quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Numero 260





Inicio de ano parece que tudo entra de férias...
O Boletim hoje está pequeno. Dois artigos do site do Nassif e dois da Folha de São Paulo. Um link para uma análise do neoliberalismo. Não recebi nenhum aviso de concursos ou seminários. O jeito é pensar na praia...preguiçosamente...







fonte: www.brasilianas.org
Balanço de Lula 1: a criação do mercado de massa
Enviado por luisnassif, qua, 29/12/2010 - 10:33

A grande discussão acadêmica do momento é se o governo Lula inaugurou uma nova era – ao consolidar uma economia de massa – ou se foi uma continuidade do governo FHC.
O divisor de águas é a formação da sociedade de massas, com a inclusão econômica e política, definindo uma nova etapa no desenvolvimento brasileiro, um novo paradigma para as políticas públicas.
Na primeira metade dos anos 2000 escrevi um conjunto de artigos explorando esse tema – e que acabaram se constituindo na espinha dorsal do meu livro "Os Cabeças de Planilha".
Não é um livro de historiador. É um livro de jornalista com alguns "insights" que, creio eu, só agora estão tendo desdobramentos junto ao mundo acadêmico. Um deles, o da reavaliação do "encilhamento", ainda não foi suficientemente cinzelado pela Academia, especialmente a estratégia política em torno da remonetização (introdução de um novo padrão monetário) da economia – que seria seguida no Plano Real. Há bons livros analisando os erros, mas nenhum casando os erros com a estratégia de tomada de poder por parte de Rui Barbosa - que serviu de base para o modelo desenhado por Gustavo Franco para o Real.
O ponto que, agora, domina o debate acadêmico – graças aos estudos do André Singer – é o do impacto político e econômico da formação de uma economia de massa. Já tinha delineado no meu livro.
No "Cabeças de Planilha" trabalho o conceito de "janelas de oportunidade" na vida dos países, aqueles momentos únicos que, sendo aproveitados, lançam o país em um novo patamar; não sendo aproveitados, entram na cota do desperdício histórico.
Identifico três janelas na história do país, todas elas relacionadas com a possibilidade de ampliação dos mercados econômico e político, através da inclusão de novas massas - o mesmo conceito aprofundado por Singer para analisar o governo Lula.
A primeira, o período da Proclamação, onde se junta a Abolição e a política de atração de imigrantes. Ali se poderia ter dado o primeiro grande salto na criação de uma sociedade moderna. Morreu devido aos erros do Encilhamento, à falta de políticas públicas que ajudassem na inclusão dos libertos, e as enormes dificuldades colocados no caminho dos imigrantes. Em vez de um salto, criaram-se as bases para a vergonhoso concentração de renda que dominaria o século 20. Enfim, havia falta de elite.
A segunda grande janela se deu na segunda metade dos anos 60. O processo de industrialização ganhara fôlego, tivera início o grande movimento de urbanização, acelerado pela seca no nordeste. A falta de uma política agrária, de fixação do homem no campo, a carência de investimentos nos sistemas de educação e saúde, em vez de um salto no mercado trouxeram o inchaço das grandes metrópoles. Quando esgotou-se o modelo exportador e o salto do "milagre", não havia mercado interno para sustentar o crescimento.
A terceira janela de oportunidade desperdiçada – dizia eu no livro – foi justamente o Plano Real.
Em geral abre-se a oportunidade de grandes movimentos de mobilidade social ou em eventos políticos traumáticos (como na Proclamação) ou em grandes desastres geográficos.
Com o Real, FHC recebeu o prato pronto, de presente. O fim da inflação trouxe para o mercado de consumo milhões de brasileiros, sem traumas políticos, sem tragédias ambientais. E isso em um momento de grande reorganização da estrutura das multinacionais, com o Brasil despontando como um dos países sede das unidades produtivas.
Esse movimento foi abortado porque inclusão social, criação de bases sólidas econômicas, nunca fizeram parte das prioridades de FHC. E essa história de que primeiro precisaria consolidar a estabilidade monetária não resiste aos fatos.
Têm estudos de Edmar Bacha, no primeiro semestre de 1995, admitindo que a luta contra a inflação já tinha sido completada e que, agora, seria o desenvolvimento. Impôs-se a estratégia de criação de grandes grupos financeiros à custa da apreciação do real. O contraponto tímido - de pessoas como Luiz Carlos Bresser Pereira e José Serra - se dava no campo do desenvolvimentismo tradicional, jamais na ampliação de políticas sociais como base para um novo mercado de massas.
Os poucos avanços que ocorrerem em educação e saúde foram decorrência exclusiva da Constituinte, que criou transferências obrigatórias para o setor. Durante toda sua gestão, o Ministro Pedro Malan tentou acabar com a vinculação.
Digo isso para salientar que é falsa a ideia de continuidade entre FHC e Lula na criação desse mercado de massa. E de que consumou-se com Lula porque as condições sociais e políticas impuseram-se por si próprias.
FHC jamais implementaria esse modelo, em nenhuma circunstância, porque não fazia parte de suas prioridades. Aliás, quem leu a entrevista com ele, com que fecho meu livro, perceberá uma absoluta ignorância de FHC em relação a pontos essenciais desse novo modelo, que o livro percebia latente, mas que só se materializou nos últimos anos. Sua única visão de país consistia na geração de grandes grupos financeiros, internacionalizados, que avançariam levando o país consigo.
Assim, considero correta a avaliação de que a grande marca de Lula, que mudou o Brasil no plano econômico, político, regional, foi o da criação do enorme mercado de massa, político e econômico. Esse é o divisor de águas, a mudança de paradigma.

fonte: www.brasilianas.org
As mudanças na progressão continuada
Enviado por luisnassif, ter, 04/01/2011 - 13:52
Da Folha

Alckmin muda progressão continuada
Modelo mais provável a ser adotado é aumentar de dois para três o número de séries em que aluno pode repetir
Hoje, escolas podem reter aluno em só dois ciclos do fundamental; mudança deverá ser implementada em 2012
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO

O governo Geraldo Alckmin (PSDB) decidiu alterar a progressão continuada na rede estadual de ensino. A principal mudança deverá ocorrer no sistema de reprovação dos estudantes.
Hoje, o aluno do fundamental só pode repetir ao final do quinto e do nono ano. A ideia é que a retenção ocorra também no terceiro ano. Assim, o número de ciclos sobe de dois para três.
A antecipação da reprovação permite que o aluno com sérias dificuldades seja recuperado mais rapidamente (em vez de demorar cinco anos para refazer uma série, passe a ser depois de três).
O provável efeito colateral será o aumento da repetência. Estudos mostram que o repetente tende a piorar de notas e tem mais chances de abandonar a escola.
A Folha apurou que já está finalizado estudo com o novo desenho do programa. "Pessoalmente, acho que vamos ficar mesmo com três ciclos", afirmou o novo secretário-adjunto da Educação, João Cardoso Palma Filho, ao ser indagado pela reportagem.
Ele ressaltou, porém, que o assunto ainda está em análise na secretaria.
CONSULTA

Deverá haver também consulta aos professores sobre a mudança, que deve entrar em vigor em 2012.
Segundo Palma Filho, outro ponto analisado é o modelo de reforço escolar.
O novo titular da Educação, Herman Voorwald, disse que irá se pronunciar amanhã. Logo após ser anunciado por Alckmin, ele disse que o sistema "é fundamental", mas precisa de revisão.
A mesma posição foi apontada pelo governador na campanha eleitoral.
Implementado no governo Mario Covas (PSDB), o sistema sofreu ataques durante a última disputa ao Palácio dos Bandeirantes.
Além das críticas eleitorais e de educadores, outro fator considerado é a mudança da regulamentação federal para o ensino fundamental.
No ano passado, o Conselho Nacional de Educação recomendou que no início da etapa haja um ciclo de três anos para evitar a reprovação de crianças com seis ou sete anos. Para o órgão, o aluno precisa de ao menos três para se alfabetizar e não faz sentido reprová-lo antes.
Implantação do sistema de ciclos pulou etapas
No papel, o modelo faz sentido, pois se há algo de estranho no mundo da pedagogia, está na noção de reprovação

POR QUE DIABOS UM ALUNO QUE TENHA IDO MAL EM LÍNGUA PORTUGUESA PRECISA REFAZER TODOS OS CONTEÚDOS DE MATEMÁTICA?
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Ciclos devem ter três, quatro ou cinco anos? Ou dois, como já se havia proposto? A discussão tem algo de bizantino e não vai ao cerne dos problemas enfrentados pela progressão continuada.
No papel, o sistema faz sentido. Se há algo de estranho no mundo da pedagogia, ele está na noção de reprovação.
Por que diabos um aluno que tenha ido mal em, digamos, língua portuguesa precisa refazer todos os conteúdos de matemática e ciências? Por que alguém que domine 50% da matéria é considerado apto a seguir com os estudos e a pessoa que responde a 49% das questões é reprovada? O que há de tão transcendental nesse 1%?
As perguntas se tornam mais candentes quando se considera o estrago que a repetência provoca na vida do aluno.Quando o jovem recebe a pecha de repetente, tende a desempenhar o papel por toda a vida acadêmica.
Com a redução da reprovação possibilitada pelos ciclos, caiu o índice de evasão escolar no ensino fundamental paulista. Entre 1998 e 2008, ele baixou de 4,6% para 1,4%, redução de 70%.
É muito mais razoável, como prevê a teoria da progressão continuada, que a escola identifique tão rapidamente quanto possível os alunos que não estão assimilando os conteúdos e procure corrigir a situação.
Isso envolve toda uma estrutura de avaliação fina, aulas de reforço e apoio psicopedagógico com o qual a rede pública não conta.
Pior até, a implantação do sistema de ciclos, iniciada em 1997, foi feita de forma desastrosa. A mudança foi ditada de cima para baixo sem explicar a alunos, pais e professores o que se pretendia.
Mestres boicotaram a reforma -com o fim da repetência, perderam uma poderosa ferramenta disciplinar. Pais não compreenderam nada ao verem seus filhos "passando de ano" sem saber ler.
Na prática, a progressão virou uma aprovação automática que, embora não explique as deficiências do ensino, ajuda a perenizá-las.
Mas não há mágica. Não é aumentando o número de ciclos que a situação vai mudar. Será preciso criar estruturas que a escola não tem e trazer melhores professores.




Folha de São Paulo
São Paulo, quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Interior do Paraná recebia degredados do Brasil Império

Solução possível era casar com índias, mas era necessário encarar a violência de nativos avessos à miscigenação
Além do frio, os condenados a passar 10 ou 20 anos em Guarapuava precisavam lidar com a falta de mulheres
RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO

Não era exatamente a Sibéria. De qualquer forma, a então distante e fria Guarapuava (PR), onde havia uma falta terrível de mulheres, foi a primeira cidade a receber os condenados ao degredo pela Justiça brasileira no século 19, entre 1812 e 1859.
Na época, considerava-se importante ocupar a região, repleta de índios.
Por isso, enviar para lá "alguns vadios e façinososos que na sua comarca perturbão o socego público, os creminosos e criminosas que setençear a degredo" era a recomendação, em 1811, do governador da capitania de São Paulo, António José da Franca e Horta, ao responsável pela comarca de Paranaguá -ainda não existia Paraná.
Quem pesquisou o assunto foi Fabio Pontarolo, historiador da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná, que agora lança o livro "Homens de Ínfima Plebe".
Ele descobriu que boa parte dos degredados eram militares rebeldes, como oito soldados de Santos que, em 1821, revoltaram-se contra o atraso dos soldos e promoveram um quebra-quebra.

DESPROPORÇÃO
Na época, o frio nem era um problema tão grande em Guarapuava perto da falta de membros do sexo feminino.
Dos 60 casos documentados de degredados, só sete eram mulheres, e essa era mais ou menos a proporção na população no resto da área (em 1835, eram 712 habitantes).
Isso porque os outros moradores, em geral, eram povoadores pobres em busca de terra -e esses desbravadores costumavam ser homens.
O jeito era tentar algo com as índias das cercanias: a insistência do governo em ocupar a região vinha justamente da tentativa de incorporar esses povos. "Existia um patrocínio oficial à mestiçagem, mesmo uma compulsão por ela", diz Pantarolo.
Foi o que fez, por exemplo, José Gomes, um desses envolvidos na revolta de Santos, pioneiro no casamento com índias. Tinha, quando condenado, 18 anos, e recebeu pena de 20. Aos 19, já estava casando com uma caingangue de 16 anos, que recebeu o nome da Bárbara.
Ela era de uma família indígena que tinha se aproximado dos brancos. Seu pai tinha recebido o nome de Antônio e ajudou o padre local a catequizar os outros índios.
Prova de que a relação com os nativos não era tão pacífica, porém, é que, poucos anos antes de Bárbara se casar, Antônio foi assassinado por índios avessos à aproximação dos brancos.
Pior foi o destino de Mariano Antonio, colega de José Gomes -tão colega que eles chegaram ao degredo acorrentados um ao outro para que não fugissem no caminho para o sertão. Ele se casou com uma índia em 1823, apadrinhou quatro indiozinhos e foi testemunha de sete casamentos "mistos".
Em 1830, porém, sua mulher foi assassinada enquanto fazia farinha por índios contrários à miscigenação.
Viúvo, sem filhos, Mariano sumiu da cidade quando a pena de dez anos acabou.
Em geral, porém, os degredados acabavam criando raízes, e boa parte ficou em Guarapuava até morrer, anos depois do fim das suas penas.
Sobreviviam mal plantando milho, feijão e com uma ou outra cabeça de gado, mas não teriam destino muito melhor em outros lugares.
Segundo Pontarolo, os degredados acabaram esquecidos na história de Guarapuava "Na festa de 200 anos da cidade, falou-se muito sobre os bandeirantes, sobre os grandes sobrenomes, mas não sobre eles."
Depois de Guarapuava, outras regiões de degredo surgiram, como na fronteira do Pará com o Mato Grosso.
HOMENS DE ÍNFIMA PLEBE
AUTOR Fabio Pontarola
EDITORA Apicuri
QUANTO R$ 30,00 (153 págs.)



Brevíssima história de 40 anos de políticas neoliberais
Muitos especialistas dizem que a ideologia neoliberal iniciou nos anos 80 com Reagan, Thatcher e a Escola de Chicago. Mas o que tornou possível esse giro na economia política? Que elementos, que novas forças podem explicar essa mudança ideológica e as desigualdades que a seguiram? Como os poderes que tomam decisões políticas foram sendo postos gradualmente nas mãos de um corpo de tecnocratas neoliberais que pontificavam sobre as limitações dos governos? Responder a essas questões passa por reconhecer que este processo durou décadas. O artigo é de Marshall Auerback.
Marshall Auerback - SinPermiso
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17289

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