quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Numero 267






Dois artigos completos no Boletim desta semana. O primeiro trata de um problema que já está se tornando crônico em nosso país, qual seja o da situação periclitante dos professores, em função das condições de trabalho cada vez mais deterioradas, seja pelos salários aviltantes, seja pela precariedade de muitos estabelecimentos e também pela relação cada vez mais conflituosa com os estudantes.
O segundo faz um balanço do Forum Social Mundial, recentemente encerrado em Dakar. Continua de pé o ideal de “um outro mundo é possível”. O encerramento deste ano coincidiu com a queda de Mubarak, no Egito, evento que, ao que tudo indica, não vai se esgotar nas fronteiras do país dos faraós. Que o diga o ditador da Libia.


Enviado pelo Guilherme Souto:
Os Professores são gente!
- Igor Vitorino da Silva

Os Professores são gente. Essa, talvez, será a grande descoberta do século do XXI no Brasil. Os homens e mulheres que optaram (ou foram jogados pelas circunstâncias) na carreira do magistério são gente. E sendo gente tem o direito comer, beber, sonhar, divertir-se, por fim, de ter uma vida digna. O seu ofício é importante para a sociedade e para o poder público, mas isso não significa que devam aceitar o mundo do sacrifício e da abnegação a que estão submetidos contemporaneamente, que pune a sua saúde mental e física.
Infelizmente, em nome da educação, principalmente dos indicadores da qualidade educacional, muitos professores tem deixado de ser gente. Convivem todos os dias com uma mentira, que são obrigados a sustentar, como numa espécie do “Se vira nos trinta” do Domingão do Faustão, de que é possível um processo ensino-aprendizagem eficiente, que leve em consideração as singularidades e potencialidades do educando, numa sala de aula superlotada, que nem mesmo permite que se lembre o nome da maioria dos seus alunos.
Em clima de muita tensão administram conflitos interpessoais e a intensa interatividade dos estudantes (gritos, brincadeiras, agressões, desrespeito). Geralmente, saem da primeira aula esgotado física e mentalmente. Essa situação de estresse intensifica-se, no caso de determinadas escolas públicas brasileiras, com o ambiente das salas de aula com ares sombrios, carteiras quebradas e sujas, ventiladores enferrujados e antigos, piso desgastado com tempo de uso, quadros que nem se deixam mais riscar de giz.
Como no espaço escolar manifestam-se grande parte dos problemas sociais que atingem o país os professores tem que dar conta da ausência do Estado e das políticas públicas, não somente na educação, mas também nas demais áreas sociais. Não é à toa que ouve-se pelos corredores das escolas que os professores de hoje são tudo, menos professores. Não conseguem mais exercitar aquilo que seria o sentido principal da sua profissão: “ensinar, educar, estimular à aprendizagem”. O negócio hoje é colocar todo mundo na escola. Não se discute se ela está preparada para receber todo mundo? Para qual escola todo mundo está sendo enviado? Quais são condições dessa recepção? Tocar nessa discussão é correr risco de ser bombardeado pelo discurso da emergência e do pragmatismo das autoridades públicas e de ser acusado de elitismo, intelectualismo, irresponsabilidade pública e idealismo.
Essa situação dramática que angustia, entristece, magoa e corrói a auto-estima dos docentes, junta-se a questão dos baixos salários, que não permite que eles deem-se “o privilégio” de ter somente um período de trabalho(20h). Como precisam viver e desejam condições de vida melhores, jogam-se na batalha da sobrevivência. Muitas vezes, fazem mais 40 horas por semana de trabalho para melhorarem a renda, fora o tempo de deslocamento até as unidades escolares, que geralmente pode ser uma grande aventura como no caso das localidades distantes das grandes cidades e nas áreas rurais.
Imagine um professor que consiga fazer 60 h de trabalho por semana em instituições que paguem em média 16 R$ h/a, multiplicado pela média de semanas (4,5), ele receberia R$ 4.320,00 R$ bruto. Para essa conquista, esse verdadeiro super-herói brasileiro, afasta-se da família, dos amigos e do lazer, permanece diariamente abarrotado de trabalho e, principalmente, sem tempo para refletir sobre sua prática profissional e (re)qualificar-se, correndo o risco num curto prazo de perder parte dos empregos que possui pela ausência de qualificação. O professor precisa estar atualizado, bem informado e qualificado propagandeia o mercado educacional, entretanto ele esquece-se que para isso é indispensável tempo e dinheiro, seres escassos na vida da maioria dos professores brasileiros.
Um médico recém-formado, muitas vezes, recusa-se em trabalhar num município qualquer por 5.711,60 (40h), pois considera pouco diante da possibilidade de receber em outro lugar R$ 8.450,00 (40h + plantões + flexibilidades de horário) ou o piso salarial, defendido pela Federação Nacional dos Médicos – Fenam, de “R$ 9.188,22(20h) [Disponível em : . Consultado em: 11.02.2011]. De onde nasce tanta diferença? Do esforço individual ou tempo estudo dos médicos? Ou dos efeitos de organização política e corporativa dos filhos Hipócrates? Dos monopólios, hierarquização e segmentação do mercado do trabalho da medicina? Então, será que só os médicos tem direito de ser gente nesse país? Esses são dilemas espinhosos que a sociedade brasileira e autoridades públicas tem esquivado-se de enfrentar.
Além de viverem esse fosso salarial, que comparado com os salários de advogados e engenheiros e funcionários do poder judiciário aprofunda-se, enfrentam em média por semana quase 45 aulas em salas superlotadas, onde levam quase metade do tempo da aula para conquistar a atenção dos estudantes, sobrando pouco minutos para ministrar o plano de aula. Haja voz e energia para aguentar essa rotina. E desse professor esgotado pelo trabalho cobra-se a participação nas atividades escolares e extra-escolares, o acompanhamento individual do aprendizado dos seus alunos, aulas criativas e sedutoras, bons resultados (alunos com notas boas), sala de aula disciplinada e obediente, diários de classe organizados e conteúdos em dia.
Não bastasse o desestímulo das condições de trabalho e dos baixos salários vive-se, também, continuamente a experiência da desconsideração social. Ser um professor feliz e que goste de lecionar, mesmo nesse contexto adversidade, é entendido como sinal de loucura ou burrice crônica. Que professor não ouviu pelas ruas: Além de professor, você o faz o que mesmo? Ou não se constrangeu com as piadas e zombarias que diminuem, desqualificam e insultam à condição de docência: “Por favor, não me sequestrem. Sou professor”. “Deus que me livre de um filho professor, não quero sustentá-lo a vida inteira”.
A escolha pela carreira de magistério, seja por pressão da circunstâncias, preferência individual ou experiência social positiva, é considerada uma opção dos derrotados, feita por àqueles que não foram o suficiente inteligentes e competentes para conquistar as vagas de engenharia, medicina e direito: “Só medíocres fazem licenciaturas”, pensam alguns setores da sociedade brasileira. O magistério é reconhecido como uma condenação, uma espécie de purgação de pecados pretéritos.
Reforçando essas imagens e práticas de depreciativas e desrespeitosas perdura-se a prática de ouvir-se por último as opiniões dos professores sobre as decisões educacionais. E quando essas são ouvidas, acabam sendo tuteladas, filtradas e inspecionadas pelos especialistas universitários à serviço da tecnocracia educacional.
Essa tecnocracia educacional continua tratando os professores, apesar de toda retórica das legislações educacionais e das orientações metodológicas e curriculares, como meros receptáculos de novas teorias e das reformas educacionais que circulam o mercado pedagógico. Continua promovendo práticas pedagógicas e administrativas que limitam a capacidade de agência dos docentes e esvaziam as suas histórias de vida e da experiências profissionais, ratificando a ideia do professor como “mero piloto de sala de aula”. “Alguns pensam e tem ideias brilhantes, os professores executam” afirmam como muito naturalidade certos “motivadores educacionais e gestores públicos”.
Além disso, as dificuldades de consolidação da gestão democrática na educação brasileira (autonomia, participação, transparência, pluralidade opinião, democracia) e a manutenção da precariedade nas relações trabalhistas (ausência de concursos, flexibilização dos contratos, enfraquecimento da fiscalização sindical, etc.) produzem contextos educacionais insalubres, marcados pelo autoritarismo, ingerência profissional e clientelismo, onde ser bom profissional significa ser simplesmente subserviente, obediente e zelador das normas do sistema do ensino, impulsionando mais desmotivação pessoal e descomprometimento profissional com prejuízos incalculáveis para as atividades escolares.
Frente a esse pequeno quadro aqui desenhado reina, ainda, um certo cinismo da sociedade e do poder público que proclamam a importância da educação e dos educadores para o desenvolvimento social e econômico, mas que elegem-se metas e propostas educacionais que desconsideram(ou minimizam) a opinião dos educadores e a precariedade das suas condições de trabalho e os baixos salários, exigindo que o sacrifício da modernização educacional seja exclusivo desses, fruto de um “desprendimento” e boa vontade” que realmente os afasta de ser gente. O reconhecimento dos professores como gente, que tem direito à vida digna, será a revolução copernicana da educação brasileira, um grandioso passo para a tão sonhada e desejada transformação da educação.
Igor Vitorino da Silva - Historiador e professor de história do Campus Nova Andradina/IFMS.

O Fórum Social Mundial 2011 em Dacar: um balanço
Entre outros temas, o FSM 2011 discutiu a crise estrutural do capitalismo global e seus efeitos catastróficos para o meio ambiente. Essa agenda alternativa passa pela realização do Fórum Social Temático em Porto Alegre, em janeiro de 2012, que já conta com o apoio do governo do Rio Grande do Sul e das prefeituras da capital e da região metropolitana.
Eduardo Mancuso
(www.cartamaior.com.br)
“Aqueles que pregavam o “fim da história” assistem hoje o movimento inevitável dessa história que acreditavam morta. É o que se vê na América do Sul, na África, mas sobretudo nas ruas de Túnis e do Cairo e de tantas outras cidades africanas onde renasce a esperança de um mundo novo.” (Lula, 7 de fevereiro, FSM 2011 -Dacar)

Assim como a alvorada do novo século surgiu em Porto Alegre (resgatando as lutas de Chiapas e Seattle) em janeiro de 2001, com o Fórum Social Mundial, a segunda década do século começa com o terremoto político e social produzido pelo levante das massas árabes por democracia, liberdade e melhores condições de vida na África do Norte e no Oriente Médio. A volta do FSM em 2011 ao continente africano, em Dacar, Senegal, reuniu mais de 50 mil ativistas de 120 países e foi do início ao fim – da Marcha de Abertura com dezenas de milhares de participantes na tarde do dia 6 de fevereiro, até a Assembléia das Assembléias encerrando as atividades no dia 11 com o relato das mais de trinta assembléias autogestionárias – uma grande celebração pela derrubada do ditador tunisiano Bem Ali, e pelo anúncio da queda do “faraó” egípcio Mubarak, aliado estratégico dos EUA e de Israel.

A convergência entre as revoluções populares na região, a dinâmica política das forças progressistas e dos movimentos sociais esteve presente desde a abertura do FSM 2011 em Dacar. Um momento emblemático ocorreu após a chegada da marcha de abertura na Universidade do Senegal (onde foi montada a Casa Brasil, espaço que permitiu intercâmbio entre a grande delegação brasileira e os demais participantes no FSM) , quando o presidente boliviano Evo Morales e o ministro Gilberto Carvalho, representante oficial da presidenta Dilma Roussef, saudaram os ativistas e movimentos presentes. Outro exemplo se deu no segundo dia, com o debate que reuniu Lula e o presidente Wade, quando as justas vaias ao dirigente senegalês que governa o país há mais de dez anos foram seguidas pela aclamação ao presidente de honra do Partido dos Trabalhadores.

Uma das principais características do FSM foi a de sempre estar marcado pela tensão política, democrática e muito produtiva, entre “a dinâmica global e a local, entre ONGs e movimentos sociais, entre institucionalização e autogestão”. Dacar 2011 mostrou a todos e todas que é exatamente essa relação dialética que pode apontar para uma estratégia comum, inovadora e potente, para enfrentarmos a crise estrutural da globalização capitalista. Como escreveu acertadamente Emir Sader: “o Fórum de Dacar foi um avanço na superação das barreiras artificiais entre forças sociais e forças políticas, entre resistência e construção de alternativas.”

Mesmo a desorganização do evento, agravada pela manutenção das aulas na Universidade (a nova direção da instituição não honrou os acordos anteriores com o comitê organizador do FSM), não impediu que centenas de redes, organizações e movimentos sociais realizassem dezenas de encontros e assembléias autogestionárias muito valiosas politicamente, no espaço do FSM ou fora, em hotéis de Dacar e até na histórica e tristemente famosa Ilha de Gorée (de onde partiram milhões de africanos escravizados para as Américas). Da periferia de Dacar, onde o prefeito socialista de Pikine recebeu mais de 1000 autoridades locais do Senegal e de todo o mundo articulada pela Rede de Cidades de Periferias (FAL-P); ou na própria capital, onde o igualmente socialista prefeito Khalifa Sall foi o anfitrião do Fórum de Autoridades Locais pela Inclusão Social e pela Democracia Participativa, surgido junto com o primeiro FSM de Porto Alegre, que contou com a presença de prefeitos petistas e com a sempre lúcida contribuição de Boaventura de Sousa Santos (além de obrigar o presidente do país a se fazer presente na cerimônia de abertura, que já tinha confirmada a participação de ministros do governo do Brasil); e também da segunda assembléia da Plataforma Internacional de Orçamentos Participativos, que reuniu as redes africanas com as do Brasil e da Colômbia, do México, da República Dominicana, da Espanha, de Portugal e da Itália, que contabilizam atualmente 1400 processos de OP no mundo.

Outro exemplo estimulante foi a Assembléia Mundial dos Habitantes, que reuniu representantes de movimentos de 70 países, na luta contra os despejos e pela construção de políticas habitacionais dignas para a população ameaçada pela especulação imobiliária. Assim como o Seminário “A busca de paradigmas de civilização e a agenda de transformação social”, organizado pelo GRAP (Grupo de Reflexão e Apoio ao Processo FSM), patrocinado pela Petrobrás, que reuniu vários integrantes do Conselho Internacional e se debruçou na sessão final sobre o “Mapa das próximas lutas: COP 17, Rio+20 e subseqüentes...”. Discutiu-se a agenda dos processos em curso diante da crise sistêmica e estrutural do capitalismo global e seus efeitos catastróficos para o meio-ambiente, assim como a construção de coalizões em torno da definição de novos horizontes para a cidadania planetária em resposta às propostas da Cúpula do Rio de Janeiro marcada para maio de 2012. Essa agenda alternativa passa pela realização do Fórum Social Temático em Porto Alegre, em janeiro próximo, que já conta com o apoio do governo do Estado do Rio Grande do Sul e das prefeituras da capital e da região metropolitana, preparando as propostas e a intervenção dos movimentos e das redes na Conferência Rio+20 em maio do ano que vem.

O encerramento do FSM 2011 de Dacar foi marcado pela Assembléia das Assembléias celebrando a vitória popular no Egito, após a renúncia de Mubarak, confirmada durante a atividade, e permitiu às várias plenárias autogestionárias relatarem suas agendas, propostas e iniciativas. O calendário de lutas destaca as mobilizações contra o G-20 na França em maio; a data de 20 de março como dia mundial de solidariedade ao levante do povo árabe e africano; a Jornada Global sobre a Palestina também no final de março; o Fórum Social na Tunísia; as ações do movimento ambientalista em paralelo à Cúpula Rio+20; a Conferência Internacional sobre o impacto da invasão norte-americana no Iraque em outubro, entre muitas outras atividades.

O debate sobre o FSM 2013 foi aberto na reunião do Conselho Mundial que sucedeu o FSM de Dacar. Foram apresentadas as candidaturas de Montreal pelas centrais sindicais canadenses, e de Porto Alegre pelo comitê gaúcho que organizou em 2010 o FSM 10 anos Grande Porto Alegre, com forte apoio institucional (do governo do Estado do Rio Grande do Sul, da Assembléia Legislativa, da Prefeitura e da Câmara de Vereadores da capital e de prefeituras do PT da região metropolitana). Também foi apresentada proposta de realizar pela primeira vez o FSM na Europa, mas ainda sem uma cidade ou região definida. A decisão sobre 2013 ficou para ser tomada na reunião do Conselho Internacional em Paris, no final de maio.

Membro da Rede do Fórum de Autoridades Locais pela Inclusão Social e a Democracia.



Brasil quer levar a ONU sua experiência de combate à fome
José Graziano da Silva pode ser o próximo diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. Na bagagem, experiência como ex-ministro de Segurança Alimentar e o combate à fome no Brasil. "O que aprendemos no governo Lula é que ninguém sai da miséria sozinho. É preciso um grande esforço de organização e de participação social. O Fome Zero não foi um programa de governo, mas de uma sociedade que tinha decidido acabar com a fome", diz Graziano em entrevista a Deutsche Welle.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17467&boletim_id=837&componente_id=13729

Wall Street contra os pobres e a classe média
O novo orçamento de Obama é uma continuação da guerra de classe da Wall Street contra os pobres e as camadas médias. As oligarquias dominantes atacaram novamente, desta vez através do orçamento federal. O governo dos EUA tem um enorme orçamento militar e de segurança. Ele é tão grande quanto os orçamentos do resto do mundo somados. Os orçamentos do Pentágono, da CIA e da Segurança Interna representam US$1,1 trilhão do déficit federal que a administração Obama prevê para o ano fiscal de 2012. O artigo é de Paul Craig Roberts.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17466&boletim_id=837&componente_id=13730



Um vídeo tem se espalhado pela internet ultimamente. Postado no Youtube, mostra um ex-combatente norte-americano que esteve no Iraque e que anda, agora, denunciando o que viu.
Assista aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=JFOmnAjk1EQ&feature=PlayList&p=5E876630D2BF32



No portal IG, vários artigos compõem um painel do ensino médio no Brasil, concluindo que ele afasta o aluno da escola. Confira aqui:
http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/ensino+medio+afasta+aluno+da+escola/n1238085086879.html



Prezados colegas,
Estamos organizando uma edição especial de História, Ciências, Saúde – Manguinhos sobre Saúde no contexto da escravidão e pós-emancipação. Especialistas em história da escravidão e estudiosos da história da saúde vêm contribuindo para o fortalecimento dessa área, daí a importância de veicularmos resultados de pesquisas com diferentes abordagens. Os estudos concernentes à saúde de escravos e ex-escravos compreendem vasto espectro de objetos como circulação de doenças; tráfico e suas relações com mortalidade e morbidade; discursos médicos; artes de curar e assistência em zonas urbanas e nas senzalas e plantations; alimentação; manuais médicos e escravidão; amamentação e parto entre escravos.
O prazo para submissão de artigos é julho de 2011.

História, Ciências, Saúde — Manguinhos é publicada pela Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz. Trimestral, tem versão impressa e eletrônica, esta disponível na SciELO (www.scielo.br/hcsm) e em www.coc.fiocruz.br/hscience.
Veicula textos inéditos em português, inglês e espanhol, uma vez aprovados pelo Conselho Editorial e por pareceristas ad hoc. Tem seções dedicadas a artigos e ensaios originais, notas de pesquisa, documentos relevantes para estudos históricos, imagens, entrevistas, debates e resenhas de livros e filmes. Classificada como A1, na área de história no Sistema Qualis/Capes, que avalia cursos de pós-graduação e revistas científicas, é indexada em bases de dados no Brasil e no exterior.



Stefan Cunha Ujvari, homem de ciência reconhecido, médico infectologista e autor de A história da humanidade contada pelos vírus, lança Pandemias: a humanidade em risco.
E ninguém melhor do que o conhecido médico e escritor Dráuzio Varella para comentar sobre o livro, em texto para a quarta capa:
“Comecei a ler este livro e não consegui parar. Já li e havia gostado dos anteriores de Stefan Cunha, sempre interessado na história das doenças infecciosas que nos afligem desde os primórdios da civilização, mas este mostra o escritor na maturidade.

Em linguagem claríssima e objetiva, Stefan faz uma análise criteriosa dos germes que poderão causar as futuras epidemias, num estilo que combina a precisão científica do infectologista competente com a do contador de histórias que volta e meia mergulha no passado em busca de acontecimentos que sirvam de lição para o futuro.

Quando terminei a leitura fiquei com a sensação de que havia entendido melhor a história do homem na Terra.”
O livro já está em pré-venda. Aproveite!





Fotografias da coleção pessoal de D. Pedro II
Trata-se da coleção de fotos de D. Pedro II que retrata não só sua família, mas como também o mundo do séc. XIX. Trata-se da Collecção D. Thereza Christina Maria que foi doada em testamento, tratando-se da maior doação já recebida pela Biblioteca Nacional em toda sua história. É registrado pela UNESCO no Programa Memória do Mundo, como patrimônio da humanidade e com certeza vale uma visita.
Como resultado, estão disponíveis as fotografias digitalizadas, acompanhadas por pesquisa histórica e descrição bibliográfica completa, possibilitando aos pesquisadores uma visão abrangente e pormenorizada desta preciosa coleção.Desta forma a Biblioteca Nacional, cumpre sua missão de garantir a disseminação do conhecimento divulgando seu vasto acervo e contribuindo para a preservação da memória nacional.
Boa navegação pela nossa história!!!
http://bndigital.bn.br/projetos/terezacristina/galeria.htm

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Numero 266





Peço desculpas pelo atraso e pelo pequeno tamanho do Boletim de hoje, mas problemas particulares me impediram de colocá-lo no ar ontem e o tamanho se deve ao fato de que não se falou quase nada de outro tema nesta semana que não fosse o Oriente Médio.

Por que uma nova crise financeira é certa
A regulação se estabelece para assegurar que o sistema funcione adequadamente e para proteger as pessoas contra fraudes. Mas a atividade bancária é mais lucrativa quando não há regras, razão pela qual os líderes do setor e seus grupos de pressão seguem tentando impedir os esforços para introduzir reformas. E, em geral, tem conseguido. Os bancos seguem concedendo hipotecas a pessoas desempregadas com alta possibilidade de inadimplência, da mesma forma que faziam antes da crise. Obama sabe onde está o problema, mas também sabe que não será reeleito sem o apoio de Wall Street. É uma questão tempo até que haja outro crack. O artigo é de Mike Whitney.
Mike Whitney – SinPermiso (publicado em www.cartamaior.com.br)
No dia 9 de agosto de 2007, houve um episódio em um banco francês que desencadeou uma crise financeira que acabaria dissolvendo mais de 30 trilhões de dólares em capital, envolvendo o planeta na maior recessão desde os tempos da Grande Depressão. O evento em questão foi descrito em um discurso do diretor executivo da Pimco (administradora de fundos de investimento), Paul McCulley, na 19° edição da Annual Hyman Minsky Conference on the State of the U.S. and World Economies (Conferência Anual Hyman Minsky sobre o estado das economias dos EUA e do mundo).

Eis um trecho da exposição de McCulley:

“Se tivesse que escolher um dia para assinalar o Momento Minsky, seria o 9 de agosto de 2007. E, de fato, não ocorreu aqui nos EUA. Ocorreu na França, quando o Paribas Bank (BNP) disse que não podia valorar os pacotes de ativos hipotecários tóxicos em três de seus produtos de investimento fora de balanço, e que, em função disso, os investidores, que acreditavam poder sair a qualquer momento, estavam presos. Lembro desse dia tão bem quanto do aniversário do meu filho. E este último ocorre uma vez por ano. Porque o desastre em cadeia começou neste dia. Foi um pouco mais tarde, neste mesmo mês, que cunhei o termo “Sistema Bancário paralelo” durante o simpósio anual do Federal Reserve, em Jackson Hole. Era só o segundo ano que eu assistia ao simpósio. Estava um pouco sobressaltado e basicamente me dediquei a escutar a maior parte dos três dias. Ao final, me levantei e (parafraseando) disse: o que está ocorrendo é bem simples. Temos uma fuga no Sistema Bancário Paralelo e a única dúvida é o quão rápido ela vai se retroalimentar a medida que seus ativos e suas obrigações vão regressando aos balanços do sistema bancário convencional”.

O BNP estava realizando atividades de intermediação creditícia, ou seja, trocava ativos que se constituíam com garantias de pacotes hipotecários (MBS, em sua sigla em inglês) por empréstimos de curto prazo nos mercados de derivativos. Soa tudo muito complicado, mas não é algo distinto do que fazem os bancos quando tomam os depósitos de seus clientes e os investem em ativos de longo prazo. A única diferença neste caso é que estas atividades não estavam reguladas, de modo que não havia nenhum órgão governamental encarregado de determinar a qualidade dos empréstimos ou assegurar que as distintas entidades financeiras estavam suficientemente capitalizadas para cobrir eventuais perdas. Esta falta de regulação acabou por gerar consequências catastróficas para a economia mundial.

Passou quase todo um ano desde que o calote das hipotecas subprime começasse a se propagar em massa, até que o mercado secundário (onde se trocam estes ativos “tóxicos”) colapsou. O problema era simples: ninguém sabia se essas hipotecas eram ou não seguras, de modo que era impossível fixar um preço para os ativos. Isso criou o que o professor de Yale, Gary Gorton chama um problema de e. coli (nome genérico para as bactérias que produzem enfermidades como a salmonela), ou seja, ainda que só uma pequena quantidade de carne seja contaminada, milhões de libras em hamburguers têm que ser retirados do mercado. A mesma regra se aplica aos MBS. Ninguém sabia quais delas continham os maus empréstimos. Assim, o mercado inteiro foi paralisado e trilhões de dólares em garantias começaram a perder valor.

As subprime foram a faísca que acendeu o fogo, mas o mercado das subprime não era suficientemente grande para atingir todo o sistema financeiro. Isso exigir tremores no sistema bancário paralelo. Eis um trecho de um artigo de Nomi Prins que fala de quanto dinheiro está envolvido aqui:

“Entre o ano de 2002 e o início de 2008, aproximadamente 1,4 trilhões de dólares em hipotecas subprime correspondiam a emprestadores que tinham quebrado como New Century Financial. Se esses empréstimos fossem nosso único problema, no papel a solução poderia ter sido que o governo subsidiasse essas hipotecas até um custo máximo destes 1,4 trilhões de dólares. No entanto, e segundo Thomson Reuters, outros 14 trilhões de dólares em produtos financeiros complexos se criaram a partir dessas hipotecas, precisamente porque os fundos de investimento estimularam tanto sua produção quanto sua dispersão. Desde modo, quando se chegou ao máximo de desembolso público em julho de 2009, o governo tinha sido obrigado a gastar 17,5 trilhões de dólares para sustentar a pirâmide de Ponzi de Wall Street, ao invés dos iniciais 1,4 trilhões (Shadow Banking, Nomi Prins,The American Prospect)”.

O sistema bancário paralelo foi criado para que as grandes instituições financeiras que dispunham de muita liquidez tivessem algum lugar onde colocar seu dinheiro no curto prazo com a máxima rentabilidade. Por exemplo, digamos que a Intel tem “sobrando” 25 bilhões de dólares. Pode entregar o dinheiro a um intermediário financeiro como Morgan Stanley em troca de uma garantia (os MBS ou os ABS), e obter em troca um rendimento razoável por seu empréstimo. Mas se aparece algum tipo de problema e se questiona a qualidade da garantia, então os bancos (neste caso, o Morgan Stanley) se vê forçado a realizar cortes e mais cortes que podem acabar colapsando o sistema inteiro. Isso é o que aconteceu no verão de 2007. Os investidores descobriram que muitas das subprimes eram fraudulentas, de modo que bilhões de dólares foram retirados rapidamente dos mercados financeiros e o Federal Reserve teve que intervir para evitar que o sistema entrasse em colapso.

A regulação se estabelece para assegurar que o sistema funcione adequadamente e para proteger as pessoas contra fraudes. Mas a atividade bancária é mais lucrativa quando não há regras, razão pela qual os líderes do setor e seus grupos de pressão seguem tentando impedir os esforços para introduzir reformas. E, em geral, tem conseguido. A lei Dodd-Frank (de reforma do sistema financeiro) está repleta de lacunas e não resolve realmente os problemas cruciais da qualidade dos empréstimos, da disponibilidade de capital e da diminuição dos riscos. Os bancos seguem podendo conceder tranquilamente hipotecas a pessoas desempregadas com muitas possibilidades de não poder pagá-las, da mesma forma que faziam antes da crise. E seguem utilizando-as para produzir complexos instrumentos de dívida sem manter nem sequer 5% do valor original do empréstimo (esta questão segue em disputa, de fato). Além disso, as agências governamentais não poderão forçar as instituições financeiras a incrementar sua capitalização apesar de seguir existindo o perigo de que uma pequena turbulência no mercado possa quebrá-las, colocando em sério perigo o resto do sistema. Wall Street saiu ganhando de novo e agora a oportunidade para um novo impulso regulador já passou.

O presidente Barack Obama entende onde radica o problema, mas também sabe que não será reeleito sem o apoio de Wall Street. É por isso que há apenas duas semanas prometeu no Wall Street Journal que seguiria reduzindo a “gravosa” regulação que afeta a Wall Street. Sua coluna tratava de antecipar-se à publicação do informe final da Comissão de Investigação da Crise Financeira (FCIC, Financial Crisis Inquiry Commission), que possivelmente fará recomendações em defesa da regulação pública do setor. Obama torpedeou esse esforço ao ser colocar ao lado da grande finança. Agora é uma questão tempo até que haja outro crack.

Este é um trecho de um informe especial do Banco Federal de Nova York sobre o sistema bancário paralelo:

“Na véspera da crise financeira, o volume de crédito intermediado pelo sistema bancário paralelo era próximo aos 20 trilhões de dólares, ou seja, quase o dobro dos 11 trilhões que o sistema bancário tradicional intermediava. Hoje, essas mesmas cifras são de 16 trilhões e 13 trilhões, respectivamente. A debilidade dos administradores de fundos não surpreende quando só se dispõe de muito pouco capital para respaldar suas carteiras de ativos e, em troca, os investidores têm tolerância zero em relação às perdas (“Shadow Banking”, Federal Reserve Bank of New York Staff Report)”.

Assim que, quando o Lehman Brothers se desintegrou, entre 4 e 7 trilhões de dólares simplesmente viraram fumaça. Quantos milhões de empregos foram perdidos em função de uma má regulação? Quando se reduziu o PIB, a produtividade e a riqueza nacional? Quantas pessoas vivem agora dos cheques de alimentação estatais, ou dormem ao relento, ou tratam de evitar a falência de seus negócios porque algumas instituições financeiras desreguladas puderam dedicar-se à intermediação do mercado de crédito sem que o governo as supervisionasse?

Ironicamente, o Federal Reserve de Nova York nem sequer tenta negar a origem do problema: a desregulação. Eis o que dizem em seu informe: “Manejar a regulação foi a razão última da existência de muitos bancos no sistema paralelo”. O que isso quer dizer. Quer dizer que Wall Street sabe perfeitamente que é mais fácil ganhar dinheiro sem regras...as mesmas regras que protegem o público da depredação por parte de especuladores e gananciosos.

A única forma de arrumar o sistema é submeter à necessária regulação a qualquer instituição que atue como um banco. Sem exceções.

(*) Mike Whitney é um analista político independente que vive no estado de Washington e colabora regularmente com a revista norteamericana
CounterPunch.
Tradução: Katarina Peixoto


A morte da Europa Social
A história da Europa dependerá de como ela lidará com esta crise; se segue o curso pacífico do benefício mútuo e prosperidade econômica tão apreciados nos manuais de ciência econômica, ou se segue a espiral baixista da austeridade, que tanto tem tornado impopulares os planejadores do FMI, nas economias devedoras. É nesse barco que a Europa embarcará? Esse é o destino do projeto de uma Europa social, de Jacques Delors? É isso o que os cidadãos da Europa esperavam, quando adotaram o euro? Há uma alternativa, nem é preciso dizer. É que os credores do cume da pirâmide econômica arquem com as perdas. O artigo é de Michael Hudson e Jeffrey Sommers.
Michael Hudson e Jeffrey Sommers - SinPermiso
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17443&boletim_id=833&componente_id=13654




A questão do oriente Médio, particularmente do Egito, ainda está de pé. Não vou colocar nenhum artigo a mais aqui no boletim, mas vou remete-los a um Especial da Agencia Carta Maior, com dezenas de artigos a respeito.
Leia aqui:
http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm
E a esta charge do Maringoni, extraída deste mesmo Especial.




O que levar em conta na hora de fazer um trabalho científico? Quais são os formatos utilizados em artigos, monografias, dissertações e teses? Depois de responder muitas vezes a essas questões, o professor Celso Ferrarezi Junior decidiu colocar as respostas em um manual didático. Assim, este Guia do trabalho científico traz todas as informações necessárias para a elaboração de trabalhos finais de boa qualidade.

Com instruções claras sobre a melhor maneira de elaborar e apresentar um texto acadêmico, desde o projeto inicial até a redação final no formato esperado pela instituição, o livro traz exemplos retirados de trabalhos reais, elaborados nas mais diversas áreas de pesquisa e aprovados em renomadas instituições brasileiras.
A obra é uma poderosa aliada a todos que precisam elaborar um trabalho científico, desde a conclusão de curso até o doutorado.

Editora: Contexto - Nº de Páginas: 160 R$ 25,00




Historiadores de nosso tempo, organizada por Marcos Lopes e Sidney Munhoz.
“Muito interessante e das mais oportunas é a idéia de uma coletânea de estudos sobre historiadores estrangeiros já bastante conhecidos entre nós. (...) Oportuna, esta iniciativa
coloca ao alcance do leitor, sobretudo docentes e alunos dos cursos de Ciências Humanas em geral, e de História, em particular, textos fundamentais da historiografia contemporânea, isto é, autores e obras que constituem verdadeiros marcos no campo da escrita da História ao longo
do último meio século.
(...)” (Trecho da Apresentação, por Francisco José Calazans Falcon).

“Obra oportuna e excelente: eis o que devo dizer, antes de tudo, acerca do livro Historiadores de nosso tempo (...). A obra reúne ensaios de historiadores brasileiros sobre dezesseis historiadores estrangeiros que marcaram decisivamente a historiografia ocidental nos últimos 40 anos.
Cada ensaio traça a biografia de cada autor em conexão com sua obra, considerada no sentido o mais amplo possível, não se restringindo a tal ou qual livro emblemático. Tem-se, assim, um panorama do percurso de cada historiador, incluindo as mudanças de perspectiva ou de interesse temático, segundo o andar da historiografia, da vida pessoal de cada um e, certamente, da própria história”.
(Trecho do Prefácio, por Ronaldo Vainfas).
Apresentação –– FRANCISCO JOSÉ CALAZANS FALCON
Prefácio –– RONALDO VAINFAS
Carlo Ginzburg –– HENRIQUE ESPADA LIMA
Edward Palmer Thompson –– RICARDO MULLER/SIDNEI MUNHOZ
Emmanuel Le Roy Ladurie –– ESTEVÃO DE REZENDE MARTINS
Eric Hobsbawm –– MARCOS LOBATO MARTINS
Eugene D. Genovese –– DOUGLAS C. LIBBY/EDUARDO F. PAIVA
Georges Duby –– FELIPE FABRI
Jacques Le Goff –– ANDRÉA FRAZÃO/LEILA R. DA SILVA
Jean Delumeau –– GERALDO PIERONI
Jean-Pierre Vernant –– FÁBIO DUARTE JOLY
Michelle Perrot –– RACHEL SOIHET
Natalie Zemon Davis –– JACQUELINE HERMANN
Peter Burke –– JOSÉ D’ASSUNÇÃO BARROS
Phillipe Ariès –– SHEILA DE CASTRO FARIA
Quentin Skinner –– MARCOS ANTÔNIO LOPES
Robert Darnton –– TEREZA CRISTINA KIRSCHNER
Roger Chartier –– HELENICE RODRIGUES DA SILVA


Uma mensagem a todos os membros de Cafe Historia
O Café História segue em seu especial "Ditaduras Militares na América do Sul". Desta vez, publicamos um artigo sobre o museu que está enfrentando de frente a dura memória do regime autoritário de Augusto Pinochet. Confira:


MISCELÂNEA CAFÉ HISTÓRIA

O Museu da Memória

O maior museu sobre uma ditadura militar sul-americana, o "Museo de La Memoria y Los Derechos Huamanos", faz do Chile um pioneiro enfrentamento de uma das memórias mais tristes da história recente do país.

ENQUETE CAFÉ HISTÓRIA

Você acredita que o governo Dilma Rousseff vai avançar na abertura de arquivos da Ditadura Militar Brasileira?

CONTEÚDO DA SEMANA

Esta semana, o destaque fica com o Grupo de Estudos "Nélson Rodrigues", criado por Leandro Santos. A proposta deste grupo é debater assuntos recorrentes ao dramaturgo que implantou o modernismo no teatro brasileiro, suas peças, novelas, contos e todo o seu universo ficcional, além de suas repercussões na sociedade.

DOCUMENTO HISTÓRICO

Capa histórica da revista americana Time, 19 de junho de 1989. Nesta edição, uma cobertura completa sobre as manifestações populares que aconteciam na China.

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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Numero 265



O tema do Oriente Médio, particularmente o Egito, ainda merece nossa atenção. Mais alguns artigos que selecionei podem nos ajudar a compreender melhor o que está ocorrendo naquele país e a preocupação dos Estados Unidos com a possível democratização do Egito. Mas, interessante, não são exatamente os governos norte-americanos os que mais se empenham em que a democracia se torne vitoriosa? Por que agora este receio? Eles não deveriam estar aplaudindo os egípcios que querem derrubar uma ditadura?
Ah...sim... existem ditaduras e ditabrandas... claro.. claro...


Permitam-me mais um comercial. Já está nas livrarias a segunda edição do Historia de Minas Gerais, escrito por mim e pela mestra Helena Guimarães Campos. A obra traz uma síntese histórica, ou seja, se propõe a reconstruir a trajetória de Minas Gerais do período em que seu território foi originalmente ocupado até a atualidade.




Nesta segunda edição, o texto foi convertido para a nova ortografia e os dados demográficos atualizados com os resultados do censo de 2010.
Bem, vamos aos artigos sobre o Oriente Médio. O primeiro foi gentilmente enviado por Ana Cláudia . O segundo foi publicado pela Agencia Carta Maior. Os demais são links para outros artigos, de igual importância, mas cuja reprodução aqui levaria o boletim a um tamanho absurdo.
Chamo a atenção, ainda, para as duas contribuições do Guilherme Souto, sobre educação.

Uma revolução da paz, a solução para o Oriente Médio
Por Uri Avnery, Gush Shalon (Bloco da Paz], Israel Tradução Coletivo Vila Vudu

Estamos passando por evento geológico. Terremoto de vastíssimas dimensões está mudando a paisagem do Oriente Médio. Montanhas convertem-se em vales, ilhas emergem do mar, vulcões cobrem de lava a terra.

As pessoas temem mudanças. Quando acontecem, tendem a negar, ignorar, fingir que nada de importante estaria acontecendo.

Os israelenses não fogem a essa regra. Enquanto no vizinho Egito têm lugar eventos que mudam a face da terra, Israel está absorvida num escândalo no alto comando do Exército. O ministro da Defesa detesta o atual comandante do estado-maior e não faz segredo. O novo chefe presuntivo foi denunciado como mentiroso e a nomeação foi cancelada. É o que se vê nas manchetes.

Mas o que está acontecendo no Egito mudará a vida de todos em Israel.

Como sempre, ninguém anteviu coisa alguma. O tão incensado e temido Mossad foi colhido de surpresa, como também a CIA e todos os demais serviços secretos do gênero.

Pois qualquer um poderia prever que aconteceria o que aconteceu – exceto talvez a incrível força da irrupção. Nos últimos poucos anos, temos dito várias vezes nessa coluna, que em todo o mundo árabe multidões de jovens estão chegando à idade adulta tomados por profundo desprezo por seus líderes, e que, mais cedo ou mais tarde, esse desprezo geraria um levante. Não são profecias, mas simples análise atenta das probabilidades.

O torvelinho no Egito foi causado por fatores econômicos: a carestia, a miséria, o desemprego, a nenhuma esperança entre os jovens saídos das universidades. Mas que ninguém se engane: há causas muito mais profundas, que se podem resumir numa palavra: a Palestina.

Na cultura árabe, nada é mais importante que a honra. As pessoas sabem sobreviver à miséria, mas não admitem ser humilhadas.

E o que todos os jovens árabes viam, do Marrocos a Omã, todos os dias, é sempre os seus respectivos líderes políticos deixando-se humilhar, se auto-humilhando, traindo os irmãos palestinos para obter algum favor a mais, um pouco mais de dinheiro, dos EUA; colaborando com a ocupação israelense, curvando-se aos novos colonizadores. É humilhação profunda para os jovens árabes criados à luz das conquistas da cultura árabe em tempos passados e das glórias dos antigos califas.

Em nenhum outro ponto do Oriente Médio essa desonra era mais visível que no Egito, que declaradamente colaborava com os governos israelenses, impondo o escandaloso bloqueio contra a Faixa de Gaza, que condenava 1,5 milhões de árabes à fome e à miséria. Jamais foi bloqueio só israelense. Não haveria bloqueio sem a colaboração do Egito. Sempre foi bloqueio israelense-egípcio, lubrificado anualmente por 1,5 bilhão de dólares dos EUA.

Já pensei várias vezes – e várias vezes disse e escrevi – sobre como me sentiria se tivesse 15 anos e vivesse em Alexandria, Amã ou Aleppo, vendo os políticos agir como servos abjetos dos EUA e de Israel, ao mesmo tempo em que oprimem e torturam os próprios cidadãos. Aos 15 anos, eu próprio alistei-me numa organização terrorista. Por que qualquer jovem árabe faria diferente?

É possível tolerar-se um ditador, se ele manifesta a dignidade nacional. Mas ditador que manifeste a vergonha nacional é como árvore sem raízes – qualquer vento mais forte a derruba.

Para mim, a única dúvida sempre foi em que ponto o mundo árabe começaria a agitar-se. O Egito – e a Tunísia – não era o primeiro da minha lista. E, contudo, aí está: a grande revolução árabe acontecendo no Egito.

São perfeitas maravilhas. Se a Tunísia foi pequena maravilha, a revolução dos egípcios é maravilha gigante.

Sempre amei os egípcios. Claro que não se pode amar igualmente 88 milhões de indivíduos, mas pode-se, sim, gostar mais de um povo que de outro. Alguma generalização se permite.

Os egípcios que se veem nas ruas, com quem se fala na casa de intelectuais e nas vielas mais pobres dentre as mais pobres sempre me pareceram inacreditavelmente tolerantes. São dotados de senso de humor que ninguém consegue esconder. E orgulham-se imensamente dos seus 8.000 anos de história.

Do ponto de vista de um israelense, já habituado à agressividade dos israelenses, a quase total ausência de agressividade dos egípcios é sempre surpreendente. Lembro claramente de uma cena: estava num táxi no Cairo, que bateu noutro táxi, no trânsito. Os dois motoristas saltaram dos respectivos veículos e puseram a gritar ameaças, as mais terríveis, um contra o outro. De repente, pararam e puseram-se a rir, às gargalhadas.

Um ocidental que chegue ao Egito, ou ama ou odeia. No instante em que se põe os pés no Egito, o tempo já não é o tirano que o Ocidente conhece. Tudo deixa de ser tão urgente, tudo é mais lento, mas, como que por milagre, tudo sempre toma jeito. A paciência dos egípcios parece sem limites. É traço que pode iludir ditadores, porque paciência é coisa que, de repente, acaba.

É como uma represa, num rio. A água sobe sem que ninguém veja, silenciosamente, imperceptivelmente – mas se ultrapassa o limite crítico, e a represa não a contém, a água explode e varre tudo o que encontrar pela frente.

Meu primeiro encontro com o Egito foi embriagador. Depois da surpreendente visita de Anwar Sadat a Jerusalém, viajei imediatamente para o Cairo. Não tinha visto. Jamais esquecerei o momento em que apresentei meu passaporte israelense ao funcionário do aeroporto. Ele folheou e folheou o passaporte, cada vez mais intrigado – e de repente levantou a cabeça e abriu um sorriso. Disse “marhaba”, bem vindo. Naquele momento éramos só três israelenses naquela enorme cidade, e fomos tratados como reis, como se, a qualquer momento, alguém nos fosse levantar sobre os ombros, em triunfo. A paz estava no ar, e as multidões egípcias riam de prazer.

Mas apenas poucos meses depois, tudo mudou profundamente. Sadat esperava – creio que sinceramente – que a paz implicaria libertação também para os palestinos. Sob intensa pressão de Menachem Begin e Jimmy Carter, aceitou uma declaração em termos vagos sobre os palestinos. Rapidamente Sadat percebeu que Begin nem sonhava cumprir o que prometera. Para Begin, o acordo de paz com o Egito só lhe interessava com paz em separado, que lhe permitiria concentrar-se na guerra contra os Palestinos.

Os egípcios – começando pela elite cultural e chegando às massas – jamais perdoaram essa traição dos israelenses. Sentiram-se enganados. Amem ou não amem os palestinos – nada é mais vergonhoso na tradição árabe que trair parente pobre. Ver Hosni Mubarak colaborar nessa traição levou muitos egípcios a desprezá-lo. Esse desprezo existe em cada movimento do que se viu acontecer semana passada. Conscientemente e inconscientemente, os milhões que gritam “Mubarak fora!” ecoam esse desprezo.

Em todas as revoluções há um “momento Yeltsin”. As colunas de tanques foram mandadas para a capital para reafirmar a ditadura. No momento crítico, as massas enfrentam os soldados. Se os soldados recusam-se a atirar, o jogo terminou. Yeltsin subiu num dos tanques, ElBaradei falou às massas na Praça Tahrir. É o momento em que qualquer ditador prudente parte, como fez o Xá e, agora, também o chefete tunisiano.

Depois, há o “momento Berlim”, quando o regime desaba e ninguém, no poder, sabe o que fazer, e só as massas anônimas parecem ver com clareza o que querem: em Berlim, queriam derrubar o Muro.

E vem o “momento Ceausescu”. O ditador vai ao balcão e fala à multidão, e, das ruas, sobe um coro de “Abaixo o tirano!”. Por um instante, o ditador fica sem ter o que dizer, movendo os lábios sem que ninguém o ouça. Depois, desaparece. De certo modo, já aconteceu a Mubarak, que fez discurso ridículo, tentando conter a maré.

Se Mubarak perdeu o contato com a realidade, o mesmo se pode dizer de Binyamin Netanyahu. Ele e seus colegas parecem incapazes de ver o significado terrível desses eventos, para Israel.

Quando o Egito se move, o mundo árabe move-se com ele. O que quer que aconteça no futuro imediato no Egito – democracia ou ditadura militar – é questão de (pouco) tempo antes do fim das ditaduras em todo o mundo árabe, e as massas modelarão uma nova realidade, sem generais.

Tudo que os governos de Israel fizeram nos últimos 44 anos de ocupação ou 63 anos de existência vai ficando obsoleto. Estamos diante de realidade nova. Israel pode ignorá-la – insistir que Israel ainda seria “uma villa na selva”, na famosa fórmula de Ehud Barak – ou poderá descobrir o lugar que adequado que caiba a Israel na nova realidade.

A paz com os palestinos deixou de ser artigo de luxo. Hoje, é absoluta necessidade. Paz agora, paz rápida, paz já.

Paz com os palestinos e, depois, paz com as massas democratizantes em todo o mundo árabe, paz com as forças islâmicas racionais (como o Hamás e a Fraternidade Muçulmana, absolutamente diferentes da al-Qaeda), paz com as novas lideranças políticas que brotarão no Egito e por toda parte.

Tunísia, Egito, Marrocos...Essas “ditaduras amigas”
Os nossos meios de comunicação e jornalistas não insistiram durante décadas que esses dois “países amigos”, Tunísia e Egito, eram “Estados moderados”? A horrível palavra “ditadura” não estava exclusivamente reservada no mundo árabe muçulmano (depois da destruição da “espantosa tirania” de Saddam Hussein no Iraque) ao regime iraniano? Como? Havia então outras ditaduras na região? E isso foi ocultado pelos meios de comunicação de nossa exemplar democracia? O artigo é Ignacio Ramonet. (www.cartamaior.com.br)

Uma ditadura na Tunísia? No Egito, uma ditadura? Vendo os meios de comunicação se esbaldarem com a palavra “ditadura” aplicada a Tunísia de Bem Alí e ao Egito de Moubarak, os franceses devem estar se perguntando se entenderam ou leram bem. Esses mesmos meios de comunicação e esses mesmos jornalistas não insistiram durante décadas que esses dois “países amigos” eram “Estados moderados”? A horrível palavra “ditadura” não estava exclusivamente reservada no mundo árabe muçulmano (depois da destruição da “espantosa tirania” de Saddam Hussein no Iraque) ao regime iraniano? Como? Havia então outras ditaduras na região? E isso foi ocultado pelos meios de comunicação de nossa exemplar democracia? Eis aqui, em todo caso, um primeiro abrir de olhos que devemos ao rebelde povo da Tunísia. Sua prodigiosa vitória liberou os europeus da “retórica hipócrita de ocultamento” em vigor em nossas chancelarias e em nossa mídia. Obrigados a tirar a máscara, simulam descobrir o que sabíamos há algum tempo (1), a saber, que as “ditaduras amigas” não são mais do que isso: regimes de opressão.

Sobre esse assunto, os meios de comunicação não têm feito outra coisa do que seguir a “linha oficial”: fechar os olhos ou olhar para o outro lado confirmando a ideia de que a imprensa só é livre em relação aos fracos e aos povos isolados. Por acaso Nicolás Sarkozy não teve a altivez de assegurar que na Tunísia “havia uma desesperança, um sofrimento, um sentimento de angústia que, precisamos reconhecer, não havíamos apreciado em sua justa medida”, ao se referir ao sistema mafioso do clã Ben Alí-Trabelsi?

“Não havíamos apreciado em sua justa medida...” Em 23 anos...Apesar de contar, neste país, com serviços diplomáticos mais prolíficos que os de qualquer outro país...Apesar da colaboração em todos os setores da segurança (polícia, inteligência...) (2). Apesar das estâncias regulares de altos responsáveis políticos e midiáticos que estabeleciam ali descomplexadamente seus locais de veraneio...Apesar da existência na França de dirigentes exilados da oposição tunisiana, mantidos marginalizados como pesteados pelas autoridades francesas e com acesso proibido durante décadas aos grandes meios de comunicação... Democracia ruinosa...

Na realidade, esses regimes autoritários foram (e seguem sendo) protegidos de modo complacente pelas democracias europeias, que desprezaram seus próprios valores sob o pretexto de que constituíam baluartes contra o islamismo radical (3). O mesmo argumento cínico usado pelo Ocidente durante a Guerra Fria para apoiar ditaduras militares na Europa (Espanha, Portugal, Grécia e Turquia) e na América Latina, pretendendo impedir a chegada do comunismo ao poder.

Que formidável lição das sociedades árabes revolucionárias aqueles que, na Europa, os descreviam em termos maniqueístas, ou seja, como massas dóceis submetidas a tiranos orientais corruptos ou como multidões histéricas possuídas pelo fanatismo religioso. E agora, de repente, elas surgem nas telas de nossos computadores e televisores (conferir o admirável trabalho da Al-Jazeera), preocupadas com o progresso social, não obcecadas pela questão religiosa, sedentas de liberdade, cansadas da corrupção, detestando as desigualdades e reclamando democracia para todos, sem exclusões.

Longes das caricaturas binárias, esses povos não constituem de modo algum uma espécie de “exceção árabe”, mas sim se assemelham em suas aspirações políticas ao resto das ilustradas sociedades urbanas modernas. Um terço dos tunisianos e quase um quarto dos egípcios navegam regularmente pela internet. Como afirma Moulay Hicham El Alaoui: “Os novos movimentos já não estão marcados pelos velhos antagonismos como anti-imperialismo, anticolonialismo ou antisecularismo. As manifestações na Tunísia e no Egito são, até aqui, desprovidas de todo simbolismo religioso. Constituem uma ruptura geracional que refuta a tese do excepcionalismo árabe. Além disso, esses movimentos são animados pelas novas metodologias de comunicação da internet. Eles propõem uma nova versão da sociedade civil, onde o rechaço ao autoritarismo anda de mãos dadas com o rechaço à corrupção” (4).

Especialmente graças às redes sociais digitais, as sociedades da Tunísia e do Egito se mobilizaram com grande rapidez e puderam desestabilizar o poder em tempo recorde. Ainda antes de os movimentos terem a oportunidade de “amadurecer” e favorecer a emergência de novos dirigentes entre eles. É uma das raras ocasiões onde, sem líderes, sem organizações dirigentes e sem programa, a simples dinâmica da exasperação das massas bastou para conseguir o triunfo da revolução. Trata-se de um momento frágil e, sem dúvida, as grandes potências já estão trabalhando, especialmente no Egito, para que “tudo mude sem que nada mude”, segundo o velho adágio de O Leopardo. Esses povos que conquistaram sua liberdade devem lembrar a advertência de Balzac: “Se matará a imprensa assim como se mata um povo, outorgando-lhe a liberdade” (5). Nas “democracias vigiadas” é muito mais fácil domesticar legitimamente um povo do que nas antigas ditaduras. Mas isso não justifica sua manutenção. Nem deve ofuscar o ardor de derrubar uma tirania.

A derrocada da ditadura na Tunísia foi tão veloz que os demais povos magrebinos e árabes chegaram à conclusão de que essas autocracias – as mais velhas do mundo – estavam na verdade profundamente corroídas e não eram, portanto, mais do que “tigres de papel”. Esta demonstração está ocorrendo também no Egito.

Daí esse impressionante levante dos povos árabes, que leva a pensar inevitavelmente no grande florescimento das revoluções europeias de 1848, na Jordânia, Iêmen, Argélia, Síria, Arábia Saudita, Sudão e também no Marrocos.

Neste último país, uma monarquia absoluta, na qual o resultado das “eleições” (sempre viciado) é decidido pelo soberano, que designa segundo sua vontade os chamados ministros “da soberania”, algumas dezenas de famílias próximas ao trono continuam controlando a maioria das riquezas (6). Os telegramas divulgados por Wikileaks revelaram que a corrupção chega a níveis de indecência descomunal, maiores que os encontrados na Tunísia de Ben Alí, e que as redes mafiosas teriam todas como origem o Palácio. Trata-se de um país onde a prática da tortura está generalizada e o amordaçamento da imprensa é permanente.

No entanto, como na Tunísia de Ben Alí, esta “ditadura amiga” se beneficia da grande indulgência dos meios de comunicação e da maior parte de nossos responsáveis políticos (7), os quais minimizam os sinais do começo de um “contágio” da rebelião. Quatro pessoas se imolaram, incendiando suas próprias vestes. Produziram-se manifestações de solidariedade com os rebeldes da Tunísia e do Egito em Tânger, Fez e Rabat (8). Acossadas pelo medo, as autoridades decidiram subvencionar preventivamente os artigos de primeira necessidade para evitar as “rebeliões do pão”. Importantes contingentes de tropas do Saara Ocidental teriam sido deslocados aceleradamente para Rabat e Casablanca. O rei Mohamed VI e alguns colaboradores teriam viajado a França no dia 29 de janeiro para consultar especialistas em ordem pública do Ministério do Interior francês (9).

Ainda que as autoridades desmintam as duas últimas informações, está claro que a sociedade marroquina está seguindo os acontecimentos da Tunísia e do Egito, com excitação. Preparados para unir-se ao impulso de fervor revolucionário e quebrar de uma vez por todas as travas feudais. E para cobrar todos aqueles que, na Europa, foram cúmplices durante décadas dessas “ditaduras amigas”.

NOTAS

(1) Ler, por exemplo, de Jacqueline Boucher "La société tunisienne privée de parole" e de Ignacio Ramonet "Main de fer en Tunisie", Le Monde Diplomatique, de fevereiro de 1996 e de julho de 1996, respectivamente.

(2) Quando Mohamed Bouazizi se imolou incendiando-se em 17 de dezembro de 2010, quando a insurreição ganhava todo o país e dezenas de tunisianos rebeldes continuavam caindo sob as balas da repressão, o prefeito de Paris, Bertrand Delanoé, e a ministra de Relações Exteriores, Michèle Alliot-Marie consideravam absolutamente normal ir festejar alegremente em Tunis.

(3) Ao mesmo tempo, Washington e seus aliados europeus, sem aparentemente medir as contradições, apoiam o regime teocrático e tirânico da Arábia Saudita, principal sede do islamismo mais obscurantista e mais expansionista.

(4) http://www.medelu.org/spip.php?article711

(5) Honoré de Balzac, Monographie de la presse parisienne, Paris, 1843.

(6) Ler Ignacio Ramonet, "La poudrière Maroc", Mémoire des luttes, setembro 2008. http://www.medelu.org/spip.php?article111

(7) Desde Nicolas Sarkozy até Ségolène Royal, passando por Dominique Strauss-Kahn, que possui um “ryad” em Marrakesh, os dirigentes políticos franceses não têm o menor escrúpulo em passar suas férias de inverno entre estas “ditaduras amigas”.

(8) El País, 30 de janeiro de 2011- http://www.elpais.com/../Manifestaciones/Tanger/Rabat

(9) Ler El País, 30 de janeiro de 2011 http://www.elpais.com/..Mohamed/VI/va/vacaciones y Pierre Haski, "Le discret voyage du roi du Maroc dans son château de l´Oise", Rue89, 29 de janeiro de 2011. http://www.rue89.com/..le-roi-du-maroc-en-voyage-discret...188096http://www.elpais.com/../Manifestaciones/Tanger/Rabat

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer



Os militares e o futuro do Egito
As forças armadas têm sido a força dominante no Egito desde a queda da Monarquia em 1952: os presidentes Nasser, Sadat e Mubarak são todos eles representantes do estamento militar. Considerados uma das forças mais poderosas do mundo (10º lugar) contam com um contingente de 468.000 militares e 3.4% do PIB do Egito. O setor militar do Egito recebeu nas últimas três décadas cerca de 30 bilhões de dólares em ajuda dos EUA, além de enviar seus oficiais para estudar em colégios militares norte-americanos. Os militares egípcios são essencialmente uma criação dos EUA. O artigo é de Reginaldo Nasser.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17373&boletim_id=824&componente_id=13522


Declina a influência do Ocidente
No mundo árabe, os EUA e seus aliados apoiaram com regularidade radicais islâmicos, às vezes para prevenir a ameaça de um nacionalismo secular. Exemplo é a Arábia Saudita, centro ideológico do Islã radical. Outro em uma longa lista é Zia ul-Haq, favorito do ex-presidente Ronald Reagan e o mais brutal dos ditadores paquistaneses.
O artigo é de Noam Chomsky.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17367&boletim_id=824&componente_id=13542


Amy Goodman: Quando as empresas preferem os ditadores à democracia
O Egito foi o segundo grande receptor de ajuda externa dos Estados Unidos durante décadas, depois de Israel (sem contar os fundos gastos nas guerras e ocupações do Iraque e Afeganistão). O regime de Mubarak recebeu cerca de 2 bilhões de dólares ao ano desde que assumiu o poder, em sua imensa maioria para as forças armadas. Onde foi parar esse dinheiro? Em geral, foi para empresas estadunidenses. O dinheiro vai para o Egito e logo volta para pagar aviões F-16, tanques M-1, motores de aviões, mísseis, pistolas e latas de gás lacrimogêneo. O artigo é de Amy Goodman.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17364&boletim_id=824&componente_id=13543


Fogo e tempestade no mundo árabe
por HENRIQUE RATTNER
FEA/USP
A auto-imolação de um jovem tunisiano de 26 anos de idade em dezembro de 2010 foi o estopim de uma onda de protestos e revoltas contra as autoridades ditatoriais e opressores no mundo árabe que se estende desde o Atlântico até o Oceano Índico. São 320 milhões de pessoas que vivem no imenso território da África do Norte, de quase 11 milhões de km², divididos em países por fronteiras artificiais impostas pelos ex-colonizadores europeus nas primeiras décadas do século XX, outrora dominados pelos sultões turcos, a partir da distante Istambul. Com o desmoronamento do império otomano na primeira guerra mundial, França e Inglaterra dividiram entre si os espólios, impondo reis fantoches (Iraque, Jordânia) ou ditadores submissos aos interesses das metrópoles. Em todos esses países instalaram-se oligarquias que, ávidas de enriquecer, usurparam os recursos naturais e as rendas provindas do comércio exterior, enquanto mantiveram seus súditos na mais absoluta miséria... LEIA NA ÍNTEGRA: http://espacoacademico.wordpress.com/2011/02/05/fogo-e-tempestade-no-mundo-arabe/



Enviado por Guilherme Souto:


www.brasilianas.org
Os planos do MEC para o Sistema S
Enviado por luisnassif, ter, 08/02/2011 - 12:18
Do Estadão
Plano do MEC de ampliar ensino médio enfrenta resistência do maior parceiro
08 de fevereiro de 2011 0h 00
Lisandra Paraguassú - O Estado de S.Paulo
A principal proposta do Ministério da Educação (MEC) para ampliar o ensino médio integral e profissionalizante vai esbarrar na resistência de quem deveria ser o principal parceiro do projeto, o Sistema S (Sesc, Sesi, Senai, entre outros), coordenado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O projeto prevê a oferta de vagas gratuitas de cursos técnicos no sistema para alunos de escolas públicas usando uma dívida de R$ 3,3 bilhões que Sesi, Senai, Sesc e outras entidades têm com o governo federal. A CNI, no entanto, não reconhece essa dívida.
proposta de oferecer ensino médio integral e profissionalizante é uma das promessas de campanha da presidente Dilma Rousseff. No entanto, a capacidade do governo federal de oferecer por conta própria vagas em cursos técnicos de nível médio é limitada, apesar da recente ampliação das escolas técnicas federais. Para isso, o MEC propôs - e a presidente aceitou - que o governo federal cobre a dívida do Sistema S, detectada em 2005.
A origem da dívida é o salário-educação, um tributo de 2% sobre a folha de pagamento das empresas cobrado para financiar ações de educação. Parte desse dinheiro vai para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia ligada ao MEC, e é usado para pagar, entre outras coisas, merenda escolar, transporte e livros didáticos. Outra parte vai para Estados e municípios e uma terceira, para o Sistema S financiar suas ações educativas.
Até 1999, parte do salário-educação era cobrado pelo FNDE, parte pelo INSS. A partir de 2000, o INSS concentrou toda a cobrança e passou a dividir os valores pelas quatro partes. Na época, o cálculo era de que o FNDE teria direito a 33% do arrecadado. Em 2005, o governo refez a conta e descobriu que o FNDE deveria receber 42,5% por ano. Todo o dinheiro dessa diferença, R$ 3,3 bilhões, havia sido destinado ao Sistema S.
Na época, a diretoria do sistema afirmou que, se comprovada a dívida, sentaria com o governo federal para encontrar uma forma de devolver os recursos. Desde então, nada foi feito.
Agora, o MEC encontrou nessa dívida a solução para cumprir a promessa de Dilma. A ideia é que os jovens façam o ensino médio em uma escola pública e, no contraturno, um curso técnico em uma das escolas do Sistema S, que hoje oferece parte das vagas gratuitas - fruto de outro acordo com o MEC - e parte paga. Pela proposta, as entidades teriam de oferecer mais bolsas, até completar o valor que supostamente devem ao governo federal.
Questionada pelo Estado sobre esses recursos, a CNI, responsável direta pelo Sesi e pelo Senai, as principais entidades de treinamento do Sistema S, apenas disse que não reconhece essa dívida e não comentaria mais o assunto. No MEC a posição é de que, se houver resistência, será aberta uma negociação com o Sistema S.
A razão pela qual o MEC concentra esforços nesse projeto é porque as demais propostas têm pouco potencial para ampliar o número de vagas profissionalizantes. Uma delas, chamada de ProUni da educação técnica, prevê a redução de impostos de escolas técnicas particulares em troca de bolsas, da mesma forma que hoje é feito com as universidades privadas. O outro projeto é a ampliação do Financiamento Estudantil para o Ensino Técnico. No entanto, as vagas privadas nessa modalidade de ensino representam apenas 12% das vagas no ensino médio integrado com profissional, que o MEC pretende ampliar.

Guilherme Souto colaborando mais uma vez:


www.rudaricci.blogspot.com

Altinópolis dá exemplo na educação
Finalmente um gestor educacional resolveu sair do rame-rame da melhoria do IDEB e premiação de professores. Na cidade de Altinópolis (15 mil habitantes, no interior paulista) os 51 professores municipais começaram a visitar as casas dos seus alunos. Objetivos: estreitar relação escola-família e conhecer o ambiente familiar.
O tapa com luva de pelica: o projeto foi formulado pelos próprios professores e ninguém recebe a mais por isto. Talvez seja uma lição para os gestores apressados que pensam que professor só trabalha por premiação, tal como Pavlov fazia com seus cachorros
.

Concurso Turismólogo Prefeitura de Taquarussu(MS)
Técnico de Nível Superior em Turismo, salário de R$ 1.530,00, carga horária de 40 horas semanais. Atenção: Cadastro Reserva
Inscrição até 12/02/2011 Informações: www.agilizasconcursos.com.br


Seleção Docente UFVJM - Diamantina(MG)
Aberto o Edital 08 de 2011, para seleção de docente na disciplina Organização e Mobilização Social e Tópicos em Turismo I, departamento de turismo.
PERÍODO DE INSCRIÇÃO: 27 de janeiro a 21 de fevereiro de 2011.
REQUISITOS: Bacharel em Turismo com especialização em áreas afins.
Informações complementares no site www.ufvjm.edu.br
a Revista Espaço Acadêmico, edição nº 117, Fevereiro de 2011, foi publicada
Acesse: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/issue/current
Pedimos, especialmente aos autores, colunistas e colaboradores, que ajudem a divulgar a revista.
Envie aos amigos, colegas e listas que participem. Permanecemos abertos às sugestões, críticas e contribuições

No Café História:
FÓRUNS EM DEBATE

O governo argentino deve realizar testes de DNA para descobrir a identidade de jovens suspeitos de terem nascidos em cativeiros durante a ditadura mesmo contra a vontade destes?

Participe: http://cafehistoria.ning.com/forum/topics/o-governo-argentino-deve

CINE HISTÓRIA

"A História Oficial", lançado em 1985, conta uma história dramática da Ditadura Argentina.

VÍDEOS HISTÓRICOS

Último Discurso de Salvador Allende - 11 de Setembro de 1973

Assista: http://cafehistoria.ning.com/video/ultimo-discurso-de-salvador

A Indústria Literária diante das Novas Mídias

Assista: http://cafehistoria.ning.com/video/a-industria-literaria-diante


CONTEÚDO DA SEMANA

Entrevista produzida pelo canal Globo News com o General Leônidas Pires Gonçalves, que foi chefe do Estado Maior do 1.º Exército, no Rio de Janeiro. O general Leônidas foi também dirigente do DOI-CODI durante dois anos e dez meses.

DOCUMENTOS HISTÓRICOS

Documento mostra que José Sarney, em conversa com diplomata americano em 1964, atribuiu impopularidade de Castelo Branco a Roberto Campos.

CAFÉ EXPRESSO NOTÍCIAS

Crise no Egito: museus estão em alerta

Na Argentina, Dilma recebe apelo para abrir arquivos da Ditadura
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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Numero 264



O tema fundamental deste Boletim é a situação explosiva que está ocorrendo no Egito. Selecionei diversos artigos que comentam as razões do conflito interno, assim como as possíveis repercussões que ele poderá ter no Oriente Médio e nas relações entre Egito e Estados Unidos. Após, a questão das aposentadorias de ex-governadores é analisada pelo nosso colaborador José de Castro.
Fechando o Boletim, alguns informes úteis.
Inicio com um artigo de Slavoj Zizek, publicado pela Agência Carta Maior de hoje:
Por que temer o espírito revolucionário árabe?
A reação ocidental aos levantes no Egito e na Tunísia frequentemente demonstra hipocrisia e cinismo. A hipocrisia dos liberais ocidentais é de tirar o fôlego: eles publicamente defendem a democracia e agora, quando o povo se rebela contra os tiranos em nome de liberdade e justiça seculares, não em nome da religião, eles estão todos profundamente preocupados. Por que aflição, por que não alegria pelo fato de que se está dando uma chance à liberdade? Hoje, mais do que nunca, o antigo lema de Mao Tsé-Tung é pertinente: "Existe um grande caos abaixo do céu - a situação é excelente". O artigo é de Slavoj Zizek.
Slavoj Zizek
O que não pode deixar de saltar aos olhos nas revoltas Tunísia e Egito é a notável ausência do fundamentalismo islâmico. Na melhor tradição democrática secular, as pessoas simplesmente se revoltaram contra um regime opressivo, sua corrupção e pobreza, e demandaram liberdade e esperança econômica. A sabedoria cínica dos liberais ocidentais - de acordo com os quais, nos países árabes, o genuíno senso democrático é limitado a estreitas elites liberais enquanto que a vasta maioria só pode ser mobilizada através do fundamentalismo religioso ou do nacionalismo - se provou errada.

Quando um novo governo provisório foi nomeado na Tunísia, ele excluiu os islâmicos e a esquerda mais radical. A reação dos liberais presunçosos foi: bom, eles são basicamente a mesma coisa; dois extremos totalitários - mas as coisas são simples assim? O verdadeiro antagonismo de longa data não é precisamente entre islâmicos e a esquerda? Ainda que eles estejam momentaneamente unidos contra o regime, uma vez que se aproximam da vitória, a sua unidade se parte e eles se engajam numa luta mortal, frequentemente mais cruel do que aquela travada contra o inimigo comum.

Nós não testemunhamos precisamente tal luta depois das eleições no Irã? As centenas de milhares de apoiadores de Mousavi lutavam pelo sonho popular que sustentou a revolução de Khomeini: liberdade e justiça. Ainda que esse sonho tenha sido utópico, ele levou a uma explosão de criatividade política e social de tirar o fôlego, experiências de organização e debates entre estudantes e pessoas comuns. Essa abertura genuína, que liberou forças de transformação social então desconhecidas, um momento no qual tudo pareceu possível, foi então gradualmente sufocada pela dominação do controle político e do establishment islâmico.

Mesmo no caso de movimentos claramente fundamentalistas, é preciso ser cuidadoso para não perder de vista o componente social. O Talibã é usualmente apresentado como um grupo fundamentalista islâmico que impõe suas leis pelo terror. No entanto, quando, na primavera de 2009, eles tomaram o Vale de Swat no Paquistão, o The New York Times noticiou que eles arquitetaram "uma revolta de classe que explora profundas fissuras entre um pequeno grupo de ricos donos de terra e seus inquilinos desprovidos de um chão". Se, ao "se aproveitar" dos apuros dos agricultores, o Talibã estava criando, nas palavras do New York Times, "um alerta sobre os riscos ao Paquistão, que permanece sendo largamente feudal", o quê impediu os democratas liberais do Paquistão e dos Estados Unidos de, da mesma forma, "se aproveitarem" desses apuros e de tentarem ajudar os agricultores sem terra? Ocorre de as forças feudais no Paquistão serem aliados naturais da democracia liberal?

A conclusão inevitável a ser delineada é que a ascensão do islamismo radical sempre foi o outro lado do desaparecimento da esquerda secular nos países muçulmanos. Quando o Afeganistão é retratado como sendo o exemplo máximo de um país fundamentalista islâmico, quem ainda se lembra que, há quarenta anos atrás, ele era um país com uma forte tradição secular, incluindo um poderoso partido comunista que havia tomado o poder lá sem dependência da União Soviética? Para onde essa tradição secular foi?

É crucial analisar os eventos em andamento na Tunísia e no Egito (e no Iémen e ... talvez, com esperança, até na Arábia Saudita) em contraste com esse pano de fundo. Se a situação for eventualmente estabilizada de modo ao antigo regime sobreviver, apenas passando por alguma cirurgia cosmética liberal, isso irá gerar um intransponível retrocesso fundamentalista. Para que o legado chave do liberalismo sobreviva, os liberais precisam da ajuda fraternal da esquerda radical. De volta ao Egito, a mais vergonhosa e perigosamente oportunista reação foi aquela de Tony Blair noticiada na CNN: mudança se necessário, mas deverá ser uma mudança estável. Mudança estável no Egito, hoje, só pode significar um compromisso com as forças de Mubarak na forma de ligeiramente alargar o círculo do poder. Este é o motivo pelo qual é uma obscenidade falar em transição pacífica agora: pelo esmagamento da oposição, o próprio Mubarak tornou isso impossível. Depois de Mubarak enviar o exército contra os protestantes, a escolha se tornou clara: ou uma mudança cosmética na qual alguma coisa muda para que tudo continue na mesma, ou uma verdadeira ruptura.

Aqui, portanto, é o momento da verdade: ninguém pode arguir, como no caso da Argélia uma década atrás, que permitir eleições verdadeiramente livres equivale a entregar o poder para fundamentalistas islâmicos. Outra preocupação liberal é de que não existe poder político organizado para tomar o poder caso Mubarak parta. É claro que não existe; Mubarak se assegurou disso ao reduzir a oposição a ornamentos marginais, de forma que o resultado acaba sendo como o título do famoso romance de Agatha Christie, "E Então Não Havia Ninguém". O argumento de Mubarak - é ele ou o caos - é um argumento contra ele.

A hipocrisia dos liberais ocidentais é de tirar o fôlego: eles publicamente defendem a democracia e agora, quando o povo se rebela contra os tiranos em nome de liberdade e justiça seculares, não em nome da religião, eles estão todos profundamente preocupados. Por que aflição, por que não alegria pelo fato de que se está dando uma chance à liberdade? Hoje, mais do que nunca, o antigo lema de Mao Tsé-Tung é pertinente: "Existe um grande caos abaixo do céu - a situação é excelente".

Para onde, então, Mubarak deve ir? Aqui, a resposta também é clara: para Haia. Se existe um líder que merece sentar lá, é ele
.

(*) Nota do Tradutor: o título original do livro de Agatha Christie é "And Then There Were None", conhecido aqui no Brasil como "O Caso dos Dez Negrinhos".

Referências feitas pelo autor:
http://www.guardian.co.uk/world/2010/feb/02/iran-mousavi-dictatorship-khameini-protests
Traduzido por Henrique Abel para o Diário Liberdade.

Também da Agência Carta Maior o artigo e a foto abaixo:




Um outro Oriente Médio é possível?

Os protestos populares na Tunísia, Egito, Iêmen e Jordânia apresentam uma agenda renovada para o Fórum Social Mundial que inicia de 6 de fevereiro em Dakar, Senegal. A aplicação da consigna do FSM aos problemas dessa região coloca a seguinte questão: “Outro Oriente Médio é possível?”. O que está acontecendo no Egito mostra que o castelo das autocracias apoiadas e sustentadas pelos EUA é menos sólido do que parecia. Milhões de jovens, homens e mulheres, estão nas ruas dizendo que é possível, sim. E necessário.
Marco Aurélio Weissheimer


O Fórum Social Mundial 2011 começa dia 6 de fevereiro em Dakar, Senegal. O encontro ganhou uma nova agenda com a onda de protestos populares que já atingiu a Tunísia, o Egito, o Iêmen e a Jordânia. O mais significativo de todos, sem dúvida, é o Egito, em função do que o país representa em termos geopolíticos no Oriente Médio. Egito e Arábia Saudita são dois pilares centrais da aliança EUA-Israel na região. Uma mudança de regime político em um desses dois países pode significar um terremoto político.

Washington, Tel Aviv e alguns outros governos árabes sabem disso, obviamente, e estão com as barbas de molho. Na noite desta terça, o presidente dos EUA, Barack Obama, cobrava de seu até aqui aliado egípcio, Hosni Mubarack, o “início imediato da transição” política no país. Vão-se os anéis para assegurar a permanência dos dedos. A velha história. E os EUA temem o pior. Olham para o Egito, a Árabia Saudita, a Jordânia e a Palestina com indisfarçável pânico.

Quem ouve a voz dos milhões de egípcios que perderam o medo da repressão e foram para as ruas sabe que o pior é a manutenção do atual regime, financiado e armado pelos Estados Unidos há décadas. Enérgico na denúncia e na cobrança por democracia quando se trata de países como o Irã – ou na “implantação da democracia” a ferro e fogo, no caso do Iraque -, os EUA silenciam quando se trata das suas ditaduras amigas no Oriente Médio, especialmente no caso do Egito e da Arábia Saudita. Ou silenciavam, ao menos, já que agora foram obrigados a se manifestar.

Desta vez, os malabarismos linguísticos e semânticos não conseguem esconder a natureza do problema. E a natureza do problema no Egito não reside no fundamentalismo islâmico ou nas aspirações sociais e políticas da Irmandade Muçulmana. O problema reside em um regime autoritário e corrupto, apoiado e sustentado pelos EUA, que governa para um pequeno grupo, deixando milhões de pessoas vivendo na pobreza (cerca de 20% da população vive abaixo da linha da pobreza).

A aplicação da consigna do FSM aos problemas dessa região coloca a seguinte questão: “Outro Oriente Médio é possível?”. O que está acontecendo no Egito mostra que o castelo das autocracias apoiadas e sustentadas pelos EUA é menos sólido do que parecia. Milhões de jovens, homens e mulheres, estão nas ruas dizendo que é possível, sim. E necessário. Basta que os líderes ocidentais supostamente defensores da democracia deixem de financiar aqueles que não querem que os povos destes países escolham o seu destino. Deixem a democracia entrar no Oriente Médio. Não é essa a promessa universal do Ocidente? E seja o que Deus quiser. Ou o que Alá quiser!

O povo egípcio não está rua por questões religiosas. Está na rua porque, entre outras coisas, decidiu cobrar as promessas civilizatórias do Ocidente: democracia, liberdade, prosperidade, justiça social. As consequências desses protestos são incertas. Neste exato momento, a turma dos anéis está em campo para tentar salvar os dedos do modelo atual. Mas uma coisa parece definitiva: o povo egípcio perdeu o medo e decidiu mudar os rumos do país. Essa é uma força muito difícil de ser detida e costuma ter um impacto profundo na vida das nações.


Mais da Agência Carta Maior:

O Egito a caminho da revolução. O que fazer?

Aqueles que temem o crescimento do “islamismo radical” como fator de instabilidade nessa região, deveriam estar mais atentos em relação às “ditaduras amistosas” que, na verdade, são as principais responsáveis pela insegurança no mundo. Desemprego em massa, preços dos alimentos e repressão política é uma combinação explosiva mais perigosa do que os homens bomba. No caso do Egito dois terços da população são jovens abaixo de 30 anos, dos quais 90% estão desempregados. O artigo é de Reginaldo Nasser.
Reginaldo Nasser (*)

As mobilizações populares na Tunísia, Egito, Iêmen e em outros lugares são um alerta para o chamado mundo desenvolvido e seria uma grande avanço para a democracia se esta região que permanece imersa na violência, em fraudes eleitorais e miséria crescente da população recebesse o devido apoio internacional nesse momento.

O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse que os EUA poderão revisar a ajuda ao Egito. O presidente Obama solicitou às autoridades egípcias que evitem o uso de qualquer tipo de violência contra manifestantes pacíficos, alertando que "aqueles que protestam nas ruas têm uma responsabilidade de expressar-se pacificamente”. Já a chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que a “estabilidade do país é muito importante, mas não a qualquer preço”. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu que "os líderes do Egito escutem as preocupações legítimas e os desejos de seus cidadãos”. O primeiro ministro britânico David Cameron declarou: “Eu acho que precisamos de reformas. Quero dizer que nós apoiamos o progresso e o reforço da democracia”.

Como avaliar a atitude desses líderes mundiais? Patética, cínica, hipócrita, irresponsável? Talvez devêssemos recorrer a um grande pensador liberal do século XIX, Aléxis de Tocqueville, e ouví-lo a respeito dos períodos revolucionários na França. Tocqueville alertava para o fato de líderes, que adquiriram experiência em lidar com a política em ambiente de ausência de liberdade, quando se encontraram diante de uma revolução que chegou “inesperadamente”, se assemelhavam aos remadores de rio que, de repente, se vêem instados a navegar no meio do oceano. Os conhecimentos adquiridos em suas viagens por águas calmas vão proporcionar mais problemas do que ajuda nessa aventura, e na maioria das vezes exibem mais confusão e incerteza do que os próprios passageiros que supostamente deveriam conduzir.

Já havia sinais reveladores dessas turbulências, mas o Ocidente preferia se preocupar com burcas, minaretes e terrorismo. Um relatório do Banco Mundial, publicado em 2009, informava que os países árabes importavam cerca de 60% dos alimentos que consomem e já são os maiores importadores de cereais no mundo, dependendo de outros países para a sua segurança alimentar. A elevação dos preços nos mercados mundiais, desde 2008, já causou ondas de protestos em dezenas de países e milhões de desempregados e pobres nos países árabes, como foram os casos da Argélia , em 1988, e da Jordânia em 1989. Um exemplo mais recente, além da região árabe, é o Quirguistão onde um aumento da eletricidade e tarifas de celulares causaram manifestações com dezenas de mortos e milhares de feridos.

Aqueles que temem o crescimento do “islamismo radical” como fator de instabilidade nessa região, deveriam estar mais atentos em relação às “ditaduras amistosas” que, na verdade, são as principais responsáveis pela insegurança no mundo. Desemprego em massa, preços dos alimentos e repressão política é uma combinação explosiva mais perigosa do que os homens bomba.

A demografia no mundo árabe é também um grande problema. A população cresceu cinco vezes durante o século XX, e o crescimento continua a uma média anual de 2,3%. A população do Egito está em torno de 80 milhões. Em 2050 (de acordo com projeções da ONU) deverá ter 121 milhões. A população da Argélia irá crescer de 33 milhões em 2007 para 49 milhões em 2050; a do Iêmen de 22 a 58 milhões. Isso significa que mais empregos precisam ser criados - e mais alimentos importados, ou aumentar a capacidade para produzir mais. No caso do Egito dois terços da população são jovens abaixo de 30 anos, dos quais 90% estão desempregados.

Baseada no turismo, na agricultura e na exportação de petróleo e algodão, a economia é incapaz de sustentar a taxa de crescimento demográfico. 40% da população vive com menos de US$ 2 (R$ 3,30) por dia, o país está na 101ª posição no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)

De certa forma a auto-imolação do jovem tunisiano, Mohamad Bouazizi, que deflagrou a onda de protestos na Tunisia revela, no nível individual, aquilo que está acontecendo nas sociedades daquela região como um todo. Ele não se rebelou, apenas porque não encontrou trabalho que refletisse suas ambições profissionais, mas sim quando um oficial da polícia confiscou as frutas e legumes que estava vendendo sem autorização. Quando foi fazer uma reclamação para buscar justiça, sua demanda foi rejeitada.

Provavelmente foi este sentimento de injustiça que levou Mohamed Bouazizi e milhares de pessoas às ruas, empenhados em quebrar o ciclo da miséria e opressão.

Talvez seja mais confortável para a chamada comunidade internacional lidar com um mundo árabe dividido entre nacionalistas, relativamente seculares, de um lado e islamismo radical, de outro, do que um mundo mais complexo, com problemas econômicos, sociais e políticos que conta com sua cumplicidade
.
(*) Professor de Relações Internacionais da PUC-SP


No blog do Emir Sader outra análise pertinente:

A crise da hegemonia ocidental no Oriente Médio
Por Emir Sader
Em condições culturais renovadas, o nacionalismo árabe pode renascer, agora articulando uma nova unidade de governos progressistas, anti-EUA e pro palestinos na região – a pior das possibilidades para Washington -, mas plenamente possível, pela intervenção espetacular dos povos desses países.
http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=659


A insurreição no Egito e suas implicações para a Palestina
Se o regime de Mubarak cair, Israel e os Estados Unidos perderão um grande aliado na questão da palestina, e a Autoridade Palestina de Abbas perderá um de seus principais aliados contra o Hamas. Já desacreditada pela amplitude de sua colaboração e capitulação exibidas nos Palestine Papers, a Autoridade Palestina sairá ainda mais enfraquecida. Sem qualquer “processo de paz” com credibilidade para justificar sua “coordenação de segurança” ininterrupta com Israel, ou mesmo a sua própria existência, a implosão da AP pode começar. Derrubada de regimes na Tunísia e no Egito podem estimular palestinos a organizar protestos populares massivos. O artigo é de Ali Abunimah.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17346&boletim_id=818&componente_id=13454



Euforia, banho de sangue e caos
Mais do que a tresloucada eleição do vice-presidente de Mubarak e do que a designação de um convescote num governo sem poder, as ruas do Cairo demonstraram que os líderes dos EUA e da União Europeia (UE) não entenderam nada. Acabou-se. Os débeis intentos de Mubarak, ao declarar que se deve terminar com a violência, quando sua própria segurança policial foi responsável, nos últimos cinco dias pelos atos mais cruéis, incendiaram ainda mais a fúria daqueles que passaram 30 anos sob uma ditadura sanguinária.
Robert Fisk
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17338&boletim_id=816&componente_id=13420



A aposentadoria dos ex-governadores
texto de José de Souza Castro:
O trabalhador brasileiro sabe que aposentadoria é decisão de alto risco. O valor recebido perde a cada ano seu poder de compra. Se não tiver o bom senso de morrer logo, terá, nos finalmentes, uma vida miserável.
Mas, como em tudo mais neste país dito republicano, há exceções. Estas contemplam, por exemplo, os ex-governadores. Eles não apenas recebem aposentadorias vitalícias extensivas à viúva e filhos, como recebem muito mais do que jamais sonhou um trabalhador que não fez da política um modo de ganhar a vida.
Imagino que quem aprovou tais leis que beneficiam ex-governadores de vários Estados – entre eles, quatro mineiros ainda vivos – pensou que, garantindo a sobrevivência deles, não precisariam roubar no exercício do cargo. Pois é muito fácil roubar: o governador tem nas mãos a chave do erário, como dizia Benedito Valadares que, ao que parece, preferia, no entanto, governar com a chave da cadeia.
Qualquer que seja a justificativa, a aposentadoria de ex-governadores é uma vergonha. Tanto que eles fogem do assunto, quando procurados por repórteres. Como fugiu o atual governador de Minas, Antônio Anastasia, futuro possível beneficiário.
Primeiro, mandou dizer aos repórteres que uma lei estadual impedia a divulgação de dados sobre servidores e pensionistas sem autorização expressa deles. O repórter Felipe Luchete, da “Folha de S. Paulo”, insistiu, e Anastasia acabou admitindo que a lei só proibia a divulgação do valor recebido por cada um, não seus nomes e o valor total.
O contribuinte pode saber, assim, que o governo de Minas gasta R$ 47.250 por mês, para pagar a aposentadoria de Rondon Pacheco, Francelino Pereira, Hélio Garcia e Eduardo Azeredo, que governaram o Estado entre 1971 e 1999. A viúva de Israel Pinheiro, governador de 1966 a 1971, também recebe a pensão, de valor não divulgado.
As pensões estão previstas em lei de 1996, época em que Azeredo governava o Estado. Se não houver viúva, o direito passa para filhos com menos de 18 anos ou de filhas maiores de idade que sejam solteiras ou viúvas e não tenham rendimentos.
Esse pessoal que respeita tanto as leis, quando elas lhe interessam, se esquece de uma coisa: pensões pagas a ex-governadores, como Eduardo Azeredo – que foi senador nos últimos oito anos e se elegeu agora deputado federal pelo PSDB mineiro – desobedecem à Emenda Constitucional 41, de dezembro de 2003, que limita aos vencimentos dos ministros do STF (R$ 26,7 mil), a remuneração máxima dos funcionários públicos e dos detentores de mandatos eletivos recebidos cumulativamente ou não. “O que vale para o funcionalismo não conta para senadores e deputados. Esses somam as pensões aos subsídios que recebem”, escreveu à “Folha de S. Paulo” o leitor Francisco Pedro do Coutto.
Azeredo talvez precise desse dinheiro extra para se defender, no Supremo Tribunal Federal, da ação que resultou das investigações sobre o chamado “mensalão mineiro”. E certamente continuará recebendo-o, gostando ou não o contribuinte mineiro, se o Supremo, como quer agora a Ordem dos Advogados do Brasil, não revogar todas essas leis de aposentadorias de ex-governadores.
Há casos realmente vergonhosos, como vem relatando nos últimos dias o jornal paulista. Por exemplo, o senador Álvaro Dias (PSDB), que foi governador do Paraná de 1987 a 1991, pediu em outubro passado a aposentadoria de ex-governador. Já no mês seguinte – quem disse que o governo é lento? – começou a receber a aposentadoria de R$ 24 mil. E receberia mais R$ 1,4 milhão de pagamento retroativo, relativo aos últimos cinco anos, se a imprensa não tivesse descoberto. Pego com a boca na botija, Dias anunciou que devolveria o dinheiro recebido.
O mesmo fez o senador Pedro Simon, do PMDB gaúcho. Ele governou o Estado de 1987 a 1990, e desde então vem se elegendo senador pelo mesmo partido. No ano passado, ele pediu a aposentadoria de ex-governador, que equivale ao vencimento mensal de um desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: R$ 24.117. Quando pediu a aposentadoria, o vencimento de senador era de R$ 16,5. Com o reajuste de 61,8%, passou para R$ 26,7 mil. Descoberto, Simon disse que devolverá os R$ 48 mil já recebidos (novembro e dezembro) e declarou que é contra a aposentadoria para ex-governadores.
Ah, bom...
Se depender do ministro do Supremo Marco Aurélio Mello, essas aposentadorias de ex-governadores serão extintas. Mas tem aquela história de direito adquirido, e quero ver se Azeredo, Garcia, Pacheco e Pereira ficarão sem elas. É um assunto para as chamadas Calendas Gregas, tão queridas de nossa célere Justiça...



A revista Belo Horizonte, publicação semanal da década de 1930, é a primeira a ser digitalizada e disponibilizada on-line pelo Arquivo Público da Cidade (APCBH). O objetivo da digitalização dos exemplares é conservar a coleção, que tem grande valor histórico e cultural para os mineiros e, ainda, propiciar a quem consulta, um acesso mais fácil e rápido aos materiais. Com conteúdo literário e noticioso, a revista possui contos, humor e reportagens sobre moda e política.
Os interessados na coleção poderão acessá-la pelo site
www.pbh.gov.br/cultura/arquivo





Estão abertas as inscrições para o XI CONLAB (http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/site/capa) que ocorrerá no mês de agosto em Salvador, Bahia. Para este evento, estamos organizando o GT 77 - Ciência, assistência e circulação do saber (Eixo 10 - Comunicação, Ciência e tecnologia).
Aguardamos vcs lá!
Coordenadoras:
Maria Renilda Nery Barreto (Centro Federal de Educação Tecnológica Celso S. da Fonseca)
Maria Martha de Luna Freire (Universidade Federal Fluminense)
Gisele Sanglard (COC/Fiocruz e Universidade Severino Sombra)
Tânia Salgado Pimenta (Fundação Oswaldo Cruz)

Ciência, assistência e circulação do saber

Resumo:
O GT Ciência, assistência e circulação do saber tem por objetivo propiciar a interlocução de pesquisas recentes sobre a temática, tanto no que se refere ao período colonial, quanto aos séculos XIX e XX. Levamos em consideração que a própria idéia de assistência englobava, ainda no início do século XX, um vasto e abrangente leque de ações às quais se atribuía um caráter público - desde os cuidados voltados para a infância e a maternidade, até a velhice e a loucura. Envolvia, assim, um conjunto diversificado de instituições como: hospitais, asilos, orfanatos, colônias, creches, ligas, postos médicos, maternidades, hospícios, dispensários, policlínicas, cujos limites de atuação eram tênues e permeáveis. Desse modo, além do Estado, a assistência pública era exercida por diversas entidades caritativas e/ou filantrópicas, como as sociedades civis e religiosas, fundações assistenciais e outros grupos comunitários. Tais instituições foram geridas por indivíduos que se articularam em torno do modelo caritativo até o século XVIII e, que gradativamente foram alterando esse paradigma ao incorporar preceitos científicos às suas práticas. A partir do século XIX e, fundamentalmente no século XX, a ciência tornou-se pano de fundo para a organização das ações assistenciais. Ganhou destaque ainda o trânsito de idéias, saberes e pessoas nos dois lados do Atlântico, criando simetrias e distinções.
São especialmente relevantes para esse GT as pesquisas, já realizadas ou em andamento, que privilegiem a perspectiva daqueles que buscavam assistência, baseada nas diversas concepções, e/ou que eram o foco de instituições e de práticas assistenciais desenvolvidas em vários contextos sociais, históricos e geográficos. Nesse sentido, objetivamos colocar em evidência a diversidade e singularidade das soluções locais para esta questão, assim como as diferenças nos sistemas de assistência que se desenvolveram em cada um dos territórios e sociedades que englobavam o Império Ultramarino português.

Justificativa:
Há alguns anos vem se constituindo uma rede de pesquisadores do Brasil e de Portugal, que em alguns fóruns de discussão apresentam uma agenda ampla de investigações no campo da ciência, da saúde e da assistência, na interface da história, da medicina, da antropologia e da filosofia. O XIo Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais mostra-se um espaço privilegiado para ampliar essa rede e agregar outros pesquisadores de áreas além das já referidas, tais como sociologia, educação, enfermagem, serviço social, arquitetura, dentre outras. Serão benvindas investigações que abordem questões relativas à assistência à saúde - em suas múltiplas facetas e em diversos tempos -, bem como as outras formas de assistência então em vigor; à construção e administração de instituições de assistência; à profissionalização da assistência; à ação da sociedade civil; e à produção e difusão do saber médico.

Gisele SANGLARD
Pesquisadora Visitante (FIOCRUZ/FAPERJ)
Departamento de Patrimônio Histórico /Casa de Oswaldo Cruz
21-3865-2203

Colegas historiadores,

favor divulgar Prêmio Tese sobre memória e história da escravidão
Chers collègues,

Vous trouverez ci-joint l'appel du Comité pour la mémoire et l'histoire de l'esclavage (créé dans le cadre de la loi Taubira) pour l'attribution de son prix de thèse annuel (dernier délai pour le dépôt des thèses 31 mars 2011). Pouvez-vous le diffuser aussi largement que possible? Bien cordialement,

Jean Hébrard
Informações detalhadas podem ser obtidas, em francês, no site: WWW.cpmhe.fr

Confira as atualizações do Café História:
Miscelânea

Os Arquivos do Presidente
Biblioteca JFK é o primeiro arquivo de um presidente americano americano a se tornar online
Cine e História
"O Mágico" promete encantar quem gosta de uma boa animação.
Documento Histórico
O Projeto Original da Lei Áurea
Conteúdo da Semana
Uma entrevista com o historiador Hilário Franco Júnior.
Fóruns em Debate
Xenofobia e separatismo no estado de São Paulo, ideais tirados da revolução de 32?
Participe: http://cafehistoria.ning.com/forum/topics/xenofobia-e-separatismo-no

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