quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Numero 303










Por uma grande coincidência, temos três artigos iniciais abordando o mesmo tema: meio ambiente. Os dois primeiros se relacionam com o vídeo que a Globo colocou no ar, atacando a construção da Usina de Belo Monte.
Eu confesso que ainda não estou completamente “por dentro” deste assunto. Tenho lido muita coisa, mas ainda não firmei posição. Acredito que muitas pessoas também ainda não o fizeram. Oxalá estes dois artigos, de nossos colaboradores José de Souza Castro e Antônio de Paiva Moura possam ajudar a esclarecer.
O terceiro artigo, contribuição da nossa amiga e colega Bete Gontijo, diz respeito a um possível novo desastre ecológico com a abertura de uma mina de diamantes em Delfinópolis (MG)... onde nasce o Rio São Francisco... é esperar para ver se os interesses das mineradoras e de alguns prefeitos destruirão aquela região...
O quarto artigo, de nossa colaboradora Ana Cláudia, diz respeito às mazelas do nosso Judiciário.
Na segunda parte, links para temas internacionais. Notícias do Café História e da ANPUH fecham este número.



1. ARTIGOS COMPLETOS

Os dois lados de Belo Monte
Texto de José de Souza Castro


Há alguns dias, 19 artistas da Rede Globo de Televisão desferiram um ataque maciço contra a construção da Usina de Belo Monte. O canhoneio veio na forma de um simpático vídeo que se inspirou num outro feito nos Estados Unidos por Spielberg (http://www.youtube.com/watch?v=0vtHwWReGU0&feature=grec_index)
durante a campanha eleitoral que elegeu o atual presidente, para motivar os eleitores a votarem.
O vídeo dirigido por Marcos Prado pode ser visto AQUI.(
http://movimentogotadagua.com.br/)
No dia 25 último, o blog Verde informou que o Movimento Gota D’Água conseguiu, por meio desse vídeo, reunir mais de um milhão de assinaturas em sua página na internet, num abaixo-assinado a ser entregue à presidente Dilma Rousseff pedindo a interrupção imediata das obras da hidrelétrica de Belo Monte.
Um dos que assinaram, impressionado com os argumentos de Ary Fontoura, Juliana Paes, Cissa Guimarães, Maitê Proença, Marcos Palmeiras e outros 14 atores globais, me enviou no último dia 25 o vídeo. Perguntei se ele se preocupara em ouvir o outro lado. Não. Três dias depois, se redimiu, enviando este outro vídeo,
(http://www.youtube.com/watch?NR=1&v=jsfAI2V5m34) que responde com números ao vídeo anterior. Usa-os, em vez de artistas. O vídeo é uma voz de homem, duas mãos, papéis, caneta... e números.
Antes de tomar posição a respeito, é preciso pelo menos ver os dois vídeos. Ou então ir ao site da Agência Nacional de Energia Elétrica e procurar lá, no mapa do site, o edital de geração, publicado em 2009, da usina de Belo Monte. Parece que foi isso que fez o jornalista Davis Sena Filho, do blog Palavra Livre, do site do Jornal do Brasil, antes de escrever ESTE artigo.
(http://jblog.jb.com.br/palavralivre/2011/11/22/1117/)
Um artigo que, se convidado, eu assinaria embaixo.


Ecologismo fashion

Antonio de Paiva Moura
Virou moda elegante o discurso ecológico, isto é, o espectro do ecologismo ronda nossas cabeças. Todas as tendências políticas tanto da direita quanto da esquerda, todos se manifestam piedosos defensores do meio ambiente. Como diz Bagno (2010): Todos se escandalizam com as sacolinhas de plástico e aquecimento global causado pelo efeito estufa. Em certas situações, é mais grave matar uma planta selvagem do que matar um homem. Ainda segundo Bagno, os discursos ecologistas atuais são todos de origem neoliberal. Em nenhum momento se questiona o modelo capitalista de consumismo doentio que cria necessidades de objetos de consumo, aumentando o sacrifício da natureza. O ideal de desenvolvimento sustentável é uma enganação que tenta amenizar os efeitos do crescimento econômico. Os ecologistas da moda se preocupam com a caça às baleias ou com as serpentes que morrem com o desmatamento, mas não se importam com os adolescentes das comunidades pobres do Brasil. Os adolescentes das favelas e vilas que têm uma expectativa de vida de 17 anos, vítimas de um genocídio praticado pelos traficantes, por seus aliados e policiais corruptos. O terrorismo verde praticado por entidades como Greenpeace visa distrair o povo desviá-lo do compromisso social.
Um conceito de desenvolvimento que não resulta da demagogia do ecologismo nega a necessidade do crescimento econômico. Desenvolvimento não é igual a “produtivismo-consumismo”, mas é desdobrar as potencialidades existentes nas pessoas e na sociedade para que todos tenham vida e possam viver bem. No dizer de Lesbaupin (2010) não basta fazer coleta seletiva de lixo; evitar o desperdício de água; substituir os carros a gasolina por carros elétricos. Na verdade, o que é preciso mudar, para interromper a destruição do planeta é o tipo de desenvolvimento.
Durante o século XX a economia foi centrada na produção crescente e no consumo de bens. Sem o crescimento econômico o capitalismo entra em processo de ruínas. O PIB (produto interno bruto) de um ano tem que ser necessariamente maior que o ano anterior. Para aumentar a produção é necessário aumentar os meios de transportes. Na primeira metade do século XX as locomotivas de trens de ferro, de navios e as usinas de energia elétrica eram movidas a vapor. O governador de Minas Geais, Milton Campos, em 1947 dizia que a lenha era um combustível pobre em valor calorífico; de alto custo e que estava acabando com as reservas florestais do estado. Só o transporte consumia, por ano, 24 milhões de metros cúbicos de madeira. Para outros fins iam mais três milhões de toneladas por ano.
A humanidade precisa de um modelo econômico que produza aquilo que é vital e não aquilo que as empresas querem que seja consumido. Basta dizer que no Brasil já existem mais aparelhos celulares ligados que o número de habitantes. Os empresários e os consumidores não imaginam o grau imenso de sacrifício para natureza que é a demolição por implosão de um edifício de 14 andares. Os casarões antigos que utilizaram material de primeira, hoje viram pó em questão de segundo. Mas a moda diz que antiecológico é só a usina de Belmonte.
Como determina o modismo, a causa ecológica ofusca a causa antropológica. Isto é, fecha os olhos e os ouvidos para o fato de que a humanidade está em perigo. Essa cegueira e essa mouquidão são geradas pelo próprio capitalismo na ânsia de permanecer vivo. O pensamento de Lucien Sève (2011) nos conclama a abrir os olhos para o perigo da mercantilização dos seres humanos; a banalização e destruição de valores construídos ao longo das civilizações. Diz textualmente: Os horrores sociais e genocídios não contribuem para embelezar os últimos duzentos anos, nos quais a história registra purificação étnica, escravidão, pilhagem armada de países pobres, engenhosidade mortal do terrorismo, oficialização da tortura, concorrência desenfreada de empresas, crises financeiras, policiamento e controle das classes subalternas e o aniquilamento dos movimentos sociais.
A redução da consciência de classe ao ponto de mulheres e homens não saberem o lugar que ocupam na sociedade é um retrocesso mental catastrófico. É assim que Sève questiona: Por que o problema antropológico, refletido no social e no cultural, é tão grave, mas é menos conhecido que o ecológico? Exatamente porque coloca a questão antropológica na forma de incriminar diretamente o abuso estrutural do ser humano pelo capitalismo. O pensamento ecológico ataca a forma abusiva de consumo, mas poupa o abuso da forma de produção que visa menor custo e maior lucro. O tal desenvolvimento sustentável apenas finge preservar a natureza, mas despoja o homem do principio ao fim do processo de produção e consumo.
Referências
BAGNO, Marcos. Discurso ideológico? Cuidado! Caros Amigos. São Paulo, n. 163, out. 2010.
CAMPOS, Milton Soares. Mensagem [...] apresentada pelo governador à Assembléia Legislativa. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1947.
LESBAUPIM, Ivo. Por uma nova concepção de desenvolvimento. Le Monde Diplomatique Brasil. São Paulo, n. 40, nov. 2010.
SÈVE, Lucien. Causa ecológica e causa antropológica. Le Monde Diplomatique Brasil. São Paulo, n. 52, nov. 2011.


Colaboração de Bete Gontijo:

Publicado no Jornal OTEMPO
http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdNoticia=189025 em 27/11/2011


DELFINÓPOLIS. A área do Parque Nacional da Serra da Canastra, berço da nascente do rio São Francisco, em Minas Gerais, que pode se tornar a maior mina de diamante do mundo, não tem ainda, divulgados à comunidade, estudos de impacto ambiental.
O parque deverá ter sua área reduzida de 200 mil para 120 mil hectares, conforme projeto de lei que tramita
no Congresso e pode ser votado no ano que vem. O restante da área será usado em atividades econômicas e até mineração.
Apesar das propostas, não há qualquer garantia de benefício para o município de Delfinópolis, a pequena cidade turística cuja principal atração são as dezenas de cachoeiras e cursos d´água que brotam em suas terras. A cerca de dois quilômetros da futura área de exploração, há a nascente do Ribeirão do Claro, que abastece a cidade e dá origem a várias cachoeira e quedas d´águas.
A riqueza dos minérios está no solo e pertence à União. Para extraí-la, é inevitável algum tipo de estrago. No caso da Canastra 8, em Delfinópolis, não foi feito ainda o estudo sobre o tamanho da cava a ser aberta, mas pesquisas indicam que a área onde está presente o kimberlito, rocha que contém os diamantes, é equivalente a 28 campos de futebol. Na área da Canastra 1, onde já foram feitos estudos, sabe-se que o formato da cava é o de cenoura. Ou seja, a retirada do diamante não abre uma cicatriz gigantesca na terra.
*Lucro certo*.
A extração de diamante para exportação é um grande negócio para a mineradora. Ao contrário do petróleo, ela não gera royalties expressivos. A taxa cobrada pela exploração é a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem), de apenas 0,2% sobre o faturamento líquido com a venda da pedra preciosa. São pagos ainda outros 12,7% de Imposto de Renda (IR) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), percentual inferior ao Imposto de Renda cobrado dos assalariados de renda mais alta, cuja alíquota de contribuição do IR é de 27,5%.
Antes de calcular o valor da Cfem, as empresas podem deduzir custos como despesas de transporte. Não é raro que muitas abatam uso de pás-carregadeiras e caminhões fora de estrada, além do transporte entre suas unidades de pré-processamento.
*Pelo mundo*.
Cerca de 80% do mercado mundial de diamantes pertence à empresa De Beers, o que torna a exportação a opção mais lógica. Além disso, se fosse vendido no mercado interno, os impostos seriam mais altos. À Cfem e à alíquota de 12,7% de IR e CSLL, seria acrescido o ICMS - 18% quando a venda é feita no próprio Estado e 12% quando a venda é interestadual.
Para se ter uma base de comparação, o ouro, que vale menos do que o diamante, paga 1% de compensação financeira (Cfem). Na Austrália, o diamante é taxado em 7,5% na mina. Na China, em 4% do valor de venda. Na Indonésia, em 6,5%. Não se tem notícia de que custos operacionais na exploração da mina possam ser deduzidos no processo.
Um estudo feito pela Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados em 2007 expôs a situação não apenas do diamante, mas de todo o setor de mineração, que paga no máximo uma taxa de compensação financeira de 3%, caso do minério de alumínio e do potássio, por exemplo.
"O Brasil arrecada valores irrisórios de compensação financeira pela exploração de recursos minerais. Atualmente, o valor arrecadado no setor mineral é inferior à trigésima parte do que decorre da exploração do petróleo", diz o estudo.
*Compensação pode ser maior*
Delfinópolis. Há uma discussão em curso no país para aumentar a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem) do diamante de 0,2% para 0,5%. Para o ouro, a taxa poderia subir até 3% e, no caso de outros minérios, chegaria a até 5%.
"A exportação de minérios é tratada como a de qualquer produto. O valor que a mineradora paga é muito pouco. O Brasil precisa ser inteligente e fazer uma regulamentação", diz Hecliton Santini, presidente do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos.
*Justificativa*
Troca. O relator do projeto, senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), diz que as duas áreas retiradas do parque serão compensadas por outras duas de valor ambiental até maior, que incluiriam a cachoeira Casca d’Anta.

Riquezas. Na serra da Canastra, basta olhar as pedras e rochas do solo para ver que têm valor
POPULAÇÃO
Moradores temem impacto socioambiental e a migração
Delfinópolis. Os moradores estão preocupados com a possibilidade de a extração de diamante causar impacto na região. "O Instituto Chico Mendes já nos apresentou com a exclusão das áreas. Como antes eles tinham dito que o Vão dos Cândidos, para ser liberado, teria de ser estudado por causa do deslocamento de animais, subentendemos que já havia estudos de impacto ambiental", diz Rinaldo Sebastião de Almeida, presidente da Associação Representativa dos Canastreiros, que defende a regularização das áreas de produtores rurais e proprietários de terras.
O Vão dos Cândidos, pelo projeto, será transformado em monumento natural, que permite propriedade privada. Almeida diz que não viu estudo de impacto da exploração de diamante.
Oscar Ferreira Neto, da ONG Canastrazul, afirma que o mais preocupante é a forma como a mineração pode afetar as águas, uma vez que, a cerca de 2 quilômetros da Canastra 8, onde podem estar os diamantes, nasce o ribeirão do Claro, que abastece a cidade.
Para o professor José Leite Sobrinho, 83, a mineração poderá causar transformação social, pois vai atrair uma população flutuante. "Nossa tranquilidade será totalmente perturbada por causa do valor deste diamante", diz.
*Entenda*.
A redução da área do parque para 120 mil hectares seria votada até a última quarta-feira na Câmara dos Deputados. O relator da medida provisória 542 havia incluído a emenda, mas acabou retirando. O assunto voltará a ser discutido no Senado, em projeto de lei em andamento.
DELFINÓPOLIS. No município de Delfinópolis, a quantidade de cachoeiras surpreende e dali é possível avistar a imponência da serra da Canastra, reduto de patos-mergulhões, lobos-guará e de uma diversidade de flores, plantas e cursos d´água.
A serra abriga a nascente do rio São Francisco e dezenas de outras, mas a água não brota do chão. É a umidade trazida pelos ventos da Amazônia, no encontro com as rochas, que produz o fenômeno do berçário de águas. Elas escorrem pelas rochas.
Poderia ser um paraíso, mas não tem sido assim. A beleza natural e a riqueza não encontraram um ponto de equilíbrio que dê, a seus cerca de 7.000 moradores, a tranquilidade que o cenário aparenta.
Desde a década de 70, quando o parque foi criado, moradores lutam para permanecer no local e ter direitos de propriedade garantidos. Para sair e entrar em Delfinópolis, o principal acesso é por balsa, cuja espera é de quatro horas nos fins de semana. Uma barragem no rio Grande deu origem à represa Mascarenhas de Morais, que praticamente isolou a cidade.
*Ninguém nunca viu*.
Na serra da Canastra, basta pisar no chão e olhar para as pedras e rochas para saber que elas valem dinheiro. Os moradores sabem há muito tempo que ali tem diamante. Mas quem vive em Delfinópolis diz que as caixas só saíam do local fechadas. Um diamante, ninguém nunca viu. Na região funcionam ainda mineradoras de quartzo e quartzito.
ARRECADAÇÃO
Prefeito quer o aumento da receita
Delfinópolis. O prefeito de Delfinópolis, José Martins, afirma que o município ficará com 65% de uma alíquota de 3% da receita bruta com a exploração de diamante. A avaliação dele é que, se existe minério, o melhor é explorar.
"A partir do momento em que existe minério, que existe petróleo, que existe receita para o município, é melhor para a população. Hoje ficamos submissos ao Estado e ao governo federal, ficamos de pires na mão pedindo migalhas para o município, que tem obrigação de cuidar da saúde, da educação, de estrada, assistência social e até de segurança pública", diz.
Martins afirma que não viu estudo do impacto ambiental a ser causado pela exploração. Informalmente, acrescenta, os envolvidos na aprovação do projeto de redução do parque, com exclusão de duas áreas, dizem que não será necessário abrir uma grande cava, apenas um pequeno buraco na superfície.
Fonte: O Tempo -
http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdNoticia=189025,OTE&IdCanal=5




Colaboração de Ana Cláudia (mas veio sem o autor...se alguém souber, me avise, por favor, para que eu dê os devidos créditos!)

Nepotismo e privilégios ameaçam Judiciário

O Judiciário brasileiro vive um péssimo momento, e não é de hoje. A novidade é que agora os seus malfeitos, práticas pouco republicanas, corporativismo e defesa de privilégios estão sendo revelados à sociedade, da mesma forma como ocorre com os demais poderes e instituições. Os meritíssimos precisam entender que não estão acima do bem e do mal.
A cada dia surgem fatos novos que envolvem magistrados em situações que antes pareciam restritas a membros do Executivo e do Legislativo. Ficamos sabendo, por exemplo, em reportagem publicada por Vera Magalhães, na "Folha" desta terça-feira, que o ministro Ari Pargandler está em campanha aberta para emplacar sua cunhada Suzana Camargo na vaga aberta no Superior Tribunal de Justiça, que ele preside.
Pargandler é aquele patriota que ganhou notoriedade ao ofender e demitir um estagiário após discussão na fila do caixa automático do tribunal. Por i
sso, responde a processo criminal no Supremo Tribunal Federal.
Suzana Camargo é desembargadora do Tribunal Regional Federal, da 3ª Região, em São Paulo. Ficou famosa em 2009 ao informar ao então presidente do STF, Gilmar Mendes, que o gabinete dele havia sido grampeado, quase provocando uma crise institucional. Até hoje não apareceu o produto do grampo, quer dizer, a tal fita. Na lista tríplice enviada pelo STJ à presidente Dilma Rousseff, a desembargadora aparece em terceiro lugar.
O lobby de Pargendler, casado com uma irmã de Suzana, é tão descarado que já está constrangendo outros ministros, como dois deles revelaram a Vera Magalhães. Nos últimos dias, o presidente do tribunal tem feito uma romaria por gabinetes de senadores e deputados em busca de apoio para a sua protegida.
Aos poucos vamos conhecendo outras mazelas do Judiciário em espaços antes reservados a ministros e parlamentares. Na mesma edição do jornal, o competente colega Frederico Vasconcelos informa que "Peluso protege identidade de juízes sob investigação". Atendendo a pedido da Associação dos Magistrados Brasileiros, o presidente do STF, Cézar Peluso, mandou tirar do site do Conselho Nacional de Justiça as iniciais dos juízes que respondem a processos disciplinares em tribunais estaduais.
Fora os casos que correm em segredo de Justiça, os processos são públicos, e não há nenhuma razão para que magistrados tenham um tratamento privilegiado em relação aos demais cidadãos. Ou não somos todos iguais perante a lei, segundo a Constituição em vigor? O país não tem o direito de saber o que consta destes processos, quais as providências tomadas?
O que impressiona é o número de magistrados investigados. Na semana passada, havia 1.353 processos em tribunais estaduais. A corregedoria nacional, presidida pela ministra Eliana Calmon, a primeira levantar os véus que protegiam o Judiciário, tem em seu cadastro 2.300 processos envolvendo magistrados.
Mais do que em qualquer outra repartição pública, vale para os membros da Justiça a célebre frase da mulher de Cesar: não basta ser honesto, é preciso parecer honesto. Em muitos casos, como vemos, não é o que está acontecendo. A imagem do Judiciário está ameaçada pelos seus próprios integrantes, o que não é nada bom para a nossa jovem democracia.
Meus parabéns à ministra Eliana Calmon pela coragem de revelar o que outros querem esconder. A sociedade brasileira agradece.


2. VALE A PENA LER

Greve geral repudia pacote de arrocho para Portugal
Trabalhadores portugueses cruzaram os braços numa greve geral contra as medidas de arrocho dotadas pelo governo. O contestado pacote prevê meia hora a mais de trabalho por dia sem aumento de remuneração, corte de salários e de subsídios de Natal e de férias para funcionários públicos, aumento de impostos, flexibilização das regras para desligamentos, entre outras medidas. Ele faz parte das contrapartidas para o socorro financeiro de € 78 bilhões da chamada troika (FMI, BC Europeu e Comissão Européia). A reportagem é de Maurício Hashizume, direto de Coimbra.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19047&boletim_id=1063&componente_id=16996



A rede do poder corporativo mundial
Como as transnacionais tornaram-se principal núcleo organizado de poder no planeta., Como elas utilizam sua influência para concentra riqueza e interferir na política. Por Ladislau Dowbor

Egito, primavera e eleições
Reportagem sobre país que vai às urnas. Em meio a domínio militar e crescimento islâmico, revolucionários buscam lugar ao sol. Por Nate Wright

Colômbia: educação não é mercadoria
Estudantes colombianos estão em greve contra projeto de lei governamental e prometem paralisar o país em aliança com organizações sociais. Por Sérgio Ferrari






















3. CAFÉ HISTÓRIA

MISCELÂNEA CAFÉ HISTÓRIA

É com grande orgulho e satisfação que informamos que o Café História está sendo apresentado como case de sucesso na primeira página do site do Ning, plataforma americana na qual a rede é construída e encontra-se hospedada.

LEIA: http://cafehistoria.ning.com (Página Principal)

CAFÉ EXPRESSO NOTÍCIAS

Homenagem a militar da ditadura gera protestos no Chile

LEIA: http://cafehistoria.ning.com (Página Principal)

MURAL DO HISTORIADOR

Encarte do Professor, da Revista de História da Biblioteca Nacional
Evento em História Cultural

CONFIRA: http://cafehistoria.ning.com (Página Principal)

VÍDEO EM DESTAQUE

Renascimento: Um Mundo em Transformação

ASSISTA: http://cafehistoria.ning.com/video/um-mundo-em-transforma-o

FÓRUM EM DESTAQUE

A importância do historiador seria lembrar o que os outros esquecem?

PARTICIPE: http://cafehistoria.ning.com/forum/topics/a-import-ncia-do-historiador-seria-lembrar-o-que-os-outros

Visite Cafe Historia em: http://cafehistoria.ning.com/?xg_source=msg_mes_network


4. INFORMATIVO DA ANPUH

a) Chamada de artigos - Revista Brasileira de História
RBH 63 (junho/2012) – Igreja e Estado
Prazo para envio de colaborações: 31 de março de 2012
RBH 64 (dezembro/2012) – Trabalho e Trabalhadores
Prazo para envio de colaborações: 31 de agosto de 2012
Informamos também que a edição 61 já teve mais de oito mil acessos no Scielo. Essa marca supera a de qualquer outro lançamento da RBH, mesmo tendo ido ao ar no Scielo três semanas após seu lançamento no site da RBH.
A próxima edição da RBH, nº62, dossiê Festas, está sendo finalizada. A previsão de lançamento é para dezembro de 2011, em nosso site e no Scielo. Trata-se de uma continuação da edição anterior em comemoração aos cinquenta anos de ANPUH e trinta de RBH.

b) Chamada de Artigos - Revista História Hoje.
A revista História Hoje anuncia abertura de nova série e divulga chamada para submissão de artigos para o biênio 2011/2013 conforme o seguinte calendário
V. 1, n. 1: Dossiê Temático O ensino de História da África e da Cultura Afrobrasileira
Data para submissão de artigos livres : 20 de dezembro de 2011
Lançamento do número: Julho/2012
V 1, n. 2: Dossiê Temático O ensino da História Indígena
Data limite para submissão de artigos livres: 20 de junho de 2012
Lançamento do número: Janeiro/2013
V. 2, . 3: Dossiê Temático: O lugar da formação do professor nos cursos de História
Data limite para submissão de artigos livres: 20 de dezembro de 2012
Lançamento do número: Julho/2013
V. 2, n. 4: Dossiê Temático: O ensino de História e o tempo presente
Data limite para submissão de artigos livres: 20 de junho de 2013
Lançamento do número: Janeiro/2014

c) concursos (maiores informações podem ser obtidas nos sites das instituições)
UMA VAGA PARA PROFESSOR DE HISTÓRIA DO BRASIL E HISTÓRIA DO CEARÁ
Instituição: Instituto Superior de Teologia Aplicada (INTA)
Inscrições: até 02/12/2011

DOCENTE EM HISTÓRIA DA AMÉRICA PORTUGUESA
Instituição: Universidade Estadual Paulista (UNESP/Assis)
Inscrições: até 06/12/2011

MESTRADO ACADÊMICO E DOUTORADO
Instituição: Universidade Estadual Paulista (UNESP/Assis)
Inscrições: até 10/12/2011

MESTRADO EM HISTÓRIA
Instituição: Universidade de Passo Fundo (UPF)
Inscrições: até 14/12/2011

BOLSISTAS DE PÓS-DOUTORAMENTO DA FAPESP
Instituição: Centro de Estudos da Metrópole
Inscrições: até 16/12/2011

UMA VAGA PROF ADJUNTO DE PRÁTICA DE ENSINO DE HISTÓRIA
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Inscrições: até 05/01/2012

UMA VAGA PROF ADJUNTO DE TEORIA DA HISTÓRIA / HISTORIOGRAFIA
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Inscrições: até 05/01/2012

4 VAGAS - PROFESSOR DE HISTÓRIA - NÃO TITULAR
Instituição: Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNIOESTE)
Inscrições: até 20/01/2012

UMA VAGA - PROFESSOR DE ENSINO DE HISTÓRIA EDITAL - NÃO TITULAR
Instituição: Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNIOESTE)
Inscrições: até 20/01/2012

MESTRADO EM HISTÓRIA DO BRASIL
Instituição: Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO)
Inscrições: até 27/01/2012

MESTRADO EM HISTÓRIA SOCIAL
Instituição: Universidade Severino Sombra
Inscrições: até 27/02/2012

PRÊMIO INTERNACIONAL EM HISTÓRIA: IMPÉRIO, TERRA E TERRITÓRIO
Instituição: Várias instituições
Inscrições: até 31/03/2012


d) Eventos (maiores informações podem ser obtidas nos sites das instituições)
I ENCONTRO DE HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL DO PARÁ (novo)
Data: 08 a 10 de dezembro de 2011
Local: Universidade Federal do Pará (UFPA)

II COLÓQUIO NACIONAL MICHEL FOUCAULT: O GOVERNO DA INFÂNCIA
Data: 12 a 14 de dezembro de 2011
Local: Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

I CONFERÊNCIA NACIONAL DE ARQUIVOS (novo)
Data: 15 a 17 de dezembro de 2011
Local: Brasilia (acesse o site p/ maiores informações)

VII SEMINÁRIO NACIONAL DO CENTRO DE MEMÓRIA: MEMÓRIA, CIDADE E EDUCAÇÃO DAS SENSIBILIDADES (novo)
Data: 13 a 15 de fevereiro de 2012
Local: Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

I CONGRESSO PAN-AMAZÔNICO E VII ENCONTRO DA REGIÃO NORTE DE HISTÓRIA ORAL - HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE & ORALIDADES NA AMAZÔNIA (novo)
Data: 27 a 30 de março de 2012
Local: Universidade Federal do Pará (UFPA)

SIMPÓSIO CENTENÁRIO CONTESTADO: 1912 - 2012
Local/Data: Universidade Federal de Santa Catarina (29 de maio a 1° de junho de 2012), na Universidade Federal de Pelotas (29 a 31 de agosto de 2012) e em Chapecó, na Universidade Federal da Fronteira Sul (de 18 a 22 de outubro de 2012)

VI SIMPÓSIO SOLCHA - SOCIEDAD LATINOAMERICANA Y CARIBEÑA DE HISTORIA AMBIENTAL (novo)
Data: 06 a 08 de junho de 2012
Local: Villa de Leyva, Colômbia

VI SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA CULTURAL: ESCRITAS DA HISTÓRIA: VER – SENTIR – NARRAR (novo)
Data: 24 a 28 de junho de 2012
Local: Universidade Federal do Piaui (UFPI)

VIII ENCONTRO NACIONAL PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTÓRIA e III ENCONTRO IBERO-AMERICANO DE ENSINO DE HISTÓRIA (novo)
Data: 02 a 05 de julho de 2012
Local: Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

XI ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA ORAL: MEMÓRIA, DEMOCRACIA E JUSTIÇA (novo)
Data: 10 a 13 de julho de 2012
Local: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
IX CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: RITUAIS, ESPAÇOS E PATRIMÔNIOS ESCOLARES (novo)
Data: 12 a 15 de julho de 2012
Local: Universidade de Lisboa (UL)

15ª CONFERENCIA DO INTERNATIONAL PLANNING HISTORY SOCIETY (novo)
Data: 15 a 18 de julho de 2012
Local: Universidade de São Paulo (USP)

54 CONGRESSO INTERNACIONAL DE AMERICANISTAS: CONSTRUINDO DIÁLOGOS NAS AMÉRICAS
Data: 15 a 20 de julho de 2012
Local: Universidade de Viena

CONGRÈS INTERNATIONAL DE RECHERCHE EN SCIENCES HUMAINES ET SOCIALES
Data: 24 a 28 de julho de 2012
Local: Hotel Concorde La Fayette, Paris, França

VI ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA DA ANPUH-BA: POVOS INDÍGENAS, AFRICANIDADES E DIVERSIDADE CULTURAL - PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO E ENSINO (novo)
Data: 13 a 16 de agosto de 2012
Local: Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC/Ilhéus)

XIV ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA DA ANPUH-SC: TEMPO, MEMÓRIAS E EXPECTATIVAS (novo)
Data: 19 a 22 de agosto de 2012
Local: Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)

13º SEMINÁRIO NACIONAL DE HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA (novo)
Data: 03 e 06 de setembro de 2012
Local: Universidade de São Paulo (USP)

XI ENCONTRO DE HISTÓRIA DA ANPUH-MS: HISTÓRIA E DIVERSIDADE: ENSINO E PESQUISA NAS FRONTEIRAS (novo)
Data: 01 a 05 de outubro de 2012
Local: Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Numero 302











Abrimos este número com uma denúncia que recebemos por intermédio de nossa colega Helena Campos. As imagens e o texto dizem tudo:


















Este é o estado atual da estatua do grande empreendedor, industrial, banqueiro, pioneiro da estrada de ferro no Brasil.
Jogada ao lixo num canto da Fabrica de Asfalto da Prefeitura próximo da Leopoldina.
Esta estatua foi inaugurada por nossa família em 13 de maio de 1910 na Praça Mauá, na presença de várias autoridades brasileiras e estrangeiras, para indicar ali o marco inicial da primeira ferrovia no Brasil inaugurada no distante dia 30 de abril de 1854. Fundou Mauá em 1852 a Imperial Ciª de Navegação a Vapor Estrada de Ferro de Petrópolis depois rebatizada por ele em 1874 com o nome de Ciª Estrada de Ferro Príncipe do Grão-Pará, saindo numa barca dali do pier Mauá desembarcava-se no pier da praia de Mauá em Magé na Estação de Guia de Pacobaiba embarcava-se no Comboio indo via Inhomirim, Fragoso, Raiz da Serra até a cidade de Petrópolis.
Este homem que tanto fez pelo Brasil, ferrovias, companhia de Gás, Telegrafo Submarino ligando o Brasil ao resto do Mundo, salvou varias vezes a Nação da falência, embora TODOS tenham negado ajuda quando ele precisou, deu até seus óculos para honrar suas dividas.
O sr. Prefeito Eduardo Paes manda destruir a única homenagem que esta terra fez ao grande brasileiro. Até a bengala da estatua foi roubada
Nós descendentes não temos força para lutar pedimos vossa ajuda para divulgar e denunciar esta injustiça.

Eduardo André Chaves Nedehf Marquês de Viana - tetraneto
Francisca Chaves Nedehf Marquesa de Viana - trineta
Dr. Jorge Paes de Carvalho - trineto
Clarisse Sampaio Vianna - trineta



Na primeira seção deste boletim, que contempla artigos completos, vamos à Europa verificar duas coisas importantissimas: o neonazismo na Alemanha e a formação do Eixo Paris-Berlim-Moscou, que a grande imprensa tem ignorado completamente.

Depois voltamos ao Brasil para falar de censura, em dois artigos.

Na segunda parte, onde colocamos Links para artigos que valem a pena ser lidos, NÃO DEIXE de ler os dois que se referem ao desastre ambiental provocado pela empresa norte-americana Chevron na Bacia de Campos (e que a imprensa custou a descobrir...)

Bom proveito!






PARTE 1 – ARTIGOS COMPLETOS

Alemanha: um mistério neonazista
O caso envolvendo assassinatos cometidos por neonazistas na Alemanha vem provocando uma torrente de debates na mídia e fora dela, envolvendo políticos, autoridades, policiais, associações comunitárias, e começou a repercutir no exterior. A chanceler Ângela Merkel definiu o caso como "uma vergonha para a Alemanha.
Flávio Aguiar

A chanceler Ângela Merkel qualificou o fato – ou melhor, os fatos – como “uma vergonha para a Alemanha”.

Que fatos?

Esse é um problema: ainda não se sabe muito bem. Mas já se sabe que são “uma vergonha”.

Recapitulemos.

No começo de novembro dois homens encapuzados assaltaram uma agência bancária na cidade de Eisenach, ex-Leste alemão. No dia 4 eles foram cercados num trailer, em outra cidade, Zwickau.

Diz a polícia que ao entrar no trailer, que estava em chamas, deparou com os dois mortos, e que eles atiraram um no outro. Suicídio a quatro mãos? Uma disputa que desandou em violência? Não se sabe.

O que poderia ser a solução de um caso revelou-se o portal de outro, até agora um verdadeiro saco sem fundo.

No trailer a polícia encontrou várias armas de fogo. Duas delas chamaram mais a atenção do que as outras. Uma pertencera a uma jovem policial assassinada em 2007, na cidade de Heilbronner. A outra fora a arma usada para cometer uma série de crimes, em várias cidades alemãs. Mais exatamente, nove crimes: oito cidadãos de origem turca, um de origem grega, todos donos de pequenas lojas de alimentos. Por isso os assassinos vêm sendo chamados de “Döner-Mörder”. Döner é a palavra para aquele sanduíche de carne típico desses bistrôs. Além das armas, a polícia encontrou um vídeo onde os dois – Uwe Börnhardt e Uwe Mundlos – praticamente confessavam os crimes, e mais 14 assaltos a banco nos últimos treze anos.

No mesmo dia uma casa em Zwickau pegou fogo, depois de uma explosão. Descobriu-se que os dois Uwe(s) moravam nessa casa, e que ela pertencia a Beate Zschäpe, que se entregou à poloícia e está detida, e acusada, primeiro, de ter explodido a própria casa para destruir provas, e segundo, de ser cúmplice, senão mentora, dos crimes cometidos pela dupla.

Os três foram reconhecidos como membros de grupos e atividades neonazistas há pelo menos 20 anos, originários da cidade de Jena. Foram indiciados várias vezes por essas atividades, que na Alemanha são consideradas como criminosas. Entretanto, a partir de 1998 caíram na clandestinidade. Sumiram. Desde então, não participaram das atividades comuns aos grupos neonazistas: panfletagens, comícios embandeirados, agressões públicas contra estrangeiros. Limitaram-se aos assaltos e aos crimes contra os pequenos negociantes estrangeiros, além de outras agressões que não redundaram em morte.

Ainda com relação a esse caso, na segunda-feira passada (14) a polícia deteve um quarto suspeito de estar implicado nas atividades dos outros três, identificado como “Holfer G.”.

Mais ainda: um quinto suspeito, um policial do serviço secreto regional, foi apontado como estando de serviço nas proximidades de seis dos nove assassinatos contra os estrangeiros. Quando esse policial deixou o serviço, trasnferido, os crimes pararam de acontecer. Mais tarde o serviço de inteligência alemão confirmou que um de seus agentes estivera presente pelo menos num dos assassinatos, cometido num internet café, e que ele deixara o local sem nada fazer.

As perguntas começaram a se acumular.

A primeira, mais evidente, é a de como puderam essas pessoas passar tanto tempo na clandestinidade, sem serem nem mesmo incomodadas pela polícia? A suspeita decorrente é a de que de algum modo houve cumplicidade e proteção.

A segunda, que vem sendo feita com insistência também em outros casos, como o do assassino norueguês que matou dezenas de jovens num acampamento do Partido Social Democrata recentemente, remete a se saber por que os serviços secretos não prestaram a devida atenção às ameaças de terrorismo de direita, mesmo quando os indícios se acumulavam. Será por causa de uma obsessão em relação ao terrorismo provável ou só possível apenas por parte de grupos identificados como islâmicos? Houve negligência?

Um acontecimento paralelo, mais antigo, é revelador de uma tendência pré-concebida. Em 2009 uma jovem egípcia foi assassinada por um neonazista (embora sem militância, só com os preconceitos) em pleno tribunal de Dresden. A jovem movia um processo contra ele por agressão e insultos. O réu, que já havia sido condenado em primeira instância, entrou armado com uma faca na sala do tribunal (o detector de metal estava com defeito - !) e matou a jovem a facadas. O marido – um doutorando em Medicina, também egípcio, tentou impedi-lo. Um policial, chamado às pressas, entrou na sala. O que viu? Um homem de aparência germânica (russo descendente de alemães, na verdade) atracado com um outro homem de aparência, genericamente falando, “muçulmana”. O policial não teve dúvida: atirou no egípcio. Não o matou, mas facilitou assim o assassinato que se consumou.

No caso em questão, diante dos assassinatos dos imigrantes, a polícia sempre insistiu de que se tratava de crimes cometidos por uma "máfia turca" que nunca foi descoberta. A investigação mobilizou 160 policiais que, durante anos, vasculharam as atividades de 11 mil suspeitos, sem resultado. A possibilidade de que se tratasse de crimes de extrema-direita foi descartada liminarmente. A investigação foi chamada de "Operação Bósforo", nome do estreito que divide a cidade de Istambul e separa a Europa da Ásia, na Turquia.

Novas pistas conduziram à hipótese de que o trio e quem mais os ajudou sejam também os responsáveis pelo assassinato de um chefe de polícia na Baviera, em 2008. O assassino (que desferiu uma facada no policial, pelas costas) gritou frases nazistas logo em seguida. Descobriu-se também que eles estavam ligados a atentados em Colônia e Düsseldorf, sempre contra estrangeiros, que deixaram mais de 30 feridos, usando, inclousive, bombas de fragmentação. De onde veio esse arsenal todo?

Além disso, há outras perguntas que ficam no ar.

O quê, afinal, se passou no trailer onde os dois assaltantes foram encontrados mortos?

Todos os assassinados (com exceção da policial) eram pequenos comerciantes. Haveria, além do preconceito contra estrangeiros, um esquema de extorsão? Em caso positivo, haveria mais gente na polícia envolvida com um esquema desses?

Seria possível ter havido uma tentativa de queima de arquivo disfarçada de suicídio a quatro mãos ou disputa entre os dois? Se houve disputa, qual o motivo? Qual o papel da mulher nessa disputa? Poderia ela ter sido a assassina dos dois?

Por que a jovem policial foi assassinada em 2007? Teria ela descoberto algo? Teria alguém “descoberto que ela descobrira” algo, e encomendado a sua morte? Além da sua arma, foram encontradas no trailer suas algemas, além do tubo de gás pimenta que lhe pertencia. Por que? Seriam "troféus"?

As motivações do trio/quarteto, parece, passava
m tanto por preconceitos quanto por razões financeiras. Por que então o dinheiro roubado em Eisenach foi encontrado queimado no trailer? A temperatura neste foi tão alta que derreteu algumas armas. Por que a da policial e a dos "Dönner-Morder" não derreteram também, nem as algemas? Por que o tubo de gás pimenta não explodiu?

O caso vem provocando uma torrente de debates na mídia e fora dela, envolvendo políticos, autoridades, policiais, associações comunitárias, e começou a repercutir no exterior.

“Uma vergonha”, como muito bem disse a chanceler. Mas também uma preocupação, porque casos assim podem voltar a acontecer. E desconfia-se que isso é apenas a ponta de um iceberg
. Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.


Um eixo Paris-Berlim-Moscou?
Em reviravolta geopolítica, três potências fortalecem laços energéticos, enfraquecem EUA e China na Ásia e… expõem notável superficialidade da mídia
Por Immanuel Wallerstein Tradução: Paulo César de Mello




Sempre me espanta ver os políticos e a mídia do mundo todo gastar tanta energia debatendo expectativas geopolíticas que não se realizarão, enquanto ignoram grandes acontecimentos em marcha acelerada.
Aqui vai uma lista dos mais importantes não-acontecimentos futuros que têm sido ruidosamente debatidos e analisados: Israel não vai bombardear o Irã; o euro não vai desaparecer; forças externas não estão prestes a entrar em ação militar dentro da Síria; a explosão de inquietações populares pelo mundo não vai se desvanecer.
Enquanto isso, em 8 de novembro, com pouquíssima cobertura séria na imprensa e na internet, o Nord Stream foi inaugurado em Lubmin, costa báltica da Alemanha. Estavam presentes o presidente russo Dmitry Medvedev e os primeiros-ministros da Alemanha, França e Holanda, além do diretor da Gazprom, exportadora russa de gás, e do comissário para Energia da União Europeia. Trata-se de uma virada de jogo geopolítica, ao contrário de todos os discutidíssimos não-acontecimentos que não estão prestes a ocorrer.
O que é Nord Stream? Em termos bem simples, é um gasoduto construído no leito do Mar Báltico, estendendo-se de Vyborg, próximo a São Petersburgo, na Rússia, a Lubmin, perto da fronteira da Alemanha com a Polônia, sem passar por qualquer outro país. Da Alemanha, pode prosseguir para a França, Holanda, Dinamarca, Grã-Bretanha e outros ávidos compradores do gás russo.
O Nord Stream é um arranjo entre empresas privadas com a bênção de seus respectivos governos. A russa Gazprom detém 51%; duas empresas alemãs, 31%; uma companhia da França e outra da Holanda ficam com 9% cada. Investimentos proporcionais (e lucros potenciais) são todos privados.
Elemento essencial desse arranjo é o fato de que o gasoduto não atravessa a Polônia nem qualquer país báltico, Bielo-Rússia ou Ucrânia. Por isso, além de não reterem qualquer taxa de transporte que poderiam cobrar, estes países deixarão de aproveitar sua localização intermediária para reter provisões de gás destinadas à Europa Ocidental, enquanto negociam acordos com a Rússia.
A agência de notícias alemã Deutsche Welle deu como manchete “Nord Stream: projeto comercial com visão política”. O Le Monde estampou o título “Gazprom se estabelece como ator global na área de energia”. Joseph Bauer, expert em energia da área de pesquisa do Deutsche Bank em Frankfurt, opinou: “Trata-se de um projeto político e também comercial, e faz tanto sentido no nível econômico como no político.”
Enquanto isso, os russos comunicaram aos chineses que não lhes venderão seu gás a preços 30% inferiores aos europeus, dizendo não verem necessidade de que a Rússia subsidie a economia chinesa. E deixaram claro para o Turcomenistão, detentor de imensas fontes de gás natural, que não veem com bons olhos a exportação de gás turcomeno que não passe pela Rússia. O lançamento do Nord Stream acontece a poucos dias do anúncio, feito pelo novo presidente do Quirguistão, de que espera fechar a base aérea norte-americana em Manas quando sua concessão terminar, em 2014. Essa base foi crucial para a passagem de suprimentos americanos para o Afeganistão. A Rússia fortalece claramente sua influência sobre as antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central.
Tanto o centro-leste da Europa quanto os Estados Unidos vão descobrindo que um esquema para impedir a criação de um eixo Paris-Berlim-Moscou não é viável. Os mecanismos centrais da União Europeia submetem-se a essa realidade, assim como muitos países do centro-leste europeu. Situação mais difícil para a Ucrânia, dilacerada pelo desenrolar desses acontecimentos. E os Estados Unidos? O que de fato podem fazer a respeito?
Fonte: http://www.outraspalavras.net/2011/11/17/o-eixo-paris-berlim-moscou-esta-de-volta/


Do Observatório da Imprensa:


Não é de hoje que os meios acadêmicos e profissionais reclamam da parcialidade da revista Veja. A imparcialidade, no entanto, se observada por uma óptica mesmo infantil, é um mito. Disso todo jornalista sabe também. O problema está em que, havendo no Brasil poucos veículos de comunicação de grande circulação, há poucas partes que são vistas, uma vez que a mídia sempre tende para um lado (inevitável e felizmente). A revista Veja conquistou grande respeito entre os brasileiros e em todo o mundo ao longo de sua história. Hoje é o quarto periódico mais lido no planeta, dona de um enorme crédito diante de faxineiras e megaempresários. Suas capas parecem querer contar uma história ilustrada do Brasil.
Década vai, década vem, as tecnologias da informação vão nos permitido, em seus avanços, circular informações, opiniões, sentidos, como um todo, em mídias diferentes. A revista Veja, seguindo uma tendência internacional, lançou blogues de seus principais colunistas e articulistas, entre eles Reinaldo Azevedo. O colunista vai sempre fundo em suas opiniões, com um estilo que agrada o leitor e o “compra” de graça.
Na sexta-feira (11/11), li um artigo no blogue do Reinaldo, chamado “Um manifesto dirigido às moças e aos moços livres das universidades brasileiras. A maioria silenciosa começa a dizer o que quer”. Título pomposo e cheio de recursos que evocam direita, esquerda e soa um tanto como homenagem ao filósofo Jean Baudrillard. Como cidadão para quem a editora Abril sempre liga, perguntando se eu desejo assinar alguma de suas revistas por ser um, segundo eles, “leitor diferenciado”, resolvi comentar a matéria.
“Desperdiçam dinheiro público!”
Não preciso dizer, mas já digo, que discordei totalmente, em todos os aspectos, do jornalista. Então tentei postar o seguinte:
“Sr. Reinaldo Azevedo,
meu nome é Phellipe Marcel. Sou jornalista, professor universitário, doutorando e extremamente trabalhador. Minha formação acadêmica foi toda concluída no sistema universitário público (federal e estadual) brasileiro. Não creio que deva me justificar, fornecendo informações que deem o aval para minha redação de crítica não apenas ao seu artigo, mas também à política editorial da revista Veja. No entanto, isto é um preâmbulo que deve figurar como forma de identificação não com os ideais defendidos por essa revista, mas pela causa dos estudantes universitários brasileiros, inclusive dos estudantes da USP que ocuparam a reitoria da instituição.
Toda e qualquer crítica é pertinente, inclusive a do senhor. Mas gostaria de perguntar quem é esse ‘nós’ que estampa de forma tão patente seu artigo. É a classe média? É o cosmopolita paulistano? É também o índio brasileiro? É o favelado? É o negro pobre? É o branco profissionalmente subalterno? O senhor tem certeza de que esse ‘nós’ representa, de fato, todo o Brasil, no que há de mais rico e no que há de mais pobre? O senhor está sendo respeitoso quando exclama, brada:
‘Não, eles não se dedicam!
Não, eles não se esforçam!
Não, eles não trabalham!
Não, eles não têm talento!
Sim, eles desperdiçam dinheiro público!’
Posso afirmar, como marxista, que sim, eu me dedico. Sim, eu me esforço. Sim, eu trabalho. Sim, eu tenho talento. Não, eu não desperdiço dinheiro público. O senhor não está sendo reducionista, simplista em suas palavras tão analíticas, típicas de quem se vê como o dono da verdade? Devo ainda responder às suas outras acusações, de forma totalmente parafrástica, mas cujo sentido rompe com o que está estampado em seu artigo. E afirmo à Veja que:
Não aceito mais que nos imponha o seu capitalismo!
Não aceito mais que nos imponha os seus heróis!
Não aceito mais que nos imponha os seus hábitos!
Não aceito mais que nos imponha os seus vícios!
Não aceito mais que nos imponha suas idiossincrasias!
Não aceito mais que nos imponha suas esquisitices!
Não aceito mais que privatize o espaço público em nome de sua causa!
Acho que o senhor pode perceber, inclusive no que diz respeito à privatização, que minha paráfrase funciona muito bem no que diz respeito à ideologia capitalista. O senhor advoga, infalível e brilhantemente em seu artigo, como se a hegemonia na universidade fossem os movimentos de esquerda. Como se o pobre capitalista neoliberal fosse vítima desses mesmos movimentos. Vamos pensar um pouco em nossa formação social, sr. Azevedo. Quem e o que é hegemonia, e quem sofre, é dominado por essa hegemonia?
Quem são seus heróis, sr. Azevedo? Diga-me, quem são? Não mataram eles mais de 200 mil pessoas em Hiroshima e Nagasaki? Mais de 100 mil no Iraque? Sabe-se lá quantos no Afeganistão? Quantos no governo Pinochet? Isso apenas nas guerras e nos conflitos armados... Quem são seus heróis, volto a perguntar? Ou o senhor, não tão simplório, assim como eu, simplesmente não tem heróis, mas referências intelectuais? Nem todo marxista revolucionário tem como referências Stalin, o senhor sabe disso? Assim como nem todo capitalista fervoroso admira o brilhante trabalho dos srs. Bush ao comando da nave-mãe capitalista.
Quem o senhor representa? Quais são, retomando a legenda da foto que serve de evidência nesse artigo, a ética e a estética dessa classe que o senhor representa? O terno e a gravata neste país tropical me soam mais patéticos que qualquer outra coisa. Essa é a estética que o senhor defende? É essa a vanguarda que o senhor apoia? Qual é o futuro que o senhor deseja?”
A Veja é uma revista de censura
Quando digo que tentei postar, reitero que o gesto foi em vão. Meu comentário não foi aceito pela Veja. Fiquei preocupado. Haveria eu, de alguma forma, transgredido as regras para se comentar no blogue? Resolvi lê-las:
“Aprovamos comentários em que o leitor expressa suas opiniões. Comentários que contenham termos vulgares e palavrões, ofensas, dados pessoais (e-mail, telefone, RG etc.) e links externos, ou que sejam ininteligíveis, serão excluídos. Erros de português não impedirão a publicação de um comentário.”
Pois bem. Expressei minha opinião. Não usei termos vulgares, palavrões nem ofendi ninguém. Não incluí meus dados pessoais. Não mencionei links externos. O que poderia haver de errado? Resolvi ler os outros mais de trezentos comentários postados e aceitos pelo moderador do blogue. Havia muitos links para sites externos. Havia ofensas, como, ipsis litteris, “Está mais do que na hora de expulsar esta corja de vagabundos fedorentos das universidades públicas” e “Como são feios, não?”. Havia palavrões: “Tem um carinha com a camisa do Pink Floyd, banda de rock britânica formada em Cambridge, Inglaterra. Queria ver ele fazer uma baderna dessa naquela vetusta universidade. Até Russell que era tirado a moderninho pegava ele de porrada.” O que eu havia feito de errado que esses belos comentaristas não haviam feito?
Ah! Foi neste momento que percebi uma regularidade: não havia, entre os mais de trezentos comentários, uma crítica sequer ao artigo do sr. Reinaldo. Todos assinavam embaixo de sua redação, que tanto prega a liberdade. E foi também neste momento que pensei: poxa, mas cadê a minha liberdade, como “moço livre da universidade”, de me manifestar contrário aos argumentos e às ideias do sr. Reinaldo? Cadê meu direito de me revoltar?
A Veja, sempre que apresenta algum dossiê sobre a famigerada ditadura militar, se recorda com muito pesar e tristeza dos terríveis anos da censura prévia. Acontece que, na mesma revista, o funcionamento para participação de seus leitores é o mesmo. Há uma censura prévia que regula os dizeres, que impede a circulação de sentidos que não sejam aqueles por que a Veja luta. Enviei e-mails e mais mensagens para a revista. Tentei postar novamente meus comentários, apelando para o meu direito democrático. Aparentemente, fui ouvido, mas ignorado. A Veja é uma revista que não permite ver, nem que muita coisa seja vista. A Veja é uma revista de censura. Os comentários da Veja, muito bem-localizados, nada mais são do que um “assino embaixo”. Eu não assino.
***
[Phellipe Marcel da Silva Esteves é jornalista, editor e professor, Rio de Janeiro, RJ]


Comissão da Câmara dos Deputados censura Comparato
Texto de José de Souza Castro:

A Comissão de Ciência, Tecnologia, Informática e Comunicação da Câmara dos Deputados cancelou a audiência pública convocada para a discussão do escandaloso arrendamento de concessões de rádio e televisão no país. O professor Fábio Konder Komparato, autor da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) que deu entrada no Supremo Tribunal Federal em outubro do ano passado, deveria falar nessa comissão.
Reagindo a essa espécie de censura ao seu pronunciamento, Comparato divulgou nesta segunda-feira, num blog, o texto da palestra que faria à comissão.
O convite a Comparato foi feito pela Comissão por insistência de um de seus membros, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP). Primeiro, a Comissão comunicou a Comparato que ele deveria pagar sua própria passagem aérea de São Paulo a Brasília. Erundina protestou e a Comissão concordou em pagar a passagem. Mas em seguida cancelou a audiência pública.
Essa Comissão é formada por 43 deputados de 19 partidos e o mesmo número de suplentes. São muito, e não é por causa do interesse deles em ciência, tecnologia e informática. O que os movem, em sua maioria, são o rádio e a televisão. O presidente, o primeiro e o terceiro vices-presidentes são tucanos e o segundo vice-presidente do PSD. São eles, respectivamente, Bruno Araújo (PE), Antonio Imbassahi (BA), Ruy Carneiro (PB) e Silas Câmara (AM). Para vergonha dos mineiros, fazem parte da comissão os deputados Gilmar Machado (PT) e Rodrigo Castro (PSDB), além dos suplentes Eduardo Azeredo (PSDB), Paulo Abi-Ackel (PSDB), Renzo Braz (PP), Fábio Ramalho (PV) e Mário de Oliveira (PSC).
Segundo Comparato, “neste país, desde o início do regime empresarial-militar em 1964, ou seja, antes mesmo da difusão mundial do neoliberalismo capitalista nas duas últimas décadas do século passado, instaurou-se o regime da privatização dos serviços de rádio e televisão. A presidência da República escolheu um certo número de apaniguados, aos quais outorgou, sem licitação, concessões de rádio e televisão. Todo o setor passou, assim, a ser controlado por um oligopólio empresarial, que atua não segundo as exigências do bem comum, mas buscando, conjuntamente, a realização de lucros e o exercício do poder econômico, tanto no mercado quanto junto aos Poderes Públicos. Ainda hoje, todas as renovações de concessão de rádio e televisão são feitas sem licitação. Quem ganha a primeira concessão to rna-se “dono” do correspondente espaço público.”
Se quisessem fazer coisa melhor do que renovar ilegalmente concessões de rádio e TV, poderiam apresentar ao Congresso Nacional propostas de regulamentação de artigos da Constituição de 1988. Aliás, era isso o que queria Comparato, quando propôs há mais de um ano a ADIN. Íntegra AQUI.
Os interessados podem ler as ponderações de Comparato nos endereços citados. Mas acho importante transcrever mais um trecho da palestra que ele não fez na tal Comissão:
“Qual não foi, porém, meu desencanto quando, intimados a se pronunciar nesses processos, tanto a Câmara dos Deputados, quanto o Senado Federal, tiveram a audácia de declarar que não havia omissão legislativa alguma nessa matéria, pois tudo transcorria como previsto no figurino constitucional! Acontece que, para cumular o absurdo, a duplicidade no campo da comunicação social não se reduz apenas ao apontado descompasso entre a Constituição e as leis. Se considerarmos em particular o estatuto da imprensa, do rádio e da televisão, encontraremos o mesmo defeito: o direito oficial é afastado na prática, deixando o espaço livre para a vigência de um direito não declarado, protetor dos poderosos.”
Para encerrar, um diálogo transcrito por Comparato no começo de sua palestra, encontrado em “Memórias de um Sargento de Milícias”, escrito por Manoel Antonio de Almeida, em forma de folhetim, entre 1852 e 1853.
“– Bem sei, mas a lei?
– Ora, a lei… o que é a lei, se o Senhor major quiser?…
O major sorriu-se com cândida modéstia.”
Passados 160 anos, a lei é o que eles quiserem. Eles são os ricos e os poderosos.


PARTE 2 – VALE A PENA LER




A Greve Geral
Assim como outros europeus já fizeram e irão fazer, os portugueses realizarão uma greve geral no próximo dia 24 de novembro. Essas ações populares possuem uma série de paralelismos com as greves gerais na Europa e nos EUA no final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX.
Boaventura de Sousa Santos
http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5311&boletim_id=1054&componente_id=16871


'Governo poderia ser um pouco mais ousado na crise', diz Pochmann
Em entrevista à Carta Maior, presidente do Ipea, Marcio Pochmann, defende que país use fundo soberano para comprar ações de multinacionais e que, para salvar PIB, Banco Central acelere corte do juro. Para ele, economias ricas tornaram-se 'ocas' e, com piora da situação global, arrocho fiscal ficou exagerado e deveria diminuir. Juro real no Brasil deveria ser de 2%, afirma.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18970&boletim_id=1053&componente_id=16841



"Não haverá nunca mais uma Bolívia sem índios"
Em entrevista à revista chilena Punto Final, o vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Liñera, analisa a conjuntura política de seu país e da América Latina e fala sobre o recente conflito com setores indígenas bolivianos envolvendo a construção de uma estrada. "Há uma mistura entre legítimas preocupações e demandas de setores sociais. Se não houvesse, teríamos que falar de uma sociedade morta. "Não haverá nunca mais uma Bolívia sem índios. Os indígenas adquiriram consciência de sua maioria e do seu poder", diz Liñera.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19006&boletim_id=1059&componente_id=16917


ONGs americanas estão mesmo preocupadas com índios? Perguntem ao Gerônimo
Leia o texto completo em:
http://blogdomello.blogspot.com/2011/11/ongs-americanas-estao-mesmo-preocupadas.html



Escândalo Chevron: mentiras, multas irrisórias, politização e pré-sal
Petroleira norte-americana responsável por desastre ambiental escondeu das autoridades informação sobre fim de vazamento e tentou iludi-las com vídeo editado. Multas iniciais e pedido de indenização chegam no máximo a R$ 250 mi, quase nada para quem fatura US$ 200 bi. Para PSDB, governo demorou a agir. Partido não se indignou com 'mentiras', como fez com ministro, nem pediu CPI da Chevron, suspeita de buscar pré-sal alheio, como fez com Petrobras.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19014&boletim_id=1060&componente_id=16934

"Após caso Chevron, é preciso rever lei que reparte o pré-sal através de leilões"
Fernando Siqueira, presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), diz que tragédia ambiental na bacia de Campos é oportunidade para rever lei do pré-sal. Para ele, Petrobras, escolhida como operadora da área, poderia administrar sozinha todo o processo exploratório sem depender de estrangeiras selecionadas através de leilões.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19018&boletim_id=1060&componente_id=16950


Como o capital financeiro privatizou o Estado nos EUA
O ex-economista chefe do Fundo Monetário Internacional, Simon Johnson, escreveu, em 2009, sobre o golpe silencioso que levou à “reemergência de uma oligarquia financeira americana”. Johnson deixou claro que não tinha a intenção de usar “golpe” como um floreio retórico nem como uma metáfora. O capital financeiro tinha efetivamente privatizado o Estado. O neoliberalismo havia sido bem sucedido não só em permanentemente garantir um governo reacionário, mas tinha capturado o próprio Estado. O artigo é de Alan Nasser.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19009&boletim_id=1060&componente_id=16935


Cotas na universidade: sobre brancos desonestos e negros “de alma branca”
por SÉRGIO DOMINGUES
Uma das críticas mais comuns à política das cotas é a que acha que brancos desonestos vão se declarar negros para entrar na universidade. Quem a faz não entendeu como o racismo funciona no Brasil... LEIA NA ÍNTEGRA: http://espacoacademico.wordpress.com/2011/11/19/cotas-na-universidade-sobre-brancos-desonestos-e-negros-de-alma-branca/


Manuel Castells sugere o fim do euro
Indignado com atitude antidemocrática das elites e planos seguidos de salvamento dos banqueiros, ele afirma: outro sonho europeu é possível

A Espanha vota para nada
Eleitores podem optar por quem quiserem, domingo. Mas a chanceler alemã e a "troika" já definiram programa que novo governo executará. Por Pep Valenzuela, de Barcelona

A indignação venceu a letargia
Provavelmente, os indignados vão “aplanar o terreno para a construção, mais tarde, de outro tipo de organização”. Não é pouco. Por Nazaret Castro, de Madri

PARTE 3 – INFORMAÇÕES




I Encontro de Cultura das comunidades afro descendentes: identidade, território e direitos.

Local: Distrito de São João da Chapada
Data: 02 a 04 de Dezembro de 2011

REALIZAÇÃO:
SECTUR
Conselho de Cultura - Fundo Municipal de Políticas Culturais

CO-REALIZAÇÃO:
Associação dos Agricultores Familiares deAlgodoeiro, Bica D'água, Covão e Região; Associação dos Agricultores Familiaresdo Quilombo de Vargem do Inhaí; Associação Boa Esperança de Quartel do Indaiá e Região, Associação Grande Vitória de São João da Chapada.

APOIO:
Sec. Municipal de Educação; Sec. Municipal deDesenvolvimento Social; Sec. Municipal de Meio Ambiente e DesenvolvimentoRural; UFVJM - PROAD e PROEX; EMATER, IDENE; PROCAJE; Promotoria de Justiça deDiamantina; Instituto Bateia, Escola Estadual Gov. Juscelino Kubitscheck.

Mais informações: (38) 3531-9532





Concurso público para a vaga de Professor de História Antiga no Departamento de História e Geografia da Universidade Regional de Blumenau - FURB.
Formação mínima: mestre
Segue link:
http://www.furb.br/concurso/index.php?cd_edicao=83&tipo=2
Mais informações:
A Universidade vem crescendo, e hoje vive um momento de discussão sobre sua federalização. O Curso de História da FURB conta com uma boa estrutura para ensino, pesquisa e extenção. Hoje conta com dois grupos de pesquisa atuando: Grupo de Pesquisas de História Ambiental do Vale do Itajaí - GPHAVI; e o Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Movimentos Sociais – NEPEMOS. Também possui um laboratório de História Oral, o CEMOP – Centro de Memória Oral e Pesquisas.

Semana Mineira de Redução de Resíduos
Coleta resíduos elétricos e eletrônicos
A Fundação Estadual do Meio Ambiente – FEAM, com o apoio do Centro Mineiro de Referência em Resíduos – CMRR, desenvolveu o Projeto 3RsPCs – Resíduos Eletroeletrônicos, que tem por objetivo buscar soluções ambientalmente adequadas para os resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE) em Minas Gerais. Desde então, o Projeto 3RsPCs - Resíduos Eletroeletrônicos e o CMRR realizam campanhas para recebimento de resíduos eletroeletrônicos com o objetivo de reciclá-los e/ou destiná-los de forma ambientalmente adequada.Para esta segunda edição da Semana Mineira de Redução de Resíduos, a FEAM formalizou uma parceria com a empresa Descarte Certo visando a instalação, em Belo Horizonte, de 4 pontos de coleta de resíduos que não puderem ser consertados e/ou reutilizados.Com esta Ação as pessoas poderão dar um destino adequado para aqueles produtos eletroeletrônicos que não funcionam mais, encaminhando-os para reciclagem ou descarte adequado. O material coletado será reaproveitado ou descartado de forma correta, sem danos para o meio ambiente.Os locais para coleta são:
1) Estação Eldorado do Metrô
2) Shopping Pátio Savassi Avenida do Contorno, 6061 Belo Horizonte - MG, 30110-11
03) Cidade Administrativa do Governo de Minas Gerais Hall de entrada do Prédio Minas
4) Centro Mineiro de Referência em Resíduos - CMRR. Av. Belém, 40 – Esplanada. Belo Horizonte/MG. Tel.: (31) 3465-1200
Dias e horários para entrega dos resíduos: de 21 a 25 de novembro, das 9h às 17h. O que será coletado: Tvs, videocassetes, computadores, notebooks, monitores, acessórios, aparelhos de som, câmeras, filmadoras, telefones, celulares, eletrodomésticos portáteis,fitas, cds, dvds e cabos.Não são coletados eletroeletrônicos com tamanho acima de 60x60cm. Mais informações: (31) 3465-1200 – Murilo Rezende (CMRR) ou Descarte Certo (11) 4153 1777 Site: www.descartecerto.com.br

PARTE 4 – CAFÉ HISTORIA
MURAL DO HISTORIADOR


Eduardo Viveiros de Castro na Universidade Federal do Rio de Janeiro
Cinema Africano na Universidade Federal de Fortaleza
Leia: http://cafehistoria.ning.com (Página Principal)

VÍDEO EM DESTAQUE

Historiador tenta desvendar os mistérios do nazismo, Holocausto e Terceiro Reich
Assista: http://cafehistoria.ning.com/video/historiador-tenta-desvendar-os-mist-rios-do-nazismo-holocausto-e

MISCELÂNEA CAFÉ HISTÓRIA

Perdeu a transmissão ao vivo da videopalestra do historiador Carlos Fico, semana passada? Não se preocupe. O Café História disponibilizou o vídeo na íntegra na página principal.
Assista: http://cafehistoria.ning.com (Página Principal)

FÓRUM EM DESTAQUE

Na sua opinião, a mestiçagem é um tema bem discutido pela historiografia brasileira?
Participe: http://cafehistoria.ning.com/forum/topics/na-sua-opiniao-a-mesticagem-e-um-tema-bem-discutido-pela-historio

CAFÉ EXPRESSO NOTÍCIAS

‘Ainda vivemos numa infância constitucional’, diz historiador
Leia: http://cafehistoria.ning.com (Página Principal)

CINE HISTÓRIA

Filme "Se não nós, quem", explora a juventude alemã dos anos 1960. A superação do passado nazista é uma das bandeiras destes jovens alemães.
Leia: http://cafehistoria.ning.com (Página Principal)

DOCUMENTO HISTÓRICO
Manifesto do movimento neo-concretista, de 1959.
Confira: http://cafehistoria.ning.com (Página Principal)

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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Numero 301





Podemos dizer que estamos hoje começando uma etapa nova. Rumo ao 400? É...se o mundo não acabar em 2012, como andam dizendo, poderemos chegar lá.
Muito nos animam comentários como esses que recebemos durante esta semana, alusivos ao 300.


1. Obrigado pelo destaque ao meu artigo. E, mais que tudo, parabéns pelo trabalho a favor da História que você realiza.
Abraço,
Jaime Pinsky


2. Parabéns, Ricardo, pelo nº300 e pela persistência e competência com que vem mantendo, regularmente, o Boletim.
Abraço, Francina Monteiro


3. Ricardo:
Boa comemoração do número 300.
Quatro artigos de peso.
Parabéns.
Antonio Moura


4. Parabéns!!! Comemore que você merece!
Abs,
Julia Calvo


5. Caro Prof. Ricardo,
Parabéns pela veiculação do número 300 do Boletim! É ótimo manter esse contato com o professor e amigo!
Com meu abraço,
Décio Gatti Jr.


6. Muito bom, Ricardo!!! E adorei o artigo do Antonio de Paiva Moura sobre o choque de gestão aecista!
Que venham muitos outros 300 boletins pela frente!!
Cristina Moreno

7. Oi Ricardo, Parabéns pelo Boletim. Fiquei feliz de colaborar neste. Bjs desta paulista andarilha. Margarete

8. Olá professor Ricardo! Parabéns pelos 300 números do Boletim. É sempre bom tê-lo por perto.
Abraço!
Tereza Rocha




Dez fatos que a "grande" imprensa esconde da sociedade

As entidades que reúnem as grandes empresas de comunicação no Brasil usam e abusam da palavra "censura" para demonizar o debate sobre a regulação da mídia. No entanto, são os seus veículos que praticam diariamente a censura escondendo da população as práticas de regulação adotadas há anos em países apontados como modelos de democracia. Conheça dez dessas regras que não são mencionadas pelos veículos da chamada "grande" imprensa brasileira.
Marco Aurélio Weissheimer (
WWW.cartamaior.com.br)

O debate sobre regulação do setor de comunicação social no Brasil, ou regulação da mídia, como preferem alguns, está povoado por fantasmas, gosta de dizer o ex-ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Franklin Martins. O fantasma da censura é o frequentador mais habitual, assombrando os setores da sociedade que defendem a regulamentação do setor, conforme foi estabelecido pela Constituição de 1988.

Regulamentar para quê? – indagam os que enxergam na proposta uma tentativa disfarçada de censura. A mera pergunta já é reveladora da natureza do problema. Como assim, para quê? Por que a comunicação deveria ser um território livre de regras e normas, como acontece com as demais atividades humanas? Por que a palavra “regulação” causa tanta reação entre os empresários brasileiros do setor?

O que pouca gente sabe, em boa parte por responsabilidade dos próprios meios de comunicação que não costumam divulgar esse tema, é que a existência de regras e normas no setor da comunicação é uma prática comum naqueles países apontados por esses empresários como modelos de democracia a serem seguidos.

O seminário internacional Comunicações Eletrônicas e Convergências de Mídias, realizado em Brasília, em novembro de 2010, reuniu representantes das agências reguladoras desses países que relataram diversos casos que, no Brasil, seriam certamente objeto de uma veemente nota da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) denunciando a tentativa de implantar a censura e o totalitarismo no Brasil.

Ao esconder a existências dessas regras e o modo funcionamento da mídia em outros países, essas entidades empresariais é que estão praticando censura e manifestando a visão autoritária que tem sobre o tema. O acesso à informação de qualidade é um direito. Aqui estão dez regras adotadas em outros países que os barões da mídia brasileira escondem da população:

1. A lei inglesa prevê um padrão ético nas transmissões de rádio e TV, que é controlado a partir de uma mescla da atuação da autorregulação dos meios de comunicação ao lado da ação do órgão regulador, o Officee of communications (Ofcom). A Ofcom não monitora o trabalho dos profissionais de mídia, porém, atua se houver queixas contra determinada cobertura ou programa de entretenimento. A agência colhe a íntegra da transmissão e verifica se houve algum problema com relação ao enfoque ou se um dos lados da notícia não recebeu tratamento igual. Após a análise do material, a Ofcom pode punir a emissora com a obrigação de transmitir um direito de resposta, fazer um pedido formal de desculpas no ar ou multa.

2. O representante da Ofcom contou o seguinte exemplo de atuação da agência: o caso de um programa de auditório com sorteios de prêmios para quem telefonasse à emissora. Uma investigação descobriu que o premiado já estava escolhido e muitos ligavam sem chance alguma de vencer. Além disso, as ligações eram cobradas de forma abusiva. A emissora foi investigada, multada e esse tipo de programação foi reduzida de forma geral em todas as outras TVs.

3. Na Espanha, de 1978 até 2010, foram aprovadas várias leis para regular o setor audiovisual, de acordo com as necessidades que surgiam. Entre elas, a titularidade (pública ou privada); área de cobertura (se em todo o Estado espanhol ou nas comunidades autônomas, no âmbito local ou municipal); em função dos meios, das infraestruturas (cabo, o satélite, e as ondas hertzianas); ou pela tecnologia (analógica ou digital).

4. Zelar para o pluralismo das expressões. Esta é uma das mais importantes funções do Conselho Superior para o Audiovisual (CSA) na França. O órgão é especializado no acompanhamento do conteúdo das emissões televisivas e radiofônicas, mesmo as que se utilizam de plataformas digitais. Uma das missões suplementares e mais importantes do CSA é zelar para que haja sempre uma pluralidade de discursos presentes no audiovisual francês. Para isso, o conselho conta com uma equipe de cerca de 300 pessoas, com diversos perfis, para acompanhar, analisar e propor ações, quando constatada alguma irregularidade.

5. A equipe do CSA acompanha cada um dos canais de televisão e rádio para ver se existe um equilíbrio de posições entre diferentes partidos políticos. Um dos princípios dessa ação é observar se há igualdade de oportunidades de exposição de posições tanto por parte do grupo político majoritário quanto por parte da oposição.

6. A CSA é responsável também pelo cumprimento das leis que tornam obrigatórias a difusão de, pelo menos, 40% de filmes de origem francesa e 50% de origem européia; zelar pela proteção da infância e quantidade máxima de inserção de publicidade e distribuição de concessões para emissoras de rádio e TV.

7. A regulação das comunicações em Portugal conta com duas agências: a Entidade reguladora para Comunicação Social (ERC) – cuida da qualidade do conteúdo – e a Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom), que distribui o espectro de rádio entre as emissoras de radiodifussão e as empresas de telecomunicações. “A Anacom defende os interesses das pessoas como consumidoras e como cidadãos.

8. Uma das funções da ERC é fazer regulamentos e diretivas, por meio de consultas públicas com a sociedade e o setor. Medidas impositivas, como obrigar que 25% das canções nas rádios sejam portuguesas, só podem ser tomadas por lei. Outra função é servir de ouvidoria da imprensa, a partir da queixa gratuita apresentada por meio de um formulário no site da entidade. As reclamações podem ser feitas por pessoas ou por meio de representações coletivas.

9. A União Européia tem, desde março passado, novas regras para regulamentar o conteúdo audiovisual transmitido também pelos chamados sistemas não lineares, como a Internet e os aparelhos de telecomunicação móvel (aqueles em que o usuário demanda e escolhe o que quer assistir). Segundo as novas regras, esses produtos também estão sujeitos a limites quantitativos e qualitativos para os conteúdos veiculados. Antes, apenas meios lineares, como a televisão tradicional e o rádio, tinham sua utilização definida por lei.

10. Uma das regras mais importantes adotadas recentemente pela União Europeia é a que coloca um limite de 12 minutos ou 20% de publicidade para cada hora de transmissão. Além disso, as publicidades da indústria do tabaco e farmacêutica foram totalmente banidas. As da indústria do álcool são extremamente restritas e existe, ainda, a previsão de direitos de resposta e regras de acessibilidade.

Todas essas informações estão disponíveis ao público na página do Seminário Internacional Comunicações Eletrônicas e Convergências de Mídias. Note-se que a relação não menciona nenhuma das regras adotadas recentemente na Argentina, que vem sendo demonizadas nos editoriais da imprensa brasileira. A omissão é proposital. As regras adotadas acima são tão ou mais "duras" que as argentinas, mas sobre elas reina o silêncio, pois vêm de países apontados como "exemplos a serem seguidos" Dificilmente, você ouvirá falar dessas regras em algum dos veículos da chamada grande imprensa brasileira. É ela, na verdade, quem pratica censura em larga escala hoje no Brasil.



Colaboração de Leila Brito:

“Nova dança da moda: bombardear o Irã”
9/11/2011, Pepe Escobar, Asia Times Online Do the bomb Iran shuffle
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Preparem-se para uma chuva de informes de “inteligência”, no formato de imagens de satélites nas quais todos os modelos de armazém fotografados em território iraniano serão freneticamente descritos como segmentos de linha de montagens de bombas atômicas. (Lembram a famosa “instalação atômica secreta” localizada na Síria, há alguns anos? Era uma fábrica de tecidos).
Preparem-se para uma chuva de diagramas mal desenhados e imagens de objetos de ar sempre muito suspeito, ou dos contêineres onde teriam sido escondidos, todos capazes de atingir a Europa em 45 minutos.
Preparem-se para uma chuva de “especialistas” nos canais Fox, CNN e BBC, empenhados em dissecação sem fim de todas aquelas mal traçadas linhas travestidas como se fossem “provas”. Por exemplo, o ex-inspetor de armas da ONU, David Albright, agora empregado do Institute for Science and International Security (ISIS), já conseguiu escapar do mundo das almas mortas e já voltou à telinha, exibindo suas credenciais de “bombardear o Irã”, acrescidas de diagramas e inteligência de satélite.
Esqueçam o Iraque. Fora de moda, tãããããão 2003. O novo groove está aí. É guerra contra o Irã já. Virar japonês. Para começar, convoquem algum senso comum. Se o Irã estivesse construindo uma bomba atômica, teria de ter desviado urânio para essa finalidade. O relatório divulgado essa semana pela Agência Internacional de Energia Atômica [International Atomic Energy Agency (IAEA)] – por mais politicamente enviesado que seja – nega absolutamente qualquer desvio de urânio. Se o Irã estivesse desenvolvendo uma bomba atômica, os inspetores da ONU a serviço da IAEA teriam sido expulsos do país. OK. Em 2002 o Iraque não tinha programa de armas nucleares. E, mesmo assim, foi chocado e apavorado. O mesmo argumento vale também para o Irã. Teerã deve ter feito, isso sim – se merecem algum crédito as informações de inteligência super enviesadas usadas para o relatório da IAEA – muitos experimentos e simulações em computador. Todo o mundo faz – inclusive países que desistiram da bomba, como o Brasil e a África do Sul.
O Corpo dos Guardas Islâmicos Revolucionários [ing. Islamic Revolutionary Guards Corps (IRGC)] – encarregado do programa nuclear civil – quer, sim, com certeza, uma força de contenção. Quer dizer: eles querem poder construir uma bomba nuclear, para o caso de virem a enfrentar ameaça confirmada e inequívoca de mudança de regime induzida, mais provavelmente, por ataque militar ou invasão pelos EUA. Há muitas dúvidas sobre a competência – ou a imparcialidade – do novo presidente da Agência Internacional de Energia Atômica, o submisso Yukya Amano, japonês.
A melhor resposta sobre isso está num telegrama Wikivazado, de 2010 [1]. Quanto à origem de muito do que tem sido apresentado pela IAEA como inteligência “confiável”, até o New York Times já foi obrigado a noticiar que “parte daquelas informações foram enviadas à IAEA por EUA, Israel e Europa”. Gareth Porter já destruiu definitivamente a credibilidade daquele relatório [2].
Além do mais, preparem-se para pressão máxima contra a CIA, para que desminta o crucial 2007 National Intelligence Estimate (NIE), que estabeleceu – de forma irrefutável – que Teerã encerrou seu programa nuclear para armas atômicas há muito tempo, em 2003. Tudo isso encaixa-se perfeitamente com os latidos dos cães de guerra, que já começaram a latir. Os fantoches europeus podem ser incompetentes até para vencer uma guerra na Líbia (só conseguiram, depois que o Pentágono assumiu o comando da inteligência via satélites). Podem ser incompetentes até para dar solução ao desastre financeiro da Europa. Mas França, Alemanha e UK já começaram a latir – exigindo sanções mais duras contra o Irã.
Nos EUA, Democratas e Republicanos juntos exigem não só sanções; os Republicanos pirados (evidente oxímoro) clamam por nova versão da Operação Choque e Pavor. Nunca é pouco repetir como funcionam as coisas em Washington. O governo de Benjamin Netanyahu em Israel diz ao poderoso AIPAC (American Israel Public Affairs Committee) o que fazer; e o AIPAC transmite as ordens ao Congresso dos EUA. Por isso a Comissão de Relações Exteriores da Câmara de Deputados dos EUA já está analisando um projeto de lei a ser apresentado pelos dois partidos e que, de fato, é declaração de guerra ao Irã. Nos termos da lei em discussão, nem o presidente Barack Obama, nem a secretária de Estado Hillary Clinton, nem, de fato, nenhum diplomata dos EUA, poderá manter qualquer tipo de contato ou relação diplomática com o Irã – a menos que Obama obtenha, “das comissões apropriadas do Congresso”, uma declaração de que não falar com o Irã implicaria “ameaça extraordinária a interesses vitais da segurança dos EUA.”
“Comissões apropriadas do Congresso” é exatamente a Comissão de Relações Exteriores da Câmara de Deputados dos EUA, que recebe ordens de marcha marcial diretamente de Bibi, em Israel, via o AIPAC, em Washington. Tentem dizer a qualquer daqueles hiper-Israel-acima-de-tudo no Congresso dos EUA quais são as reais consequências imediatas de atacar o Irã: o Irã, em minutos, fechará o Estreito de Ormuz, com o que serão cortados 6 milhões de barris de petróleo, da economia mundial (que já está em recessão no norte industrializado), o que elevará o preço do barril de petróleo para 300, 400 dólares. De nada adiantará: eles não sabem juntar lé com cré.
Preparem-se. E nenhum passo fora da agenda. Começam a aparecer boatos de que o Corpo dos Guardas Revolucionários Islâmicos (IRGC) teria dito, segundo a agência de notícias Fars, que bastam quatro mísseis iranianos para deter Israel. Esse mísseis talvez sejam – e talvez não sejam – os mísseis nucleares cruzadores soviéticos Kh-55 da Ucrânia e da Bielorrússia, com alcance máximo de 2.500 km, e que o Irã talvez tenha comprado, há anos, no mercado negro. O IRGC, claro, mantém-se em silêncio. O que só faz aumentar o nevoeiro da (pré) guerra –, porque ninguém sabe coisa alguma sobre a qualidade das defesas do Irã.
Segredo que todos conhecem em Washington é que a ‘mudança de regime’ no Irã é jogo de guerra que já vem sendo jogado desde, no mínimo, 2004. Ainda se aplica o mapa do caminho favorito dos neoconservadores, de 2002; os alvos são Iraque, Síria, Líbano, Irã, Somália e Sudão – pontos chaves do “arco de instabilidade” inventado pelo Pentágono. Imaginem esses PhDs em matanças e guerras examinando o tabuleiro de xadrez.
O Iraque já está devidamente chocado e apavorado (apesar de os EUA estarem sendo chutados de lá). A Síria é jogo duro demais para os incompetentes da OTAN. O Líbano (o Hezbollah) só será derrotado se a Síria cair antes. A Líbia foi vitória (esqueçam a guerra civil na Líbia que durará muito tempo). A Somália pode ser contida com Uganda e aviões-robôs tripulados à distância, os drones. E o Sudão do Sul já está no saco.
O que deixa aberta – para os adeptos linha dura da doutrina da Dominação de Pleno Espectro –, a tentação sedutora de um ataque bem-sucedido contra o Irã, como o ápice de um movimento radical de destruição, que redistribuiria todas as cartas, do Oriente Médio à Ásia Central. O “arco de instabilidade” estaria, afinal, desestabilizado. Como fazer? É simples – do ponto de vista dos dedicados servidores da morte e da guerra. Basta convencer Obama de que, em vez de infernizar-lhe a vida, os conservadores beijarão o chão que ele pisa e o canonizarão como o salvador ressuscitador da economia dos EUA... se Obama concordar com, só, começar mais uma guerra. Alguém aí está interessado em Occupy Irã – literalmente?

Notas dos tradutores
[1] “New UN chief is 'director general of all states, but in agreement with us” [Novo diretor da IAEA-ONU é "diretor geral de todos os estados", mas em acordo conosco] – 16/10/2009, Telegrama CONFIDENCIAL VIENNA 000478, WikiLeaks, em Guardian, UK, 2/12/2010 (trechos que o Guardian assinala como “mais importantes”):
“O novo diretor geral designado da IAEA, Yukiya Amano, em reunião com o embaixador, agradeceu o apoio dos EUA a sua candidatura e muito enfatizou que apoia todos os objetivos estratégicos dos EUA na condução da Agência. Amano disse ao Embaixador em várias ocasiões que terá de fazer concessões ao G-77 que, acertadamente, exige que aja de modo justo e independente, mas que concorda enfaticamente com os EUA e jogará conosco em todas as decisões estratégicas chaves, desde a indicação do pessoal de alto nível, até o modo como manobrar o chamado programa nuclear do Irã [itálicos no telegrama original].

3. (SBU) Amano partilhou com o embaixador Davies sua posição pública sobre o papel da Agência Internacional de Energia Atômica e a contribuição a Agência nas questões globais cruciais da proliferação [de armas atômicas], segurança, energia, saúde humana e administração da água. Mais sincero, Amano observou a importância de manter uma certa “ambiguidade construtiva” sobre seus planos, até, pelo menos, que ele assuma o posto que hoje é de ElBaradei, o que acontecerá em dezembro [fim do excerto] .
[2] 9/11/2011, Gareth Porter, “IAEA's "Soviet Nuclear Scientist" Never Worked on Weapons” [Os “cientistas nucleares soviéticos” da IAEA jamais trabalharam em programas de armas], IPS News, (em inglês).
http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/11/pepe-escobar-nova-danca-da-moda.html
http://goo.gl/5dwV /twitter


Dilma sabe
por Carlos Lessa (apud Blog do Nassif)

A presidente sabe que a crise mundial, explicitada em 2008, será de longa duração e que o mundo pós-crise não é previsível, mas haverá a modificação geopolítica do planeta, uma profunda onda de inovações tecnológicas e alteração em padrões comportamentais.
A presidente sabe que o futuro exige conhecimento das restrições para, no âmbito do raio de manobra, serem a nação, o povo e sua economia uma folha ao vento da história ou, com a vontade civilizatória e solidária do povo, explicitar e desdobrar um projeto nacional. Cabe ao governante atuar no âmbito da manobra com o olhar firme, coordenar os atores sociais a atuar em direção ao sonho de um Brasil justo e próspero.
Futuro exige conhecimento das restrições para explicitar e desdobrar um projeto nacional
A presidente sabe a perversa tendência do sistema financeiro de, em tempos de crise, adotar políticas defensivas que aprofundam a crise. Keynes falava da "preferência pela liquidez", que desvia as empresas da realização de investimentos de ampliação de capacidade produtiva e passam a optar por aplicações financeiras. As organizações bancárias e do mercado de capitais tendem a restringir empréstimos e a optar por ampliar suas reservas de uso imediato. Ao fazê-lo, "empoçam" recursos, e aprofundam a tendência à fase depressiva da economia. O coletivo de empresas, acreditando na crise, adota uma conduta que acelera e aprofunda a crise. No limite, participam de um estouro de boiada que corre para o precipício.
A presidente sabe que o Fed (Federal Reserve) adquiriu ativos podres e duvidosos e injetou volumes colossais de recursos no sistema bancário americano. Entretanto, esses bancos não estão reativando a economia; estão cautelosos no crédito, prosseguem com a execução de hipotecas imobiliárias e paralisam a atividade da construção civil. A família americana, sem planos de previdência contratuais, hoje vê o futuro com angústia e decidiu pela contenção do consumo, que aprofunda o processo depressivo. Os indicadores macroeconômicos dos EUA são inquietantes.
A presidente sabe que os bancos da zona do euro não conseguem coordenar suas políticas nacionais, e tendem a praticar um contracionismo que sinaliza persistência e aprofundamento da crise. Os bancos da zona do euro estão "empoçando" e a Suíça, com medo de uma corrida pelos francos, alinhou sua moeda com o euro.
A presidente sabe que tanto os EUA quanto a comunidade europeia estão reduzindo importações. A China, que vinha sustentando o crescimento, vem perdendo ímpeto e já sinaliza procedimentos de reforço de seus bancos oficiais (para evitar a queda das Bolsas chinesas, o governo está recomprando ações de seus bancos dos acionistas privados minoritários).
A presidente sabe que a Bolsa de Mercadorias de Chicago sustenta os preços relativos de alimentos, de algumas matérias primas e do petróleo. Há uma preferência crescente dos especuladores mundiais por aplicações arbitradas pela Bolsa de Mercadorias de Chicago, porém o sinal pode mudar.
A presidente sabe que, frente à crise mundial, o Brasil deve "botar suas barbas de molho". Felizmente, temos o Banco do Brasil, a Caixa Econômica e o BNDES, que respondem à orientação soberana nacional de não participar da manada (Lula teve que trocar o presidente do BB para forçar nosso maior banco a expandir crédito).
A presidente sabe que o Bradesco já anunciou a criação de um fundo de R$ 1 bilhão para ter "liquidez preventiva" em relação à inadimplência privada. A presidente sabe que é importante reforçar o sistema bancário oficial e expandir o crédito e reduzir os juros básicos. A presidente, corretamente, quer estimular a construção civil em um programa de habitação popular. Obviamente, para a geração de emprego e renda, essa é a política social anticrise por excelência, porém sabe que tem que reduzir a gula dos empreiteiros. Manter a demanda interna ampliando o endividamento familiar com compra de veículos automotores e outros bens duráveis tem um efeito macrodinâmico menor e é patrimonialmente equivocada em relação à família brasileira. Talvez seja esse o sentido profundo da enigmática recomendação presidencial: "o brasileiro deve consumir com moderação".
Uma economista competente não diria essa frase (que parece aplicável a bebida) se não estivesse pensando em desviar as famílias da armadilha da compra de duráveis, orientando-as para a ativação da construção civil. Acho inteligente reforçar os fundos imobiliários com aplicações financeiras da previdência complementar, porém é necessário planejar o futuro das cidades e ampliar o investimento na infraestrutura urbana.
A presidente sabe que é possível e necessário fazer muito mais. O câmbio tem que voltar a ser controlado. O Brasil não deve estimular empresas brasileiras a investirem no exterior (recentemente, duas indústrias de calçados do Rio Grande do Sul anunciaram que vão deslocar suas operações para a Nicarágua em busca de mão de obra barata e menor intervenção do Estado). O sistema bancário oficial deve retirar qualquer apoio a essa atitude anti-nacional. O fomento público deve ser preferencial a empresas de brasileiros. As filiais de multi, na crise, tendem a ampliar remessas para as matrizes. Há um espaço para a empresa de brasileiros crescer, orientada para o mercado interno. As filiais terão que reduzir remessas para manter suas posições de mercado.
Presidente, a desvalorização do real aumenta a rentabilidade das exportações primárias mas encarecem itens básicos da alimentação popular. É indispensável a recriação do imposto de exportação, se houver a desvalorização previsível. Devemos selecionar com critério aplicações financeiras do exterior, reduzir o endividamento com risco cambial do setor privado, ampliar a proteção a ramos industriais clássicos, e adotar uma política pública de "comprar o produto brasileiro".
A presidente está informada das pressões externas. Algumas deveriam ser ridicularizadas: as associações americanas de indústrias de confecção e calçados protestaram contra a adoção, pelo Brasil, de medidas defensivas desses ramos industriais clássicos e ameaçados. Quero crer que são as matrizes interessadas em que suas filiais na China ampliem a avalanche de exportações para o Brasil. No Japão, surgiram resmungos quanto aos obstáculos para importações de veículos pelo Brasil.

Somente critico a presidente pela modéstia das medidas. Outra presidente sul-americana, que vem adotando medidas radicais de defesa nacional, acabou de receber uma reeleição consagradora. A timidez não é sábia em momentos de crise mundial.


A honra e as revoluções

Livro recém-lançado nos Estados Unidos defende que a preocupação com a honra é um fator essencial para que a sociedade promova mudanças em práticas consideradas chocantes e ofensivas. Keila Grinberg comenta a ideia em sua coluna deste mês.
Keila Grinberg (
http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/em-tempo/a-honra-e-as-revolucoes)

Como as sociedades mudam? A pergunta embala inúmeros historiadores e filósofos, cujas respostas variam conforme a época em que vivem, as teorias nas quais acreditam e suas próprias ambições intelectuais.
Em tempos de ocupação da Wall Street (coração do centro financeiro de Nova Iorque) por jovens manifestantes e revoltas no mundo árabe, o filósofo anglo-ganês Kwame Appiah, professor da Universidade de Princeton (Estados Unidos) conhecido por seus estudos de linguagem, defende uma ideia que parece até meio fora de moda: a honra. Isso mesmo. Para ele, a honra foi um importante motor de mudança nas sociedades nos últimos 200 anos.
Conhecido do público brasileiro por seu livro Na casa de meu pai: a África na filosofia da cultura (Contraponto, 1997), Appiah publica agora a obra The Honor Code: how moral revolutions happen, com lançamento previsto para março de 2012 no Brasil pela editora Companhia das Letras.
Dessa vez, ele tenta entender como, olhando para o passado, nos deparamos com práticas tão chocantes sem que algo tivesse sido feito para modificá-las. Ao se perguntar “o que estávamos pensando que não fizemos nada para acabar com tal situação?”, ele arrisca afirmar que atitudes deploráveis só chegaram ao fim quando a honra – dos indivíduos ou das nações – foi atingida.
Isso teria acontecido na Inglaterra do início do século 19, tanto no caso do fim dos duelos da aristocracia – a certa altura considerados absurdos e ridículos – quanto em relação à proibição do comércio de escravos.
Outro exemplo ocorreu na China do início do século 20, com o fim da prática de enfaixar e quebrar os pés das mulheres chinesas para que permanecessem pequenos. E estaria acontecendo hoje em dia com os crimes de honra contra mulheres no Paquistão, que ainda não geraram nenhuma revolução moral, mas (é o que Appiah espera) ela estaria a caminho.
Ofensa à honra
Para Appiah, nenhuma dessas mudanças teria ocorrido pela força de argumentos morais. Embora a sensibilidade e a compaixão em relação ao sofrimento do outro tenham crescido substancialmente na Europa do século 18, não teriam sido os argumentos morais contra essas práticas que as teriam destruído. As pessoas não deixam de aceitar a situação porque o que está acontecendo é errado. Elas mudam quando sentem vergonha, quando sua honra está em perigo.
Talvez o caso da China tenha sido, dos três primeiros (o quarto ainda estaria por vir), o mais convincente. Séculos e séculos de denúncias contra a prática de enfaixar os pés das mulheres chinesas para impedir que eles crescessem não foram suficientes para acabar com ela. Muito pelo contrário: antes restrita à realeza e às famílias ricas, aos poucos o costume de enfaixar o pés foi sendo adotado por toda a sociedade chinesa, tornando-se cada vez mais popular, até mesmo nas áreas rurais. Ter os pés pequenos, além de ser bonito, era fundamental para ter um bom casamento e um bom status social.
Só com as reformas do fim do século 19, a questão dos pés das mulheres chinesas começou a ocupar o lugar que merecia na agenda política do Império chinês. Para os intelectuais chineses reformistas, os pés pequenos das mulheres tornavam a China ridícula aos olhos dos outros países – na verdade, dos países europeus civilizados (embora Appiah não diga, é isso o que ele quer dizer). Para estabelecer relações em pé de igualdade com as outras potências, eles deviam abandonar seus “bárbaros costumes”.
E assim foi. Em 1912, a prática foi proibida na China. Mesmo que ainda tenha persistido em algumas regiões do país até a década de 1940, não deixa de ser curioso que, depois ter existido por mais de 900 anos (desde o século 10), em tão pouco tempo ela tenha chegado ao fim. Hoje só existe em mulheres muito idosas, marcas de um tempo que já passou.
Raízes múltiplas
Mas assim como é difícil atribuir o fim dos pés pequenos das mulheres chinesas apenas à desonra internacional, isolar um único fator como responsável por mudanças tão significativas em sociedades tão diferentes é o ponto frágil do argumento central do livro.
Como toda interpretação ambiciosa e generalizante, ela corre o risco de não resistir a um olhar mais acurado sobre cada um dos casos analisados. Vide a crítica de David Brion Davis, historiador especialista em abolição da escravidão no Império britânico, ao capítulo sobre o fim do tráfico de africanos publicada na New York Review of Books.

Da mesma forma, embora seja impossível compartilhar qualquer simpatia por práticas tão repulsivas como as descritas no livro, também é difícil assumir como universal, ainda que apenas nos últimos 200 anos, o conceito de honra adotado por Appiah.
Mesmo que, como ele afirma, “duelar tenha sido sempre homicida e irracional, diminuir os pés tenha sempre sido de uma dor alucinante; escravidão tenha sempre sido um assalto à humanidade do escravo”, não dá para deixar de pensar que, embora essas três práticas tenham sido de fato sempre assim, elas nunca foram só isso.
Para não parecer a historiadora rabugenta vociferando contra as idiossincrasias dos filósofos, quero dizer que gostei do livro. Contra as muitas vezes cansativas contextualizações dos historiadores, é inspirador ler um texto livre de contrangimentos factuais e compromissos teóricos.
Mas não posso terminar sem dizer que acabei o livro com a sensação de que faltou explicar por que seguimos substituindo práticas sociais deploráveis como a de apequenar os pés das mulheres chinesas por outras, tão deploráveis quanto as anteriores. Nos falta honra? Ou ela não é mais capaz de alimentar revoluções morais?

Keila Grinberg
Departamento de História
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Pós-doutoramento na Universidade de Michigan (bolsista da Capes)





O primeiro livro impresso sobre o Brasil foi escrito por um alemão, Hans Staden, e publicado em seu país de origem em 1557. O texto clássico narra o período em que ele foi prisioneiro dos tupinambás em terras brasileiras. O artigo de capa da CH de outubro mostra como essa obra, que traz um retrato minucioso dos conflitos entre colonizadores e nativos e do cotidiano de um grupo indígena, atravessou séculos e tornou-se um dos mais importantes documentos sobre o período inicial da colonização. O novo número da revista traz ainda artigos sobre o papel dos microrganismos na produção de medicamentos e sobre o resultado de escavações feitas em Lagoa Santa, Minas Gerais, além de outras novidades.


edição 126 da REVISTA ESPAÇO ACADÊMICO (rREA), de novembro de 2011, foi publicada.
Leia neste número o DOSSIÊ "RAÇA E RACISMO NA LITERATURA E NO DIREITO", organizado pelo Prof. Dr. Alexander Martins Vianna (UFRRJ).

Acesse http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/issue/current


AFRICANOFAGIAS PAULISTANAS

Para celebrar o mês da Consciência Negra, no Ano Internacional dos Afrodescendentes a Pinacoteca do Estado de São Paulo apresenta Africanofagias Paulistanas, uma programação temática que acontecerá durante todo o mês de novembro. Africanofagias Paulistanas proporcionará ao público um conjunto de atividades que destacam a presença africana na história da cidade de São Paulo. Essa experiência social de africanos e afrodescendentes está amalgamada na dinâmica da vida paulistana, misturada às heranças indígenas e européias e está presente em espaços históricos importantes, na linguagem cotidiana, nos símbolos que portamos e exibimos, nas artes. Africanofagias Paulistanas é um projeto inspirado na antropofagia de Oswald de Andrade, que ao ver o Brasil como uma espécie de boca que tudo come lançou as bases para entendermos nossa cultura tão peculiar.
A programação trará debates com especialistas, visitas temáticas acompanhadas de oficinas poéticas e apresentações de artes cênicas e de música. Veja programação completa no site da Pinacoteca.
Além da Pinacoteca do Estado de São Paulo, outras duas instituições parceiras, o Museu de Arte Sacra e Museu da Língua Portuguesa, também participam. As visitas temáticas com oficinas poéticas serão oferecidas em cada um destes museus.
No acervo da Pinacoteca do Estado algumas obras que remetem à temática afro-brasileira estarão identificadas com o logotipo do Africanofagias Paulistanas. Estas obras estarão sinalizadas com o objetivo de relacioná-las à temática desta programação.

Abaixo seguem os dias e horários.
Programação

Mesas Redondas
Participação condicionada à ordem de chegada e à capacidade de 150 lugares.

No auditório da Pinacoteca do Estado, aos sábados, das 10h às 13h.

05 de novembro:
Tema: Os africanos nas terras paulistanas.

12 de novembro:
Tema: Negro paulistano me tornei, na metrópole que adotei.

19 de novembro:
Tema: Africanizando o cotidiano paulistano.

26 de novembro
As vertentes das expressões artísticas afro-brasileiras na cidade: continuidades. Conversa com representantes dos coletivos de teatro e grupos musicais, com foco sobre os processos de criação cênica e musical que se referem às tradições africanas e afro-brasileiras como fonte de pesquisas e as trazem para o espaço urbanidade. Mediação do jornalista e idealizador da revista de cultura urbana “O Menelick 2.Ato: Afrobrasilidades e afins” José Nabor Júnior.


Visitas temáticas

As visitas temáticas acompanhadas de oficinas poéticas acontecerão simultaneamente nas três instituições, sempre das 14h às 15h30, abordando temas que estão relacionados aos acervos expostos em cada uma delas.

Na Pinacoteca do Estado o tema é a ausência e a presença do negro na construção da identidade paulistana.
No Museu de Arte Sacra o tema é a presença do elemento negro nas festas sacras católicas.
No Museu da Língua Portuguesa o tema é a influência africana na corporeidade e no vocabulário brasileiros.

Apresentações de artes cênicas e de música

No espaço Octógono, aos sábados, 16h às 18h.

05 de novembro
O canto das lavadeiras e rezadeiras que se faz presente com o requinte da batucada de terreiro no samba do Curimba, núcleo formado por pastoras do Grêmio Recreativo de Resistência Cultural Kolombolo Diá Piratininga para difundir o samba paulista e seus mestres.

12 de novembro
O som que integra a vitalidade percussiva das festas de Maracatu com o improviso dos Mcs do rap do grupo Zinho Trindade e o Legado de Solano.

19 de novembro
Companhia de Arte Negra As Capulanas. Nesta apresentação elas mostram o trabalho "Quando as palavras sopram os olhos... Respiro!", inspirado no livro “Cartas para minha mãe”, de Teresa Cárdenas.

26 de novembro
Grupo Clariô de Teatro apresenta a peça “Urubu come carniça e voa”, montagem inspirada nos textos de João Flávio Cordeiro, o Miró de Muribeca, poeta negro pernambucano que faz da poesia a maneira mais concreta de responder a violência sofrida e observada por ele cotidianamente.

Neste mesmo sábado, das 14h às 15h30, será promovida uma mesa redonda sob o tema As vertentes das expressões artísticas afro-brasileiras na cidade: continuidades a partir de uma breve conversa com representantes dos coletivos de teatro e dos grupos musicais, com foco em um diálogo sobre estes e os processos de criação cênica e musical que se referem às tradições africanas e afro-brasileiras como fonte de pesquisas e as trazem para a contemporaneidade e para urbanidade. A mediação será do jornalista e idealizador da revista de cultura urbana “O Menelick 2.Ato: Afrobrasilidades e afins” José Nabor Júnior.


Por falar em Museus, vejam este site, muito interessante:
http://www.eravirtual.org/pt/


ANPUH – São Paulo divulga:

EVENTOS
A Sociedade Brasileira de História da Ciência, realizará o 13º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia entre os dias 03 e 06 de setembro de 2012, na cidade de São Paulo, nas dependências do Departamento de História da Universidade de São Paulo - USP. O envio de propostas para Simpósios Temáticos será de 12 de novembro a 19 de dezembro de 2011, os informes estão no endereço http://www.sbhc.org.br/ e na Primeira circular anexada.

SITES
O site www.hzoom.com.br, uma viagem panorâmica ao patrimônio do Brasil, ferramenta que há dois anos se encontra em desenvolvimento por iniciativa de dois historiadores e uma fotógrafa. Na atualidade, este site, centrado na documentação e difusão do patrimônio histórico, cultural e ambiental brasileiro (tombado por instâncias municipais, estaduais, federal e internacional) já conta com a aprovação da Lei de Incentivo a Cultura/Ministério da Cultura e com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura/Governo de São Paulo (Programa de Ação Cultural 2010), oferecendo em sua primeira etapa, o acesso virtual a três sítios do patrimônio mundial (Serra da Capivara, Olinda e São Cristovão) e a alguns sítios do patrimônio nacional e estadual (Sete Cidades, PI e Campinas, SP). Maiores detalhes poderão ser encontrados pelo link http://www.hzoom.com.br/sites/hzoom/files/HZOOM%20-%20press%20realese%20I.pdf
Esperamos que os historiadores paulistas apreciem este trabalho, colocando-nos a disposição para ampliarmos, juntos, as ações de preservação do patrimônio brasileiro.
Mirza Pellicciotta
Historiadora, responsável pela produção textual do HZoom

LANÇAMENTOS
Lançamento do livro: Intelectuais e Comunismo no Brasil: 1920-1950. Gustavo Barroso - Plínio Salgado - Alceu Amoroso Lima - Jorge Amado - Miguel Costa.


Editora: EdUFMT/Fapemat, 2011.
Orgs: Cândido Moreira Rodrigues e Jefferson Rodrigues Barbosa

EDITAIS
A Cátedra Jaime Cortesão informa que a partir de 3 de novembro de 2011, estarão abertas as inscrições para a Seleção de Bolsas de Estágio de Pesquisa em Portugal, destinadas a alunos de pós-graduação, mestrado e doutorado, na Área de Ciências Humanas.
Serão concedidas cinco bolsas, com duração de dois meses e valor de 700,00 euros mensais.
O Edital para Seleção e maiores informações sobre as inscrições estão disponíveis no site www.cjc.fflch.usp.br

Divulgamos a abertura de concurso docente História da América Portuguesa a realizar-se junto à Faculdade de Ciências e Letras de Assis - UNESP.
DADOS DO CONCURSO

Emprego Público: Professor Assistente Doutor
Campus: Assis
Unidade: Faculdade de Ciências e Letras
Departamento: História
Quant. de vagas: 01 (uma)
Disciplina/Conjunto de Disciplinas: “História da América Portuguêsa I” e “História da América Portuguêsa II”.
Titulação: Doutor
Regime de trabalho: RDIDP
Regime Jurídico: CLT
Data de início das Inscrições: 07/11/2011
Data de término das Inscrições: 06/12/2011
Requisitos: graduados em curso superior; com título de doutor obtido em Programa de Pós-Graduação em História, em qualquer área.
Outras informações:
Contato: Seção Técnica de Comunicações, da Faculdade de Ciências e Letras, do Campus de Assis, sito à Avenida Dom Antonio nº 2.100 - Telefone: (18) 3302-5815 - E-mail:
comunicacoes@assis.unesp.br
EDITAL
Nº Edital: 187/2011
Data de Publicação no DOE: 4/11/2011, Seção I, páginas 238/239.
Link para o Edital: http://www.assis.unesp.br/concursos/EDITAL%20187-11.pdf


Informativo do Café Expresso
CAFÉ EXPRESSO NOTÍCIAS

Vaticano vai expor bula que deu origem a Tratado de Tordesilhas

Leia: http://cafehistoria.ning.com (Página Principal)

DOCUMENTO HISTÓRICO

Revista Life em 1950 perguntava, dentre outras coisas: o universo é finito ou infinito?

Confira: http://cafehistoria.ning.com (Página Principal)

CINE HISTÓRIA

O novo filme de Pedro Almodóvar, "A Pele que Habito".

Leia: http://cafehistoria.ning.com (página principal)

VÍDEO EM DESTAQUE

Teoria da História: História Cultural

Assista: http://cafehistoria.ning.com/video/teoria-da-hist-ria-hist-ria-cultural

CONTEÚDO DA SEMANA

Releia a entrevista com a professora Monica Grin, do Instituto de História da UFRJ.

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Chomsky debate o futuro dos novos movimentos
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