terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Numero 263





Muitos artigos sobre o desastre ecológico que está acontecendo no Rio de Janeiro, em São Paulo, no sul de Minas e em tantos outros locais, me chegaram às mãos esta semana. Entre todos, selecionei que me foi enviado pela professora Vânia Facury, artigo escrito por Leonardo B off. Ele, mesmo fazendo coro a todos os que denunciam o descaso de governantes e a tolice das pessoas que ocuparam áreas de risco, levanta outra questão, bem mais séria, que é o nosso já secular desprezo pela Natureza, esquecendo-nos de que ela pode ser terrível, ao mesmo tempo em que nos abastece com o que precisamos para viver.

O preço de não escutar a Natureza
Leonardo Boff
O cataclisma ambiental, social e humano que se abateu sobre as três cidades serranas do Estado do Rio de Janeiro, Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, na segunda semana de janeiro, com centenas de mortos, destruição de regiões inteiras e um incomensurável sofrimento dos que perderam familiares, casas e todos os haveres tem como causa mais imediata as chuvas torrenciais, próprias do verão, a configuração geofísica das montanhas, com pouca capa de solo sobre o qual cresce exuberante floresta subtropical, assentada sobre imensas rochas lisas que por causa da infiltração das águas e o peso da vegetação provocam frequentemente deslizamentos fatais.
Culpam-se pessoas que ocuparam áreas de risco, incriminam-se políticos corruptos que destribuíram terrenos perigosos a pobres, critica-se o poder público que se mostrou leniente e não fez obras de prevenção, por não serem visíveis e não angariarem votos. Nisso tudo há muita verdade. Mas nisso não reside a causa principal desta tragédia avassaladora.
A causa principal deriva do modo como costumamos tratar a natureza. Ela é generosa para conosco pois nos oferece tudo o que precisamos para viver. Mas nós, em contrapartida, a consideramos como um objeto qualquer, entregue ao nosso bel-prazer, sem nenhum sentido de responsabilidade pela sua preservação nem lhe damos alguma retribuição. Ao contrario, tratamo-la com violência, depredamo-la, arrancando tudo o que podemos dela para nosso benefício. E ainda a transformamos numa imensa lixeira de nossos dejetos.
Pior ainda: nós não conhecemos sua natureza e sua história. Somos analfabetos e ignorantes da história que se realizou nos nossos lugares no percurso de milhares e milhares de anos. Não nos preocupamos em conhecer a flora e a fauna, as montanhas, os rios, as paisagens, as pessoas significativas que ai viveram, artistas, poetas, governantes, sábios e construtores.
Somos, em grande parte, ainda devedores do espírito científico moderno que identifica a realidade com seus aspectos meramente materiais e mecanicistas sem incluir nela, a vida, a consciência e a comunhão íntima com as coisas que os poetas, músicos e artistas nos evocam em suas magníficas obras. O universo e a natureza possuem história. Ela está sendo contada pelas estrelas, pela Terra, pelo afloramento e elevação das montanhas, pelos animais, pelas florestas e pelos rios. Nossa tarefa é saber escutar e interpretar as mensagens que eles nos mandam. Os povos originários sabiam captar cada movimento das nuvens, o sentido dos ventos e sabiam quando vinham ou não trombas d'água. Chico Mendes com quem participei de longas penetrações na floresta amazônica do Acre sabia interpretar cada ruído da selva, ler sinais da passagem de onças nas folhas do chão e, com o ouvido colado ao chão, sabia a direção em que ia a manada de perigosos porcos selvagens. Nós desaprendemos tudo isso. Com o recurso das ciências lemos a história inscrita nas camadas de cada ser. Mas esse conhecimento não entrou nos currículos escolares nem se transformou em cultura geral. Antes, virou técnica para dominar a natureza e acumular.
No caso das cidades serranas: é natural que haja chuvas torrenciais no verão. Sempre podem ocorrer desmoronamentos de encostas. Sabemos que já se instalou o aquecimento global que torna os eventos extremos mais freqüentes e mais densos. Conhecemos os vales profundos e os riachos que correm neles. Mas não escutamos a mensagem que eles nos enviam que é: não construir casas nas encostas; não morar perto do rio e preservar zelosamente a mata ciliar. O rio possui dois leitos: um normal, menor, pelo qual fluem as águas correntes e outro maior que dá vazão às grandes águas das chuvas torrenciais. Nesta parte não se pode construir e morar.
Estamos pagando alto preço pelo nosso descaso e pela dizimação da mata atlântica que equilibrava o regime das chuvas. O que se impõe agora é escutar a natureza e fazer obras preventivas que respeitem o modo de ser de cada encosta, de cada vale e de cada rio.
Só controlamos a natureza na medida em que lhe obedecemos e soubermos escutar suas mensagens e ler seus sinais. Caso contrário teremos que contar com tragédias fatais evitáveis.






A decisão do presidente Lula de não permitir a extradição de Cesare Battisti provocou o furor (falso ou verdadeiro não importa, pois midiático) do premier Berlusconi e de seus adeptos. E aqui no Brasil o Supremo Tribunal Federal volta a discutir o caso: coisa estranha, pois já havia discutido antes e determinara que a decisão seria do presidente da República. Ora, se Lula cumpriu o que o STF determinou, o que há para discutir de novo naquela egrégia Corte?
O jornalista Carlos Lindenberg aponta o que há de sutil neste caso. Leia e comente.

Fonte: Jornal Hoje em Dia
Carlos Lindenberg
As sutilezas do caso Cesare Battisti

O Supremo Tribunal Federal está a um passo de conceder ao ex-presidente Lula a chancela de mestre em assuntos futuros, se alguém lá sabe o que é isso. Explico: No último dia de seu governo de oito anos, no apagar das luzes de 2010, Lula decidiu que o ex-terrorista, ou que definição tenha, Cesare Battisti, não deve ser deportado e entregue às autoridades italianas, que o acusam de quatro assassinatos há décadas, quando aquele país estava às voltas com as extintas Brigadas Vermelhas. À decisão de Lula, a Itália reagiu com grande irritação com aqui e lá alguns defendendo até mesmo o rompimento de relações entre os dois países, um visível exagero, claro.
Sem entrar no mérito do processo político em que está metido Cesare Battisti - se ele é preso político ou um criminoso comum - e sem precisar remexer muito nas relações entre Brasil e Itália, salta aos olhos que o ato do então presidente Lula é indiscutivelmente uma decisão soberana da nação brasileira, goste ou não a Itália, aprovem ou não os adversários de Lula, cuja figura, aliás, não está em pauta. A sua decisão, sim. E Lula decidiu porque o Supremo Tribunal Federal não quis decidir, preferindo deixar a granada, já sem o pino, no colo do ex-presidente, pronta para explodir.
Poucos parecem lembrar que o processo de extradição de Cesare Battisti estava no Supremo Tribunal Federal para decisão.
O Supremo poderia ter decidido que o italiano deveria ser extraditado e por mais que o desagradasse, se fosse o caso, Lula não poderia fazer nada. Era a decisão de um dos três poderes da República, não por acaso aquele a quem cabe interpretar a Constituição e decidir segundo ela. E o que o Supremo decidiu? Que caberia ao presidente da República a decisão.
Ora se o Supremo decidiu, com votos contrários, o que é importante, que a decisão final caberia ao presidente da República, não resta outra coisa ao Supremo fazer senão colocar o ex-terrorista, ou que definição Cesare Battisti tenha, em liberdade.
Por que assim decidiu o presidente da República, por delegação do mesmo Supremo.
De modo que soou estranha decisão do presidente do STF, ministro Cézar Peluso, ao recusar a liberdade ao prisioneiro por solicitação de seu advogado e enviar o processo para o relator Gilmar Mendes voltar a examiná-lo. O ato do ministro Peluso criou a idéia de que o Supremo poderia desautorizar o presidente, embora tenha sido do relator a iniciativa de enviar o caso
para decisão final de Lula, o que foi interpretado à época como uma forma de o tribunal deixar o presidente da República em dificuldade. Lula decidiu, como se sabe, pela não extradição de Battisti. Como a decisão foi no último dia do seu governo criou-se também a idéia de que Lula, na verdade, estava deixando a bomba para estourar na mão da presidente que se empossaria no dia seguinte.
Agora sabe-se ou supõe-se saber que Lula decidiu contra a extradição por ter tido informações de que o Supremo, pela contagem dos votos, irá referendar a sua decisão, o que inviabiliza o raciocínio de que a bomba foi deixada para estourar no colo da presidente Dilma. Para quem pensa assim, vai dar chabu.
A menos que o Supremo, diante da repercussão do caso, acompanhe o voto, antes vencido, de Cezar Peluso e decida pela extradição, o que será estranho. Se era para decidir assim, por que não decidiu antes? Neste caso, estaria configurada a suspeita inicial do próprio governo de que ao mandar a decisão para Lula o que o Supremo queria era criar dificuldades políticas, num ano eleitoral, para o então presidente da República. Mas se ao contrário, o Supremo optar por acatar a decisão do presidente, a Corte Alta estará confirmando que Lula, de fato, é muito mais sabido do que muita gente pensa.
Quanto à reação da Itália, não é demais lembrar que há um acordo entre os dois países, pelo qual o governo de Roma estará investindo sete bilhões de euros na renovação da frota da Marinha brasileira.




O Bolsa Familia ainda continua a ser criticado. Agora vai ficar mais difícil, pois, como se pode ler no artigo a seguir, há comprovações estatísticas de que os índices da escola pública estão melhorando e isso pode ser efeito da maior permanência dos alunos nas escolas, exigência que tem de ser cumprida para que a família continue a receber o Bolsa Familia.

www.brasilianas.org
Enviado por luisnassif, qua, 19/01/2011 - 20:31
Por Ozzy

Bolsa Família melhora índices da escola pública

Autor(es): Linda Goular Correio Braziliense - 19/01/2011
Coordenadora do Plano de Mobilização Social pela Educação do MEC

Mais do que o controle para fins de concessão do benefício, o acompanhamento pelo MEC da frequência escolar de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade (Programa Bolsa-Família) tem gerado informações valiosas para o acompanhamento da trajetória educacional dos beneficiários. Ao cruzarmos tais informações com dados da Pnad e do censo escolar, vemos, por exemplo, que a frequência à escola está contribuindo não apenas para melhorar a vida dos beneficiários, mas, também, a de vários indicadores educacionais.

Uma das condicionalidades para a família não perder a bolsa é que os filhos entre seis e 17 anos frequentem, no mínimo, 85% das aulas todos os meses. Certamente, essa é forte motivação para os altos índices de frequência registrados, mas, uma vez na escola, esses meninos têm conseguido terminar o ensino fundamental e prosseguem no ensino médio. São cerca de 16 milhões de crianças, adolescentes e jovens, o que corresponde a perto de 40% do total dos alunos do ensino fundamental. No Nordeste, esse índice chega a alcançar quase metade das matrículas.
Impressionados com os dados, especialistas têm afirmado que, se as escolas conseguirem reter os estudantes fazendo com que concluam o ensino fundamental, teremos outro país. A média de anos de estudo da população, que é hoje de pouco mais de sete anos, aumentará sensivelmente.


Mas, sobretudo, teremos adultos que saíram da rua, aprenderam a conviver com as regras próprias do ambiente escolar e foram adquirindo hábitos de disciplina, de compartilhamento de aprendizagem com os colegas, acessando novos conhecimentos, ampliando os horizontes culturais. Serão, ao final, milhões de pessoas mais escolarizadas, que aspirarão para os filhos trajetória educacional maior, exigindo também, como direito, melhor qualidade de ensino e de oportunidades.

Situação bem diferente da atual. Segundo dados da Pnad/IBGE 2009, enquanto no estrato dos 20% mais ricos da população a escolaridade média dos que têm mais de 15 anos é de 10,7 anos, os 20% mais pobres nessa faixa etária têm apenas 5,3 anos de estudo. Nessa mesma faixa etária, entre os 20% mais ricos, 86% concluíram o ensino fundamental, enquanto no estrato dos 20% mais pobres apenas 40% alcançaram esse privilégio.

A boa novidade trazida pelo controle da frequência dos beneficiários do Bolsa Família é que isso começa a mudar graças ao desempenho dos alunos cuja renda familiar os coloca entre os 20% mais pobres da população. Bom exemplo é a evolução das matrículas de jovens de 15 a 17 anos no ensino médio. A análise do período compreendido entre 2004 e 2009 indica crescimento constante, que vai de 44,2% a 50,9%. Tomando como base, mais uma vez, os estratos dos 20% mais ricos e dos 20% mais pobres, o que se vê é pequeno crescimento entre os mais ricos, enquanto entre os mais pobres a taxa aumenta em mais de 50%.

Outro progresso notável refere-se às taxas de aprovação. Dados do censo da educação básica indicam que os beneficiários do Bolsa Família têm aprovação semelhante à média brasileira no ensino fundamental e bem superior no ensino médio. Melhor ainda: no Nordeste, ela é maior nos dois níveis de ensino. A situação só se inverte quando olhamos as taxas de abandono. Felizmente. Nesse caso, elas mostram que o percentual é menor entre os beneficiários, tanto no ensino fundamental quanto no médio. Em resumo, eles estão frequentando mais, abandonando menos e melhorando os índices de aprovação.
É razoável supor que, uma vez na escola, eles aproveitam a oportunidade para seguir uma trajetória escolar da qual estavam excluídos. O desafio maior fica por conta dos professores e gestores. É importante que eles conheçam e reflitam sobre tais dados. Acolher o beneficiário do Bolsa Família sem discriminação e com atenção redobrada, reconhecendo suas deficiências de formação formal e social, é fundamental para que se possa extrair deles todo o potencial de desenvolvimento.

O desafio para os gestores estaduais e municipais é articular políticas intersetoriais – educação, saúde, desenvolvimento social, entre outras – criando uma rede de proteção às famílias. São passos fundamentais para garantir o direito de aprender, primeiro passo para levar essas crianças e jovens à emancipação e ao exercício pleno da cidadania.
https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/1...


Para recordar. No site do Historianet uma síntese do que foi o Massacre de Chicago, o enfrentamento da polícia com manifestantes ocorrido em 1968, naquela cidade dos Estados Unidos.


O Massacre de Chicago
A BATALHA DE CHICAGO

Luiz Bernardo Pericás (www.historianet.com.br)

Manifestações, marchas e protestos marcaram o ano de 1968 em todo o mundo. A ofensiva Tet e o massacre de My Lai, no Vietnã, os levantes de maio na França, a Primavera de Praga, a invasão de tropas soviéticas na Tchecoslováquia e a tragédia da Praça de Tlatelolco, no México, são apenas alguns exemplos da radicalização da luta entre as forças progressistas e os agentes do establishment conservador, que tentavam a todo custo conter a “maré vermelha” em vários cantos do planeta. Nos Estados Unidos não foi diferente. Uma sucessão de acontecimentos significativos levou ao ápice as contradições da sociedade norte-americana, desembocando melancolicamente na Convenção Democrática Nacional, em agosto, e na escolha, pouco tempo depois, do republicano Richard Nixon para ocupar a Casa Branca.

O governo do então presidente Lyndon B. Johnson, na época, tinha somente 30% de aprovação da população. Sua política em relação à guerra na Indochina alcançava índices ainda piores, em torno de 23% apenas. A oposição ao conflito crescia nitidamente a cada mês, o que levou Johnson a desistir de concorrer nas eleições gerais. O caminho estava aberto para outros candidatos, inclusive para o vice-presidente Hubert Humphrey, ligado aos sindicatos filiados à AFL (American Federation of Labor) e visto por muita gente como “progressista”, ainda que fosse bastante associado à imagem e às políticas belicistas de Johnson. Também na disputa, nomes emblemáticos, como Eugene McCarthy e George McGovern. A decisão final se daria na Convenção Nacional do Partido Democrata, marcada para ocorrer no International Amphitheater, em Chicago, entre 26 e 29 de agosto.


Alguns dias antes, manifestantes começaram a chegar de todas as partes, em grande medida, instigados pelo evento partidário. O que deveria ser um protesto pacífico se tornou uma guerra. Por oito dias, a cidade se transformaria, literalmente, num campo de batalha. O “agosto em Chicago” foi, com suas devidas proporções, o equivalente, na “América”, ao “maio de 1968” em Paris. Ainda que outras manifestações anteriores tenham sido bem maiores em número de participantes (algumas chegavam a cem mil pessoas), aquela em Illinois seria mais importante em termos simbólicos.


A “batalha de Chicago” coroou um processo que se arrastava havia meses. É fundamental, entretanto, acompanhar aqui a seqüência dos fatos. No dia 4 de abril, o mais conhecido líder negro dos Estados Unidos, Martin Luther King, é assassinado em Memphis, Tennessee. Revoltas populares eclodem de leste a oeste do país. No dia 7 do mesmo mês, Bobby Hutton, “ministro da Defesa” do Partido dos Panteras Negras (Black Panthers Party), é assassinado, enquanto Eldridge Cleaver, o “ministro da Informação”, era ferido num tiroteio com a polícia. Os Panteras Negras se radicalizam. Cleaver seria, naquele ano, candidato à presidente dos Estados Unidos, pelo Peace and Freedom Party. Enquanto isso, Huey Newton, um dos fundadores do Black Panthers, era julgado por homicídio. Jovens afro-americanos depredam lojas, queimam pneus, destroem automóveis e entram em confrontos violentos com forças policiais em diversas cidades.

Ao mesmo tempo, estudantes de classe média tomam as ruas para apoiar a luta pelos direitos civis e em protesto contra a guerra do Vietnã (em abril, por exemplo, a Universidade de Columbia, em Nova Iorque, uma das mais prestigiosas do país, foi ocupada e fechada pelos alunos). Em 3 de junho, o artista plástico Andy Warhol é crivado de balas... mas sobrevive. Dois dias mais tarde, contudo, o Senador Robert F. Kennedy, o favorito para a sucessão presidencial, sofre um atentado, depois de discursar no Ambassador Hotel, em Los Angeles. O tiro que recebe é gravíssimo, e no dia seguinte, ele perde a vida. O ano esquentava...


Entre os protagonistas de 1968, destacavam-se o Partido Yippie (Youth International Party), liderado por Abbie Hoffman e Jerry Rubin, e o SDS (Students for a Democratic Society), encabeçado por Tom Hayden e Rennie Davies. Estas organizações já haviam realizado eventos importantes, como o Summer of Love e a manifestação do Pentágono. A experiência que ganharam com estes e outros meetings (como aqueles no Central Park e na Grand Central Station, em Nova Iorque, ou as marchas no verão daquele ano, em San Francisco), lhes deu condições de preparar uma atividade muito maior e mais arriscada para Chicago. Só que haveria uma grande diferença. Os encontros dos yippies, por exemplo, normalmente (mas nem sempre) eram festivos, não-violentos e promoviam a desobediência civil. Neles, hippies assistiam a shows de rock e evitavam qualquer problema com a polícia, ainda que eventualmente ocorressem choques com as autoridades. Mas em Chicago, tudo seria bem diferente.

Hoffman, Rubin, Hayden, Davies, assim como David Dellinger (editor da revista Liberation) e Vernon Grizzard (líder do movimento de resistência ao alistamento compulsório), convocaram cem grupos distintos que vinham se opondo à guerra. Pediram permissão às autoridades de Chicago para realizar um “festival da juventude”, mas tiveram seu pedido recusado. O prefeito Richard Daley já ouvira algumas ameaças que circulavam antes da Convenção, entre elas, de que ativistas invadiriam, à força, o International Amphitheater, ou de que bloqueariam as ruas de Chicago. Também tinham receio de que os protestos incitassem os bairros negros e criassem um caos urbano, aumentando ainda mais a tensão racial desde o assassinato de Luther King. Se já não bastasse tudo isso, havia o boato de que os manifestantes sabotariam o sistema de águas da cidade, contaminando o suprimento de toda a região com LSD, com o objetivo de fazer com que a população inteira fizesse uma “viagem” psicodélica coletiva. A situação também poderia se agravar por causa do assassinato pela polícia, no dia 22 de agosto, do jovem Dean Johnson, de apenas 17 anos de idade. O caso, de acordo com os agentes da lei, poderia ser o estopim e servir como desculpa para manifestações violentas dos ativistas.

É claro que boa parte dos temores era absurda, mas os governantes locais não iriam arriscar. Proibiram o evento programado. Mesmo assim, sem dar ouvidos ao prefeito, milhares de jovens decidiram marchar para a cidade. Montaram acampamento no Parque Lincoln. Se lá chegaram inicialmente dois mil militantes, em pouco tempo esse número subia para dez mil pessoas, entre hippies, yippies, “anarquistas”, ativistas negros, estudantes e até gangues de motociclistas. A multidão carregava bandeiras dos vietcongs e estandartes vermelhos. Muitos cartazes e banners lembravam Che Guevara, que havia sido assassinado no ano anterior na Bolívia.

A situação se tornava tensa. As provocações entre os jovens e a polícia eram constantes. No dia 23, Rubin e outros yippies tentaram indicar um porco, “Pigasus, the Pig”, para presidente dos Estados Unidos, no Civic Center Plaza. A polícia não deixou que a performance continuasse e deteve todo mundo, Rubin, o porco “Pigasus” e mais seis yippies.

No dia seguinte, sessenta militantes feministas da Women Strike for Peace tentaram entrar no Conrad Hilton Hotel, onde a maioria dos delegados democratas se hospedava, mas foram barradas pela polícia. Depois, centenas de ativistas, pressionados pela polícia, saíram do parque e tomaram as ruas de Chicago, destruindo automóveis com pedras e fechando diversos cruzamentos. Um grupo de 300 homens se dirigiu para o Hilton, tentando invadir o local. Também foram impedidos pela força pública. Outros 500, tentando ocupar o Loop, tiveram o mesmo destino.

Muita gente foi ao Parque Grant, e mais tarde, retornou ao Lincoln Park. Lá estava programado o “Festival of Life”, com apresentações de diversos artistas. Mas a polícia, de forma truculenta, acabou
com a festa. Encontravam-se ali também o poeta beatnik Allen Ginsberg, o escritor William Burroughs, e o dramaturgo francês Jean Genet. O show da banda MC5 e os discursos de Tom Hayden, Rennie Davies e Abbie Hoffman deveriam dar o tom dos protestos.

Os policiais, demonstrando enorme despreparo, agiam de maneira agressiva, atacando não só os manifestantes como também quaisquer pedestres que por lá passavam e até mesmo jornalistas. Para se ter uma idéia, dos 300 repórteres designados para cobrir os eventos nas ruas e no parque, mais de 60 estiveram envolvidos em incidentes que resultaram em ferimentos, danos no equipamento ou em prisão.
Os números mostram a disparidade de forças. Haviam sido enviados para “proteger” a cidade 11.900 policiais, 7.500 soldados do exército, 7.500 membros da Guarda Nacional e 1.000 agentes do Serviço Secreto. Os manifestantes eram em torno de 10.000, aproximadamente. No dia mais violento dos protestos, quando ocorreu a “batalha da Avenida Michigan”, houve 589 prisões, 119 policiais e 100 manifestantes feridos. Mas o provável é que a quantidade de ativistas feridos tenha sido bem maior, e que possa ter chegado a 500 ou mais.

Os acontecimentos de Chicago terminaram de maneira melancólica. Hubert Humphrey, da Velha Guarda do partido, foi escolhido para ser o candidato democrata à presidência dos Estados Unidos. Nas eleições gerais, contudo, o republicano Nixon seria o vitorioso. Uma lei federal, a “1968 Civil Rights Act”, foi promulgada, tornando crime cruzar as divisas dos estados para incitar rebelião. Por causa disso, os chamados “Oito de Chicago”, Dellinger, Davies, Hayden, Hoffman, Rubin, além de Lee Weiner (assistente de pesquisa da Northwestern University), John Froines (professor da Universidade do Oregon) e Bobby Seale (fundador dos Panteras Negras), foram acusados de ter promovido a confusão e duramente julgados. Seale seria afastado do grupo e julgado separadamente, tornando os outros conhecidos como “Chicago Seven”. O caso só iria ser encerrado em 1970, com Froine e Weiner sendo inocentados, e os outros recebendo uma multa de US$ 5 mil e cinco anos de prisão. Todas as sentenças seriam revogadas pouco tempo depois.

Os eventos de Chicago levaram ao ápice as contradições sociais, raciais e políticas dos Estados Unidos naquele ano. A partir daí, os setores conservadores conseguiriam conter e sufocar outras grandes manifestações políticas. Na década seguinte, os partidos “revolucionários” e os movimentos mais radicais já não teriam a mesma força para organizar e influenciar a juventude do país.



A história de um crime de 20 trilhões de dólares
Documentário que será lançado em fevereiro no Brasil mostra o comportamento criminoso de agentes políticos e econômicos que conduziu à crise mundial de 2008. Essa conduta criminosa provocou a perda do emprego e da moradia para milhões de pessoas. "Inside Job" (que ganhou o título de "Trabalho interno" em português) conta um pouco da história que Wall Street e seus agentes pelo mundo querem que seja esquecida o mais rápido possível. Documentário resultou de uma extensa pesquisa e de uma série de entrevistas com políticos e jornalistas, revelando relações corrosivas e promíscuas entre autoridades, agentes reguladores e a Academia.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17314&boletim_id=812&componente_id=13366


Entrevista com Noam Chomsky: WikiLeaks, crise econômica e outros temas relevantes
A estação alternativa de rádio estadunidense Democracy Now, na pessoa da sua principal animadora Amy Goodman, entrevistou à distância o linguista, filósofo e ativista libertário Noam Chomsky, em vésperas do seu 82º aniversário.

Leia. Comente
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1792


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