quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Numero 266





Peço desculpas pelo atraso e pelo pequeno tamanho do Boletim de hoje, mas problemas particulares me impediram de colocá-lo no ar ontem e o tamanho se deve ao fato de que não se falou quase nada de outro tema nesta semana que não fosse o Oriente Médio.

Por que uma nova crise financeira é certa
A regulação se estabelece para assegurar que o sistema funcione adequadamente e para proteger as pessoas contra fraudes. Mas a atividade bancária é mais lucrativa quando não há regras, razão pela qual os líderes do setor e seus grupos de pressão seguem tentando impedir os esforços para introduzir reformas. E, em geral, tem conseguido. Os bancos seguem concedendo hipotecas a pessoas desempregadas com alta possibilidade de inadimplência, da mesma forma que faziam antes da crise. Obama sabe onde está o problema, mas também sabe que não será reeleito sem o apoio de Wall Street. É uma questão tempo até que haja outro crack. O artigo é de Mike Whitney.
Mike Whitney – SinPermiso (publicado em www.cartamaior.com.br)
No dia 9 de agosto de 2007, houve um episódio em um banco francês que desencadeou uma crise financeira que acabaria dissolvendo mais de 30 trilhões de dólares em capital, envolvendo o planeta na maior recessão desde os tempos da Grande Depressão. O evento em questão foi descrito em um discurso do diretor executivo da Pimco (administradora de fundos de investimento), Paul McCulley, na 19° edição da Annual Hyman Minsky Conference on the State of the U.S. and World Economies (Conferência Anual Hyman Minsky sobre o estado das economias dos EUA e do mundo).

Eis um trecho da exposição de McCulley:

“Se tivesse que escolher um dia para assinalar o Momento Minsky, seria o 9 de agosto de 2007. E, de fato, não ocorreu aqui nos EUA. Ocorreu na França, quando o Paribas Bank (BNP) disse que não podia valorar os pacotes de ativos hipotecários tóxicos em três de seus produtos de investimento fora de balanço, e que, em função disso, os investidores, que acreditavam poder sair a qualquer momento, estavam presos. Lembro desse dia tão bem quanto do aniversário do meu filho. E este último ocorre uma vez por ano. Porque o desastre em cadeia começou neste dia. Foi um pouco mais tarde, neste mesmo mês, que cunhei o termo “Sistema Bancário paralelo” durante o simpósio anual do Federal Reserve, em Jackson Hole. Era só o segundo ano que eu assistia ao simpósio. Estava um pouco sobressaltado e basicamente me dediquei a escutar a maior parte dos três dias. Ao final, me levantei e (parafraseando) disse: o que está ocorrendo é bem simples. Temos uma fuga no Sistema Bancário Paralelo e a única dúvida é o quão rápido ela vai se retroalimentar a medida que seus ativos e suas obrigações vão regressando aos balanços do sistema bancário convencional”.

O BNP estava realizando atividades de intermediação creditícia, ou seja, trocava ativos que se constituíam com garantias de pacotes hipotecários (MBS, em sua sigla em inglês) por empréstimos de curto prazo nos mercados de derivativos. Soa tudo muito complicado, mas não é algo distinto do que fazem os bancos quando tomam os depósitos de seus clientes e os investem em ativos de longo prazo. A única diferença neste caso é que estas atividades não estavam reguladas, de modo que não havia nenhum órgão governamental encarregado de determinar a qualidade dos empréstimos ou assegurar que as distintas entidades financeiras estavam suficientemente capitalizadas para cobrir eventuais perdas. Esta falta de regulação acabou por gerar consequências catastróficas para a economia mundial.

Passou quase todo um ano desde que o calote das hipotecas subprime começasse a se propagar em massa, até que o mercado secundário (onde se trocam estes ativos “tóxicos”) colapsou. O problema era simples: ninguém sabia se essas hipotecas eram ou não seguras, de modo que era impossível fixar um preço para os ativos. Isso criou o que o professor de Yale, Gary Gorton chama um problema de e. coli (nome genérico para as bactérias que produzem enfermidades como a salmonela), ou seja, ainda que só uma pequena quantidade de carne seja contaminada, milhões de libras em hamburguers têm que ser retirados do mercado. A mesma regra se aplica aos MBS. Ninguém sabia quais delas continham os maus empréstimos. Assim, o mercado inteiro foi paralisado e trilhões de dólares em garantias começaram a perder valor.

As subprime foram a faísca que acendeu o fogo, mas o mercado das subprime não era suficientemente grande para atingir todo o sistema financeiro. Isso exigir tremores no sistema bancário paralelo. Eis um trecho de um artigo de Nomi Prins que fala de quanto dinheiro está envolvido aqui:

“Entre o ano de 2002 e o início de 2008, aproximadamente 1,4 trilhões de dólares em hipotecas subprime correspondiam a emprestadores que tinham quebrado como New Century Financial. Se esses empréstimos fossem nosso único problema, no papel a solução poderia ter sido que o governo subsidiasse essas hipotecas até um custo máximo destes 1,4 trilhões de dólares. No entanto, e segundo Thomson Reuters, outros 14 trilhões de dólares em produtos financeiros complexos se criaram a partir dessas hipotecas, precisamente porque os fundos de investimento estimularam tanto sua produção quanto sua dispersão. Desde modo, quando se chegou ao máximo de desembolso público em julho de 2009, o governo tinha sido obrigado a gastar 17,5 trilhões de dólares para sustentar a pirâmide de Ponzi de Wall Street, ao invés dos iniciais 1,4 trilhões (Shadow Banking, Nomi Prins,The American Prospect)”.

O sistema bancário paralelo foi criado para que as grandes instituições financeiras que dispunham de muita liquidez tivessem algum lugar onde colocar seu dinheiro no curto prazo com a máxima rentabilidade. Por exemplo, digamos que a Intel tem “sobrando” 25 bilhões de dólares. Pode entregar o dinheiro a um intermediário financeiro como Morgan Stanley em troca de uma garantia (os MBS ou os ABS), e obter em troca um rendimento razoável por seu empréstimo. Mas se aparece algum tipo de problema e se questiona a qualidade da garantia, então os bancos (neste caso, o Morgan Stanley) se vê forçado a realizar cortes e mais cortes que podem acabar colapsando o sistema inteiro. Isso é o que aconteceu no verão de 2007. Os investidores descobriram que muitas das subprimes eram fraudulentas, de modo que bilhões de dólares foram retirados rapidamente dos mercados financeiros e o Federal Reserve teve que intervir para evitar que o sistema entrasse em colapso.

A regulação se estabelece para assegurar que o sistema funcione adequadamente e para proteger as pessoas contra fraudes. Mas a atividade bancária é mais lucrativa quando não há regras, razão pela qual os líderes do setor e seus grupos de pressão seguem tentando impedir os esforços para introduzir reformas. E, em geral, tem conseguido. A lei Dodd-Frank (de reforma do sistema financeiro) está repleta de lacunas e não resolve realmente os problemas cruciais da qualidade dos empréstimos, da disponibilidade de capital e da diminuição dos riscos. Os bancos seguem podendo conceder tranquilamente hipotecas a pessoas desempregadas com muitas possibilidades de não poder pagá-las, da mesma forma que faziam antes da crise. E seguem utilizando-as para produzir complexos instrumentos de dívida sem manter nem sequer 5% do valor original do empréstimo (esta questão segue em disputa, de fato). Além disso, as agências governamentais não poderão forçar as instituições financeiras a incrementar sua capitalização apesar de seguir existindo o perigo de que uma pequena turbulência no mercado possa quebrá-las, colocando em sério perigo o resto do sistema. Wall Street saiu ganhando de novo e agora a oportunidade para um novo impulso regulador já passou.

O presidente Barack Obama entende onde radica o problema, mas também sabe que não será reeleito sem o apoio de Wall Street. É por isso que há apenas duas semanas prometeu no Wall Street Journal que seguiria reduzindo a “gravosa” regulação que afeta a Wall Street. Sua coluna tratava de antecipar-se à publicação do informe final da Comissão de Investigação da Crise Financeira (FCIC, Financial Crisis Inquiry Commission), que possivelmente fará recomendações em defesa da regulação pública do setor. Obama torpedeou esse esforço ao ser colocar ao lado da grande finança. Agora é uma questão tempo até que haja outro crack.

Este é um trecho de um informe especial do Banco Federal de Nova York sobre o sistema bancário paralelo:

“Na véspera da crise financeira, o volume de crédito intermediado pelo sistema bancário paralelo era próximo aos 20 trilhões de dólares, ou seja, quase o dobro dos 11 trilhões que o sistema bancário tradicional intermediava. Hoje, essas mesmas cifras são de 16 trilhões e 13 trilhões, respectivamente. A debilidade dos administradores de fundos não surpreende quando só se dispõe de muito pouco capital para respaldar suas carteiras de ativos e, em troca, os investidores têm tolerância zero em relação às perdas (“Shadow Banking”, Federal Reserve Bank of New York Staff Report)”.

Assim que, quando o Lehman Brothers se desintegrou, entre 4 e 7 trilhões de dólares simplesmente viraram fumaça. Quantos milhões de empregos foram perdidos em função de uma má regulação? Quando se reduziu o PIB, a produtividade e a riqueza nacional? Quantas pessoas vivem agora dos cheques de alimentação estatais, ou dormem ao relento, ou tratam de evitar a falência de seus negócios porque algumas instituições financeiras desreguladas puderam dedicar-se à intermediação do mercado de crédito sem que o governo as supervisionasse?

Ironicamente, o Federal Reserve de Nova York nem sequer tenta negar a origem do problema: a desregulação. Eis o que dizem em seu informe: “Manejar a regulação foi a razão última da existência de muitos bancos no sistema paralelo”. O que isso quer dizer. Quer dizer que Wall Street sabe perfeitamente que é mais fácil ganhar dinheiro sem regras...as mesmas regras que protegem o público da depredação por parte de especuladores e gananciosos.

A única forma de arrumar o sistema é submeter à necessária regulação a qualquer instituição que atue como um banco. Sem exceções.

(*) Mike Whitney é um analista político independente que vive no estado de Washington e colabora regularmente com a revista norteamericana
CounterPunch.
Tradução: Katarina Peixoto


A morte da Europa Social
A história da Europa dependerá de como ela lidará com esta crise; se segue o curso pacífico do benefício mútuo e prosperidade econômica tão apreciados nos manuais de ciência econômica, ou se segue a espiral baixista da austeridade, que tanto tem tornado impopulares os planejadores do FMI, nas economias devedoras. É nesse barco que a Europa embarcará? Esse é o destino do projeto de uma Europa social, de Jacques Delors? É isso o que os cidadãos da Europa esperavam, quando adotaram o euro? Há uma alternativa, nem é preciso dizer. É que os credores do cume da pirâmide econômica arquem com as perdas. O artigo é de Michael Hudson e Jeffrey Sommers.
Michael Hudson e Jeffrey Sommers - SinPermiso
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17443&boletim_id=833&componente_id=13654




A questão do oriente Médio, particularmente do Egito, ainda está de pé. Não vou colocar nenhum artigo a mais aqui no boletim, mas vou remete-los a um Especial da Agencia Carta Maior, com dezenas de artigos a respeito.
Leia aqui:
http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm
E a esta charge do Maringoni, extraída deste mesmo Especial.




O que levar em conta na hora de fazer um trabalho científico? Quais são os formatos utilizados em artigos, monografias, dissertações e teses? Depois de responder muitas vezes a essas questões, o professor Celso Ferrarezi Junior decidiu colocar as respostas em um manual didático. Assim, este Guia do trabalho científico traz todas as informações necessárias para a elaboração de trabalhos finais de boa qualidade.

Com instruções claras sobre a melhor maneira de elaborar e apresentar um texto acadêmico, desde o projeto inicial até a redação final no formato esperado pela instituição, o livro traz exemplos retirados de trabalhos reais, elaborados nas mais diversas áreas de pesquisa e aprovados em renomadas instituições brasileiras.
A obra é uma poderosa aliada a todos que precisam elaborar um trabalho científico, desde a conclusão de curso até o doutorado.

Editora: Contexto - Nº de Páginas: 160 R$ 25,00




Historiadores de nosso tempo, organizada por Marcos Lopes e Sidney Munhoz.
“Muito interessante e das mais oportunas é a idéia de uma coletânea de estudos sobre historiadores estrangeiros já bastante conhecidos entre nós. (...) Oportuna, esta iniciativa
coloca ao alcance do leitor, sobretudo docentes e alunos dos cursos de Ciências Humanas em geral, e de História, em particular, textos fundamentais da historiografia contemporânea, isto é, autores e obras que constituem verdadeiros marcos no campo da escrita da História ao longo
do último meio século.
(...)” (Trecho da Apresentação, por Francisco José Calazans Falcon).

“Obra oportuna e excelente: eis o que devo dizer, antes de tudo, acerca do livro Historiadores de nosso tempo (...). A obra reúne ensaios de historiadores brasileiros sobre dezesseis historiadores estrangeiros que marcaram decisivamente a historiografia ocidental nos últimos 40 anos.
Cada ensaio traça a biografia de cada autor em conexão com sua obra, considerada no sentido o mais amplo possível, não se restringindo a tal ou qual livro emblemático. Tem-se, assim, um panorama do percurso de cada historiador, incluindo as mudanças de perspectiva ou de interesse temático, segundo o andar da historiografia, da vida pessoal de cada um e, certamente, da própria história”.
(Trecho do Prefácio, por Ronaldo Vainfas).
Apresentação –– FRANCISCO JOSÉ CALAZANS FALCON
Prefácio –– RONALDO VAINFAS
Carlo Ginzburg –– HENRIQUE ESPADA LIMA
Edward Palmer Thompson –– RICARDO MULLER/SIDNEI MUNHOZ
Emmanuel Le Roy Ladurie –– ESTEVÃO DE REZENDE MARTINS
Eric Hobsbawm –– MARCOS LOBATO MARTINS
Eugene D. Genovese –– DOUGLAS C. LIBBY/EDUARDO F. PAIVA
Georges Duby –– FELIPE FABRI
Jacques Le Goff –– ANDRÉA FRAZÃO/LEILA R. DA SILVA
Jean Delumeau –– GERALDO PIERONI
Jean-Pierre Vernant –– FÁBIO DUARTE JOLY
Michelle Perrot –– RACHEL SOIHET
Natalie Zemon Davis –– JACQUELINE HERMANN
Peter Burke –– JOSÉ D’ASSUNÇÃO BARROS
Phillipe Ariès –– SHEILA DE CASTRO FARIA
Quentin Skinner –– MARCOS ANTÔNIO LOPES
Robert Darnton –– TEREZA CRISTINA KIRSCHNER
Roger Chartier –– HELENICE RODRIGUES DA SILVA


Uma mensagem a todos os membros de Cafe Historia
O Café História segue em seu especial "Ditaduras Militares na América do Sul". Desta vez, publicamos um artigo sobre o museu que está enfrentando de frente a dura memória do regime autoritário de Augusto Pinochet. Confira:


MISCELÂNEA CAFÉ HISTÓRIA

O Museu da Memória

O maior museu sobre uma ditadura militar sul-americana, o "Museo de La Memoria y Los Derechos Huamanos", faz do Chile um pioneiro enfrentamento de uma das memórias mais tristes da história recente do país.

ENQUETE CAFÉ HISTÓRIA

Você acredita que o governo Dilma Rousseff vai avançar na abertura de arquivos da Ditadura Militar Brasileira?

CONTEÚDO DA SEMANA

Esta semana, o destaque fica com o Grupo de Estudos "Nélson Rodrigues", criado por Leandro Santos. A proposta deste grupo é debater assuntos recorrentes ao dramaturgo que implantou o modernismo no teatro brasileiro, suas peças, novelas, contos e todo o seu universo ficcional, além de suas repercussões na sociedade.

DOCUMENTO HISTÓRICO

Capa histórica da revista americana Time, 19 de junho de 1989. Nesta edição, uma cobertura completa sobre as manifestações populares que aconteciam na China.

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