quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Numero 262


Beth Queijo me encaminhou este texto, de autor que não conheço, mas gostei muito do que li. Aparentemente os elementos que compõem o titulo parecem esdrúxulos, mas a costura que ele fez de tais elementos foi bastante interessante.
Leia e opine!

o texto é do Lúcio de Castro.
em seu blog no www.espn.com.br
A tragédia das chuvas, Ronaldinho, Carolina Dieckmann e a reforma agrária
Não demorou nem 12 horas. A trágica e absurda dimensão da catástrofe no estado do Rio ainda nem era totalmente conhecida e já tinha gente propondo que Ronaldinho Gaúcho doasse seu primeiro salário para as vítimas. Com o tal do tuiter virou onda, ganhou voz e multiplicou-se. Virou tema de discussão. Por trás dessa discussão, estão outras tragédias por trás da tragédia maior, obviamente incomparável em sua dor e drama.

Não é um caso raro, incomum. No Brasil é comum a cobrança para que jogadores de futebol resolvam os problemas das enchentes, sejam exemplos de conduta para a educação que o pai não dá em casa, se pronunciem e bem sobre qualquer assunto, tenham a obrigação de algo inteligente a dizer ou que sejam algo próximo a alguma vestal. Por trás de tal comportamento, boa parte das vezes, infelizmente e por mais difícil de assumir que seja, está um enorme preconceito de alguns com o fato de que meninos pobres, mulatos e descalços tenham ascendido na vida, freqüentem salões que não podem, desfilem com mulheres que também não podem e por aí vamos. Então tome cobrança. Tome vidas vigiadas. Tome ódio muitas vezes. Antes que alguém se apresse, claro que não estamos inocentando ninguém de culpas ou responsabilidades. Já tratamos nesse blog várias vezes sobre os meninos criados como bichos, ao arrepio da lei, que, tratados como bichos, viram... bichos mesmo. Apenas é preciso botar algumas coisas no seu devido lugar, responsabilidades nos devidos ombros.
Chegaremos ao salário de Ronaldinho, as enchentes, as responsabilidades... Antes é preciso situar algumas coisas. Como uma imagem que não me saiu da cabeça. Era uma madrugada dessas. A atriz Carolina Dieckmann falava sobre seus filhos. Que não gostaria de vê-los jogadores de futebol. Falava com tom meio jocoso e absoluto desdém. “A não ser que sejam como Leonardo ou Raí, estudem...”, proferiu algo assim... Outras declarações do tipo são comuns. Repletas de preconceitos. Vindas de quem? Fernanda Montenegro, Gianfrancesco Guarnieri, gente que sempre soube se posicionar diante das grandes causas e questões do Brasil? Não, Carolina Dieckmann, a parceira de Preta Gil. Detentora de um pensamento revolucionário, sempre ao lado de grandes questões...!!! Essa mesmo, zombava do nível dos jogadores de futebol. Também não me esqueço de um “Bola da Vez” marcante de Leonardo, agora técnico do Inter de Milão. Perguntaram para ele sobre o nível dos jogadores, como ele convivia com isso... Sua resposta foi demolidora: “a média em qualquer meio é fraca. Jornalistas, advogados, engenheiros. Jogadores não são diferentes”, algo assim. Mas cobramos sempre que sejam os exemplos citados acima.
Fala-se também constantemente numa suposta marra de jogadores. Aqui cabe um depoimento pessoal. Pois puxando pela memória não me recordo de nenhum jogador insuportável com quem tenha tido que conviver. Verdadeiramente marrentos. Irão falar de Romário... Pois se existe nisso tudo alguém fácil de lidar é esse. Pulemos. (existem bobos, mas isso também é em qualquer área!). No entanto, já convivi com jornalistas, atores, advogados e etc insuportáveis. Consulto um amigo que vive indo na casa da boleirada por aí fazer matéria. Sem saber minha opinião, dispara: “não existe coisa mais tranquila no mundo. Não me lembro de um insuportável. Já em outras áreas que conhecemos...”.

Mais uma vez tal cobrança me remete ao bate-papo que tive com Mestre Eduardo Galeano no começo desse blog sobre preconceitos, recalques e ódios contra os neguinhos que sobem na vida e a Casa Grande nunca aceitou. É só baixar a página que vai estar lá. Nesse momento trágico, ter como primeiro pensamento o salário de Ronaldinho Gaúcho, a obrigação de que ele faça isso ou aquilo, sem entrar no mérito se ele pode, deve ou o raio que seja, reflete muita coisa.
Por que diabos o primeiro pensamento não é para as verdadeiras causas de tanta desgraça? Por que diabos tantos gostam de aparecer falando em campanhas de doação, em se mostrar campeão de solidariedade (mais uma vez muita calma nessa hora, é claro que aprovamos tais ações, mas em muitos cujas práticas são sempre opostas, parece falso). Por que diabos ninguém fala algo primordial nessa história toda: que se nosso país não fosse, com a Argentina, o único das Américas que não passou por uma reforma agrária, não teríamos tanta gente apinhada em locais sem condição de moradia? Por que diabos ninguém nessa hora diz com todas as letras que muitos dos mortos não seriam números de uma tragédia se a estrutura fundiária desse país fosse uma das mais absurdas e concentradoras do mundo? Por que diabos não apareceu ninguém pra falar que a Votorantim, a Belgo-Mineira, a Manesmann tem mais de 11 milhões de hectares de terras no Brasil e que alguns bancos tem quase 6 milhões? Que essa concentração fundiária, como apontou a CNBB em sua Campanha da Fraternidade de 2010, expulsa gente para favelas, cortiços? Esses mesmos que morrem nessas tragédias em sua maioria? Existe a questão mundial do meio-ambiente também. Política, como a reforma agrária, esse palavrão que ninguém profere. Política, como o bilhão que evapora nas obras do Maracanã enquanto gente é levada pela água. E assim chegamos ao xis da questão. Política. A ser feita por cada um. Alguém viu em algum jornal ou na tv a lembrança de que os milhares de camponeses expulsos do campo viraram esses favelados que muitas vezes encontram a morte na primeira enchente? Como no Haiti, igualzinho, onde o mesmo êxodo rural causou a maioria absoluta das mortes no terremoto. Mas certamente é mais fácil cobrar exemplos e atitudes, regular a vida e botar para fora os recalques em cima de um Ronaldinho qualquer...




Guilherme Souto encaminhou esta entrevista com o Rudá Ricci, que já foi indicado várias vezes aqui no nosso Boletim.
Nesta entrevista, temas importantíssimos e quase nunca (ou nunca?) realmente discutidos são apresentados com a crueza que merecem. De fato, ao observarmos as últimas “reformas” educacionais, nos deparamos com o que ele afirma, que “o ser humano desapareceu” das preocupações dos gestores, pois o que interessa agora é unicamente o resultado dos inumeráveis exames que são cobrados, o ranking das escolas.
Outro item que considerei essencial está na resposta dele à quarta pergunta, quando aborda a questão do currículo escolar. Por que Matemática e Língua Portuguesa merecem 5 aulas semanais e História, Geografia e outras disciplinas devem se contentar com apenas 2? A linguagem se aprende apenas na disciplina Língua Portuguesa? Não se aprende lendo e discutindo os textos de História, as imagens e mapas? Leiam a entrevista e comentem!

Fonte: www.rudaricci.blospot.com
Sexta-Feira, 14 de janeiro de 2011
Revista AMAE Educando:
1- Por que o senhor afirma que estamos assistindo um empobrecimento do ímpeto de inovação educacional que marcou as últimas duas décadas do séc. XX?
R: Porque nas últimas duas décadas do século passado tivemos um movimento importante, envolvendo principalmente países latinos, de reformas educacionais progressistas, que focaram na lógica do desenvolvimento humano, que nunca é padronizado. Piaget e Vygotsky foram relidos e muitas teorias da área da neurologia foram incorporadas (como Antonio Damásio, Howard Gardner e até Oliver Sachs). Começamos a avançar neste campo, abrindo uma leitura ampla, que casou leitura sociológica, neurológica, psicológica e pedagógica. De repente, com a pressão internacional para se utilizar indicadores de resultado, de inspiração empresarial, começamos a retroceder. O foco passou a ser o próprio resultado e não mais o processo de aprendizagem. O ser humano sumiu da preocupação central das políticas públicas educacionais. O número e o ranking (como no IDEB, Simave ou Saresp) voltaram a ser mais importantes. Ora, quando o ser humano é substituído pelo ranking, o gestor deixa de se responsabilizar por articular políticas sociais e olhar o ser humano e descarrega a responsabilidade no professor e nos métodos de ensino. O problema é que todos dados indicam que o problema do desempenho do aluno está na família e nas condições sociais de sua vida. O erro continua do gestor, mas para o público externo estamos vendendo esta história que professor não sabe educar ou não tem formação. Temos relatos de professores com doutorado que não conseguem dar aula porque o grau de tensão e agitação na sala de aula o impede até de fazer chamada. Para piorar, alguns gestores adotam esta excrescência que é a premiação por desempenho dos alunos. Já sabemos quem terá melhor performance: o professor das regiões mais abastadas do país. Voltamos aos anos 1970.
2- Por que as reformas educacionais brasileiras realizadas nessa época fizeram com que dialogássemos com teorias conflitantes?
R: Porque iniciamos as inovações na área pedagógica (ENEM, PCNs e outras iniciativas), mas não prosseguimos e repercutimos na área da gestão. Fomos esquizofrênicos nas políticas educacionais. Veja a sala de aula. Continua com a lógica disciplinadora, racional, taylorista. Até mesmo a Escola Parque proposta por Anísio Teixeira é utopia hoje, tal a pobreza desta lógica escolar. Os professores ainda ganham por módulo-aula, que é um obstáculo para currículos que estejam focados em projetos ou dificuldades específicas de alunos. Em determinado momento, posso fazer uma viagem com alunos. Em outro, um breve filme. O módulo-aula é absolutamente ultrapassado. A arquitetura escolar é uma espécie de panopticon do século XIX. O centro de tudo é o corredor das salas de aula e não a biblioteca e a pesquisa. As salas são separadas entre si e a escola é separada das ruas. Uma instituição fechada, alimentada pela lógica da higienização social. As ruas, os problemas reais dos bairros dificilmente entram no currículo. Não formamos lideranças sociais, embora estejamos assumindo a liderança no mundo. Um contra-senso.

3- A motivação política foi preponderante em relação aos objetivos educacionais durante a implementação dessas reformas?
R: Sim. No caso brasileiro foi evidente. Todo movimento de professorado, incluindo as greves lideradas por sindicatos de professores, articulou questões de gestão, valorização profissional, articulação com sociedade civil e currículo (aqui, com forte influência das elaborações de Paulo Freire). Respirávamos as possibilidades da redemocratização do país. Infelizmente, grande parte do discurso sindical do setor foi se reduzindo à questão salarial. Muitos sindicatos de professores se partidarizaram nitidamente.

4- Qual é o item mais polêmico das reformas?
R: É o controle social e o currículo. A escola não chega às ruas. Atualmente, assessoro a Constituinte Escolar de Ipatinga. Fizemos duas rodadas de pesquisas com pais, alunos, diretores, lideranças sociais, funcionários de escolas e professores. Tudo está disponível no site www.constituinteescolar.com.br . É impressionante como a sociedade se sente divorciada de todo sistema educacional e escolar. A educação é, ainda, uma caixa preta para os pais e líderes sociais. O segundo problema é o currículo. Estamos naturalizando os conteúdos necessários, sem discussão pública. Por qual motivo se diz que matemática e português são básicos? De onde se tirou isto? Desde quando linguagem se limita à língua pátria? Desta maneira, um analfabeto não teria como se relacionar no mundo. E sabemos que isto não ocorre. Esta é uma versão das mais simplificadoras do que seria estímulo à autonomia e inteligência humanas. Inteligência significa decidir e não quantidade de informações adquiridas. Desta naturalização nascem as avaliações sistêmicas. E ficamos discutindo números do IDEB como se ao atingir o índice 6 estivéssemos no Olimpo. Fico estarrecido com esta infantilização. A ponta do iceberg fica sendo a tal promoção automática. Mas sem discutir currículo não há motivos para se discutir avaliação. Afinal, avaliamos o que desejamos alcançar. E o que desejamos alcançar neste século XXI?

5- Por que, no século XXI, o papel social das escolas alterou-se profundamente?
R: Porque as famílias perderam importância no processo de formação de crianças e, principalmente, adolescentes. Aumenta o número de famílias monoparentais, onde apenas a mãe reside com os filhos. E esta mãe trabalha e chega esgotada em casa. As escolas, sem perceber, jogam uma bomba no colo dessas mães com os “para casa” ou “tarefas” para os alunos desenvolverem em casa. Muitas vezes, a mãe nem sabe como ajudar. Em outras, a mãe responde pelos filhos para liquidar a fatura. Além deste problema central, e que é desconsiderado nos planejamentos escolares, temos outros da mesma natureza. Com o sentimento de abandono social, nossos alunos passam a disputar seu espaço na escola. O intervalo de aula é o maior laboratório de formação (ou deformação) moral de nossos estudantes. E não temos projeto pedagógico para este momento. Novo abandono, desta vez, na própria escola. Todos nós sabemos que nos intervalos ocorrem humilhações, paqueras, bullying e toda sorte de ações e confrontos entre tribos. Teríamos que criar educadores sociais para trabalhar nestes espaços. Temos que pensar atividades sociais e culturais. São Bernardo do Campo adotou, por exemplo, kits de esportes radicais e visitas de médicos para conversar sobre sexualidade e saúde com adolescentes. Pistas de skate, escaladas adaptadas, tablados para apresentação de grupos de dança e teatro, palcos improvisados para apresentação de bandas de jovens, uma infinidade de atividades culturais visitam as escolas a cada semana. Lembremos que são ações culturais e de lazer que oferecem os melhores resultados no combate à violência juvenil e uso de drogas. Há exemplos em todo mundo a respeito deste tema. A escola tem que ser vista como centro cultural e social. Não como instituição fechada. A questão é ainda mais aguda quando nos tornamos o segundo PIB da América. Somos uma potência em nosso continente. E já somos o 7º PIB mundial. Em cinco anos seremos o quinto mercado consumidor do mundo (atrás, apenas, da China, EUA, Alemanha e Japão). E o que estamos fazendo para formar uma geração de líderes que pensem e se responsabilizem pelo mundo? Nada. Só pensamos em dar dicas para o sucesso individual.

6- Qual a característica principal da atual política educacional brasileira?
R: Foco no resultado. Com eleições a cada dois anos, os gestores só pensam em apresentar resultados concretos. Deixaram de pensar em políticas estratégicas, de longo prazo. Querem dados para dizer que melhoraram o IDEB. E pressionam os professores. A premiação de professores por resultado é uma humilhação para a categoria. É como se dissessem que professor só faz bem se recebe mais dinheiro. A maior empresa de estudos de desempenho do mundo, a HAY, desmente tal versão. Eficiência e desempenho não dependem de salário. Obviamente que há uma base de dignidade e respeito público inserido no salário que se paga a um profissional. Mas os professores simplesmente não têm condições para desenvolver um trabalho adequado. As rotinas e exigências burocráticas são absurdas. Em pesquisas que coordeno junto à rede de ensino da cidade de São Paulo, os gestores de escolas ilustram rotinas absurdas, que os desviam da direção pedagógica. Todos profissionais das escolas vivem índices muito altos de estresse e depressão e outros sintomas da Síndrome de Burnout. E continuamos não pensando no concreto. Nossa política educacional paira sobre o real. É uma imensa abstração pensada em gabinetes.

7- Quais as iniciativas em curso com maiores chances de êxito?
R: Há iniciativas pulverizadas. No campo curricular, a educação fiscal e o orçamento participativo adolescente ou criança (OP Jovem, em Rio das Ostras/RJ; OPA, em Governador Valadares/MG; OP EDUCA, em São Carlos/SP, e assim por diante). Experiências de Constituinte Escolar envolvem toda comunidade escolar num pacto educacional muito importante. Há atividades e programas dispersos de formação técnica de professores. Cito, por exemplo, a UAB (universidade aberta do Brasil). No restante, estacionamos ou regredimos. Infelizmente.

8- Para os alunos, qual é o maior prejuízo quando as escolas se distanciam das ações sociais desenvolvidas pela comunidade?
R: Ela se aparta do mundo. Pior: cria um mundo próprio. Este é o problema do vestibular, o sistema de seleção para ingresso na universidade. O que se pergunta no vestibular, em grande medida, não tem importância alguma para a sociedade ou para a carreira do aluno. E exige memorização e não inteligência. Se adotarmos o ENEM como prova nacional e um processo de seleção sequencial (provas no final de cada ano do ensino médio), além de introduzir outros elementos classificatórios que demonstrem engajamento social (como trabalho voluntário de candidatos), poderíamos alterar toda lógica de reflexo condicionado que hoje se adota nos terceiros anos de ensino médio e cursinhos preparatórios. Utilizamos, infelizmente, técnicas de Pavlol, do século XIX. E os pais incentivam tais técnicas. Os alunos as chamam de dicas. Um jogo de mercado dos mais anti-éticos, um jogo de toma lá, da cá. Isto não é educação. É adestramento.

9- O que têm feito os projetos educacionais contemporâneos para suprir a redução do convívio familiar?
R: A adoção da escola em tempo integral. Há arremedos, como a Escola Integrada, que é um shopping de atividades não conectadas pedagogicamente. Visam apenas a manutenção do aluno por mais tempo na escola ou atividades educacionais. Aí entra o projeto Segundo Tempo do Ministério dos Esportes. Bem intencionado, mas equivocado pedagogicamente. Porque o professor de referência é o que define a unidade do projeto pedagógico. Não os oficineiros. O programa Mais Educação, do MEC, dá um passo na direção certa. O importante é entender que a história mundial da educação sempre teve em aparelhos públicos a responsabilidade da formação social. Os kibutzim formam o exemplo clássico. Mas era assim na Grécia Antiga, na Roma Antiga. Basta ler os estudos de Philippe Áries para verificar que o papel educador da família só surgiu no século XVII. É esta tradição histórica que norteia a escola em tempo integral. Mas é preciso mais ousadia. E tirar o escorpião do bolso dos governos.

10- Como o senhor define uma educação de qualidade?
R: É aquela que constrói a autonomia dos estudantes e a socialização. Sempre cito Hannah Arendt que dizia que o papel da educação é humanizar os homens. Porque não nascemos humanos. Simplesmente porque a humanidade se constrói pela socialização de experiências, via linguagem. Somos cristãos ou budistas, muçulmanos ou marxistas, liberais ou anarquistas, sem termos conhecido Marx, Jesus, Buda, Maomé, Bakunin ou Locke. Convertemos-nos diariamente em função da leitura das experiências de outros. Ou por sentirmos e sermos informados pela música, pelas artes plásticas, pela dança, pelo teatro, enfim, pela linguagem. A escola, para humanizar, precisa nos abrir este cardápio de multiplicidade de experiências, desejos, frustrações, experiências plasmadas na linguagem. Este cardápio é que nos faz tolerantes e humildes. É ele que nos faz humanos. Fora disto, nos aproximamos dos animais irracionais. Mesmo que em nome da cultura e inteligência. Mesmo que em nome do resultado educacional.









O leitor atento já percebeu que esta imagem não tem nada a ver com os assuntos que estão sendo tratados aqui. De fato! Nada a ver! Mas as ruinas do Foro Romano são muito bonitas, merecem aparecer aqui no boletim! Foto feita pelo autor do blog em 1993.




Ana Cláudia me enviou esta matéria. Achei oportuno publicar aqui. Acredito, como a autora da matéria, que são “palavras que precisavam ser ditas” sobre a esposa do Lula, que passou os últimos oito anos de sua vida sendo alvo de chacotas, porque não tinha os diplomas da antecessora e nem a beleza da atual segunda-dama. Ou seja, passou oito anos sendo alvo do preconceito e das ironias destiladas na mídia. Hildegard Angel tem algo a nos dizer. Vamos refletir!
Marisa Letícia Lula da Silva, palavras que precisavam ser ditas
por Hildegard Angel*, no R7, via Pastorador, sugestão do leitor Rios
Foram oito anos de bombardeio intenso, tiroteio de deboches, ofensas de todo jeito, ridicularia, referências mordazes, críticas cruéis, calúnias até. E sem o conforto das contrapartidas. Jamais foi chamada de “a Cara” por ninguém, nem teve a imprensa internacional a lhe tecer elogios, muito menos admiradores políticos e partidários fizeram sua defesa. À “companheira” número 1 da República, muito osso, afagos poucos.
Dirão os de sempre, e as mordomias? As facilidades? O vidão? E eu rebaterei: E o fim da privacidade? A imprensa sempre de olho, botando lente de aumento pra encontrar defeito? E as hostilidades públicas? E as desfeitas? E a maneira desrespeitosa com que foi constantemente tratada, sem a menor cerimônia, por grande parte da mídia? Arremedando-a, desfeiteando-a, diminuindo-a? E as frequentes provas de desconfiança, daqui e dali? E – pior de tudo – os boatos infundados e maldosos, com o fim exclusivo e único de desagregar o casal, a família?

Ah, meus queridos, Marisa Letícia Lula da Silva precisou ter coragem e estômago para suportar esses oito anos de maledicências e ataques. E ela teve. Começaram criticando-a por estar sempre ao lado do marido nas solenidades. Como se acompanhar o parceiro não fosse o papel tradicional da mulher mãe de família em nossa sociedade.
Depois, implicaram com o silêncio dela, a “mudez”, a maneira quieta de ser. Na verdade, uma prova mais do que evidente de sua sabedoria. Falar o quê, quando, todos sabem, primeira-dama não é cargo, não é emprego, não é profissão?
Ah, mas tudo que “eles” queriam era ver dona Marisa Letícia se atrapalhar com as palavras para, mais uma vez, com aquela crueldade venenosa que lhes é peculiar, compará-la à antecessora, Ruth Cardoso, com seu colar pomposo de doutorados e mestrados.
Agora, me digam, quantas mulheres neste grande e pujante país podem se vangloriar de ter um doutorado? Assim como, por outro lado, não são tantas as mulheres no Brasil que conseguem manter em harmonia uma família discreta e reservada, como tem Marisa Letícia.
E não são também em grande número aquelas que contam, durante e depois de tantos anos de casamento, com o respeito implícito e explícito do marido, as boas ausências sempre feitas por Luís Inácio Lula da Silva a ela, o carinho frequentemente manifestado por ele. E isso não é um mérito? Não é um exemplo bom? Passemos agora às desfeitas ao que, no entanto, eu considero o mérito mais relevante de nossa ex-primeira-dama: a brasilidade.
Foi um apedrejamento sem trégua, quando Marisa Letícia, ao lado do marido presidente, decidiu abrir a Granja do Torto para as festas juninas. A mais singela de nossas festas populares, aquela com Brasil nas veias, celebrando os santos de nossas preferências, nossa culinária, os jogos e brincadeiras. Prestigiando o povo brasileiro no que tem de melhor: a simplicidade sábia dos Jecas Tatus, a convivência fraterna, o riso solto, a ingenuidade bonita da vida rural. Fizeram chacota por Lula colar bandeirinhas com dona Marisa, como se a cumplicidade do casal lhes causasse desconforto.
Imprensa colonizada e tola, metida a chique. Fazem lembrar “emergentes” metidos a sebo que jamais poderiam entender a beleza de um pau de sebo “arrodeado” de fitinhas coloridas. Jornalistas mais criteriosos saberiam que a devoção de Marisa pelo Santo Antônio, levado pelo presidente em estandarte nas procissões, não é aprendida, nem inventada. É legitimidade pura. Filha de um Antônio (Antônio João Casa), de família de agricultores italianos imigrantes, lombardos lá de Bérgamo, Marisa até os cinco de idade viveu num sítio com os dez irmãos, onde o avô paterno, Giovanni Casa, devotíssimo, construiu uma capela de Santo Antônio. Até hoje ela existe, está lá pra quem quiser conferir, no bairro que leva o nome da família de Marisa, Bairro dos Casa, onde antes foi o sítio de suas raízes, na periferia de São Bernardo do Campo. Os Casa, de Marisa Letícia, meus amores, foram tão imigrantes quanto os Matarazzo e outros tantos, que ajudaram a construir o Brasil.
Outro traço brasileiro dela, que acho lindo, é o prestígio às cores nacionais, sempre reverenciadas em suas roupas no Dia da Pátria. Obras de costureiros nossos, nomes brasileiros, sem os abstracionismos fashion de quem gosta de copiar a moda estrangeira. Eram os coletes de crochê, os bordados artesanais, as rendas nossas de cada dia. Isso sim é ser chique, o resto é conversa fiada.
No poder, ao lado do marido, ela claramente se empenhou em fazer bonito nas viagens, nas visitas oficiais, nas cerimônias protocolares. Qualquer olhar atento percebe que, a partir do momento em que se vestir bem passou a ser uma preocupação, Marisa Letícia evoluiu a cada dia, refinou-se, depurou o gosto, dando um olé geral em sua última aparição como primeira-dama do Brasil, na cerimônia de sábado passado, no Palácio do Planalto, quando, desculpem-me as demais, era seguramente a presença feminina mais elegante. Evoluiu no corte do cabelo, no penteado, na maquiagem e, até, nos tão criticados reparos estéticos, que a fizeram mais jovem e bonita.
Atire a primeira pedra a mulher que, em posição de grande visibilidade, não fez uma plástica, não deu uma puxadinha leve, não aplicou uma injeçãozinha básica de botox, mesmo que light, ou não recorreu aos cremes noturnos. Ora essa, façam-me o favor! Cobraram de Marisa Letícia um “trabalho social nacional”, um projeto amplo nos moldes do Comunidade Solidária de Ruth Cardoso. Pura malícia de quem queria vê-la cair na armadilha e se enrascar numa das mais difíceis, delicadas e técnicas esferas de atuação: a área social.
Inteligente, Marisa Letícia dedicou-se ao que ela sempre melhor soube fazer: ser esteio do marido, ser seu regaço, seu sossego. Escutá-lo e, se necessário, opinar. Transmitir-lhe confiança e firmeza. E isso, segundo declarações dadas por ele, ela sempre fez. Foi quem saiu às ruas em passeata, mobilizando centenas de mulheres, quando os maridos delas, sindicalistas, estavam na prisão. Foi quem costurou a primeira bandeira do PT. E, corajosa, arriscou a pele, franqueando sua casa às reuniões dos metalúrgicos, quando a ditadura proibiu os sindicatos. Foi companheira, foi amiga e leal ao marido o tempo todo.
Foi amável e cordial com todos que dela se aproximaram. Não há um único relato de episódio de arrogância ou desfeita feita por ela a alguém, como primeira-dama do país. A dona de casa que cuida do jardim, planta horta, se preocupa com a dieta do maridão e protege a família formou e forma, com Lula, um verdadeiro casal. Daqueles que, infelizmente, cada vez mais escasseiam. Este é o meu reconhecimento ao papel muito bem desempenhado por Marisa Letícia Lula da Silva nesses oito anos.
Tivesse dito tudo isso antes, eu seria chamada de bajuladora. Esperei-a deixar o poder para lhe fazer a Justiça que merece.
*Hildegard Angel é colunista social no Rio de Janeiro, filha da estilista Zuzu Angel e irmã do ex-militante político Stuart Angel Jones; trabalhou como atriz no cinema e na televisão na década de 1970, dedicou-se ao colunismo social no jornal O Globo e desde 2003 no Jornal do Brasil.




VALE A PENA LER

O que está em causa: a "ajuda" do FMI paira sobre Portugal
Depois de décadas de “ajuda ao desenvolvimento” por parte do Banco Mundial e do FMI, um sexto da população mundial vive com menos de 77 centavos por dia. O que vai acontecer a Portugal (no seguimento do que aconteceu à Grécia e à Irlanda e irá acontecer à Espanha, e talvez não fique por aí) aconteceu já a muitos países em desenvolvimento. A intervenção do FMI teve sempre o mesmo objetivo: canalizar o máximo possível do rendimento do país para o pagamento da dívida. A “solução da crise” pode bem ser a eclosão da mais grave crise social dos últimos oitenta anos. O artigo é de Boaventura de Sousa Santos.
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http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17297&boletim_id=806&componente_id=13301



“A Itália é o laboratório do totalitarismo moderno”
Crescem a xenofobia e o racismo e a debilidade cultural da Itália se expande pelo continente europeu. Trono e altar se aliaram de novo, agora de maneira distinta. Hoje assistimos a uma fusão entre mercado, fé e política, que tratam de organizar nossas vidas, manipulando o direito. Na Itália, a corrupção não só não é perseguida, como está protegida pela lei. Aboliram a transparência e os controles ordinários para poder roubar melhor. Hoje o que manda é o uso personalista e autoritário das instituições. A sociedade se decompôs, o país está se desfazendo. A política faz uso ostensivo da força, e o direito se esfarela. A análise é de Stefano Rodotà, professor de Direito Civil na Universidade de La Sapienza, Roma.
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http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17295&boletim_id=806&componente_id=13303



Dois anos depois do “progressista” Barack Obama ter sido eleito o primeiro negro presidente da história estadunidense, a maior potência mundial vê a direita crescer e se fortalecer internamente.
Confira abaixo as entrevistas concedidas ao Brasil de Fato por quatro estadunidenses: o jornalista David Swanson, a ativista Medea Benjamin, o analista político Mark Engler e o economista Mark Weisbrot
http://www.brasildefato.com.br/node/5471




Maiores responsáveis por enchentes agora se preparam para lucrar com elas
Posted: 14 Jan 2011 05:29 AM PST
Governadores e prefeitos, como sempre, acusam-se. É a regra. Ou foi o governo anterior. Ou o prefeito. Nenhum deles tem culpa de nada. Se não apontam alguém de carne e osso, culpam os céus. Foi São Pedro. Ou a chuva. Mas, não importa. Todos sabemos quem são os culpados. Eles apenas aparecem na TV para cumprir a parte que lhes cabe no jogo: dizer que farão o que já deveriam ter feito.
http://blogdomello.blogspot.com/2011/01/maiores-responsaveis-por-enchentes.html



A guerra contra os imigrantes nos EUA
As reclamações contra os imigrantes nos EUA terminam quando o garçom serve a comida, a doméstica limpa a casa e o consumidor compra alfaces baratas no supermercado. A mão de obra mexicana é fundamental para que o sistema funcione. Mas não é indispensável. Há centenas de milhares de pobres no mundo que gostariam de estar no lugar dos mexicanos. E o sistema sabe disso, utilizando e manejando esse fato segundo sua conveniência. A única "vantagem" diferencial é que os mexicanos estão perto, são disponíveis e descartáveis. O artigo é de Jorge Durand.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17301&boletim_id=808&componente_id=13322



Os sintomas de uma nova crise alimentar mundial
Os preços mundiais do arroz, do trigo, do açúcar, da cevada e da carne seguiram altos ou registraram significativos aumentos em 2011, podendo replicar a crise de 2007-2008, alerta a FAO. No final de 2010, ocorreram protestos na China pelos altos preços das refeições de estudantes. Nos primeiros dias de 2011, já ocorreram protestos na Argélia e também na Tunísia, onde protestos de rua causaram a morte de pelo menos 20 pessoas. "Estamos entrando em um terreno perigoso", alerta economista da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17300&boletim_id=808&componente_id=13323






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