava-se importante ocupar a região, repleta de índios.
Por isso, enviar para lá "alguns vadios e façinososos que na sua comarca perturbão o socego público, os creminosos e criminosas que setençear a degredo" era a recomendação, em 1811, do governador da capitania de São Paulo, António José da Franca e Horta, ao responsável pela comarca de Paranaguá -ainda não existia Paraná.
Quem pesquisou o assunto foi Fabio Pontarolo, historiador da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná, que agora lança o livro "Homens de Ínfima Plebe".
Ele descobriu que boa parte dos degredados eram militares rebeldes, como oito soldados de Santos que, em 1821, revoltaram-se contra o atraso dos soldos e promoveram um quebra-quebra.

DESPROPORÇÃO
Na época, o frio nem era um problema tão grande em Guarapuava perto da falta de membros do sexo feminino.
Dos 60 casos documentados de degredados, só sete eram mulheres, e essa era mais ou menos a proporção na população no resto da área (em 1835, eram 712 habitantes).
Isso porque os outros moradores, em geral, eram povoadores pobres em busca de terra -e esses desbravadores costumavam ser homens.
O jeito era tentar algo com as índias das cercanias: a insistência do governo em ocupar a região vinha justamente da tentativa de incorporar esses povos. "Existia um patrocínio oficial à mestiçagem, mesmo uma compulsão por ela", diz Pantarolo.
Foi o que fez, por exemplo, José Gomes, um desses envolvidos na revolta de Santos, pioneiro no casamento com índias. Tinha, quando condenado, 18 anos, e recebeu pena de 20. Aos 19, já estava casando com uma caingangue de 16 anos, que recebeu o nome da Bárbara.
Ela era de uma família indígena que tinha se aproximado dos brancos. Seu pai tinha recebido o nome de Antônio e ajudou o padre local a catequizar os outros índios.
Prova de que a relação com os nativos não era tão pacífica, porém, é que, poucos anos antes de Bárbara se casar, Antônio foi assassinado por índios avessos à aproximação dos brancos.
Pior foi o destino de Mariano Antonio, colega de José Gomes -tão colega que eles chegaram ao degredo acorrentados um ao outro para que não fugissem no caminho para o sertão. Ele se casou com uma índia em 1823, apadrinhou quatro indiozinhos e foi testemunha de sete casamentos "mistos".
Em 1830, porém, sua mulher foi assassinada enquanto fazia farinha por índios contrários à miscigenação.
Viúvo, sem filhos, Mariano sumiu da cidade quando a pena de dez anos acabou.
Em geral, porém, os degredados acabavam criando raízes, e boa parte ficou em Guarapuava até morrer, anos depois do fim das suas penas.
Sobreviviam mal plantando milho, feijão e com uma ou outra cabeça de gado, mas não teriam destino muito melhor em outros lugares.
Segundo Pontarolo, os degredados acabaram esquecidos na história de Guarapuava "Na festa de 200 anos da cidade, falou-se muito sobre os bandeirantes, sobre os grandes sobrenomes, mas não sobre eles."
Depois de Guarapuava, outras regiões de degredo surgiram, como na fronteira do Pará com o Mato Grosso.
HOMENS DE ÍNFIMA PLEBE
AUTOR Fabio Pontarola
EDITORA Apicuri
QUANTO R$ 30,00 (153 págs.)



Brevíssima história de 40 anos de políticas neoliberais
Muitos especialistas dizem que a ideologia neoliberal iniciou nos anos 80 com Reagan, Thatcher e a Escola de Chicago. Mas o que tornou possível esse giro na economia política? Que elementos, que novas forças podem explicar essa mudança ideológica e as desigualdades que a seguiram? Como os poderes que tomam decisões políticas foram sendo postos gradualmente nas mãos de um corpo de tecnocratas neoliberais que pontificavam sobre as limitações dos governos? Responder a essas questões passa por reconhecer que este processo durou décadas. O artigo é de Marshall Auerback.
Marshall Auerback - SinPermiso
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17289