quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Numero 257




Wikileaks continua sendo o assunto do dia. À medida em que novos telegramas passam ao conhecimento dos leitores de alguns jornais e de blogs, confirma-se o que sugeri na semana atrasada aqui: que não eram apenas “fofocas”, pelo contrário, temos uma gama muito interessante de assuntos que dizem respeito ao mundo inteiro e, inclusive, ao Brasil. Um artigo do nosso colaborador José de Souza Castro elucida mais alguns pontos. E ficamos sabendo, inclusive, dos planos que o Serra tinha para o pré-sal, todos de total apoio dos EUA, claro. Indico mais um punhado de links para você, leitor(a) poder entender as razões da prisão do responsável pelo Wikileaks.
Há, ainda, neste Boletim, um artigo do Rudá Ricci sobre as diretrizes do Mec para o ensino fundamental e um da Anita Leocádia Prestes sobre os historiadores comprometidos com as lutas populares.




Wikeleaks é mais que conversa de cabeleireiras
José de Souza Castro

Estamos em plena temporada de caça ao Wikileaks. Os blogs que se cuidem, poderá sobrar chumbo também para eles. Por enquanto, duas coisas estão certas: o fundador do Wikileaks, Julian Assange, está preso na Inglaterra e poderá ser deportado para a Suécia, onde foi denunciado pela cubana Ana Ardin. Segundo o jornalista Renato Pompeu, em Caros Amigos, a moça trabalhou para a ONG anticastrista Miscelánia Cubana, financiada pela CIA.
O crime atribuído a Assange: em meio a uma sessão de sexo consensual com uma mulher, durante o ato a camisinha foi retirada, o que na Suécia é equivalente ao estupro, e dá dois anos de prisão.
Parece ridículo, mas nem tanto. A caçada é coisa de gente grande. Começa pela desmoralização de Assange e prossegue com a ridicularização do próprio vazamento dos cerca de 250 mil telegramas diplomáticos – está certo, não são mais telegramas, mas o nome dado aos despachos não mudou.
Esse é um trabalho reservado a jornalistas. (E essa é a segunda coisa certa, de que falei no primeiro parágrafo.) Ninguém melhor para a tarefa do que o jornalista português João Pereira Coutinho, colunista da “Folha de S. Paulo” e do “Correio da Manhã”, de Lisboa. Ele arregaçou as mangas, e no dia 7 de dezembro o jornalão paulista publicou artigo intitulado “Conversa de cabeleireiras”, logo reproduzido pelo colunista da “Veja” Augusto Nunes em seu blog e por muitos outros simpatizantes do Tio Sam. Apesar do Coutinho afirmar, em seu sítio (que é como os portugueses chamam o “site”), com um ar de menosprezo, que não lê blogs. Bem ao contrário dos homens da CIA que levam os blogs a sério.
Trecho do artigo de Coutinho:
“Desilusão. Indigestão. A WikiLeaks soltou mais de 250 mil telegramas do Departamento de Estado norte-americano, e a comida é rançosa. Eu esperava um complô de Washington para dominar o mundo. O império do mal é o império do mal.
Encontro conversa de cabeleireiras. Cristina Kirchner é mentalmente instável (bocejo). Chávez é louco (idem). Berlusconi gosta de orgias (abençoado homem). Gaddafi é “hipocondríaco” (bem-vindo ao clube) e gosta de viajar acompanhado por uma “voluptuosa” enfermeira ucraniana (partilha, irmão, partilha). Sarkozy é “irritadiço” e “autoritário” (é sério?). Putin e Medvedev são o “Batman” e o “Robin” da política internacional (mas que gay!).
Quero o meu dinheiro de volta. Se os segredos da diplomacia americana se resumem a isso, eu começo a temer pelo futuro do império do mal. Ou será do bem?
Aliás, não temo apenas pelo futuro da América. Temo pelo futuro do próprio jornalismo. Tempos houve em que os jornalistas tinham a nobre função de vigiar e criticar o poder. Uma tarefa necessária, solitária, tantas vezes perigosa, que implicava “pesquisa”, “filtragem”, “interpretação”. Uma fonte era uma fonte. O início do processo, não o seu fim preguiçoso.
Com a WikiLeaks, o jornalismo transformou-se no latão de lixo de um delinquente cibernético. Não existe “pesquisa”, “filtragem” ou “interpretação” alguma. Os jornalistas foram cúmplices da pirataria e da espionagem de um foragido. De Watergate para a WikiLeaks: o meu reino não é mais deste mundo.”
Fim da citação, e hora de apontar as principais falhas de raciocínio do português. Para isso, nada melhor que esses esclarecimentos de Renato Pompeu:
“A opinião pública em geral tende a imaginar que estão ao alcance de qualquer pessoa 250 mil cabogramas de diplomatas americanos em todos os países enviados ao Departamento de Estado em Washington. Mas a verdade é que só uma pequena parte disso está à disposição de qualquer pessoa na Internet. Da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, por exemplo, na primeira semana só estavam disponíveis na primeira semana uns poucos cabogramas, menos de dez. E mais, nem sempre é possível acessar o site, porque são frequentes as vezes em que ele não está no ar.
Mesmo se estivesse tudo no ar, à disposição de toda e qualquer pessoa, a importância ainda seria relativa. A revista “Carta Capital” informou que o WikiLeaks teve acesso à rede internética do Departamento de Estado, disponível normalmente para 2,5 milhões de pessoas no mundo inteiro, e não às redes dos órgãos de segurança nacional dos EUA, disponíveis normalmente para 850 mil pessoas no mundo todo. As informações cruciais, evidentemente, nunca entram no formato eletrônico.
Além dos cabogramas revelados no site, o WikiLeaks também disponibiliza pequenas cotas exclusivas a jornais, revistas e sites do mundo inteiro. A “Folha de S. Paulo”, por exemplo, recebeu uma cota de 53 cabogramas, que só ela pode divulgar, pelo menos no Brasil. Em suma, 53 dos alardeados 1.800 cabogramas emanados da Embaixada dos EUA em Brasília.”
Portanto, digo eu, não é possível que Coutinho tenha tomado conhecimento dos mais de 250 mil telegramas, a ponto de ter indigestão. Supondo que ele tenha lido todos os já publicados, ele teria percebido – se não estivesse a fim de anunciar o fim do jornalismo, começando por si mesmo – que nada foi publicado pela imprensa sem passar por “pesquisa”, “filtragem” ou “interpretação”.
Quando se quer distorcer um fato, o céu é o limite.
É preciso esperar bastante tempo ainda para saber se alguns daqueles 250 mil telegramas são mais sérios do que “conversa de cabeleireiras”. Pessoalmente, acho que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, ainda não deu explicações razoáveis para as conversas que teve com o embaixador dos Estados Unidos relacionadas com seu colega no ministério e com o presidente boliviano. Mas, como ninguém cobra dele explicações, essa, certamente, entra no rol das conversas de cabeleireira.
Enquanto isso, eu continuo curioso sobre o conteúdo daqueles cabogramas, datados desde 1966. Como escreveu Renato Pompeu: “Eu estou particularmente interessado em saber o que a Embaixada americana informou a Washington sobre as torturas a presos políticos durante o regime militar brasileiro e os assassínios e ‘desaparecimentos’ de oposicionistas.”


fonte: www.viomundo.com.br
13 de dezembro de 2010 às 8:41
Serra prometeu a petroleira americana mudar regras do pré-sal se vencesse eleição
Petroleiras americanas eram contra novas regras para pré-sal
por JULIANA ROCHA, Folha.com
DE BRASÍLIA
As petroleiras americanas não queriam a mudança no marco de exploração de petróleo no pré-sal que o governo aprovou no Congresso, e uma delas ouviu do então pré-candidato favorito à Presidência, José Serra (PSDB), a promessa de que a regra seria alterada caso ele vencesse.
É isso que mostra telegrama diplomático dos EUA de dezembro de 2009 obtido pelo site WikiLeaks (www.wikileaks.ch). A organização teve acesso a milhares de despachos. A Folha e outras seis publicações têm acesso antecipado à divulgação no site do WikiLeaks.
“Deixa esses caras [do PT] fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava… E nós mudaremos de volta”, disse Serra a Patricia Pradal, diretora de Desenvolvimento de Negócios e Relações com o Governo da petroleira norte-americana Chevron, segundo relato do telegrama.
O despacho relata a frustração das petrolíferas com a falta de empenho da oposição em tentar derrubar a proposta do governo brasileiro.
O texto diz que Serra se opõe ao projeto, mas não tem “senso de urgência”. Questionado sobre o que as petroleiras fariam nesse meio tempo, Serra respondeu, sempre segundo o relato: “Vocês vão e voltam”.
A executiva da Chevron relatou a conversa com Serra ao representante de economia do consulado dos EUA no Rio. O cônsul Dennis Hearne repassou as informações no despacho “A indústria do petróleo conseguirá derrubar a lei do pré-sal?”.
O governo alterou o modelo de exploração — que desde 1997 era baseado em concessões –, obrigando a partilha da produção das novas reservas. A Petrobras tem de ser parceira em todos os consórcios de exploração e é operadora exclusiva dos campos. A regra foi aprovada na Câmara este mês.
A Folha teve acesso a seis telegramas do consulado dos EUA no Rio sobre a descoberta da reserva de petróleo, obtidos pelo WikiLeaks.
Datados entre janeiro de 2008 e dezembro de 2009, mostram a preocupação da diplomacia dos EUA com as novas regras. O crescente papel da Petrobras como “operadora chefe” também é relatado com preocupação.
O consultado também avaliava, em 15 de abril de 2008, que as descobertas de petróleo e o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) poderiam “turbinar” a candidatura de Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil.
O consulado cita que o Brasil se tornará um “player” importante no mercado de energia internacional.
Em outro telegrama, de 27 de agosto de 2009, a executiva da Chevron comenta que uma nova estatal deve ser criada para gerir a nova reserva porque “o PMDB precisa de uma companhia”.
Texto de 30 de junho de 2008 diz que a reativação da Quarta Frota da Marinha dos EUA, na época da descoberta do pré-sal, causou reação nacionalista. A frota é destinada a agir no Atlântico Sul, área de influência brasileira.



WikiLeaks mostrou ao mundo helicóptero americano assassinando civis no Iraque
Posted: 09 Dec 2010 05:42 AM PST
As imagens são fortes. Mas para os pilotos parece apenas mais um videogame. Por isso eu separei em dois vídeos: o primeiro, editado por mim. O segundo, mais completo, onde se vê crianças sendo metralhadas pelo helicóptero americano Apache, em 2007, Bagdá, Iraque. O vídeo foi divulgado pelo WikiLeaks em abril deste ano, e horrorizou o mundo.
Leia e veja em
http://blogdomello.blogspot.com/2010/12/wikileaks-mostrou-ao-mundo-helicoptero.html



Dissemine WikiLeaks. Seu futuro está em jogo.
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1749

Por que o mundo precisa do WikiLeaks
Asssista entrevista com o criador Julian Assange.
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1754


O bom combate
Chico Villela
O que está em jogo é a liberdade de expressão na Internet.
http://novae.inf.br/blog/?p=891


O 1º preso político global da internet e a Intifada eletrônica
Idelber Avelar - Julian Assange é o primeiro geek caçado globalmente: pela superpotência militar, por seus estados satélite e pelas principais polícias do mundo. É um australiano cuja atividade na internet catupultou-o de volta à vida real com outra cidadania, a de uma espécie de palestino sem passaporte ou entrada em nenhum lugar.
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1753


Piratas vingadores e espiões em diligência
O caso WikiLeaks tem uma dupla leitura. Por um lado, revela-se um escândalo aparente, um escândalo que só escandaliza por causa da hipocrisia que rege as relações entre os Estados, os cidadãos e a Comunicação Social. Por outro, anuncia profundas alterações a nível internacional e prefigura um futuro dominado pela recessão.
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1752


A verdade ganhará sempre
A WikiLeaks cunhou um novo tipo do jornalismo: o jornalismo científico. Trabalhamos com outros serviços informativos para trazer as notícias às pessoas, mas também para provar que é verdade. Por Julian Assange, publicado no The Australian. Em 1958 o jovem Rupert Murdoch, então proprietário e editor de The News de Adelaide, escreveu: “na corrida entre segredo e verdade, parece inevitável que a verdade ganhe sempre”.
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1751


Uma revolução começou — e será digitalizada
A diplomacia sempre incluiu jantares com as elites dominantes, acertos de bastidores e encontros clandestinos. Agora, na era digital, os relatos de todas estas festas e diálogos aristocráticos pode ser reunido numa enorme base de dados. Uma vez recolhidos em formato digital, é muito fácil compartilhá-los.
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1750


O que a mídia ainda não viu em WikiLeaks
[Por David Brook] Começo por sugerir que políticos e jornalistas a pedir a cabeça de Julian Assange numa bandeja são como brincadeira de criança para ele. Enquanto todos os olhos rastreiam o misterioso albino internacional, a infraestrutura humana e física de um movimento muito maior e mais amplo, mais difuso, continua a crescer e a consolidar-se bem longe dos holofotes. Se Assange for assassinado amanhã, se todos os servidores de WikiLeaks forem desligados por algumas horas, ou dias, ou para sempre, nada de fundamental de fato mudará.
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1748


EUA e a “Estratégia dos 5 Pilares”, do Mossad, para o Irã
[Por Farhang Jahanpour] O mais alarmante, no pacote de arquivos recentemente vazados por WikiLeaks, é o quanto os políticos norte-americanos e seus aliados israelenses vivem obcecados com o Irã. Ninguém fala das colônias israelenses na Cisjordânia, na invasão israelense ao Líbano, dos crimes de guerra em Gaza, do ataque à Flotilha da Paz, do arsenal de centenas de ogivas atômicas que se acumulam em Israel. Todos só falam sobre e pensam em e preocupam-se com o enriquecimento de urânio no Irã. É como se o único problema fosse decidir quem – Israel ou os EUA – atacará primeiro o Irã.
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1747


Wikileaks e os arquivos secretos da guerra afegã
[Antonio Martins] Como uma ferramenta colaborativa da internet revelou o desastre militar que Washington tenta ocultar — e está perturbando poderes econômicos e políticos, ao tornar públicos seus segredos.
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1551



Enviado por Guilherme Souto:

www.brasilianas.org
A educação brasileira no Le Monde
Enviado por luisnassif, qua, 08/12/2010 - 14:17
Da BBC Brasil
Desigualdade na educação 'é calcanhar de Aquiles do Brasil', diz jornal
Uma análise publicada nesta quarta-feira pelo jornal francês Le Monde afirma que as desigualdades no sistema educacional são o "calcanhar de Aquiles do Brasil".
Intitulado "As desigualdades da educação, calcanhar de Aquiles do Brasil", o artigo repercute o resultado de um levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que coloca o nível educacional do Brasil no mesmo nível de Trinidad e Tobago.
"Elogiado por seus inúmeros progressos nos campos econômico e social, o Brasil permanece estagnado em uma área crucial: a educação", diz o texto.
A análise nota que o país conseguiu "praticamente vencer" o analfabetismo entre os mais jovens, mas "continua a castigar um em cada dez brasileiros de 15 a 17 anos". "Na prática, a escolarização não é universal."
Para o jornal francês, "o marasmo brasileiro é resultado em parte da democratização do ensino promovida nos anos 1990. O afluxo de milhões de novas crianças levou a uma queda no nível de ensino, acentuada pela rejeição a expulsar os piores estudantes de das escolas".
"A mediocridade do ensino público está no centro do problema", diz o texto, segundo o qual "os professores são mal formados e mal pagos". "Muitos têm pouca bagagem escolar e experiência", afirma o Monde.
Além disso, "a estrutura federal do Brasil – em três escalões – agrava esses fenômenos" ao criar mais burocracia e abrir espaço para a corrupção no setor.
"Assim se perpetua, com algumas exceções, um ensino de base em dois níveis: público, gratuito, muitas vezes em estado de calamidade, para as crianças das famílias pobres; privado, pago, de bom nível, para os filhos das famílias abastadas, mais bem preparados para o vestibular e gozar do terceiro ciclo e dos centros de pesquisa financiados com dinheiro público", descreve o vespertino francês.
O jornal avalia que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ensaiou algumas ações, "reais, embora tardias e insuficientes". Exemplo disso é o orçamento da saúde, que "tem crescido, mas permanece muito longe, em termos per capita, dos níveis do Chile ou a Argentina", lista o artigo.
"O Brasil tomou consciência do seu calcanhar de Aquiles diante de uma dupla urgência, econômica e social. De um lado, seu forte crescimento obriga à formação da mão-de-obra qualificada que lhe falta, sob pena de perder competitividade. De outro, uma classe média em plena ascensão reivindica seu direito ao conhecimento, chave de um futuro melhor", avalia o vespertino francês.
"Esta dupla necessidade deveria incitar a presidente eleita, Dilma Rousseff, a prolongar o ciclo virtuoso que mal começou a ser esboçado sob o governo de seu predecessor."




O historiador comprometido com as lutas populares perante a história oficial
Aos intelectuais comprometidos cabe a missão de contribuir para a formação tanto de militantes combativos quanto de lideranças
03/12/2010
Anita Leocádia Prestes http://www.brasildefato.com.br/node/5205

Não existe História neutra ou História que seja uma mera reprodução dos fatos ocorridos em determinado momento histórico. O fato histórico é sempre uma escolha do historiador, um recorte feito por ele e que reflete sua subjetividade, seu posicionamento diante do mundo e daquela realidade que está sendo por ele descrita. Não há duas narrativas de um mesmo acontecimento que sejam iguais ou coincidentes. A História é uma construção, construção esta que pode ter maior ou menor compromisso com a evidência, mas na qual existe sempre uma carga indiscutível de subjetividade.
Numa sociedade atravessada, e movida, por conflitos sociais, ou seja, numa sociedade onde há explorados e exploradores, onde há, portanto, classes antagônicas, a História é sempre uma construção que reflete os interesses dos grupos sociais dominantes, que controlam os meios de comunicação. Em outras palavras, a História é uma construção das classes sociais que detém o poder e os meios de comunicação. E isso é verdade, mesmo quando tal situação é mascarada, não estando explicitada, quando não é evidente.
Por isso mesmo, o historiador, aquele que se propõe a compreender e explicar os fenômenos que têm lugar nas sociedades humanas, precisa ser um questionador, uma vez que ele, sendo um personagem do seu tempo, inserido em determinada sociedade de uma determinada época, não é nem pode ser neutro. No máximo, conseguirá manter uma neutralidade aparente.
Nos dias de hoje, a luta ideológica é a principal forma da luta de classes, que não deixará de existir enquanto perdurarem o capitalismo e a exploração do homem pelo homem. As classes dominantes buscam a hegemonia através do consenso. Mas, quando necessário, apelam para a coerção.
Eis a razão por que a elaboração da História Oficial adquire uma importância crescente nas sociedades contemporâneas. Trata-se de proclamar e difundir as vitórias e os sucessos alcançados pelos donos do poder, de hoje e do passado, nos permanentes conflitos sociais presentes na história mundial. Trata-se de consagrar o capitalismo. Em contrapartida, os ideais e as lutas dos setores, que não obtiveram êxito em seus propósitos revolucionários e transformadores e, muitas vezes, sofreram duras derrotas, são, segundo a lógica da História Oficial, esquecidos, silenciados, deturpados e combatidos. Em nossas sociedades contemporâneas, são os intelectuais comprometidos com a burguesia que cumprem a função de produzir tal História Oficial. Dessa forma, são consagradas inúmeras deformações históricas, inúmeras inverdades históricas e silenciados numerosos acontecimentos que não são do interesse dos setores dominantes que sejam do conhecimento da grande maioria das pessoas e, em particular, das novas gerações.
Entretanto, a hegemonia das classes dominantes nunca é absoluta, pois a exploração capitalista e o agravamento dos conflitos sociais levam ao surgimento de intelectuais comprometidos com os interesses dos trabalhadores, dos explorados e dos oprimidos. Observação fundamental para quem, como nós, quer contribuir para a construção de uma outra História, uma História comprometida com a evidência, uma História que possa, portanto, ajudar na elaboração de propostas libertadoras e de emancipação da grande maioria dos homens e mulheres explorados, oprimidos e subordinados na sociedade capitalista em que vivemos. O historiador comprometido com tal proposta – e também o professor de História, responsável pela formação das novas gerações – poderá transformar-se num intelectual a serviço dos interesses populares, dos interesses da maioria do povo brasileiro, se estiver atento para a postura militante que deve assumir diante da História Oficial, produzida pelos intelectuais comprometidos com a burguesia.
Nesse esforço, parece-me importante resgatar a memória daqueles que lutaram por justiça social, mas não conseguiram alcançar a vitória, deixando, entretanto um legado importante para as gerações subsequentes. A respeito, gostaria de citar dois autores – o poeta francês e resistente durante a ocupação nazista da França, Paul Eluard e o intelectual inglês do final do séc. 19, William Morris :
Paul Eluard: “Ainda que não tivesse tido, em toda minha vida, mais do que um único momento de esperança, teria travado este combate. Inclusive, se hei de perdê-lo, outros o ganharão. Todos os outros.”
William Morris: “A Comuna de Paris não é senão um elo na luta que teve lugar ao longo da história dos oprimidos contra os opressores; e, sem todas as derrotas do passado, não teríamos a esperança de uma vitória final.”
Finalmente, gostaria de destacar o papel dos intelectuais – e, em particular, dos historiadores e professores de História - junto aos movimentos populares, mas principalmente nas escolas, nas salas de aula e no trabalho de pesquisa histórica, no sentido de formar jovens questionadores, cidadãos que não aceitem o consenso dominante, que estejam dispostos a se contrapor à hegemonia dos setores dominantes. Aos intelectuais comprometidos com as lutas populares cabe a missão de contribuir para a formação tanto de militantes combativos quanto de lideranças orientadas para uma perspectiva de elaboração de uma alternativa de emancipação social para nosso povo, perspectiva que, a meu ver, só poderá ser socialista. Mas um socialismo que não seja “nem cópia nem decalque, mas sim criação heroica” do nosso povo, nas palavras de um grande revolucionário latino-americano - José Carlos Mariátegui.
Anita Leocádia Prestes é professora do Programa de Pós-graduação em História Comparada de UFRJ e presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes.



Fonte: www.rudaricci.blogspot.com

MEC define diretrizes para o Ensino Fundamental de 9 anos
O Ministério da Educação (MEC) homologou as diretrizes para o Ensino Fundamental de nove anos, elaboradas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), tornando-se resolução número 7 de 2010. O texto deverá servir de base para a elaboração do currículo em todas as escolas do País já no início de 2011. O ponto central é a definição dos três primeiros anos do Esino Fundamental como um único ciclo, que não tenha reprovação, mas que não tenha aprovação automática. Trata-se de um imenso avanço, algo que venho propagandeando neste blog.

Sobre os Princípios:

Éticos: de justiça, solidariedade, liberdade e autonomia; de respeito à dignidade da pessoa humana e de compromisso com a promoção do bem de todos, contribuindo para combater e eliminar quaisquer manifestações de preconceito e discriminação.


Políticos: de reconhecimento dos direitos e deveres de cidadania, de respeito ao bem comum e à preservação do regime democrático e dos recursos ambientais; de busca da equidade no acesso à educação, à saúde, ao trabalho, aos bens culturais e outros benefícios; de exigência de diversidade de tratamento para assegurar a igualdade de direitos entre os alunos que apresentam diferentes necessidades; de redução da pobreza e das desigualdades sociais e regionais.


Estéticos: de cultivo da sensibilidade juntamente com o da racionalidade; de enriquecimento das formas de expressão e do exercício da criatividade; de valorização das diferentes manifestações culturais, especialmente as da cultura brasileira; de construção de identidades plurais e solidárias.

Objetivos

Propiciar o desenvolvimento do educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe os meios para que ele possa progredir no trabalho e em estudos posteriores, segundo o artigo 22 da Lei nº 9.394/96 (LDB), bem como os objetivos específicos dessa etapa da escolarização (artigo 32 da LDB), devem convergir para os princípios mais amplos que norteiam a Nação brasileira.

A peculiaridade desta etapa de desenvolvimento

Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a criança desenvolve a capacidade de
representação, indispensável para a aprendizagem da leitura, dos conceitos matemáticos básicos e para a compreensão da realidade que a cerca, conhecimentos que se postulam para esse período da escolarização. O desenvolvimento da linguagem permite a ela reconstruir pela memória as suas ações e descrevê-las, bem como planejá-las, habilidades também necessárias às aprendizagens previstas para esse estágio. A aquisição da leitura e da escrita na escola, fortemente relacionada aos usos sociais da escrita nos ambientes familiares de onde veem as crianças, pode demandar tempos e esforços diferenciados entre os alunos da mesma faixa etária. A criança nessa fase tem maior interação nos espaços públicos, entre os quais se destaca a escola. Esse é, pois, um período em que se deve intensificar a aprendizagem das normas da conduta social, com ênfase no desenvolvimento de habilidades que facilitem os processos de ensino e de aprendizagem.

Currículo

O acesso ao conhecimento escolar tem, portanto, dupla função: desenvolver habilidades intelectuais e criar atitudes e comportamentos necessários para a vida em sociedade. O aluno precisa aprender não apenas os conteúdos escolares, mas também saber se movimentar na instituição pelo conhecimento que adquire de seus valores, rituais e normas, ou seja, pela familiaridade com a cultura da escola.
O currículo da base nacional comum do Ensino Fundamental deve abranger obrigatoriamente, conforme o artigo 26 da LDB, o estudo da Língua Portuguesa e da Matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente a do Brasil, bem como o ensino da Arte, a Educação Física e o Ensino Religioso.

Os componentes curriculares obrigatórios do Ensino Fundamental serão assim organizados em relação às áreas de conhecimento:
I – Linguagens:
a) Língua Portuguesa
b) Língua materna, para populações indígenas
c) Língua Estrangeira moderna
d) Arte
e) Educação Física
II – Matemática
III – Ciências da Natureza
IV – Ciências Humanas:
a) História
b) Geografia
V - Ensino Religioso

O Ensino Fundamental deve ser ministrado em língua portuguesa, mas às
comunidades indígenas é assegurada também “a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem” (Constituição Federal, art. 210, §2º, e art. 32, §3º da LDB).



Alguns motivos para visitar o Café História:

MISCELÂNEA CAFÉ HISTÓRIA

História da África para Download
Coleção “História Geral da África” ganha edição em língua portuguesa e pode ser baixado por qualquer pessoa através do site da Unesco. São mais de seis mil páginas que prometem melhorar ainda mais o ensino de história nas escolas brasileiras

História no volume Máximo
Registros textuais, imagens e até mesmo registros sonoros na íntegra. Saiba como a pesquisa histórica está sendo beneficiada por sites que disponibilizam importantes acervos

CAFÉ EXPRESSO NOTÍCIAS

Escolas vão receber material sobre as vítimas da ditadura
MPF pede que Arquivo Nacional facilite acesso a documentos da ditadura
Flamengo terá memorial em homenagem a Stuart Angel, morto durante a ditadura

VÍDEO EM DESTAQUE

Os 100 Anos da Revelta da Chibata
Assista: http://cafehistoria.ning.com/video/os-100-anos-da-revolta-da

Entrevista com o Historiador Carlos Guilherme Mota - Roda Viva
Assista: http://cafehistoria.ning.com/video/entrevista-com-o-historiador-2

Historiador José Murilo de Carvalho fala sobre a onda de violência no Rio de Janeiro
Assista: http://cafehistoria.ning.com/video/historiador-jose-murilo-de

Entrevista com Mark Zuckerberg, fundador do Facebook
Assista: http://cafehistoria.ning.com/video/entrevista-com-mark-zuckerberg

FÓRUNS EM DISCUSSÃO
Tortura: grupos militares criam obstáculos a investigação da justiça?
Participe: http://cafehistoria.ning.com/forum/topics/tortura-grupos-militares-criam


Por que a Arqueologia é tão ignorada no Brasil?
Participe: http://cafehistoria.ning.com/forum/topics/por-que-a-arqueologia-e-tao

Houve a presença de visigodos ou celtas nas Américas ?
Participe: http://cafehistoria.ning.com/forum/topics/houve-a-presenca-de-visigodos

Visite Cafe Historia em: http://cafehistoria.ning.com/?xg_source=msg_mes_network


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