quarta-feira, 28 de março de 2012

boletim em novo endereço

Devido à mudança do visual do blogger e pelo fato de que, com ela, não consegui publicar mais nada, quero informar a você que chegou até aqui, que estamos em novo endereço, que será provisório ou definitivo, dependendo de como as coisas se arrumarem por aqui.
Por enquanto, visite-nos no
http://boletimdehistoriaricardo.wordpress.com/

Grato
Ricardo

quarta-feira, 21 de março de 2012

Numero 319






Iniciamos o boletim desta semana com uma colaboração de Débora Crispim, cujo assunto é, infelizmente, o falecimento de um de nossos maiores geógrafos, Aziz Ab Saber. Depois, a primeira parte de um artigo que mostra a complicada relação entre corporações e educação. O terceiro artigo, lamentavelmente, mostra mais problemas do Judiciário brasileiro.
Nos links, destaque para dois artigos sobre a questão da água, principalmente em Minas Gerais, e uma análise do estarrecedor massacre dos afegãos por um oficial norte-americano. Mas há mais, muito mais!









O que é ser geógrafo?
Memórias de Aziz Ab'Saber entrelaçam Geografia e História
Marina Lemle
Meu pai foi andando até a Central do Brasil e disse ao bilheteiro: 'Taubaté.' Só sabia falar isso... Entrou no trem com muita fome, porque já tinha desembarcado havia tempo e não sabia onde comprar coisas para comer. Esses fatos por ele narrados ficaram na minha memória: a tragédia de quem chega e não sabe nada do lugar onde chegou, a língua, os costumes e os espaços geográficos.
O relato de Aziz Ab’Saber sobre a chegada de seu pai libanês ao Brasil, em 1911, explica a sua obstinação em entender de forma integrada o ambiente e as relações que nele ocorrem. Para ele, um dos geógrafos brasileiros mais renomados, História e Geografia andam juntas. E é assim, contando histórias, que ele ensina a lição.
Seu estilo narrativo faz do livro “O que é ser geógrafo - Memórias profissionais de Aziz Ab'Saber”, recém-lançado pela Editora Record (Coleção O que é ser), uma leitura prazerosa não só a estudantes em época de tomar decisões importantes, como a qualquer pessoa interessada em entender melhor a interligação entre circunstâncias, fatos e espaços. Nascido em São Luiz do Paraitinga, na região de Taubaté, em 1924, Ab’Saber contou suas memórias à jornalista Cynara Menezes, que pouco modificou as narrativas. “É um excelente contador de histórias”, diz Cynara na apresentação do livro.
O cientista introduz a Geografia com uma concepção muito mais ampla do que nomes de países, capitais, rios, montanhas, relevos e climas a serem decorados pelos alunos. Essa abordagem, felizmente, ficou no passado, graças à nova mentalidade disseminada por profissionais como Milton Santos e Ab’Saber.
“O que é ser geógrafo” ensina a enxergar a Terra, o relevo, a natureza e as fotos de satélite de outra maneira, sempre considerando o homem como parte integrante e atuante disso tudo, uma vez que migra, constrói e destrói. Enquanto narra suas histórias de vida, o geógrafo ensina a interpretar paisagens, defende o meio ambiente e revela um ideário ético e humanístico.
Pura multidisciplinaridade
O livro aborda desde as origens ancestrais do Brasil, retratando as pesquisas do geógrafo sobre vestígios deixados pelos homens pré-históricos e sobre o movimento de descida e subida do nível do mar ao longo dos milênios.
O trecho em que Ab'Saber relata seus estudos sobre os sambaquis - acúmulos de vestígios pré-históricos - da região de Cananéia, em São Paulo, é um exemplo dessa visão historiográfica da Geografia ou geomorfológica da História.
"Fomos a Ribeira do Iguape estudar a posição do sambaqui num dos terraços de construção marinhas regionais - os de restingas, que ficam mais altos que o nível do mar. Disso resultou um trabalho escrito a quatro mãos: "Sambaquis da região lagunar de Cananéia". Na primeira parte, o Wladimir Besnard (professor do Museu do Homem, de Paris) falou dos artefatos encontrados, alguns objetos líticos, esqueletos e pedaços de vértebra de baleias escurecidos.
Na segunda parte, interpretei o sambaqui hibridamente: eram os restos de cozinha dos frutos do mar, que eram alimento importante. Eu já sabia, pela análise de um dentista amigo, que os dentes dos homens dos sambaquis eram gastos de tanto esfregar a ostra para se alimentar. Quanto aos restos de baleia queimados, cheguei à seguinte conclusão: "Provavelmente, quando o montão adquiria certa altura, eles botavam fogo nas vértebras e o sambaqui funcionava miticamente como uma cerimônia religiosa dos primitivos homens do sambaqui, que viveram entre 6.000 e 1.500 antes do presente, aproximadamente.
A partir daí, achei que, aplicando meus conhecimentos de geomorfologia, poderia auxiliar os pré-historiadores. Pensei: não vou ser um arqueólogo, mas serei um pré-historiador. Passei a me dedicar a isso e o último trabalho que fiz, há dois anos, se chamou "A geografia humana primária da Pré-História". De vez em quando retorno à temática pré-histórica como interpretador de fatos da geografia humana, do viver cotidiano daqueles povos."
Outra parte importante do livro é o capítulo sobre a Teoria dos Redutos, possivelmente sua contribuição mais importante à ciência. Como um detetive da história do território brasileiro, ele descobriu, em algumas zonas, faixas de outra vegetação, que evidenciam a existência anterior, por exemplo, de áreas de secura onde hoje há florestas.

Saiba mais:
Outro trechos do livro http://www.revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/trechos-do-livro-i-o-que-e-ser-geografo-i
Em outros sites:
Transposição do São Francisco: “Esta obra é demagógica. Deus meu, que tristeza! Essa região é a minha luta”, diz Aziz Ab'Saber - Entrevista no site da Unisinos. http://www.ihu.unisinos.br/
Influência dos fenômenos naturais no planejamento - Entrevista à revista eletrônica ComCiência, da Unicamp. http://www.comciencia.br/entrevistas/2005/11/entrevista2.htm
Entre a geomorfologia e a política - Pesquisas de Aziz Ab'Sáber vão da natureza aos problemas sociais do Brasil - Perfil na Revista Ciência Hoje Online http://cienciahoje.uol.com.br/view/1678
80 anos de batalhas e conquistas de Aziz Ab’Saber - Perfil no site da USP http://www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2005/espaco55mai/0perfil.htm


Colaboração de Guilherme Souto:
Olhando no site de onde foi retirado, há um aviso que esse é o primeiro de dois artigos. Esperemos pois o segundo...

As corporações atacam a educação pública
Escolas que podemos invejar
Diane Ravitch, no New York Review of Books, 8 de março de 2012
Tradução Viomundo
[Resenha do livro Lições Finlandesas: O que o mundo pode aprender com as mudanças educacionais na Finlândia?, de Pasi Sahlberg, Teachers College Press, 167 páginas, U$34.95]

Em anos recentes autoridades eleitas e formuladores de políticas públicas como o ex-presidente George W. Bush, o ex-chanceler educacional de Nova York, Joel Klein; a ex-chanceler educacional de Washington DC, Michelle Rhee e a secretária de Educação [equivale ao ministro, nos Estados Unidos] Arne Duncan concordaram que não deve haver “desculpas” para a existência de escolas com notas baixas em testes de múltipla escolha. Os reformistas do “sem desculpas” acreditam que todas as crianças podem atingir determinada proficiência acadêmica independentemente de pobreza, problemas de aprendizagem ou outras condições, e que alguém deve ser responsabilizado se os alunos não conseguirem. Este alguém é invariavelmente o professor.
[Nota do Viomundo: Na lista acima podemos incluir um sem número de 'especialistas' e políticos brasileiros que bebem na matriz neoconservadora]
Nada é dito sobre cobrar responsabilidade dos líderes municipais ou de autoridades eleitas que decidem questões cruciais como financiamento, tamanho da classe e distribuição de recursos. Os reformistas dizem que nossa economia corre risco, não por causa da crescente pobreza ou desigualdade de renda ou da exportação de empregos, mas por causa de professores ruins. Estes professores ruins devem ser identificados e jogados fora. Qualquer lei, regulamentação ou contrato que proteja estes malfeitores pedagógicos precisa ser eliminada para que eles sejam rapidamente removidos sem considerar experiência, senioridade ou processo legal.
A crença de que as escolas, em si, podem superar os efeitos da pobreza teve origem décadas atrás, mas sua mais recente manifestação está num livro curto, publicado em 2000 pela conservadora Fundação Heritage, de Washington DC, intitulado Sem Desculpas [No Excuses]. No livro, Samuel Casey Carter identificou vinte e uma escolas em regiões de alto índice de pobreza com bons resultados nos testes. Na última década, figuras influentes na vida pública decretaram que a reforma escolar é chave para sanar a pobreza. Bill Gates declarou à National Urban League, “vamos acabar com o mito de que podemos acabar com a pobreza antes de melhorar a educação. Eu diria que é ao contrário: melhorar a educação é a melhor forma de resolver a pobreza”. Gates nunca explicou porque uma sociedade rica e poderosa como a nossa não pode enfrentar a pobreza e a melhoria da educação ao mesmo tempo.
Por um período, a Fundação Gates imaginou que escolas menores eram a resposta, mas Gates agora acredita que a avaliação dos professores é o ingrediente primário da reforma escolar. A Fundação Gates dá centenas de milhões de dólares a distritos escolares para desenvolver novos métodos de avaliação. Em 2009, a principal reformista, secretária da Educação Arne Duncan, lançou um programa competitivo de U$ 4,35 bilhões chamado Corrida ao Topo, que exige que os estados avaliem os professores baseados nos resultados de testes e que removam os limites existentes sobre as escolas charter gerenciadas privadamente [escolas que recebem financiamento público e privado, mas que não se submetem a todas as regras impostas pelo estado; em vez disso, se comprometem a atingir determinados parâmetros definidos numa declaração de princípios, o charter].
O principal mecanismo da reforma escolar de hoje é identificar professores capazes de melhorar os resultados dos testes dos alunos ano após ano. Se os resultados melhorarem, dizem os reformistas, então os estudantes vão seguir na escola até a faculdade e a pobreza eventualmente vai desaparecer. Isso vai acontecer, acreditam os reformistas, se houver um “grande professor” em toda classe e se um número maior de escolas for entregue a gerentes privados, ou mesmo a corporações com fins lucrativos.
Os reformistas não se importam se os testes padronizados são vulneráveis a erros de medição, de amostragem ou outros erros estatísticos. Eles não parecem se importar se especialistas como Robert L. Linn da Universidade do Colorado, Linda Darling-Hammond de Stanford e Helen F. Ladd de Duke, assim como a comissão formada pelo National Research Council, já alertaram sobre o mau uso dos testes-padrão como forma de dar recompensas ou sanções a professores, individualmente. Nem enxergam o absurdo de avaliar a qualidade de cada professor a partir de testes de múltipla escolha a que estudantes são submetidos uma vez por ano.
Os testes podem revelar informações úteis, mostrando a alunos e professores o que está sendo ou não aprendido; os resultados podem ser utilizados para diagnosticar problemas de aprendizagem. Mas coisas ruins acontecem quando o resultado de testes passa a ter grande consequência para estudantes, professores e escolas, como a redução do currículo para incluir só o que é testável ou cola ou diminuir o padrão de ensino para inflar os resultados. Em resposta à pressão federal e estadual para melhorar o resultado dos testes, distritos escolares de todo o país têm reduzido o tempo para o ensino de artes, educação física, História, civismo e outras matérias não-testáveis. Isso não vai melhorar a qualidade da educação e com certeza vai prejudicá-la.
Nenhuma nação do mundo eliminou a pobreza demitindo professores ou entregando escolas a gerentes privados; não há estudos que apoiem qualquer destas estratégias. Mas estes fatos inconvenientes não reduzem o zelo dos reformistas. A nova turma de reformistas da educação é formada principalmente por gerentes de fundos hedge de Wall Street, integrantes de fundações, executivos de corporações, empreendedores e formuladores de políticas públicas, mas poucos educadores experientes. A desconexão dos reformistas do dia-a-dia da educação e a indiferença deles aos estudos feitos sobre o assunto permitem a eles ignorar a importância das famílias e da pobreza na educação. As escolas podem fazer milagres, os reformistas dizem, ao se basear em competição, desregulamentação e gerenciamento pelos números — estratégias similares às que produziram o crash econômico de 2008. Em vista da queda dos reformistas por estas estratégias, os educadores tendem a chamá-los de “reformistas corporativos”, para distinguí-los daqueles que entendem as complexidades da melhoria do sistema de ensino.
A bem financiada campanha de relações públicas dos reformistas corporativos foi bem sucedida ao persuadir autoridades eleitas e o público norte-americano de que a educação pública precisa de uma terapia de choque. Uma pessoa tende a se esquecer de que os Estados Unidos têm a maior e uma das mais bem sucedidas economias do mundo e que parte deste sucesso pode ser atribuído a instituições que educaram 90% das pessoas desta nação.
Diante de uma incansável campanha contra os professores e a educação pública, os educadores têm buscado uma narrativa diferente, livre da estigmatização dos resultados de testes de múltipla escolha e das punições previstas pelos reformistas corporativos. Encontraram isso na Finlândia. Mesmo os reformistas corporativos admiram a Finlândia, aparentemente não reconhecendo que a Finlândia desprova todas as suas diretrizes.
Não é estranho os Estados Unidos usarem outra nação como modelo para a reforma da educação. Na metade do século 19, os líderes da educação dos Estados Unidos elogiavam o sistema prussiano por seu profissionalismo e estrutura. Nos anos 60, os norte-americanos correram para o Reino Unido para se maravilhar com as escolas progressistas. Nos anos 80 os norte-americanos atribuiram o sucesso econômico do Japão ao sistema educacional do país. Agora a nação mais favorecida é a Finlândia e por quatro boas razões.
Primeiro, a Finlândia tem o sistema com melhor performance do mundo, medida pelo Programme for International Student Assessment (PISA), que avalia leitura, conhecimento matemático e científico para estudantes de 15 anos de idade da Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OECD), inclusive os Estados Unidos. Contrariamente a nossos testes, não há consequências práticas nos testes aplicado pelo PISA. Nenhum indivíduo ou escola fica sabendo de seus resultados. Ninguém é recompensando ou punido por causa dos testes. Ninguém se prepara para os testes, nem existe incentivo para distorcer o resultado.
Segundo, de uma perspectiva norte-americana, a Finlândia é um universo alternativo. Rejeita todas as “reformas” atualmente populares nos Estados Unidos, como a aplicação de testes, escolas charter, pagamento dos professores por mérito, competição ou avaliação dos professores baseada nos resultados de testes de estudantes.
Terceiro, entre as nações da OECD, as escolas finlandesas têm a menor variação em qualidade, significando que chegam perto de atingir um oportunidade educacional igualitária — um ideal norte-americano.
Quarto, a Finlândia emprestou muitas das ideias que valoriza dos Estados Unidos, como a igualdade de oportunidades educacional, instrução individualizada, avaliação de portfolio e aprendizagem cooperativa. Muitos destes empréstimos derivam do trabalho do filósofo John Dewey.
Em Lições Finlandesas: O que o mundo pode aprender com as mudanças educacionais na Finlândia?, Pasi Sahlberg explica como as escolas do país se tornaram bem sucedidas. Autoridade de governo, pesquisador e ex-professor de matemática e Ciências, Sahlberg atribui a melhoria das escolas finlandesas a decisões ousadas tomadas nos anos 60 e 70. A história da Finlândia é importante, ele escreve, “porque traz esperança àqueles que estão perdendo a fé na educação pública”.
Detratores dizem que a Finlândia tem boa performance acadêmica porque é etnicamente homogênea, mas Sahlberg responde que “o mesmo vale para o Japão, Xangai ou Coreia”, que são admiradas pelos reformistas corporativos por sua ênfase nos testes de múltipla escolha. Para os detratores que dizem que a Finlândia, com sua população de 5,5 milhões, é muito pequena para servir de modelo, Sahlberg responde que “cerca de 30 estados dos Estados Unidos têm uma população parecida ou menor que a da Finlândia”.
Sahlberg fala diretamente sobre a sensação de crise educacional que existe nos Estados Unidos e em outras nações. Os formuladores de políticas dos Estados Unidos procuram soluções baseadas no mercado, propondo “competição mais dura, obtenção de mais dados, abolição dos sindicatos de professores, criação de mais escolas charter ou adoção de modelos de gerenciamento do mundo corporativo”.
Em contraste, a Finlândia gastou os últimos quarenta anos desenvolvendo um sistema educacional diferente, focado em melhorar a qualidade dos professores, limitar os testes a um mínimo necessário, colocar responsabilidade e confiança antes de cobranças e entregar a liderança das escolas e dos distritos escolares a profissionais da educação.
Para um observador norte-americano, o fato mais marcante da educação finlandesa é que os estudantes não fazem testes-padrão até o fim da escola secundária. Eles fazem exames, mas os exames são desenvolvidos pelos próprios professores, não por uma corporação multinacional de ensino. A escola básica finlandesa de nove anos é uma “zona livre de testes-padrão”, onde as crianças são encorajadas a “saber, criar e sustentar sua curiosidade natural


Outra vez os bandidos de toga
Por Luciano Martins Costa (do Observatório da Imprensa)
A Justiça volta às manchetes dos jornais brasileiros na terça-feira (20/3). Infelizmente, não se trata de uma reforma no sistema ou da notícia de uma reação organizada dos magistrados honestos contra os “bandidos de toga”. Trata-se simplesmente de mais do mesmo: o que a imprensa destaca é mais uma série de denúncias ou a retomada de escândalos anteriores, em versão revista e ampliada.
Um resumo das leituras dá ao cidadão a sensação de que as instituições públicas estão irremediavelmente contaminadas e que, portanto, não há como alimentar esperanças de que o crescimento econômico que produz tanto otimismo possa ser respaldado pelo desenvolvimento integrado e sistêmico da sociedade.
Se não se pode confiar na Justiça, o caminho natural, logo adiante, só pode ser o da barbárie.

Espírito fatalista

O Estado de S. Paulo noticia, com destaque na primeira página, a descoberta de uma quadrilha no Tribunal de Justiça do Tocantins, liderada por quatro dos doze desembargadores, que se dedica a venda de sentenças, pagamento irregular de precatórios e até mesmo confisco de parte dos salários de assessores para pagamento de viagens turísticas.
Embora sendo minoria, os magistrados do crime conseguiram dominar o tribunal, calando os três quartos de desembargadores poupados na investigação, o que ensina alguma coisa sobre o efeito das organizações criminosas no interior das instituições.
Entre as irregularidades descobertas pelo Ministério Público há até mesmo o caso de uma sentença proferida por um juiz cujo conteúdo fora elaborado pelo advogado de uma das partes. Segundo o jornal paulista, esse é o modelo típico da corrupção no Judiciário.
Na Folha de S. Paulo, a manchete da terça-feira informa que, com as evidências de que os pagamentos irregulares de benefícios podem ter alcançado um número maior de magistrados do que os 70 inicialmente investigados, a corregedoria do Conselho Nacional de Justiça vai analisar os rendimentos de todos os 354 desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo.
Como se recorda, foi esse o caso – denunciado pela corregedora Eliana Calmon no final do ano passado – que provocou a crise de relacionamento entre o CNJ e entidades representativas dos juízes.
A sequência de reportagens revelando a contaminação de tribunais inteiros por grupos organizados de magistrados justifica amplamente a expressão usada pela corregedora – embora sejam provavelmente uma minoria, os “bandidos de toga” tendem a dominar as cortes por todo o país.
Os leitores atentos do noticiário certamente podem fazer mais do que simplesmente repetir que “é assim mesmo” ou que “nada vai mudar”, quando o tema é a interminável sequência de escândalos envolvendo figuras importantes da República.
Colabora para esse estado de espírito não apenas a repetição do assunto no noticiário, mas o fato de que a imprensa não costuma ficar mais do que uma semana em cima de cada fato – exceto, é claro, nos casos em que o acusado é um desafeto político.
Também contribui para esse espírito fatalista a percepção de que os indivíduos honestos em qualquer instituição são ou parecem ser menos capazes de se organizar do que os desonestos. Essa percepção é realista e já foi demonstrada por estudiosos das organizações humanas, como o pensador Elias Canetti.


Os honestos se calam

A mesma lógica do caçador se aplica aos elementos criminosos em uma instituição: aqueles que são solidários na caça ou no assalto ao erário têm mais poder do que os que resistem solitariamente em seus casulos morais.
O sociólogo Pierre Bourdieu também aborda a questão da cumplicidade ao afirmar que a escola, ao criar vínculos entre seus integrantes, também pode estruturar uma cultura de “distinção” que pode levar à formação de uma ideia de “elite” que pressupõe certos privilégios em relação aos demais.
A observação do noticiário sobre os grupos organizados de criminosos no interior das instituições republicanas permite constatar claramente esse “espírito de corpo”, que na prática transforma os elementos corruptos em uma espécie de casta privilegiada e intocável.
Ao dar ampla publicidade às investigações sobre “bandidos de toga” ou “bandidos com mandato político”, a imprensa ajuda a quebrar essa aura de invulnerabilidade que envolve os corruptos.
Ao citar seus nomes e cargos, promovendo sua execração pública, rompe-se o círculo da impunidade, porque, ainda que não venham a ser formalmente sentenciados, o fato de terem dado causa à investigação e à denúncia formal é suficiente para distingui-los dos demais. Caso sejam inocentados, os acusados podem pedir indenização, como ocorria com integrantes da quadrilha do Tocantins.
Mas é preciso avançar. A corrupção só vai ser colocada sob controle quando os elementos honestos souberem se organizar como se organizam os criminosos.


2. VALE A PENA LER



Os intelectuais e a cibercultura: além de apocalípticos e integrados
MARIA ALZIRA BRUM LEMOS, JOÃO BAPTISTA WINCK & HERNANI DIMANTAS
Nossos leitores não serão, em sua maioria, do tempo em que se discutia exaustivamente à luz dos escritos de Antonio Gramsci e, posteriormente, das contribuições dos intelectuais que participaram dos movimentos sociais e estudantis na década de 1960 “o papel do intelectual na sociedade”. O tema é espinhoso e não fugiremos a analisá-lo mais detalhada e profundamente em outro momento. Assumindo o risco da superficialidade e da generalidade, vamos refletir aqui sobre alguns dos problemas – sobretudo contradições – que permeiam, no contemporâneo, as relações entre os intelectuais e a cibercultura... LEIA NA ÍNTEGRA: http://espacoacademico.wordpress.com/2012/03/17/os-intelectuais-e-a-cibercultura-alem-de-apocalipticos-e-integrados/

Aonde o Serra vai, a Toesa (empresa flagrada na reportagem do Fantástico sobre corrupção) vai atrás
http://blogdomello.blogspot.com.br/2012/03/aonde-o-serra-vai-toesa-empresa.html

Com novo vazamento na Bacia de Campos, Chevron pode ter causado maior desastre ambiental da história do Brasil
http://blogdomello.blogspot.com.br/2012/03/com-novo-vazamento-na-bacia-de-campos.html

A privatização da água doce no mundo, uma ameaça
https://kikacastro.wordpress.com/2012/03/19/a-privatizacao-da-agua-doce-no-mundo-uma-ameaca/

As águas da Serra do Gandarela
http://kikacastro.wordpress.com/2012/03/20/as-aguas-da-serra-do-gandarela/

Assassinatos racistas deixam França em estado de alerta
A França entrou em alerta máximo nesta segunda-feira. Um homem assassinou a tiros quatro pessoas, três crianças e um adulto, na porta de uma escola judaica, em Toulouse, no sul da França. O indivíduo repetiu a cenografia que havia empregado entre 11 e 15 de março quando assassinou três soldados franceses de origem magrebina e feriu gravemente um quarto, oriundo das Antilhas francesas. A polícia investiga três militares franceses ligados a grupos neonazistas.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19792&boletim_id=1152&componente_id=18431



O tsunami comercial é mais ameaçador que o monetário
Na medida em que toda a União Europeia corta gastos públicos, salários, direitos previdenciários e outras formas de sustentar o consumo interno com o fim nem sempre explícito de gerar excedentes exportáveis a qualquer preço, são os mercados emergentes, e notadamente o nosso, que terão de suportar o ataque comercial. O Governo começa a se dar conta disso, mas grande parte do empresariado ainda está focado na ameaça chinesa. O artigo é de J. Carlos de Assis.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19787&boletim_id=1152&componente_id=18432


O massacre no Afeganistão não foi loucura
Parece que enlouqueceu, anunciaram jornalistas. Será? Querem que acreditemos nisso? Claro, se estivesse completamente louco, nosso sargento teria matado 16 de seus companheiros norte-americanos. Teria assassinado seus camaradas e depois ateado fogo aos corpos. Mas ele não matou norte-americanos; escolheu matar afegãos. Houve uma escolha. Por que, então, matou afegãos? Há uma pista interessante que não apareceu nos noticiários. O artigo é de Robert Fisk.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19785&boletim_id=1152&componente_id=18437



Tempos difíceis: a democracia social ameaçada na Europa
Estamos vivendo tempos difíceis, onde se produz uma mudança profunda na consideração das coordenadas básicas de uma civilização construída em torno do valor político do trabalho e de alguns direitos de cidadania no plano social guiados por um princípio igualitário sustentado pela ação do Estado social. Essa mudança vem sendo efetuada sob a ameaça da crise e da pressão dos mercados financeiros, apresentando-se, como uma situação de exceção às regras políticas e jurídicas que já não são consideradas "adequadas" para gerir situações de emergência. O artigo é de Antonio Baylos.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19780&boletim_id=1151&componente_id=18408

Mobilização dos professores alcança todo o país
Desde esta quarta-feira, todos os estados do Brasil, mais o Distrito Federal (DF), assistiram a protestos dos professores, que devem continuar até esta sexta-feira (16). No centro da pauta, o respeito ao piso nacional do magistério. DF, Goiás, Piauí e Rondônia já se encontram em greve. Movimento também pede, entre outras coisas, 10% do PIB para educação.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19771&boletim_id=1150&componente_id=18391

leia no WWW.outraspalavras.net
Um único lance de dados
Nos EUA, livro recupera história do conflito com o Irã -- e conta como a Casa Branca torpedeou, durante o governo Bush, ampla proposta de acordo oferecida pelo presidente iraniano. Por Mauricio Santoro, em seu blog



3. INFORMAÇÕES


Leila Brito convida:
Estou seguindo a comunidade Mata Alheia Mamata No$$a e acho que você vai se interessar por ela também. Para conferir, use o link abaixo:
http://mataalheiamamatanossa.blogspot.com/



4. CAFÉ HISTORIA

MATÉRIA CAFÉ HISTÓRIA: TESTEMUNHAS DE JEOVÁ CONTRA O NAZISMO
Como e por que uma pequena comunidade cristã na Alemanha se viu obrigada a lutar contra a perseguição imposta pelo Nacional Socialismo.
Leia esta matéria em: http://cafehistoria.ning.com/testemunhas-de-jeova-contra-o-nazismo


VÍDEOS EM DESTAQUE: DOC: TESTEMUNHAS DE JEOVÁ E O HOLOCAUSTO
Documentário inglês conta a história de famílias que sofreram perseguição do nazismo pelo simples fato de serem Testemunhas de Jeová.
Assista: http://cafehistoria.ning.com/video/triangulos-roxos-testemunhas-de-jeova-e-o-holocausto-parte1


FÓRUM EM DESTAQUE: "AULAS SHOW": O QUE VOCÊ ACHA?
Esta é a pergunta do participante Valdeir C Salvador. Você gosta quando o professor de história se utiliza de performances para ensinar os conteúdos?
Participe do fórum: http://cafehistoria.ning.com/forum/topics/o-que-voces-acham-das-aulas-show


DOCUMENTO HISTÓRICO: EVENTO DO PTB DE JANGO
Imagem rara do Instituto João Goulart recupera cena importante do partido Trabalhista Brasileiro.
Confira: http://cafehistoria.ning.com [Página Principal]


ENQUETE HISTÓRIA: DISCIPLINAS DE ENSINO DE HISTÓRIA NA FACULDADE
Nós queremos saber: na sua graduação ou pós-graduação, você chegou a ter alguma disciplina voltara para o ensino de história?
Leia mais: http://cafehistoria.ning.com [Página Principal]

Visite Cafe Historia em: http://cafehistoria.ning.com/?xg_source=msg_mes_network

quarta-feira, 14 de março de 2012

Numero 318




Com uma semana de atraso, fazemos hoje nossa homenagem ao dia internacional da mulher, com um extenso artigo, um link para um dossiê e outro para imagens.
Além disso, uma entrevista com Pepe Escobar nos revela o que está por vir com a eleição de Putin na Rússia.
E isso é só o começo do boletim... tem muito mais!!! Confira!






1. ARTIGOS COMPLETOS

As mulheres no mundo: ontem e hoje
Antonio de Paiva Moura*

Claude Lévi-Strauss, em estudo publicado na França e ainda inédito no Brasil, coloca em evidências diversos estudos sobre a perda do cio na sexualidade humana. Uma das hipóteses é a do costume dos chimpanzés, cujas fêmeas em período de cio obtêm dos machos mais alimentação animal que as outras. Infere-se que, entre os homens, a partir do momento em que a caça se tornou ocupação masculina, as mulheres que se mostravam acessíveis a qualquer momento recebiam dos homens um quinhão maior de carne. Já nos tempos pré-históricos a mulher procurava no homem maior proteção e garantia de subsistência durante o período de gestação e amamentação. Era se entregando ao homem fora do período fértil que a mulher conseguia as gratificações e recompensas que procurava: segurança, forte alimentação e poder. A sexualidade natural transformou-se em sexualidade cultural e social. Na pré-história, especialmente no período paleolítico predominou o sistema matriarcal, no qual a mulher-mãe tinha uma posição dominante na família e na comunidade. A transmissão de bens, poder tribal e nomes de família se faziam através dos membros femininos. Conforme Morgan, no final do paleolítico, homens e mulheres viviam harmoniosamente, de vez que inexistia propriedade privada, herança, cidade, patriarcado e havia a crença de que a mulher gerava sozinha. No Neolítico um deus masculino assume sozinho o centro. As tribos arianas e semitas concebem deuses que passaram a legislar, criando religiões normativas, gênese do direito. Com estas, surge as propriedade privada, patriarcado, poligamia e escravidão. As religiões do início das civilizações contribuem para a dominação da mulher e sua depreciação como ser humano.
A partir dos primórdios da civilização prevalece o sistema patriarcal. Os hebreus foram os primeiros a usar o termo pai para denominar até então o que era Deusa Mãe ou Mãe Terra. O patriarca é uma autoridade masculina religiosa que tem poder sobre todos que lhe estão subordinados. Trata-se de uma ideologia na qual o homem é a maior autoridade. O patriarca estimula a desigualdade entre os homens e a inferioridade da mulher de forma a manter o poder. A pessoa do patriarca é sempre associada a Deus e à religião.
A submissão ao pai é diferente da fixação na mãe que é uma continuação do vínculo natural, da fixação na natureza. A submissão ao pai é artificial, feita pelo homem, baseada na força e no direito, sujeita a ter fim mais rápido. Daí que o amor materno é como um ato de graça e incondicional, enquanto o amor paterno envolve interesses e é condicionado ao comportamento do filho. Johann Jacob Bachofen, (1815-1887) em sua teoria da sociedade matriarcal diz que os vínculos de sangue com a mãe foram formas supremas de relação, tanto individual como socialmente, entre as quais o culto a divindades femininas; os filhos tomando o nome de família da mãe; o ideal de tratamento com igualdade a todos os filhos do casal e obediências dos filhos à mãe. Na obra “Ensaio sobre os símbolos funerários dos antigos”, acreditava ter descoberto que Roma antiga, antes de se estabelecer o rígido regime patriarcal, do qual resultou o direito romano, vigorava uma sociedade matriarcal, cujos vestígios foram encontrados nos símbolos funerários e outros objetos arqueológicos, vigorando os cultos às divindades femininas. O culto à Virgem Maria, a partir da Idade Média substituía os resíduos do culto às divindades femininas em Creta e Roma. No período prevaleceram dois símbolos femininos: Afrodite que regia a fecundidade e a natureza. Demeter, aceitação do matrimônio sem contrariar a natureza, na qual prevalecia o poder da mulher sobre o homem. Com o triunfo de Apolo o deus-sol, inicia o predomínio do masculino, privilegiando o racional, a individualidade, a guerra, a autoridade e a dominação, desprezando os aspectos naturais da vida. O Pai Eterno, o Deus Pai representava, no princípio hierárquico a autoridade a que o homem tem que se submeter sem queixa e sem rebeldia. As massas oprimidas pelas autoridades patriarcais podiam recorrer à Mãe amantíssima, que as confortaria e intercederia em seu favor. (FROMM, 1955: 59)
Sócrates não via diferença entre homens e mulheres no entendimento racional. Platão amplia esse conceito dizendo que as mulheres eram tão capacitadas quanto os homens para governar, bastando que recebesse a mesma formação que os homens e fossem liberadas do serviço da casa e da guarda das crianças. Mas na Grécia Antiga vigorava o patriarcalismo na qual as mulheres eram inteiramente submissas aos homens. A história de Ulisses, na Odisséia de Homero é ilustrativa. O herói parte para guerra de Tróia e deixa a mulher Penélope e o filho Telêmaco. Durante vinte anos que esteve ausente, Penélope tecia uma peça e em seguida a desmanchava. Quando Ulisses voltou para Ítaca enfrentou enormes obstáculos. Com astúcia e ajuda dos deuses conseguiu-se salvar. Ao chegar a seu palácio, disfarçado de mendigo, encontrou o mesmo rodeado de presentes de Penélope. Matou-os todos usando sua experiência de guerreiro. Na Ilíada e na Odisséia, de Homero, as mulheres mitos são ávidas de luxo e riquezas. Por isso lutam para conquistar os heróis, os reis, os guerreiros vencedores. Helena, mulher de Menelau foi oferecida a Páris por Afrodite, como a mulher mais bela e atraente do mundo.
No começo do sistema patriarcal, em Roma, as mulheres não tiveram nome próprio. Eram designadas pelo nome do pai declinado no feminino. Essa situação refletia a condição da mulher em Roma, cuja função era proporcionar sexo ao marido e ter filhos. O pater família era o senhor da casa e tinha autoridade sobre todos os membros da casa, entre os quais a mulher. A jovem ao se casar passava da autoridade de um pater família para outro, o marido. Era o pai que escolhia o marido para a filha. Conforme Logeay (2011) o episódio do segundo casamento de Augusto, fundador do Império Romano, revelou o quanto a mulher significava um objeto de prazer para o homem. Aos 25 anos de idade Augusto divorciou-se de sua mulher; determinou o divórcio de Lívia, que era casada com Tibério Claudio Nero e com ela se casou. O casamento cumpria uma função social, política e econômica. Daí a celebração do matrimônio perante a lei. Logo em seguida ao casamento o marido continuava livre para buscar seu prazer em aventuras extraconjugais. Já a mulher, responsável pela pureza do sangue, devia manter-se fiel e o adultério era punido com pena de morte. Para fugir da condenação muitas mulheres adúlteras se registravam como prostitutas.
Segundo Logeay as jovens eram dadas por seus pais a um marido antes mesmo da puberdade e quando completavam doze anos, a união era consumada. As garotas acabavam ficando traumatizadas com o coito precoce, como parecem ter sido os casos de Santa Luzia e de Santa Tereza de Ávila. Quando a mulher era infértil o homem podia procurar outra que lhe desse filhos. Na Roma antiga o casamento era visto como uma instituição provisória. Somente na Idade Média, com o cristianismo foi instituído o casamento insolúvel. Na verdade no Império Romano a situação da mulher era semelhante aos costumes judaicos e à Bíblia. No Êxodo (13.2) está escrito que Deus diz que os primogênitos de todos os homens e animais pertencem a Ele. No Pentateuco (5.21) Deus diz para cobiçar a mulher do próximo e nem outros objetes seus.
Diz Verdon (2011) que na Idade Média a poligamia consentida era normal principalmente, entre os senhores poderoso e os reis. Entre francos e germanos era legal. Os germânicos se preocupavam em conservar suas características físicas étnicas e manter seu patrimônio, graças a uma descendência incontestável. Para isso era importante que a mulher fosse virgem no momento do casamento. Por isso os senhores tratavam com distinção e dignidade a esposa, mas tinham esposas de segunda classe que também lhes davam filhos, mas não herdeiros. Verdon diz ainda que o Concílio romano de 826 proibiu qualquer cidadão ter esposa e concubina ao mesmo tempo. Mas a poligamia e o adultério ilegais continuaram sendo praticados em toda a Idade Média.
A misoginia cristã da Idade Média herda essas concepções vindas de tempos remotos, dando à mulher um caráter diabólico. Para os padres da Igreja medieval o sexo era abominável. Argumentavam que o corpo da mulher no todo e do homem, da cintura para baixo eram criações do demônio. Agostinho disseminou o sentimento de que o ato sexual era repulsivo. O que Tertuliano, Jerônimo e Paulo bradaram contra a mulher e a sua sexualidade, não tem fundamento em Jesus, sendo mais próximas do hinduísmo.
O escritor Jostein Gaarder (2009), no romance Vita Brevis, consultando fontes históricas, textos bíblicos e “As confissões” de Santo Agostinho esclarece as circunstâncias da conversão de Aurélio Agostinho. Na busca da certeza de sua salvação, ele renuncia aos prazeres que a natureza oferece ao homem. Uma mulher à qual Gaarder deu o nome fictício de Flora Emília viveu com Aurélio Agostinho cerca de doze anos e com ela teve um filho. Mônica, mãe de Agostinho queria separá-lo da mulher, porque esta não tinha linha aristocrática. Ao converter-se ao cristianismo e abraçar a vida eclesiástica, Agostinho abandonou a mulher e confinou o único filho em um convento, onde morreu ainda criança. A mulher, desde Eva passa a ser vista como perigosa para a salvação do homem. Agostinho recorre até ao evangelho segundo Mateus (19,12) para reforçar a idéia de auto-castração: Há eunucos que nascem assim do seio materno; há os que se tornam eunucos pela interferência dos homens; há os que se tornam eunucos a si mesmos, por amor do Reino do Céu. Quem puder compreender compreenda.
A mulher na Índia é considerada como propriedade de seu marido. Ela deve ajudá-lo em seus deveres e ser ensinada por ele. (GAARDER, 2000) Um livro sagrado da Índia diz que está na natureza do sexo feminino tentar corromper o homem na terra. Durante a infância, a mulher deve depender de seu pai. Depois que se casa passa a depender de seu marido: se ficar viúva passa a depender de seus filhos e se não tiver filhos, de seus parentes mais próximos. Quando foi instaurado o celibato no clero católico a mulher foi desclassificada com estratégia de manutenção da organização clerical. A mulher era associada à imagem de Eva e responsável pelo pecado. O culto à virgem Maria amenizou um pouco essa situação, mas continuava sendo a época mais crucial para a existência feminina. Boccaccio, que viveu no final da Idade Média, mostra como clareza a situação social da mulher. Diz textualmente no Decamerão:
As mulheres receiam envergonhar-se. Retraem-se. As chamas ocultas possuem mais força do que as que se ostentam; e disto sabem aquelas que já as experimentaram. Constrangidas pelos desejos, pelos caprichos e pelas ordens paternas, maternas, fraternas e dos maridos, conservam-se a maior parte do tempo, encerradas em seus aposentos; mantêm-se ali, sem nada fazer, sentadas, querendo e não querendo; uma hora só, nutrem pensamentos vários, e não possível que sejam sempre alegres esses pensamentos. Em razão desses pensamentos, as mulheres são muito melancólicas e por isso necessitam do amparo dos homens. Quando os homens se sentem acuados pela melancolia ou pelo desânimo, acham inúmeras maneiras de aliviar-se, ou de entreter-se. Não lhes faltam ocupações, como a de deslocar-se de um lugar para outro, a de escalar, a de ver coisas, a de caçar, pescar e fazer armadilhas aos pássaros, a de cavalgar, a de jogar e fazer troças. (BOCCACCIO, 1956)
Boccaccio, na referida obra reúne dez personagens em uma luxuosa casa de campo na Toscana, fugindo da peste negra que atormentava a Europa. Eram sete mulheres e três homens, cujo passa-tempo principal era contar história em forma de novelas. As narrativas dos personagens faziam referências a personalidades e fatos ocorridos na Idade Média. A mulher aparece sempre fazendo um papel secundário, isto é cumpria a ela satisfazer e servir ao homem. A ambição da mulher era servir a homens de status elevados, em primeiro lugar, aos nobres. Quanto mais bem comportada e quanto mais fidelidade religiosa demonstrasse, maior era a chance de conseguir um bom partido, ou de ser a amante preferida de um nobre cavaleiro.
O Renascimento foi uma extensão da situação medieval na consideração da mulher. Pouca ou quase nada se modificou. Conforme Beauvalet (2011), em 1513 o jurisconsulto Tiraqueu expôs os direitos e deveres da mulher casada. Baseado na tradição romana antiga afirma que sendo a mulher do “sexo frágil”, tanto do ponto de vista psicológico quanto físico, ela precisava sempre de proteção, justificando assim, a subordinação da mulher ao homem. Mas caso seu cônjuge morresse, podia ter acesso a uma série de prerrogativas e direitos que a tornava senhora de seus bens e atos. A mulher, contudo, não herdava os bens do marido, que voltavam para a família de origem. Era assegurado à viúva levar uma vida digna e independência financeira. A viúva não podia se casar novamente antes de completar um ano da morte do marido. No que pese todas essas limitações, muitas mulheres viúvas passaram a atuar em várias esferas consideradas do âmbito exclusivo dos homens, como a gestão do patrimônio, a educação dos filhos.
No Iluminismo, Lucke, que defendia a liberdade de opinião e a tolerância, defendia também a igualdade de direito entre os sexos. Em 1787, o iluminista Condorcet publicou um artigo sobre os direitos da mulher. Nele, o filósofo deseja garantir às mulheres os mesmos direitos naturais dos homens. Durante a Revolução Francesa de 1789, muitas mulheres participaram ativamente da luta contra a aristocracia. Foram elas que acabaram levando o rei a abandonar o seu castelo em Versalhes. Além de direitos políticos iguais aos homens, elas reivindicavam mudanças na legislação conjugal e melhores condições de vida. À frente desse movimento estava madame Olympe de Gouges que chegou a publicar uma “declaração dos direitos da mulher” de vez que a “declaração dos direitos do homem e do cidadão” não fazia referência à mulher. Resultado: Madame Olympe de Gouges foi decapitada em 1793 e as mulheres foram proibidas de toda e qualquer manifestação.
Hegel era de opinião que a diferença entre um homem e uma mulher era a mesma entre um animal e uma planta. O animal corresponde mais ao caráter do homem e a planta mais ao da mulher, pois seu desenvolvimento é mais tranqüilo. Se as mulheres estão à frente do governo, o estado está em perigo, pois elas não agem segundo as inclinações e as opiniões causais. A formação das mulheres ocorre mais pela experiência de vida que pela aquisição de conhecimento. Os homens só chegam à sua posição à custa de muito pensar e de muitos esforços técnicos. As idéias de Hegel estavam arraigadas na sociedade de sua época Ele era um produto do meio. Basta dizer que até 1827 a humanidade achava que a mulher era uma coisa oca e que não tinha participação tão importante na fecundação. Só então é que o médico Karl Ernest Von Baer viu pela primeira vez o espermatozóide e o óvulo no momento da fecundação. Mas podemos dizer que Hegel estava em desacordo com Sócrates e Platão, mas de acordo com seu tempo.
Gustave Flaubert (1821-1880), em seu romance Madame Bovary se coloca no contraponto do estereótipo de que a mulher, por natureza é menos ativa que o homem. A personagem central, Emma é uma mulher sonhadora, situada na classe média de seu tempo e criada no campo. Tendo estudado em colégio interno, aprendeu a ver a vida através da literatura sentimental. Bonita e requintada para os padrões provincianos, casa-se com Charles Bovary, um médico interiorano, apaixonado pela esposa, mas acomodado e sem ambição de crescer na escala social. Charles Bovary fazia questão freqüentar as festas galantes nas ricas propriedades da vila e demonstrar orgulho por ter mulher tão bela, inteligente e capaz de boa prosa. Mas, Emma sentia-se cada vez mais insatisfeita. Nem mesmo o nascimento de uma filha dava alegria ao indissolúvel casamento, no qual Emma sentia-se presa. A partir daí faz opção de por em prática as paixões tais quais as narrativas dos livros que lia. Começa ai as traições ao marido. Passa a ir toda semana à cidade de Rouen, a pretexto de estudar arte, mas na verdade, para encontrar-se com um de seus amantes. Emma tenta transpor o mundo que a cerca e que a oprime. Tal qual Dom Quixote, sozinha em sua luta, nada consegue e acaba se suicidando.
No século XX a mulher consegue conquistar melhores posições sociais, graças à sua consciência e a movimentos coletivos. Adquire o direito de votar e de se eleger; de requerer divórcio em caso de crueldade do marido; benefícios sociais na condição de trabalhadoras. Simone de Beauvoir é que faz a análise mais apurada da situação da mulher na primeira metade do século XX. Diz textualmente: As mulheres de hoje estão destronando o mito da feminilidade; começa a afirmar concretamente sua independência; mas não é sem dificuldade que conseguem viver integralmente sua condição de ser humano. Educadas por mulheres, no seio de um mundo feminino, seu destino normal é o casamento que ainda as subordina praticamente ao homem; o prestígio viril está longe de ter apagado; assenta ainda em sólidas bases econômicas e sociais. (BEAUVOIR, 1967).
Sartre diz que não existe uma natureza eterna ou permanente à qual podemos recorrer. Somos nós que criamos aquilo que somos. Simone de Beauvoir completa dizendo que não existe uma “natureza” feminina ou uma “natureza” masculina eterna. A exemplo de Hegel, sempre se afirmou que a natureza do homem seria uma natureza que sempre o leva a ultrapassar as fronteiras; buscar um objetivo fora de casa. Da mulher, sempre se disse que sua vida se orienta pelo lugar que já se encontra, cabendo a ela cuidar da família e das coisas em seu entorno. Simone de Beauvoir convoca os homens e as mulheres a se libertarem desses preconceitos e ideologias arraigadas na sociedade. Segundo a autora, a mulher aprecia como o segundo sexo e só o homem aparecia como sujeito dessa cultura. Desde os primórdios da civilização a mulher havia se revertido em objeto do homem. (GAARDER, 1995).
Não se pode generalizar a situação da mulher no mundo todo. A diversificação das situações começa com a distribuição da população de acordo com os setores produtivos, como segue:
Setor primário:
- Exploração de recursos naturais, como a agricultura, mineração, pesca,
pecuária e extrativismo.
- baixo nível educacional, saber empírico
- Cultura popular tradicional
- No setor primário a mulher é muito submissa ao homem, mesmo que tenha maior conhecimento e maior bagagem cultural. Os casamentos duram mais e as famílias são mais numerosas. Existem algumas situações isoladas como a comunidade Musuo na China e a comunidade Noiva do Cordeiro em Minas. Na China, ainda nos dias de hoje, encontramos uma comunidade matriarcal, subgrupo da etnia chinesa Naxi, em que a autoridade é exercida pela mulher. A comunidade que habita na região do Lago Lugu e manteve as suas tradições ancestrais devido ao isolamento geográfico. "Devido à restrição de contactos, as tradições dos Mosuo mantiveram-se quase inalteráveis”, Uma curiosidade dos viventes de Mosuo é o sistema de vida sexual, designado por "a visita". A mulher não casa e vai viver com o homem, ela permanece na casa com a família da mãe e escolhe os homens que pretende receber em sua casa sem que desse ato resulte qualquer compromisso.
Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile e diretora da ONU Mulher, (2012) diz que apesar dos enormes avanços, nenhum país pode se declarar totalmente livre das discriminações contra a mulher. Em nenhum contexto as disparidades e obstáculos são mais importantes para as mulheres e meninas do que nas areas rurais. Trabalham muitas horas com pouca remuneração e produzem uma grande parte dos alimentos colhidos.
Setor secundário
- Indústria de transformação
- Educação técnica e secundária
- Cultura popular de massas, indústria cultural
- No setor secundário, desde a segunda revolução industrial, segunda metade do século XIX, em que houve um enorme crescimento da necessidade de mão-de-obra, as mulheres atuam nas fábricas em péssima condição de trabalho. Excessiva jornada de trabalho e parcos salários. Na indústria têxtil as mulheres produziam mais que os homens, mas recebiam salários inferiores. Não havia tempo para cuidar nem de si mesma e nem da família. Pouco a pouco, no século XX, a mulher foi adquirindo algum direito tanto na área social quanto a trabalhista, mas a situação ainda não satisfatória. Há muita migração do campo para a cidade nos países asiáticos e sul-americanos. As migrantes se vêm em uma situação crucial: trazem do campo as tradições de sua formação, que se choca com a modernidade.
Setor terciário
- Relacionado aos serviços, produtos não materiais, como comércio, educação,
saúde, telecomunicações, transportes, bancários, turismo
- Educação superior, especializações
- Cultura erudita, refinamento.
- No setor terciário a mulher encontra-se em melhor situação que nos outros setores. Atua em todas as espécies de trabalho juntamente com os homens onde não há diferenciação nas tabelas salariais. Os casamentos são efêmeros e o número de filhos é menor. O casamento visa mais a satisfação sexual que a econômica, especialmente a segunda união estável.

Referências:
BEAUVALET, Scarlett. Viúva: enfim livre. História viva. São Paulo, n. 93, jun. 2011.
BACHELET, Michelle. Empoderar as mulheres. Folha de São Paulo. São Paulo, 8 mar. 2012.
BOCCACCIO, Giovanni. O Decamerão. {1343} Tradução de Eduardo Bizzani. São Paulo: Martins, 1956. 3v il.
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Tradução de Sérgio Milliet. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1967.
FLAUBERT, Gustave. Madame Bovary. Tradução de Ilana Heinerberg. Porto Alegre: L&PM, 2009.
GAARDER. Jostein. O mundo de Sofia: romance de história da filosofia. Tradução de João Azenha Júnior. São Paulo: Cia das Letras, 1995.
GAARDER, Jostein. O livro das religiões. Tradução Isa Mara Lando. São Paulo: Cia das Letras, 2000.
GAARDER, Jostein. Vita Brevis: a carta de Flória Emília para Aurélio Agustinho. Tradução de Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
LOGEAY, Anne. Pai marido: o casal ideal. História viva. São Paulo, n. 93, jun. 2011
VERDON, Jean. A era da poligamia. História viva. São Paulo, n. 93, jun. 2011.

*Antonio de Paiva Moura é professor no Instituto Jung de MG.



Pepe Escobar: Entra “Vlad - o Putinator”, para en-lou-que-cer Washington

Esqueçam o passado (Saddam, Osama, Gaddafi) e o presente (Assad, Ahmadinejad). Vale a pena apostar uma garrafa de Petrus 1989 (difícil, só, ter de esperar seis anos para beber o prêmio): no futuro próximo, o top bicho-papão de Washington – e também de seus famigerados parceiros na OTAN e penas-mandadas na grande imprensa – será ninguém menos que o presidente russo Vladimir “de-volta-para-o-futuro” Putin.
E “q
ue ninguém se engane” (make no mistake, como gosta de dizer o presidente Obama): “Vlad - o Putinator” não está para brincadeiras. Voltou exatamente para onde quer estar, comandante-em-chefe da Rússia, encarregado de todas as questões militares, de política exterior e da segurança nacional.

As elites anglo-norte-americanas ainda tremem à menção do hoje legendário discurso de Putin em Munique 2007 [1], quando açoitou o então governo George W Bush por sua agenda obsessivamente unipolar imperial “implantada mediante um sistema que nada tem a ver com a democracia” e que “nunca se cansa de saltar sobre as fronteiras nacionais em quase todas as esferas”. Quer dizer: Washington e seus mamulengos estão avisados.


Antes da eleição do domingo passado, Putin até publicou seu mapa do caminho. Na essência: nada de guerra contra a Síria; nada de guerra contra o Irã; nada de “bombardeio humanitário” nem fomentar “revoluções coloridas” – todas essas práticas sinistras reunidas num novo conceito: “instrumentos ilegais de poder soft”. Putin é não-e-não, sobre qualquer Nova Ordem Mundial arquitetada por Washington. O princípio que governa é “o princípio, consagrado na história, da soberania do Estado”.


Claro. Quando Putin olha para a Líbia, vê, graficamente, as consequências regressivas da “liberação” à moda OTAN, mediante “bombardeio humanitário”: um país fragmentado, controlado por milícias ligadas à al-Qaeda; a atrasada Cirenaica amputada da Tripolitania desenvolvida; e um parente do último rei posto no poder para governar o novo “emirado” – para delícia daqueles democratas-modelos da Casa de Saud.


Mais essencialmente importante: nada de bases dos EUA cercando a Rússia; nadas de escudo de mísseis de defesa sem compromisso claro, assinado, de que o sistema jamais será usado como arma contra a Rússia; e cooperação cada vez mais próxima entre as potências emergentes do grupo dos BRICSs. Grande parte disso tudo já estava implícito no mapa do caminho que Putin publicou em outubro do ano passado – o artigo “A new integration project for Eurasia: The future in the making” [Um novo projeto de integração para a Eurásia: o futuro da humanidade], publicado no jornal Izvestia. [2] Foi o ippon de Putin – que adora judô – contra a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o neoliberalismo linha-dura. Putin vê uma União Eurasiana como “uma união econômica e monetária moderna” que se estende por toda a Ásia Central.


Para Putin, a Síria é detalhe importante (se por mais não fosse, porque lá está a base naval russa no porto mediterrâneo de Tartus, que a OTAN adoraria abolir). Mas o cerne da questão é a integração da Eurásia. Os atlanticistas entrarão em surto coletivo, em massa, quando Putin começar a trabalhar aplicadamente para montar “uma poderosa união supranacional que se pode converter em um dos polos do mundo contemporâneo, ao mesmo tempo em que conectará a Europa e a dinâmica região do Pacífico asiático”. O mapa do caminho exatamente oposto a esse viria a ser, aparecido depois, a doutrina do Pacífico de Obama e Hillary. Que lhes parece? Super excitante, né-não?


Putin está no jogo do Óleogasodutostão


Putin, praticamente sozinho, comandou o renascimento da Rússia como mega superpotência energética (as exportações de petróleo e gás respondem por 2/3 das exportações russas, metade do orçamento federal e 20% do PIB russo). Deve-se esperar que o óleo-gasodutostão permaneça como questão chave. E estará mais centrado no gás; embora nada menos que 30% das reservas globais de gás estejam na Rússia, a produção de gás natural liquefeito [orig. liquid natural gas (LNG)] corresponde a menos de 5% da demanda do mercado global. A Rússia ainda não está nem entre os dez principais produtores. Putin sabe que a Rússia precisará de toneladas de investimentos estrangeiros no Ártico e sobretudo na Ásia – para manter a produção de petróleo acima de 10 milhões de barris/dia. E precisa acertar um negócio complexo, amplo, de trilhão de dólares, com a China, para os campos de gás da Sibéria Oriental; a parte do petróleo já está encaminhada com o oleoduto ESPO (East Siberian Pacific Ocean – Sibéria Oriental-Oceano Pacífico). Putin sabe que, para a China – em termos de segurança energética –, esse negócio é contragolpe vital contra a sombria, sinistra “deriva” [orig. pivoting] dos EUA na direção da Ásia.


Putin também fará de tudo para consolidar o óleogasoduto South Stream, que pode acabar custando espantosos $22 bilhões (o acordo dos acionistas já está assinado entre Rússia, Alemanha, França e Itália. South Stream é gás russo entregue pelo subsolo do Mar Negro ao sul da União Europeia, através de Bulgária, Sérvia, Hungria e Eslováquia). Se o óleogasoduto South Stream sair, o seu rival, Projeto Nabucco, estará sob xeque-mate: será grande vitória dos russos contra a pressão de Washington e dos burocratas de Bruxelas. Tudo está ainda em disputa nessa crucial intersecção entre geopolítica hardcore e o Óleo-gasodutostão.


Mais uma vez, Putin enfrentará outro mapa do caminho criado em Washington – o não exatamente muito bem sucedido projeto Nova Rota da Seda [orig. New Silk Road] (ver 3/11/2011, “EUA: sem lugar no Afeganistão depois de 2014”). E há ainda o coringa do baralho – a Organização de Cooperação de Xangai [orig. Shanghai Cooperation Organization (SCO)]. Putin quererá que o Paquistão torne-se membro pleno, tanto quanto a China tem interesse em incorporar o Irã. As repercussões serão tectônicas – com Rússia, China, Paquistão e Irã coordenando não só a própria integração econômica, mas também a segurança mútua dentro de uma SCO fortalecida, cuja palavra-de-ordem é “sem alinhamento, sem confrontação e sem interferência nos assuntos internos de outros países”. Putin vê que com a Rússia, a Ásia Central e o Irã controlando nada menos que 50% das reservas mundiais de gás; e com Irã e Paquistão como membros virtuais da SCO, o nome do jogo passará a ser “integração asiática” – se não “integração euroasiática”. A Organização de Cooperação de Xangai cresce como uma usina econômica/de segurança, enquanto, paralelamente, o Óleo-gasodutostão acelera a plena integração da Organização de Cooperação de Xangai como contrafrente da OTAN.


Os próprios atores regionais decidirão o que lhes parecer mais interessante: isso, construído ali mesmo, ou alguma Nova Rota da Seda inventada em Washington. Make no mistake. Por trás da incansável demonização de Putin e das inumeráveis tentativas para deslegitimar as eleições presidenciais da Rússia, o que há é grupos muito poderosos e muito furiosos das elites de Washington e anglo-norte-americanas em geral. Todos esses sabem que Putin será negociador ultra duro em todas as frentes. Sabem que Moscou trabalhará em coordenação cada dia mais próxima com a China; que farão de tudo para que não haja bases permanentes da OTAN no Afeganistão; que lutarão pela autonomia estratégica do Paquistão; que se oporão ao sistema de mísseis de defesa; que impedirão a guerra contra o Irã. E o demônio da “outra possibilidade”; e não poderia haver oponente mais formidável no cenário mundial, contra os planos de Washington – chamem-nos “Oriente Médio Expandido”, “Nova Rota da Seda”, “Doutrina da Dominação de Pleno Espectro” ou “Século Pacífico-Americano”. Ladies and gentlemen, haverá turbulência à frente.

Notas dos tradutores[1] Vladimir Putin: “Discurso à 43ª Conferência sobre Políticas de Segurança”, Munich, Alemanha, 2/10/2007 (em inglês)
[2] 4/10/2011, artigo de Vladimir Putin: “A new integration project for Eurasia: The future in the making” (em inglês).
8/3/2012, Pepe Escobar, Ásia Times Online“Why Putin is driving Washington nuts”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu



2. VALE A PENA LER

A REA 130, março de 2012, foi publicada. Leia nesta edição o DOSSIÊ A SITUAÇÃO DA MULHER: REFLEXÕES E PERSPECTIVAS, organizado pela Profa. Dra. EVA PAULINO BUENO (St. Mary's University, Texas).
Agradecemos à organizadora do DOSSIÊ, aos Consultores Ad hoc, à Comissão Editorial e a todos que contribuíram para a publicação de mais este número da REA.
Acesse http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/issue/current para ler os artigos publicados.


O Dia Internacional da Mulher em imagens

O Dia Internacional da Mulher foi marcado por protestos políticos e celebrações. O site Common Dreams registrou alguns desses momentos:
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19727&boletim_id=1145&componente_id=18317






Historiadores pra quê?
À luz do debate que sacode o campo de história estadunidense sobre a função social dos historiadores, Keila Grinberg contrapõe, em sua coluna de março, as expectativas do graduando em história no Brasil e a realidade que ele encontra depois de formado. A reflexão sugere um novo direcionamento profissional nos cursos de pós-graduação na área.
http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/em-tempo/historiadores-pra-que


Informo que foi publicado novo post no BLOG DA REA - ENSAIOS SOBRE CINEMA:
Bom dia, noite
FÁBIO VIANA RIBEIRO
O sequestro do ex primeiro ministro italiano Aldo Moro foi, no final dos anos70, a ação mais radical das Brigadas Vermelhas; grupo político italiano de extrema esquerda que, naquele momento, tentava impedir uma aliança entre o Partido Comunista Italiano (considerado “reformista”) e o Partido Democrata Cristão (do qual Aldo Moro era líder)... LEIA NA ÍNTEGRA: http://espacoacademico.wordpress.com/2012/03/07/bom-dia-noite/


Cientista revela ameaças e pressões que cercam ciência climática
Em novo livro, Michael Mann explica como indústria dos combustíveis fósseis e céticos do clima combatem evidências do aquecimento global – e como lutar contra esse lobby expôs o pesquisador a intimidação, abusos e ameaças de morte. “É uma técnica clássica do movimento dos negadores, descobri, e eu não quero dizer apenas aqueles que rejeitam a ideia do aquecimento global, mas aqueles que insistem que fumar não causa cêncer ou que a poluição industrial não está ligada à chuva ácida”, diz o cientista.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19719&boletim_id=1144&componente_id=18294



Dando prioridade à felicidade nacional
por LARRY HUFFORD
Em 1972, Bhutan, uma das nações materialmente mais pobres no mundo, viu a ascensão de um novo líder, o rei Jime Singye Wanachuck. O novo rei, que hoje tem 50 anos de idade, tinha observado que as nações-estados no “mundo em desenvolvimento” estavam todas focalizadas no crescimento econômico e no comércio, isto é, no Produto Interno Bruto (PIB). O rei de Buthan, analisando a cultura única de seu país fundada nos valores espirituais budistas, decidiu focalizar a prioridade da sua nação não no PIB, mas na FNI (Felicidade Nacional Integral)... LEIA NA ÍNTEGRA: http://espacoacademico.wordpress.com/2012/03/10/dando-prioridade-a-felicidade-nacional/


Assassinar civis inocentes no Afeganistão não é novidade para o Exército dos EUA.



Como a ultra-direita ameaça a Europa
Alguns grupos praticam terror. Porém, mais perigosos surfam na crise, no medo do “outro” e no discurso anti-estrangeiros dos políticos. Por Pavol Stracansky, da Agência IPS

As eleições que podem mudar o rumo da França
A seis semanas da disputa presidencial, um Partido Socialista razoavelmente renovado tem grandes chances de vencer. Mas não se despreze Sarkozy... Por Marilza de Mello Foucher, correspondente em Paris

Como os holandeses venceram a ditadura do automóvel
Um vídeo de enorme importância para o Brasil mostra que é possível mudar mentalidades e sistemas de transporte. Por Antonio Martins


3. INFORMAÇÕES

O I Encontro de Pesquisa em História da UFMG - EPHIS é uma iniciativa do corpo discente do Programa de Pós Graduação em História da Universidade Federal de Minas Gerais, que tem como principal objetivo promover um diálogo aberto e democrático entre os alunos de pós-graduação e de graduação em história e áreas afins. A intenção de realizar o evento surgiu a partir da consciência das limitações do espaço dedicado aos debates entre jovens pesquisadores em muitos grandes eventos. Propomos, então, um encontro feito por e para estudantes, voltado essencialmente para a troca de experiências, informações, inquietações – o que, acreditamos, muito pode contribuir para a atividade por vezes tão solitária que é a pesquisa.

O I EPHIS está estruturado em torno de cinco simpósios temáticos, selecionados a partir de propostas enviadas por alunos do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Minas Gerais, cujas temáticas deverão ser, a um só tempo, abrangentes e capazes de propiciar diálogos efetivos entre os diferentes trabalhos. A modalidade principal de participação, aberta a pesquisadores com a titulação mínima de graduados e qualquer filiação institucional, será a de comunicações, com espaço para debate. Haverá, ainda, sessões de apresentação de painéis de projetos de pesquisa de alunos de graduação. A conferência de abertura será proferida pelo professor Fernando Novais.

O evento será realizado na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais entre os dias 23 e 25 de maio de 2012.

https://sites.google.com/site/ephisufmg/home





¡..QUÉ REGALAZO DE LA UNESCO PARA LA HUMANIDAD ENTERA.. !!!
Ya está disponible en Internet, a través del sitio www.wdl.org
Es una noticia QUE NO SÓLO VALE LA PENA REENVIAR , SINO QUE ¡¡¡ ES UN DEBER ÉTICO HACERLO...!!! Reúne mapas, textos, fotos, grabaciones y películas de todos los tiempos y explica en siete idiomas las joyas y reliquias culturales de todas las bibliotecas del planeta. Tiene, sobre todo, carácter patrimonial, anticipó ayer a " LA NACIÓN ", Abdelaziz Abid, coordinador del proyecto impulsado por la Unesco y otras 32 instituciones. La BDM no ofrecerá documentos corrientes , sino "con valor de patrimonio, que permitirán apreciar y conocer mejor las culturas del mundo en idiomas diferentes: árabe, chino, inglés, francés, ruso, español y portugués. Pero hay documentos en línea en más de 50 idiomas". "Entre los documentos más antiguos hay algunos códices precolombinos, gracias a la contribución de México, y los primeros mapas de América, dibujados por Diego Gutiérrez para el rey de España en 1562", explicaba Abid. Los tesoros incluyen el Hyakumanto Darani, un documento en japonés publicado en el año 764 y considerado el primer texto impreso de la historia; trabajos de científicos árabes que desvelan el misterio del álgebra; huesos utilizados como oráculos y estelas chinas; la Biblia de Gutenberg; antiguas fotos latinoamericanas de la Biblioteca Nacional de Brasil. Es fácil de navegar. Cada joya de la cultura universal aparece acompañada de una breve explicación de su contenido y su significado. Los documentos fueron escaneados e incorporados en su idioma original, pero las explicaciones aparecen en siete lenguas, entre ellas, EL ESPAÑOL. La biblioteca comienza con unos 1.200 documentos, pero ha sido pensada para recibir un número ilimitado de textos, grabados, mapas, fotografías e ilustraciones. ¿Cómo se accede al sitio global? Aunque será presentado oficialmente hoy en la sede de la Unesco , en París, la Biblioteca Digital Mundial ya está disponible en Internet, a través del sitio http://www.wdl.org/ . El acceso es gratuito y los usuarios pueden ingresar directamente por la Web , sin necesidad de registrarse. Permite al internauta orientar su búsqueda por épocas, zonas geográficas, tipo de documento e institución. El sistema propone las explicaciones en siete idiomas (árabe, chino, inglés, francés, ruso, español y portugués). Los documentos, por su parte, han sido escaneados en su lengua original. Con un simple clic, se pueden pasar las páginas de un libro, acercar o alejar los textos y moverlos en todos los sentidos. La excelente definición de las imágenes permite una lectura cómoda y minuciosa. Entre las joyas que contiene por el momento la BDM está la Declaración de Independencia de Estados Unidos, así como las Constituciones de numerosos países; un texto japonés del siglo XVI considerado la primera impresión de la historia; el diario de un estudioso veneciano que acompañó a Hernando de Magallanes en su viaje alrededor del mundo; el original de las "Fabulas" de Lafontaine, el primer libro publicado en Filipinas en español y tagalog, la Biblia de Gutemberg, y unas pinturas rupestres africanas que datan de 8000 A .C. Dos regiones del mundo están particularmente bien representadas: América Latina y Medio Oriente. Eso se debe a la activa participación de la Biblioteca Nacional de Brasil, la biblioteca Alejandrina de Egipto y la Universidad Rey Abdulá de Arabia Saudita. La estructura de la BDM fue calcada del proyecto de digitalización de la Biblioteca del Congreso de Estados Unidos, que comenzó en 1991 y actualmente contiene 11 millones de documentos en línea. Sus responsables afirman que la BDM está sobre todo destinada a investigadores, maestros y alumnos. Pero la importancia que reviste ese sitio va mucho más allá de la incitación al estudio a las nuevas generaciones que viven en un mundo audiovisual. Este proyecto tampoco es un simple compendio de historia en línea: es la posibilidad de acceder, íntimamente y sin límite de tiempo, al ejemplar invalorable, inabordable, único, que cada cual alguna vez soñó conocer. Estas son las cosas que vale la pena divulgar...



4. CAFÉ HISTORIA

MATÉRIA CAFÉ HISTÓRIA: UM VERBETE POLÊMICO
Ministério Público Federal entra com ação na justiça contra o badalado Dicionário Houaiss por avaliar que seu verbete sobre os ciganos é racista e preconceituoso. Caso se transforma na primeira grande polêmica intelectual do ano e recebe várias críticas nos meios de comunicação.
Leia esta matéria em: http://cafehistoria.ning.com/verbete-polemico


DOCUMENTO HISTÓRICO: REVISTA PLACAR DE 1986 (COPA DO MUNDO)
Com Júnior e Sócrates, quem poderia dizer que aquela Copa do Mundo de 1986 não viria para o Brasil? Veja as expectativas da mais importante publicação brasileira na área dos esportes: a Revista Placa. Revista na íntegra.
Leia mais: http://cafehistoria.ning.com [Página Principal]


VÍDEOS EM DESTAQUE: AULA DE HISTÓRIA NO CEMITÉRIO
Professor no Paraná inovou na forma de dar aulas: no cemitério de sua cidade. Achou estranho?
Assista: http://cafehistoria.ning.com/video/professor-da-aula-de-historia-dentro-de-cemiterio-no-parana


MURAL DO HISTORIADOR: ARQUIVO PÚBLICO DE SÃO PAULO SÓ EM JUNHO
Prazo para inauguração do Novo Arquivo Público de São Paulo só acontece em Junho de 2012
Leia mais: http://cafehistoria.ning.com [Página Principal]


DOCUMENTO HISTÓRICO: JORNAL DE MODAS DATADO DE 1852
"Novo Correio de Modas", assim se chamava um requintado jornal do Rio de Janeiro do início dos anos 1850.
Confira: http://cafehistoria.ning.com [Página Principal]


CAFÉ EXPRESSO NOTÍCIAS: HISTORIADOR DIZ TER ACHAO NOVO DA VINCI
E quem diz é um dos historiadores mais polêmicos da história da arte.
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quarta-feira, 7 de março de 2012

Numero 317







Neste número, graças a nossos colaboradores, vários artigos completos. Brasil e mundo são assuntos que chamam a atenção. Nos links, novamente assuntos nacionais e internacionais são indicados. Informações e as matérias do Café História completam.
Está, talvez, um pouco grande, mas você tem uma semana inteira para ler tudo! Vale a pena!




1. ARTIGOS COMPLETOS

Colaboração de Ana Cláudia:

As ficções políticas e as realidades do mundo
Mauro Santayana

Faz parte da história política de São Paulo a aparente indecisão de muitos de seus líderes. O Sr. Jânio Quadros, que tinha dias de Hamlet e dias de MacBeth, subordinava suas decisões a dois pontos geográficos da cidade: Vila Maria e Sapopemba. Vila Maria é a região de classe média emergente, e, Sapopemba, área mais pobre. Ele costumava consultar os dois eleitorados. De Vila Maria vinha a esperança da vitória, uma vez que, desde sua eleição para vereador, contara com o apoio de seus eleitores. Sapopemba era o teste de popularidade. Antes de candidatar-se a esse ou àquele cargo, aferia, nos comícios, o apoio de seus moradores.

O ex-governador José Serra não chega à forte tragédia do escocês MacBeth, mas se aproxima, em seu ser e não ser, do príncipe da Dinamarca. Não que Hamlet disputasse uma eleição, a não ser a do destino, e que a sua dúvida fosse muito além de sua própria tragédia, ainda que nela amarrada. Mas se Jânio e Serra estão muito distantes da essência do caráter que Shakespeare dá aos dois personagens, e que ele pintara como antípodas morais, os dois paulistas começam a se assemelhar. Jânio adorava que fossem bater à sua porta, apelar para a sua taumaturgia populista. Serra, ao desconfiar de que não o procurariam, como a bóia salva-vidas na tempestade (mesmo porque os ventos políticos sopram brandos, por enquanto), resolveu aceitar, de bom grado, os ralos apelos que lhe chegam.

Os paulistas começam a dar à eleição para a Prefeitura de São Paulo importância maior do que ela realmente tem, e os comentaristas políticos, próximos dos tucanos bandeirantes, avançam sobre a lógica, dizendo que ela terá efeitos nacionais. Não há dúvida de que a cidade é a mais importante do país, no que se refere à economia e à cultura, de maneira geral, mas está distante da realidade política e social do Brasil como um todo. Os paulistanos atuam como se fossem o sol, em torno do qual os planetas menores orbitam, e, de cuja luz, dependem.

Na noite de sábado para domingo, em uma cidade satélite (das mais pobres) de Brasília, Santa Maria, alguns rapazes atearam fogo a moradores de rua. Um deles morreu e o outro se encontra seriamente ferido, com poucas possibilidades de sobrevivência. Há dois fatos, relacionados com essa tragédia, que devem ser ponderados. Até há algum tempo, os pobres costumavam ser solidários entre eles. Agora, no entanto, submetem-se à cultura, made in USA, da intolerância, da violência pela violência, da discriminação e do desprezo pela vida. Talvez – e as investigações continuavam – os incendiários de fim de semana sejam dos “emergentes” das cidades-satélites, filhos de pais bem empregados, moradores em casas confortáveis. E, talvez, não – o que será pior.

O outro ponto de reflexão é o da impunidade. Há quase quinze anos, cinco rapazes, filhos de famílias da elite de Brasília, atearam fogo ao índio Galdino, dirigente da etnia pataxó da Bahia, que dormia em um ponto de ônibus. Presos, graças ao testemunho de um rapaz da mesma idade, que passava de carro pelo local, os culpados foram defendidos com veemência. Seus pais, e os advogados que contrataram, tentaram desqualificar o crime – tratara-se, segundo a desculpa, de uma brincadeira que dera errado. Não tinham a intenção de matar, só a de assustar com o fogo. Foram presos e julgados. Condenados, em 2001, a 14 anos de prisão, menos um deles, que era adolescente, não passaram mais de 4 anos na prisão – onde gozaram de todas as regalias, entre elas a de sair para estudar e trabalhar, quando aproveitavam o tempo para beber e namorar, chegando frequentemente muito depois da hora de recolher.

As denúncias de que estavam sendo privilegiados de nada adiantaram. Eles eram enteados e filhos de juízes. Como sabemos, todos somos iguais diante da lei, embora alguns sejam muito mais iguais.

É nesse país, em que as leis são meras declarações de intenção, e apenas 3% dos responsáveis pelos crimes de homicídio são julgados e cumprem penas, que temos de pensar. Não entendem os legisladores e administradores públicos que a impunidade dos poderosos estimula a criminalidade geral. Assim, enganam-se os tucanos da maior cidade brasileira. São Paulo, com toda sua opulência (mesmo com a maior população de moradores de rua de todo o país) não é a estrela em torno da qual circula o sistema planetário nacional. Mesmo porque as elites de São Paulo, salvo poucas exceções, exercem uma cidadania off-shore, desligada do destino do país.

O nosso futuro está sendo construído em todo o território nacional, pela inteligência, pelo esforço e pelo patriotismo de seus trabalhadores, incluídos os de São Paulo – e não pelos senhores da Febraban e das corporações multinacionais, empenhadas em novo e cômodo colonialismo.


Colaboração de Guilherme Souto:
Em função das várias notícias divulgadas recentemente que revelam que Minas Gerais vive uma explosão de casos de violência, o senador Aécio Neves voltou seus olhos para seu Estado de origem. Viaja para os EUA para conquistar algum recurso para investimento em segurança pública em MG. Minas é o único Estado do sudeste do país que apresentou aumento no índice de homicídios (aumento de crimes violentos em 10% em 2011, sendo que BH registrou aumento de 22%).
Para piorar, há forte denúncia de censura do governo para que os dados não fossem divulgados. Veja matéria do Hoje em Dia, abaixo.


Números da criminalidade em Minas podem ser alvo de auditoria
Crimes violentos aumentaram cerca de 11% em 2011 em Minas Gerais, conforme números divulgados nesta quarta-feira (29)
Thaís Mota - Do Portal HD - 29/02/2012 - 18:44
TONINHO ALMADA/ARQUIVO HOJE EM DIA

Violencia

No esquema, homicídios eram registrados como encontro de cadáver
As estatísticas de criminalidade em Minas Gerais nos últimos cinco anos podem ser alvo de uma auditoria. O requerimento foi redigido por deputados da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), após denúncias publicadas pelo Hoje em Dia sobre maquiagem de Boletins de Ocorrência (BO) e manipulação dos dados. Assim que for aprovado, o pedido será encaminhado ao governador Antonio Anastasia. Nesta quarta-feira (29), a Secretaria de Defesa Social (Seds) divulgou os dados de criminalidade no Estado em 2011. Segundo as estatísticas, a taxa de crimes violentos em Minas Gerais – homicídios, tentativas de homicídios, estupros, roubos e roubos a mão armada – aumentou 10,80% em 2011, em comparação a 2010.
A sugestão da auditoria foi apresentada pelo professor da PUC Minas e ex-secretário de Estado de Defesa Social, Luís Flávio Sapori, durante audiência pública conjunta das Comissões de Direitos Humanos e de Segurança Pública, nesta quarta-feira. Segundo ele, existem fortes indícios de que os dados sobre a violência em Minas estão sendo "maquiados". O pesquisador advertiu ainda que, nos últimos anos, aumentou muito o registro de "encontro de cadáveres" no Estado, enquanto as estatísticas de "homicídios" vêm diminuindo. "Esta é uma indicação clara de que alguma coisa está errada", disse Sapori.
Já o deputado Sargento Rodrigues (PDT), um dos autores do requerimento para a realização da audiência pública, afirmou que o esquema prejudica o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a área de segurança. "A maquiagem dos dados provoca a elaboração de políticas públicas equivocadas. É preciso seriedade para tratar o problema”, afirmou o parlamentar.
O subsecretário de Integração da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), Frederico César do Carmo, afirmou que diariamente são produzidos mais de 6.000 Registros de Eventos de Defesa Social (Reds), e que a imprensa se baseou em meia dúzia de registros "mal feitos e mal redigidos" para publicar a denúncia. “Não se pode pegar meia dúzia de registros apresentados à imprensa e achar que eles representam a totalidade de Reds”, afirmou.
Sobre a possibilidade de uma auditoria nos dados publicados pela Seds, o subsecretário garantiu que não há motivos para se preocupar. "Se o governador aceitar o requerimento de auditoria, ela será realizada com tranquilidade e transparência". Ele disse ainda que a possibilidade de uma auditoria já havia sido discutida internamente.

Pressão sobre policiais para "maquiar" violência

Por outro lado, representantes da Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares de Minas Gerais (Aspra) e do Sindicato dos Policiais Civis (Sindipol) confirmaram a pressão sobre os policiais civis e militares para "maquiar" casos de violência registrados no Estado.
O coordenador da Comissão de Direitos Humanos da Aspra, Luiz Gonzaga Ribeiro, confirmou que os militares recebem orientação de comandantes para subnotificar crimes violentos e disse que os policiais que não cumprem as orientações sofrem punições. "Os militares sofrem um processo pesado de assédio moral, como represálias veladas. Eles são punidos na avaliação de desempenho, na avaliação de ficha de promoção e com transferências, o que não configura uma punição formal, denunciou.
Já o presidente do Sindipol, acrescentou que, para aumentar a estatística de apreensão de drogas, os policiais estão fracionando as quantidades capturadas. "A maquiagem de ocorrências acontece de duas formas. Nos crimes violentos há um eufemismo e, no caso da apreensão de drogas, acontece uma maximização, criando uma falsa percepção de que a polícia está acabando com o tráfico de drogas nas ruas", apontou.
O pedido de auditoria foi motivado por denúncias sobre um esquema de maquiagem de boletins, publicadas na edição de 6 de fevereiro. Segundo denúncias de policiais, o objetivo seria reduzir estatísticas de crimes violentos em Minas Gerais e cumprir metas anuais estabelecidas pela Seds. Nesse sentido, um homicídio era registrado como encontro de cadáver e uma tentativa de homicídio se transformava em lesão corporal.

Estatísticas

Após as denúncias de manipulação dos dados, a Seds divulgou que a taxa de crimes violentos no Estado quase aumentou 11% em 2011, em comparação com o ano passado. Já na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a taxa de crimes violentos aumentou de 28.197 em 2010, para 32.680 em 2011, o que representa um aumento de 14,5%. Em Belo Horizonte, a taxa subiu em 11,4%. Em números absolutos, o crescimento foi de 17.369 ocorrências para 19.487.
Os dados foram levantados pelo Centro Integrado de Informações de Defesa Social (Cinds) com base nas ocorrências registradas no Registro de Eventos de Defesa Social (Reds), no banco de dados da Polícia Militar (SM-20) e na Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV). Em 2011, o número de ocorrências aumentaram de 50.625 para 56.593.
Nas estatísticas sobre homicídios, Minas Gerais foi o que apresentou o maior crescimento no período entre 2000 e 2010 com relação aos estados da região Sudeste. Segundo o documento "Mapa da Violência 2012 – Os novos padrões da violência homicida no Brasil", do Ministério da Justiça, São Paulo e Rio de Janeiro apresentaram redução na taxa de homicídios.
Em 2010, Minas registrou um índice de 18,1 homicídios por grupo de 100 mil habitantes. Essa taxa coloca o Estado na quarta posição do ranking nacional, atrás apenas de Santa Catarina (12,9), Piauí (13,7) e São Paulo (13,9).





Colaboração de Helena Campos:
Prezados,
Leiam com atenção a matéria que saiu no blog do Luis Nacif, em 24/2. Trata-se carta ao senado que examina a recondução de Bernardo Figueiredo à direção-geral da ANTT. Durmam com um barulho desse!
Carta dos Desenvolvimentistas

Contra o desmonte do Transporte Ferroviário Brasileiro


O ano de 2012 chega trazendo consigo o resultado parcial de patrióticas iniciativas de órgãos do Estado Nacional de investigação das causas do desmonte do transporte ferroviário brasileiro. O momento é oportuno, portanto, para propor mudanças que viabilizem inserir o transporte ferroviário como elemento estratégico de apoio ao desenvolvimento nacional.
O Tribunal de Contas da União, em 15/02/2012, aprovou por unanimidade dos Ministros o Relatório da Auditoria no Processo Nº 008.799/2011-3 (Acórdão Nº 312/2012 – TCU – Plenário), iniciada em 05/04/2011, sobre a atuação da Agência Nacional dos Transportes Terrestres – ANTT na regulação e fiscalização do transporte ferroviário no período de 2007 a 2011. As constatações do TCU são gravíssimas e, quando comparadas com os resultados da ampla investigação realizada pelo Ministério Público Federal, a seguir comentada, compõem um quadro que deve abalar a consciência republicana de quem sobre elas se detenha. Em resumo, a ANTT, por ação e omissão, permitiu que as concessionárias privadas tornassem inoperantes cerca de 2/3 da malha ferroviária brasileira de 28 mil km e as autorizou a contabilizar irregularmente, como investimentos, valores que podem chegar a R$ 25,5 bilhões, os quais serão cobrados da União no momento de extinção da concessão.
Este é o rombo estimado até 2011, produto de manobras contábeis que a ANTT deveria ter vetado por serem contrárias aos contratos. À frente este montante pode aumentar. pois faltam ainda dez anos para que as concessões expirem. Por outro lado, se somarmos os valores da destruição parcial ou total de 2/3 da malha ferroviária (21 mil km), teremos um rombo adicional de mais R$ 30 bilhões, elevando o prejuízo para os cofres públicos a mais de R$ 50 bilhões.
Por outro lado, como resultado de anos de investigação do Ministério Público Federal sobre o transporte ferroviário em todo o país, a Procuradoria Geral da República ingressou com a Representação Nº 16848-2011-1 junto ao TCU contra a União (Ministério dos Transportes), a ANTT e a concessionária América Latina Logística – ALL. Com fundamento em documentos, perícias, depoimentos, audiências públicas, análise de procedimentos internos da ANTT, reuniões com setores produtivos e comunidades do interior do Brasil, a Procuradoria Geral da República constata: "Na falta de efetivo controle, as concessionárias como que se apropriam do negócio do transporte ferroviário de carga como se fosse próprio; fazem suas escolhas livremente, segundo os seus interesses econômicos. O quadro é de genuína captura, em que o interesse privado predomina sobre o interesse público". A Procuradoria Geral da República afirma que a responsabilidade pela situação atual é "a política de total conivência e omissão da ANTT com relação ao abandono, destruição, invasão e malbaratamento dos bens públicos e, consequentemente, do transporte ferroviário como alavanca do desenvolvimento regional e nacional."
A Procuradoria Geral da República explicita as razões que a levaram Representar conjuntamente contra a ANTT e a ALL: ‘Pois bem, se a concessionária dilapida – ela própria – ou abandona bens públicos arrendados, descumprindo durante mais de uma década cláusulas de contrato administrativo, por certo a Agência Reguladora tomou providências e exigiu soluções?" Segue a Representação: "Não. Nada fez até agora. Não aplicou multas, não denunciou o contrato, não exigiu investimentos quaisquer para a restauração ou reposição da estrutura e superestrutura, bem como dos bens móveis e imóveis afetos ao transporte ferroviário."
Tais fatos, graves por si mesmos, ganham contornos escandalosos e inaceitáveis quando se sabe que o atual Diretor Geral da ANTT participou da formatação da privatização da Rede Ferroviária Federal – RFFSA como funcionário público, em seguida participou como empresário da privatização, vencendo dois leilões (Malha Centro Leste e Malha Sul), participou da estruturação das concessionárias Ferrovia Centro Atlântica – FSA e da Ferrovia Centro Atlântica – FSA (atual América Latina Logística – ALL), assinou o contrato de concessão da ALL em representação da concessionária (contrato que hoje a ANTT, dirigida por ele, fiscaliza) e participou da criação e dirigiu a Associação Nacional de Transportes Terrestres – ANTF (associação privada das concessionárias ferroviárias).
Com base nas considerações acima, dirigimo-nos aos Senhores Senadores da República solicitando que não aprovem a recondução, para mais um mandato, do atual Diretor Geral da ANTT, e que requeiram ao Ministério dos Transportes uma resposta objetiva e formal às denúncias encaminhadas pela Procuradoria Geral da República e aos resultados colhidos pelo Tribunal de Contas da União. À Presidente Dilma solicitamos a indicação para a Direção Geral da ANTT de um nome comprometido com o interesse público, com o interesse nacional e com as aspirações históricas do povo brasileiro.
Grupo Desenvolvimentistas, formado por economistas, engenheiros, advogados, jornalistas, professores do ensino superior, ativos e inativos, integrantes ou egressos do setor público e do setor privado nacional
Seguem mais de 30 assinaturas.
Enviado por Francisco Oliveira/ONGTREM
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A ameaça que vem dos bancos
Texto de José de Souza Castro, publicado no WWW.blokdakikacastro.wordpress.com


Aos poucos, a gente vai descobrindo, pela leitura dos jornais, o que nos ameaça mais uma vez. Somos do tempo em que a ameaça ao nosso bem-estar, quando não à sobrevivência, vinha da dívida externa pública. E quando o governo Lula dizia que, se lhe fosse conveniente, já tinha condições de pagar toda a dívida externa, muitos acreditavam.
Vivíamos no melhor dos mundos, pois ninguém se dava ao trabalho de informar a esses muitos crédulos que, enquanto isso, a dívida interna do governo, pela qual os bancos credores cobravam os juros mais altos do mundo, havia se multiplicado algumas vezes, enquanto as reservas do governo em mãos da banca internacional, pouco rendiam ao Brasil.
Parece loucura, mas para tudo os economistas (e os alienistas) encontram razões. E desse modo podíamos estar tranquilamente a descer a ladeira enquanto saboreávamos nossas goiabinhas (uma imagem que tomei emprestado a Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta).
Mas vamos aos fatos, tais como se nos apresentam hoje. O dólar está cotado a R$ 1,72 e só neste ano já se desvalorizou 8%. O dólar também vai descendo a ladeira, porque o governo americano precisa fabricar moedas para sustentar a banca e desvalorizar sua astronômica dívida externa, principalmente com a China. O real também se valoriza em relação ao euro, porque o Banco Central Europeu precisa emprestar mais 529,5 bilhões de euros (R$ 1,2 trilhão) a 800 bancos, para evitar a bancarrota generalizada.
Como é sabido, dinheiro não dá em árvore. Quando se imprime mais moeda, ela se desvaloriza. Simples assim.
Mas o Brasil, em contrapartida à emissão de moeda estrangeira, não está queimando notas de real, como fez no passado com o café, para que se valorizasse. Na realidade, o real não se valorizou. É o dólar que está valendo menos. No Brasil, a queda do dólar se acelera em razão do excesso de oferta, mesmo que o brasileiro comum se esforce para queimar o excesso. Aproveitando os preços relativamente mais baixos lá fora, nunca viajaram tanto ao exterior, nunca queimaram lá tantos dólares.
Por que há tanto excesso de dólares aqui? Uma explicação pode ser encontrada hoje na “Folha de S. Paulo”. O jornal informa que a dívida externa dos bancos brasileiros dobrou “entre o fim de 2009 e setembro de 2011, saltando para o equivalente a R$ 313 bilhões.” Os bancos buscam recursos baratos no exterior e emprestam aqui aos consumidores, como nunca, cobrando os juros mais caros do mundo.
Um bom negócio para os bancos, mas, se a situação externa mudar de repente, eles ficarão em dificuldade. “Em relatório recente, o banco Morgan Stanley incluiu o Brasil em um grupo de países emergentes mais vulneráveis a uma mudança no contexto externo”, informa a repórter Érica Fraga, de São Paulo.
Eu diria que os banqueiros, vivessem em outro país, enfrentariam outro risco: o de serem presos. Pois, suspeita-se que parte do dinheiro que entrou no país nos últimos anos como investimento direto (IED) teve como destino o mercado financeiro – uma fraude cometida por banqueiros que têm como único objetivo pagar menos tributo. Fraude contra a Receita Federal: nos Estados Unidos, nos bons tempos, Al Capone acabou preso por isso.


Para quem odeia mortalmente o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma, talvez a leitura deste artigo de um analista norte-americano faça mal... mas é bom para se saber que o que eles fizeram e fazem gera aplausos lá fora, enquanto aqui...



A NOVA INFLUÊNCIA DO BRASIL
Por David Rothkopf, analista norte-americano do “Carnegie Endowment For International Peace – Foreign Policy” (artigo transcrito no jornal tucano, em consequência pró-EUA/Israel, “O Estado de S.Paulo”)[trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’], transcrito por este Boletim do Blog do Nassif.

“A POTÊNCIA EM ASCENSÃO DA AMÉRICA DO SUL ESTÁ SE AFIRMANDO, MAS UM GRANDE PODER TRAZ SEMPRE GRANDES RESPONSABILIDADES
“Enquanto os Estados Unidos avançam de maneira hesitante para aceitar a nova realidade multipolar do mundo, dando um passo atrás para cada passo à frente, fazendo uma violação de soberania excepcional para cada “esforço de colaboração” [Sic! O Brasil jamais deve aceitar essa bondosa "colaboração"!] em lugares como a Líbia, outros países estão trabalhando ativamente para estabelecer novas regras para todas as nações seguirem na nova era.
Entre os que estão na linha de frente desse esforço, contam-se a presidente brasileira, Dilma Rousseff, e seu respeitadíssimo chanceler, Antonio Patriota.
O desafio que Dilma e Patriota enfrentam como servidores públicos é assustador. Cada um deles segue as pegadas de um formidável antecessor.
O desafio de Dilma é, admitidamente, muito maior e, de fato, para muitos, parece quase insuperável. Ela sucede a dois presidentes que foram, provavelmente, os mais importantes da história moderna de seu país, Fernando Henrique Cardoso, a quem é creditada a estabilização da economia brasileira após anos de volatilidade [creditada a FHC usurpada e erradamente, pois os implantadores do Plano Real foram Itamar Franco e seu ministro da Fazenda Ciro Gomes], e o antecessor imediato dela, Luiz Inácio Lula da Silva, não somente seu mentor, mas um integrante do pequeno punhado dos líderes mundiais mais importantes da última década.
Já o antecessor de Patriota, Celso Amorim, foi também formidável, extremamente influente, e uma presença constante no cenário brasileiro e internacional. Os desafios eram grandes para todo o governo de Dilma.
No entanto, após um ano no cargo, e apesar de enfrentar grandes desafios domésticos e internacionais, a presidente já alcançou um índice de popularidade superior ao de Lula num ponto equiparável de seu mandato.
E Patriota está dando continuidade com calma, e aos olhos de observadores próximos, com grande habilidade, ao trabalho desbravador de Amorim para estabelecer o Brasil como um líder entre as grandes potências mundiais.
“Temos uma grande vantagem”, observa Patriota. “Não temos inimigos reais, nem lutas em nossas fronteiras, nem grandes rivais históricos ou contemporâneos entre as fileiras das potências mais importantes… e temos laços duradouros com muitas nações desenvolvidas e emergentes do mundo.” Essa é uma condição que não é desfrutada por nenhum dos outros BRIC – China, Índia e Rússia – nem, aliás, por alguma grande potência tradicional do mundo. Essa posição incomum é fortalecida ainda mais pelo fato de o Brasil não estar investindo tão pesadamente quanto as outras potências ascendentes em capacidade militar. Aliás, como observou Tom Shannon, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, o país é um dos poucos a efetivamente apostar seu futuro na aplicação sábia do chamado “poder brando” – diplomacia, alavancagem econômica, interesses comuns.
Não é por coincidência, aliás, que, em áreas que vão das mudanças climáticas ao comércio, da não proliferação nuclear ao desenvolvimento, o Brasil, sob o comando de Lula e Amorim e de Dilma e Patriota, vem ganhando força ao traduzir o crescimento consistente em casa e a diplomacia ativa no exterior em redes internacionais efetivas.
Mas o governo de Dilma também está rompendo com o passado. Enquanto Cardoso e Lula alcançaram a grandeza enfrentando e resolvendo alguns dos problemas mais ruinosos do passado brasileiro, da estabilização da economia ao enfrentamento da desigualdade social, Dilma, sem deixar de reconhecer o trabalho que resta a ser feito, concentrou sua atenção também na criação de oportunidades e num claro caminho para o futuro do Brasil. De seu foco em educação a seu compromisso com ciência e tecnologia passando por programas inovadores como “Ciência Sem Fronteiras”, ela está fazendo algo que nenhum líder latino-americano fez anteriormente, mas que se mostrou uma fórmula aprovada na Ásia.
Está comprometida em transformar o Brasil de economia com base em recursos naturais e, portanto, dependente (o que significa dizer, vulnerável) em uma que conta mais para o crescimento futuro com as indústrias de valor agregado, a pesquisa e desenvolvimento, e a formação de mais cientistas e engenheiros.
Com base nisso, Patriota também está olhando para frente. Ele está indo além da era da política externa brasileira em que era inovador fazer o país olhar para fora de sua região e jogar um papel ativo nos assuntos globais, para um período, num futuro não muito distante, em que o Brasil, na condição de país com uma das cinco maiores economias e populações do mundo, de líder mundial em agronegócios e energia, assumirá sem hesitação que merece seu lugar à mesa.
Patriota esteve em Nova York por achar que um dos primeiros experimentos desta era, a intervenção na Líbia sancionada pela ONU, saiu dos trilhos quando a missão autorizada pelas Nações Unidas de proteger o povo líbio foi “deixada de lado” [molequemente] pelas “forças internacionais” [EUA e seus aliados da OTAN] que intervieram tornando-se antes uma [ilegal] missão de mudança de regime. Ele não era nenhum admirador de Muamar Kadafi, que fique claro. Mas tem o sentimento inabalável de que, para a comunidade internacional operar de fato unida, ela precisa fazê-lo sob regras não só coletivamente estabelecidas, mas também coletivamente honradas.
Essa atitude provoca irritações, com certeza, em especial em países como os Estados Unidos, que estão acostumados a operar segundo suas próprias regras. Essa é uma razão porque a iniciativa turco-brasileira de 2010 para costurar um acordo para desarmar a crise nuclear iraniana foi tão irritante para Washington. A medida, por mais ingênua que tenha parecido para alguns, antecipou o início de uma era em que potências regionais e emergentes, como Turquia com Síria ou China com Irã, são fundamentais para se alcançar os objetivos da comunidade internacional.
Patriota reconhece que os Estados Unidos, sob o comando de Barack Obama, e outras potências estabelecidas avançaram bastante para se adaptar a essa nova realidade. Dito isso, ele gostaria de ver Obama avançar mais. Por exemplo, os brasileiros estão entre as potências emergentes que pressionam por reformas reais na maneira como as instituições internacionais são conduzidas. Eles acham que a ordem pós-2ª Guerra refletida na estrutura de poder do Conselho de Segurança da ONU e na concessão automática da liderança do Banco Mundial a um americano está obsoleta e que já é hora de alguma coisa que reflita as realidades do século 21 e seja mais consistente com os princípios democráticos sobre os quais essas instituições foram estabelecidas.
É difícil discordar dos brasileiros ou de outros sobre esses pontos. E a inconsistência mostrada pelo governo Obama nessa frente – oferecendo apoio a uma participação permanente indiana [porque a Índia tem bombas atômicas], mas não brasileira [pois o Brasil possui Forças Armadas irresponsável e ridiculamente mal equipadas, fracas], no Conselho de Segurança, em certo momento parecendo simpático a uma abertura do principal cargo no Banco Mundial a um não americano, mais recentemente parecendo recuar dessa ideia – tem sido irritante e, eu diria, irrefletida.
O que Dilma e Patriota estão tentando fazer na frente internacional é, de fato, tão revolucionário quanto o que seus antecessores fizeram.
Eles compreendem que um multilateralismo bem-sucedido agora requer não só maior número de países, mas abertura a uma multidão de ideias.
Durante a Guerra Fria, o debate era binário: soviéticos ou americanos.
Em sua esteira houve a breve ilusão de que havíamos entrado num momento de fim da História em que uma filosofia de “mercados e democracia” [sic] liderada pelo [maligno] "Consenso de Washington" adquiria uma espécie de status de monopólio no mercado das ideias. Mas depois vieram as tragédias gêmeas (frutos da arrogância), do Iraque e da crise financeira de 2008, a simultânea ascensão de novas potências como Brasil, China, Índia e outros – e entramos em uma nova era. Em meu livro, “Power, Inc.”, me refiro ao lado econômico dessa era como um período de capitalismos concorrentes. Mas ele é, também, período de filosofias políticas concorrentes sobre o papel, tanto do Estado, como das instituições internacionais. Nesse mundo, não só os Estados Unidos são apenas uma voz, mas são também uma voz enfraquecida que em cada evento será ouvida como a mera visão de menos de 5% da população do planeta. Ao mesmo tempo, outros terão de preencher o vazio criado pelo redimensionamento da influência americana. O Brasil está tentando fazê-lo e, é preciso notar, de uma maneira consideravelmente mais construtiva que a evidenciada por China e Rússia em seu desempenho “pusilânime” [isto é, de não concordância com ataques e invasões militares dos EUA e OTAN na Síria] com respeito à Síria, no Conselho de Segurança. Dito isso, as potências emergentes, o Brasil entre elas, precisam reconhecer que, neste novo mundo, se pretendem jogar papéis maiores, elas também terão de fazer escolhas duras e não simplesmente desconsiderar as questões complexas como problemas alheios ou fora do alcance do sistema internacional em evolução [como desconsiderar a contínua invasão militar e ocupação de territórios palestinos por Israel]. Elas vão ter de aceitar cada vez mais que, se as injustiças não forem contidas, os custos resultantes serão largados em suas portas.”
FONTE: escrito por David Rothkopf, analista norte-americano do “Carnegie Endowment For International Peace – Foreign Policy”, e transcrito no “O Estado de S.Paulo” com tradução de Celso Paciornik. Transcrito também no blog de Luis Favre (http://blogdofavre.ig.com.br/2012/03/a-nova-influencia-do-brasil/)


2. VALE A PENA LER






I-n-a-c-r-e-d-i-t-á-v-e-l!
Em entrevista ao jornalista Boris 'Gari' Casoy, ontem à noite na Band, o eterno candidato tucano a qualquer cargo José Serra diz que o Brasil se chama Estados Unidos do Brasil e se surpreende ao ser corrigido por Casoy: - Mudou?
Sim, Serra, desde 1967 o Brasil é República Federativa do Brasil.
Veja o vídeo aqui: http://blogdomello.blogspot.com/2012/03/serra-o-brasil-chama-estados-unidos-do.html



Apresentador de TV da família de Gilmar Mendes defende extermínio de crianças infratoras: 'Tem que virar sabão'
Leia a matéria em: http://blogdomello.blogspot.com/2012/03/apresentador-de-tv-da-familia-de-gilmar.html


Na era da hipocrisia: um novo mundo, um novo capitalismo
O maior ideólogo e articulista do Financial Times, porta-voz do mercado financeiro, escreveu um longo artigo indicando as sete lições para corrigir o capitalismo, que ele considera a "ideia mais brilhante da humanidade": em síntese, corrigir as práticas irregulares, fazer os ricos pagarem os impostos, distribuir a tributação não para os perdedores, faz questão de registrar, mas para os "filhos dos perdedores". E termina com um apelo: "esforcemo-nos para torná-lo melhor". Quem sabe com um pouquinho maior de esforço, não acabamos logo de enterrá-lo. O artigo é de Najar Tubino.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19689&boletim_id=1140&componente_id=18216

Europa sindical na rua contra o neoliberalismo
Milhares de pessoas saíram às ruas em Paris e em outras cidades europeias para protestar contra as políticas neoliberais de austeridade que os dirigentes da União Europeia se preparam para em Bruxelas. Convocados pela Confederação Europeia de Sindicatos, (CES), e sob o lema "¡Basta ya!", a Europa sindical lotou as ruas de Bruxelas, Atenas, Paris, Lisboa e Madrid. O sindicalismo do Velho Continente tenta esboçar uma resposta unificada contra a ofensiva neoliberal. O artigo é de Eduardo Febbro.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19683&boletim_id=1140&componente_id=18219


Segredos do homem do gelo
Equipe internacional de pesquisadores completa o sequenciamento do DNA humano mais antigo já coletado de uma múmia. O genoma revela a origem genética e as características físicas de um homem da Idade do Cobre assolado por doenças atuais.
Leia em: http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2012/02/segredos-do-homem-do-gelo



O ultraliberal frenético x o socialista calmo
O contraste é radical : o frenesi de Nicolas Sarkozy, um homem seguro de seu poder, convencido de que ninguém pode vencê-lo, que recorre a todas as artimanhas que os estrategistas de comunicação são capazes de elocubrar ; e o sossego de seu rival, François Hollande, que sabe o repúdio que o presidente provoca e o capital que representa a serenidade ao cabo de cinco anos de uma presidência onde a velocidade e a ocupação frenética da praça pública terminaram por cansar a sociedade. O artigo é de Eduardo Febbro.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19696&boletim_id=1141&componente_id=18230


Anjo exterminador
As cidades latino-americanas não querem parecer-se com Amsterdam ou Florença, mas com Los Angeles, e estão conseguindo converter-se na horrorosa caricatura daquela vertigem. Por Eduardo Galeano
Leia em WWW.outraspalavras.net



3. INFORMAÇÕES

Estão abertas até 31 de março as inscrições em Simpósios Temáticos para o 13o. Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia. O encontro ocorrerá de 3 a 6 de setembro de 2012, no Departamento de História - USP - São Paulo.

Site do evento: http://www.13snhct.sbhc.org.br/

Cartaz com a programação de conferências e mesas redondas.




Simpósio Temático "Saberes médicos, práticas de cura e doenças no contexto escravista e pós-emancipacionista no Brasil" que estamos organizando por ocasião do 13º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia organizado pela SBHC – Sociedade Brasileira de História da Ciência que se realizará entre os dias 03 e 06 de setembro de 2012, na cidade de São Paulo, nas dependências do Departamento de História da Universidade de São Paulo - USP.

Simpósio Temático: "Saberes médicos, práticas de cura e doenças no contexto escravista e pós-emancipacionista no Brasil"

Ao longo dos últimos anos, diferentes estudos da área de escravidão e da história das ciências da saúde vêm convergindo para produções acadêmicas que jogam novas luzes sobre as relações entre escravidão, ciências médicas e saúde. A ampliação das investigações que tomam as variadas formas de agência escrava, por um lado, e por outro, os processos de produção do conhecimento médico-científico e sua relação com os diferentes saberes sobre cura no Brasil, propiciam novos horizontes de pesquisa, que pretendemos estimular neste simpósio. A temática proposta, portanto, pretende explorar algumas diretrizes que vem sendo seguidas por historiadores de diferentes áreas, que têm em comum uma perspectiva contestadora da pouca relevância da escravidão no processo de "medicalização" da sociedade brasileira.
Neste sentido, pretendemos agregar neste simpósio temático, pesquisadores, professores e estudantes interessados em contribuir com o debate que vincula a história das ciências e a escravidão, a partir de entrecruzamentos diversos tais como: do conhecimento médico-científico das doenças com as representações da escravidão; das condições de vida escrava e africana com as formas terapêuticas no ambiente tanto rural quanto urbano; da assistência aos escravos, libertos e livres com as políticas sanitárias no contexto escravista e pós-emancipacionista.

O prazo para envio de inscrições no Simpósio Temático é até o dia 31 de março de 2012.

Mais informações consultar a página:
http://www.13snhct.sbhc.org.br/


4. CAFÉ HISTORIA

MATÉRIA CAFÉ HISTÓRIA: QUEREMOS MARILYN MONROE
Mesmo cinquenta anos sem desfilar em tapetes vermelhos ou posar para um fotografo, Marilyn Monroe ainda continua viva no “imaginário popular”. É tema de filmes, inspira artistas e é objeto de uma enorme exposição internacional que acaba de chegar a cidade de São Paulo. Todos querem Marilyn Monroe! Mas como entender essa memória?
Leia esta matéria em: http://cafehistoria.ning.com/queremos-marilyn-monroe


CAFÉ EXPRESSO NOTÍCIAS: O ARQUITETO DE HITLER
Albert Speer – arquiteto e homem de confiança de Hitler - conta em entrevistas como seriam as cidades do III Reich e fala de sua relação com o ditador Adolf Hitler.
Leia mais: http://cafehistoria.ning.com [Página Principal]


VÍDEOS EM DESTAQUE: A FILOSOFIA DE SÓCRATES
Documentário do canal “History Channel” conta a história do Muro de Berlim, de sua construção, no início dos anos 1960, até a sua queda, em 1989. Material excelente para professores trabalharem em sala de aula.
Assista: http://cafehistoria.ning.com/video/a-vida-examinada-a-filosofia-de-socrates


FÓRUM EM DESTAQUE: MARILYN MONROE E MEMÓRIA
A morte de Marilyn Monroe completa 50 anos em 2012 e o Café História pergunta: por que sua imagem ainda é tão forte na “memória coletiva”?
Participe do fórum: http://cafehistoria.ning.com/forum/topics/marilyn-monroe-e-a-memoria


MURAL DO HISTORIADOR: SEMINARIO DE MEMÓRIA SOCIAL
Acontece em março de 2012 o I Seminário Internacional de Memória Social, na UNIRIO.
Leia mais: http://cafehistoria.ning.com [Página Principal]

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