Começamos com a informação de que o texto publicado na semana passada, ao que tudo indica, é do Ricardo Kotscho, eis que foi enviado daqui:
http://noticias.r7.com/blogs/ricardo-kotscho/2011/11/22/nepotismo-e-privilegios-ameacam-judiciario/
Grato, Ana Cláudia, pela informação!
Nos artigos completos, uma resenha de um livro novo do Eric Hobsbawm, enviado pela Vânia Facury. Guilherme Souto e Ana Karenina enviaram o mesmo texto, sobre a troca de apresentadoras do Jornal Nacional. Simples ou complexa? Não deixem de ler!
Pinochet mandou matar Neruda e EUA/OTAN contra os BRICS são os dois outros textos.
Links para vários outros artigos e muitas informações completam o boletim desta semana.
1. Artigos completos
Colaboração de Vania Facury
Hobsbawm investiga o marxismo e encara crise
http://noticias.r7.com/blogs/ricardo-kotscho/2011/11/22/nepotismo-e-privilegios-ameacam-judiciario/
Grato, Ana Cláudia, pela informação!
Nos artigos completos, uma resenha de um livro novo do Eric Hobsbawm, enviado pela Vânia Facury. Guilherme Souto e Ana Karenina enviaram o mesmo texto, sobre a troca de apresentadoras do Jornal Nacional. Simples ou complexa? Não deixem de ler!
Pinochet mandou matar Neruda e EUA/OTAN contra os BRICS são os dois outros textos.
Links para vários outros artigos e muitas informações completam o boletim desta semana.
1. Artigos completos
Colaboração de Vania Facury
Hobsbawm investiga o marxismo e encara crise
(Folha de São Paulo, 30.11.2011)
Historiador esbanja erudição e clareza nas páginas de "Como Mudar o Mundo - Marx e o Marxismo, 1840-2011"
ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO
"A grande crise econômica que começou em 2008, como uma espécie de equivalente de direita à queda do Muro de Berlim, trouxe uma compreensão imediata de que o Estado era essencial para uma economia em dificuldades, do mesmo modo como fora essencial para o triunfo do neoliberalismo quando os governos lançaram suas bases por meio de privatizações e desregulações sistemáticas."
Com essa análise, Eric Hobsbawm chega ao final de seu novo livro, "Como Mudar o Mundo - Marx e o Marxismo, 1840-2011".
Ao contrário do que o título pode sugerir, não se trata de um manual ligeiro para revolucionários afoitos. É um mergulho profundo na história do marxismo, mostrando como a trajetória desse pensamento se entrelaçou com as lutas sociais e políticas.
Aos 94 anos, o autor do extraordinário "Era dos Extremos" (1995) esbanja erudição e clareza. Transita entre clássicos da filosofia, da política, da economia e das artes.
Avalia as obras e os seus críticos dentro das tensões da história. Vasculha como o marxismo chegou a abarcar um terço da humanidade e como se despedaçou com o fim da URSS. E como reaparece agora, na busca de explicações para a crise.
Hobsbawm esmiúça a gênese da produção de Karl Marx (1818-1883), que recebeu influências do socialismo francês, da filosofia alemã e da economia-política britânica.
Para além da discussão acadêmica, mostra como o marxismo, diferentemente de outras correntes de pensamento, empurrou gerações para a ação, estimuladas pela célebre frase: "Os filósofos têm apenas interpretado o mundo; a questão, porém, é transformá-lo".
No desenvolvimento dos movimentos sociais, dos partidos e governos criados sob inspiração marxista, Hobsbawm disseca distorções, simplificações e determinismos que não encontram base nos escritos originais.
Nada na obra de Marx, por exemplo, sustenta a inevitabilidade da sequência de modos de produção -escravismo/feudalismo/capitalismo, argumenta.
"Marx e Engels deixaram para seus sucessores um pensamento político com vários espaços vazios ou preenchidos de modo ambíguo", escreve o historiador. "Eles rejeitaram as dicotomias simples daqueles que se dispunham a sociedade ruim pela boa, a desrazão pela razão, o preto pelo branco", enfatiza.
Hobsbawm lembra de algumas desses áreas cinzentas, como os conceitos da ditadura do proletariado, do nacionalismo e da autodeterminação. Navega com o marxismo pelas guerras mundiais, pela luta contra o fascismo, pelas universidades.
Presta uma homenagem a Antonio Gramsci (1891-1937), o teórico e militante para quem "o marxismo não era determinismo histórico. Não bastava esperar que a história de alguma forma levasse automaticamente os trabalhadores ao poder".
Para Hobsbawn, o auge da "maré intelectual" do marxismo foi nos anos 1970. Depois houve a derrocada rápida, com a queda do Muro de Berlim (1989) e o fim da URSS (1991). Marx passou a ser mostrado "como o inspirador do terror e do gulag". Agora, a crise trouxe Marx de volta.
Avaliando o momento, Hobsbawm nota que "os socialistas não sabem o que fazer, pois não podem apontar exemplos de regimes comunistas ou social-democratas imunes à crise nem têm propostas realistas para uma mudança socialista".
Fala dos protestos "de intensa insatisfação social sem perspectiva", teme "o risco de uma guinada brusca da política para uma direita radical" e não descarta "a possibilidade de uma desintegração, até mesmo de um colapso, do sistema existente. Nenhum dos dois lados sabe o que aconteceria nesse caso".
Não é um guia nem tem as respostas para a crise. Mas ajuda a pensar. Para o historiador marxista, quem quiser soluções para o século 21 "deverá fazer as perguntas de Marx, mesmo que não queira aceitar as respostas dadas por seus vários discípulos".
COMO MUDAR O MUNDO
AUTOR Eric Hobsbawm - EDITORA Companhia das Letras - TRADUÇÃO Donaldson M. Garschagen - QUANTO R$ 57 (424 págs.) - AVALIAÇÃO ótimo
Historiador esbanja erudição e clareza nas páginas de "Como Mudar o Mundo - Marx e o Marxismo, 1840-2011"
ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO
"A grande crise econômica que começou em 2008, como uma espécie de equivalente de direita à queda do Muro de Berlim, trouxe uma compreensão imediata de que o Estado era essencial para uma economia em dificuldades, do mesmo modo como fora essencial para o triunfo do neoliberalismo quando os governos lançaram suas bases por meio de privatizações e desregulações sistemáticas."
Com essa análise, Eric Hobsbawm chega ao final de seu novo livro, "Como Mudar o Mundo - Marx e o Marxismo, 1840-2011".
Ao contrário do que o título pode sugerir, não se trata de um manual ligeiro para revolucionários afoitos. É um mergulho profundo na história do marxismo, mostrando como a trajetória desse pensamento se entrelaçou com as lutas sociais e políticas.
Aos 94 anos, o autor do extraordinário "Era dos Extremos" (1995) esbanja erudição e clareza. Transita entre clássicos da filosofia, da política, da economia e das artes.
Avalia as obras e os seus críticos dentro das tensões da história. Vasculha como o marxismo chegou a abarcar um terço da humanidade e como se despedaçou com o fim da URSS. E como reaparece agora, na busca de explicações para a crise.
Hobsbawm esmiúça a gênese da produção de Karl Marx (1818-1883), que recebeu influências do socialismo francês, da filosofia alemã e da economia-política britânica.
Para além da discussão acadêmica, mostra como o marxismo, diferentemente de outras correntes de pensamento, empurrou gerações para a ação, estimuladas pela célebre frase: "Os filósofos têm apenas interpretado o mundo; a questão, porém, é transformá-lo".
No desenvolvimento dos movimentos sociais, dos partidos e governos criados sob inspiração marxista, Hobsbawm disseca distorções, simplificações e determinismos que não encontram base nos escritos originais.
Nada na obra de Marx, por exemplo, sustenta a inevitabilidade da sequência de modos de produção -escravismo/feudalismo/capitalismo, argumenta.
"Marx e Engels deixaram para seus sucessores um pensamento político com vários espaços vazios ou preenchidos de modo ambíguo", escreve o historiador. "Eles rejeitaram as dicotomias simples daqueles que se dispunham a sociedade ruim pela boa, a desrazão pela razão, o preto pelo branco", enfatiza.
Hobsbawm lembra de algumas desses áreas cinzentas, como os conceitos da ditadura do proletariado, do nacionalismo e da autodeterminação. Navega com o marxismo pelas guerras mundiais, pela luta contra o fascismo, pelas universidades.
Presta uma homenagem a Antonio Gramsci (1891-1937), o teórico e militante para quem "o marxismo não era determinismo histórico. Não bastava esperar que a história de alguma forma levasse automaticamente os trabalhadores ao poder".
Para Hobsbawn, o auge da "maré intelectual" do marxismo foi nos anos 1970. Depois houve a derrocada rápida, com a queda do Muro de Berlim (1989) e o fim da URSS (1991). Marx passou a ser mostrado "como o inspirador do terror e do gulag". Agora, a crise trouxe Marx de volta.
Avaliando o momento, Hobsbawm nota que "os socialistas não sabem o que fazer, pois não podem apontar exemplos de regimes comunistas ou social-democratas imunes à crise nem têm propostas realistas para uma mudança socialista".
Fala dos protestos "de intensa insatisfação social sem perspectiva", teme "o risco de uma guinada brusca da política para uma direita radical" e não descarta "a possibilidade de uma desintegração, até mesmo de um colapso, do sistema existente. Nenhum dos dois lados sabe o que aconteceria nesse caso".
Não é um guia nem tem as respostas para a crise. Mas ajuda a pensar. Para o historiador marxista, quem quiser soluções para o século 21 "deverá fazer as perguntas de Marx, mesmo que não queira aceitar as respostas dadas por seus vários discípulos".
COMO MUDAR O MUNDO
AUTOR Eric Hobsbawm - EDITORA Companhia das Letras - TRADUÇÃO Donaldson M. Garschagen - QUANTO R$ 57 (424 págs.) - AVALIAÇÃO ótimo
Colaboração de Guilherme Souto e de Ana Karenina
O significado da troca de apresentadoras
A Globo confirma a saída de Fátima Bernardes do “JN”. No lugar dela deve entrar Patrícia Poeta – atual apresentadora do “Fantástico”.
Fiz hoje pela manhã – no twitter e no facebook – algumas observações sobre a troca; observações que agora procurarei consolidar nesse post.
Vejo que há leitores absolutamente céticos: “ah, essa troca não quer dizer nada”. Até um colunista de TV do UOL, aparentemente mal infomado, disse o mesmo. Discordo.
Primeiro ponto: a Patrícia Poeta é mulher de Amauri Soares. Nem todo mundo sabe, mas Amauri foi diretor da Globo/São Paulo nos anos 90. Em parceria com Evandro Carlos de Andrade (então diretor geral de jornalismo), comandou a tentativa de renovação do jornalismo global.
Acompanhei isso de perto, trabalhei sob comando de Amauri. A Globo precisava se livrar do estigma (merecido) de manipulação – que vinha da ditadura, da tentativa de derrubar Brizola em 82, da cobertura lamentável das Diretas-Já em 84 (comício em São Paulo foi noticiado no “JN” como “festa pelo aniversário da cidade”), da manipulação do debate Collor-Lula em 89.
Amauri fez um trabalho muito bom. Havia liberdade pra trabalhar. Sou testemunha disso. Com a morte de Evandro, um rapaz que viera do jornal “O Globo”, chamado Ali Kamel, ganhou poder na TV. Em pouco tempo, derrubou Amauri da praça São Paulo.
Patrícia Poeta no “JN” significa que Kamel está (um pouco) mais fraco. E que Amauri recupera espaço. Se Amauri voltar a mandar pra valer na Globo, Kamel talvez consiga um bom emprego no escritório da Globo na Sibéria, ou pode escrever sobre racismo, instalado em Veneza ao lado do amigo (dele) Diogo Mainardi.
Conheço detalhes de uma conversa entre Amauri e Kamel, ocorrida em 2002, e que revelo agora em primeira mão. Amauri ligou a Kamel (chefe no Rio), pra reclamar que matérias de denúncias contra o governo, produzidas em São Paulo, não entravam no “JN”. Kamel respondeu: “a Globo está fragilizada economicamente, Amauri; não é hora de comprar briga com ninguém”. Amauri respondeu: “mas eu tenho um cartaz, com uma frase do Evandro aqui na minha sala, que diz – Não temos amigos pra proteger, nem inimigos para perseguir”. Sabem qual foi a resposta de Kamel? “Amaury, o Evandro está morto”.
Era a senha. Algumas semanas depois, Amauri foi derrubado.
Kamel foi o ideólogo da “retomada conservadora” na Globo durante os anos Lula. Amauri foi “exilado” num cargo em Nova Yorque. Patrícia Poeta partiu com ele. Os dois aproveitaram a fase de “baixa” pra fazer “do limão uma limonada”. Sobre isso, o Marco Aurélio escreveu, no “Doladodelá”.
Alguns anos depois, Amauri voltou ao Brasil para coordenar projetos especiais; Patrícia Poeta foi encaixada no “Fantástico”. Só que Amauri e Kamel não se falavam. Tenho informação segura de que, ainda hoje, quando se cruzam nos corredores do Jardim Botânico, os dois se ignoram. Quando são obrigados a sentar na mesma mesa, em almoços da direção, não dirigem a palavra um ao outro. Amauri sabe como Kamel tramou para derrubá-lo.
Pois bem. Já há alguns meses, logo depois da eleição de 2010, recebemos a informação de que Ali Kamel estava perdendo poder. Claro, manteria o cargo e o status de diretor, até porque prestou serviços à família Marinho – que pode ser acusada de muita coisa, mas não de ingratidão.
Otavio Florisbal, diretor geral da Globo, deu uma entrevista ao UOL no primeiro semestre de 2011 dizendo que a Globo não falava direito para a classe C (o Brasil do lulismo). Por isso, trocou apresentadores tidos como “elitistas” (Renato Machado saiu pra dar lugar ao ótimo Chico Pinheiro – aliás, também amigo de Amauri). A Globo do Kamel não serve mais.
Lembremos que, desde o começo do governo Lula, a Globo de Kamel implicava com o “Bolsa-Família”. Kamel é um ideólogo conservador. Por isso, nós o chamávamos de “Ratzinger” na Globo. É contra quotas nas universidades, acha que racismo não existe no Brasil. Botou a Globo na oposição raivosa, promoveu a manipulação de 2006 na reeleição de Lula (por não concordar com isso, eu e mais três ou quatro colegas fomos expurgados da Globo em 2006/2007). E promoveu a inesquecível cobertura da “bolinha de papel” em 2010 – botando o perito Molina no “JN”. Nas reuniões internas do “comitê” global, ao lado de Merval Pereira, tentava convencer os irmãos Marinho dos “perigos” do lulismo.
Lula sabe o que Kamel aprontou. Tanto que no debate do segundo turno, em 2006, nem cumprimentou Kamel quando o viu no estúdio da Globo. Isso me contou uma amiga que estava lá.
Os irmãos Marinho parecem ter percebido que Kamel os enganou. O lulismo, em vez de perigo, mudou o Brasil pra melhor. Mais que isso: a Globo agora precisa de Dilma para enfrentar as teles, que chegam com muito dinheiro e apetite para disputar o mercado de comunicação. Kamel já não serve para os novos tempos. Assim como os “pitbulls” Diogo Mainardi e Mario Sabino não servem para a “Veja”.
Dilma buscou os donos da mídia, passada a eleição, e propôs a “normalização” de relações. O governo seguiu apanhando, na área “ética” – é verdade. O que não atrapalha a imagem de Dilma. Há quem veja na tal “faxina” um jogo combinado entre a presidenta e os donos da mídia. Será? Dilma tiraria as “denúncias” de letra (o custo ficaria para Lula e os aliados). Do outro lado, os “pitbulls” perderiam terreno na mídia. É a tal “normalização”. Considero um erro estratégico de Dilma. Mas quem sou eu pra achar alguma coisa. O fato é que a estratégia hoje é essa!
Patricia Poeta no “JN” parece indicar que a “normalização” passa por Ali Kamel longe do dia-a-dia na Globo (ele ainda tenta manobrar aqui e ali, mas já sem a mesma desenvoltura). Isso pode ser bom para o Brasil.
Não é coincidência que a Globo tenha permitido, há poucos dias, aquela entrevista do Boni admitindo manipulação do debate de 89. A entrevista (feita pelo excelente jornalista Geneton de Moraes Neto) foi ao ar na “Globo News”. Alguém acha que iria ao ar sem conhecimento da família Marinho? Isso não acontece na Globo!
Durante os anos de poder total de Kamel, a Globo tentou “reescrever” o passado – em vez de reconhecer os erros. Kamel chegou a escrever artigo hilário, tentando negar que a Globo tenha manipulado a cobertura das Diretas. Virou piada. Até o repórter que fez a “reportagem” em 84 contou pros colegas na redação (eu estava lá, e ouvi) – “o Ali é louco de tentar negar isso; todo mundo viu no ar”.
Ali Kamel nega o racismo, nega a manipulação, nega a realidade. Freud explica.
Agora, Boni reconhece que a Globo manipulou em 89. Isso faz parte do movimento de “normalização”. O enfraquecimento de Kamel também faz. Tudo isso está nos bastidores da troca de apresentadores do “JN”. Mas claro que há mais. Há a estratégia televisiva, pura e simples. Fátima Bernardes deve comandar um programa matutino na Globo. As manhãs são hoje o principal calcanhar de aquiles da emissora carioca. A Record ganha ou empata todos os dias. Com o “Fala Brasil”, e com o “Hoje em Dia”. Ana Maria Braga não dá mais conta da briga – apesar de ainda trazer muita grana e patrocinadores.
Fátima deve ter um novo programa nas manhãs. Ana Maria será mantida. Até porque na Globo as mudanças são sempre lentas – como no Comitê Central do PC da China. A Globo é um transatlântico que se manobra lentamente.
Se a Fátima emplacar, pode virar uma nova Ana Maria. O programa dela deve contar com outras estrelas globais (Pedro Bial, quem sabe?).
A mudança de apresentadores tem esse duplo sentido: enfraquecimento de Kamel (que continuará a ter seu camarote no transatlântico global, mas talvez já não frequente tanto a cabine de comando); e estratégia pra recuperar audiência nas manhãs.
A conferir.
http://www.rodrigovianna.com.br/radar-da-midia/bastidores-da-troca-no-jn.html#more-10754
Fiz hoje pela manhã – no twitter e no facebook – algumas observações sobre a troca; observações que agora procurarei consolidar nesse post.
Vejo que há leitores absolutamente céticos: “ah, essa troca não quer dizer nada”. Até um colunista de TV do UOL, aparentemente mal infomado, disse o mesmo. Discordo.
Primeiro ponto: a Patrícia Poeta é mulher de Amauri Soares. Nem todo mundo sabe, mas Amauri foi diretor da Globo/São Paulo nos anos 90. Em parceria com Evandro Carlos de Andrade (então diretor geral de jornalismo), comandou a tentativa de renovação do jornalismo global.
Acompanhei isso de perto, trabalhei sob comando de Amauri. A Globo precisava se livrar do estigma (merecido) de manipulação – que vinha da ditadura, da tentativa de derrubar Brizola em 82, da cobertura lamentável das Diretas-Já em 84 (comício em São Paulo foi noticiado no “JN” como “festa pelo aniversário da cidade”), da manipulação do debate Collor-Lula em 89.
Amauri fez um trabalho muito bom. Havia liberdade pra trabalhar. Sou testemunha disso. Com a morte de Evandro, um rapaz que viera do jornal “O Globo”, chamado Ali Kamel, ganhou poder na TV. Em pouco tempo, derrubou Amauri da praça São Paulo.
Patrícia Poeta no “JN” significa que Kamel está (um pouco) mais fraco. E que Amauri recupera espaço. Se Amauri voltar a mandar pra valer na Globo, Kamel talvez consiga um bom emprego no escritório da Globo na Sibéria, ou pode escrever sobre racismo, instalado em Veneza ao lado do amigo (dele) Diogo Mainardi.
Conheço detalhes de uma conversa entre Amauri e Kamel, ocorrida em 2002, e que revelo agora em primeira mão. Amauri ligou a Kamel (chefe no Rio), pra reclamar que matérias de denúncias contra o governo, produzidas em São Paulo, não entravam no “JN”. Kamel respondeu: “a Globo está fragilizada economicamente, Amauri; não é hora de comprar briga com ninguém”. Amauri respondeu: “mas eu tenho um cartaz, com uma frase do Evandro aqui na minha sala, que diz – Não temos amigos pra proteger, nem inimigos para perseguir”. Sabem qual foi a resposta de Kamel? “Amaury, o Evandro está morto”.
Era a senha. Algumas semanas depois, Amauri foi derrubado.
Kamel foi o ideólogo da “retomada conservadora” na Globo durante os anos Lula. Amauri foi “exilado” num cargo em Nova Yorque. Patrícia Poeta partiu com ele. Os dois aproveitaram a fase de “baixa” pra fazer “do limão uma limonada”. Sobre isso, o Marco Aurélio escreveu, no “Doladodelá”.
Alguns anos depois, Amauri voltou ao Brasil para coordenar projetos especiais; Patrícia Poeta foi encaixada no “Fantástico”. Só que Amauri e Kamel não se falavam. Tenho informação segura de que, ainda hoje, quando se cruzam nos corredores do Jardim Botânico, os dois se ignoram. Quando são obrigados a sentar na mesma mesa, em almoços da direção, não dirigem a palavra um ao outro. Amauri sabe como Kamel tramou para derrubá-lo.
Pois bem. Já há alguns meses, logo depois da eleição de 2010, recebemos a informação de que Ali Kamel estava perdendo poder. Claro, manteria o cargo e o status de diretor, até porque prestou serviços à família Marinho – que pode ser acusada de muita coisa, mas não de ingratidão.
Otavio Florisbal, diretor geral da Globo, deu uma entrevista ao UOL no primeiro semestre de 2011 dizendo que a Globo não falava direito para a classe C (o Brasil do lulismo). Por isso, trocou apresentadores tidos como “elitistas” (Renato Machado saiu pra dar lugar ao ótimo Chico Pinheiro – aliás, também amigo de Amauri). A Globo do Kamel não serve mais.
Lembremos que, desde o começo do governo Lula, a Globo de Kamel implicava com o “Bolsa-Família”. Kamel é um ideólogo conservador. Por isso, nós o chamávamos de “Ratzinger” na Globo. É contra quotas nas universidades, acha que racismo não existe no Brasil. Botou a Globo na oposição raivosa, promoveu a manipulação de 2006 na reeleição de Lula (por não concordar com isso, eu e mais três ou quatro colegas fomos expurgados da Globo em 2006/2007). E promoveu a inesquecível cobertura da “bolinha de papel” em 2010 – botando o perito Molina no “JN”. Nas reuniões internas do “comitê” global, ao lado de Merval Pereira, tentava convencer os irmãos Marinho dos “perigos” do lulismo.
Lula sabe o que Kamel aprontou. Tanto que no debate do segundo turno, em 2006, nem cumprimentou Kamel quando o viu no estúdio da Globo. Isso me contou uma amiga que estava lá.
Os irmãos Marinho parecem ter percebido que Kamel os enganou. O lulismo, em vez de perigo, mudou o Brasil pra melhor. Mais que isso: a Globo agora precisa de Dilma para enfrentar as teles, que chegam com muito dinheiro e apetite para disputar o mercado de comunicação. Kamel já não serve para os novos tempos. Assim como os “pitbulls” Diogo Mainardi e Mario Sabino não servem para a “Veja”.
Dilma buscou os donos da mídia, passada a eleição, e propôs a “normalização” de relações. O governo seguiu apanhando, na área “ética” – é verdade. O que não atrapalha a imagem de Dilma. Há quem veja na tal “faxina” um jogo combinado entre a presidenta e os donos da mídia. Será? Dilma tiraria as “denúncias” de letra (o custo ficaria para Lula e os aliados). Do outro lado, os “pitbulls” perderiam terreno na mídia. É a tal “normalização”. Considero um erro estratégico de Dilma. Mas quem sou eu pra achar alguma coisa. O fato é que a estratégia hoje é essa!
Patricia Poeta no “JN” parece indicar que a “normalização” passa por Ali Kamel longe do dia-a-dia na Globo (ele ainda tenta manobrar aqui e ali, mas já sem a mesma desenvoltura). Isso pode ser bom para o Brasil.
Não é coincidência que a Globo tenha permitido, há poucos dias, aquela entrevista do Boni admitindo manipulação do debate de 89. A entrevista (feita pelo excelente jornalista Geneton de Moraes Neto) foi ao ar na “Globo News”. Alguém acha que iria ao ar sem conhecimento da família Marinho? Isso não acontece na Globo!
Durante os anos de poder total de Kamel, a Globo tentou “reescrever” o passado – em vez de reconhecer os erros. Kamel chegou a escrever artigo hilário, tentando negar que a Globo tenha manipulado a cobertura das Diretas. Virou piada. Até o repórter que fez a “reportagem” em 84 contou pros colegas na redação (eu estava lá, e ouvi) – “o Ali é louco de tentar negar isso; todo mundo viu no ar”.
Ali Kamel nega o racismo, nega a manipulação, nega a realidade. Freud explica.
Agora, Boni reconhece que a Globo manipulou em 89. Isso faz parte do movimento de “normalização”. O enfraquecimento de Kamel também faz. Tudo isso está nos bastidores da troca de apresentadores do “JN”. Mas claro que há mais. Há a estratégia televisiva, pura e simples. Fátima Bernardes deve comandar um programa matutino na Globo. As manhãs são hoje o principal calcanhar de aquiles da emissora carioca. A Record ganha ou empata todos os dias. Com o “Fala Brasil”, e com o “Hoje em Dia”. Ana Maria Braga não dá mais conta da briga – apesar de ainda trazer muita grana e patrocinadores.
Fátima deve ter um novo programa nas manhãs. Ana Maria será mantida. Até porque na Globo as mudanças são sempre lentas – como no Comitê Central do PC da China. A Globo é um transatlântico que se manobra lentamente.
Se a Fátima emplacar, pode virar uma nova Ana Maria. O programa dela deve contar com outras estrelas globais (Pedro Bial, quem sabe?).
A mudança de apresentadores tem esse duplo sentido: enfraquecimento de Kamel (que continuará a ter seu camarote no transatlântico global, mas talvez já não frequente tanto a cabine de comando); e estratégia pra recuperar audiência nas manhãs.
A conferir.
http://www.rodrigovianna.com.br/radar-da-midia/bastidores-da-troca-no-jn.html#more-10754
Outra contribuição do Guilherme Souto:
Pinochet mandou matar Neruda, diz ex-ajudante
Enviado por luisnassif, sex, 02/12/2011 - 08:16
Por wilson yoshio.blogspot
Pablo Neruda foi assassinado a mando de Pinochet, denuncia antigo ajudante
Nos documentos oficiais do regime do ditador Augusto Pinochet, o poeta chileno Pablo Neruda teria morrido por complicações decorrentes de um câncer de próstata. Não é o que diz Manuel Araya, motorista, ajudante e amigo pessoal de Neruda: para ele, não restam dúvidas de que o poeta foi assassinado. Em declarações a duas emissoras locais de rádio (Cooperativa e Bío Bío de Chile), Araya garante que Neruda foi envenenado com uma injeção fatal na Clínica Santa María, onde estava internado. Segundo a testemunha, o Prêmio Nobel de Literatura (1971) não foi internado lá por estar mal de saúde, e sim como uma medida de segurança. “Pensávamos que na clínica estaria mais seguro. Nunca pensamos que lhe iam dar uma injeção e ele ia morrer”, garante Manuel Araya.
O ajudante de Pablo Neruda conta ter recebido uma ligação do próprio poeta, dizendo que tinham injetado algo em seu estômago e se sentia fraco e com febre. Araya foi então até a clínica, onde um médico pediu que saísse para comprar um determinado remédio. “Eu lhe disse que nós estamos pagando e o medicamento deve ser fornecido por eles”, assegura Araya, que acabou concordando em ir à farmácia comprar o remédio – sendo detido por oficiais da ditadura chilena na rua, horas antes da morte de Pablo Neruda. “Ele estava doente de câncer, mas resistia muito bem. Ele não estava mal, não tinha por que ter morrido”, enfatiza a testemunha, lembrando que Neruda se preparava para viajar ao México – viagem que, insinua Manuel Araya, era indesejável para a ditadura de Pinochet. O Partido Comunista chileno, na figura de seu presidente Guillermo Teillier, já manifestou-se dizendo que é “um dever moral” da sigla exigir uma investigação sobre o assunto. Pablo Neruda também era militante comunista e teve papel político destacado durante o governo de Salvador Allende (1970-1973).
'É Pentágono/OTAN versus BRICS'
A decisão dos BRICS sobre o Oriente Médio é um terremoto geopolítico. A diplomacia russa coordenou, com os outros países BRICS, um murro tectônico na mesa: não admitiremos qualquer tipo de nova intervenção dos EUA – seja “humanitária” ou a que for – no Oriente Médio. Agora, é Pentágono/OTAN versus os BRICS. Brasil, Índia e China estão acompanhando tão de perto quanto a Rússia, os movimentos de França e Turquia que estariam incentivando a eclosão de uma guerra civil na Síria. O artigo é de Pepe Escobar.
Pepe Escobar - Al-Jazeera
Enviado por luisnassif, sex, 02/12/2011 - 08:16
Por wilson yoshio.blogspot
Pablo Neruda foi assassinado a mando de Pinochet, denuncia antigo ajudante
Nos documentos oficiais do regime do ditador Augusto Pinochet, o poeta chileno Pablo Neruda teria morrido por complicações decorrentes de um câncer de próstata. Não é o que diz Manuel Araya, motorista, ajudante e amigo pessoal de Neruda: para ele, não restam dúvidas de que o poeta foi assassinado. Em declarações a duas emissoras locais de rádio (Cooperativa e Bío Bío de Chile), Araya garante que Neruda foi envenenado com uma injeção fatal na Clínica Santa María, onde estava internado. Segundo a testemunha, o Prêmio Nobel de Literatura (1971) não foi internado lá por estar mal de saúde, e sim como uma medida de segurança. “Pensávamos que na clínica estaria mais seguro. Nunca pensamos que lhe iam dar uma injeção e ele ia morrer”, garante Manuel Araya.
O ajudante de Pablo Neruda conta ter recebido uma ligação do próprio poeta, dizendo que tinham injetado algo em seu estômago e se sentia fraco e com febre. Araya foi então até a clínica, onde um médico pediu que saísse para comprar um determinado remédio. “Eu lhe disse que nós estamos pagando e o medicamento deve ser fornecido por eles”, assegura Araya, que acabou concordando em ir à farmácia comprar o remédio – sendo detido por oficiais da ditadura chilena na rua, horas antes da morte de Pablo Neruda. “Ele estava doente de câncer, mas resistia muito bem. Ele não estava mal, não tinha por que ter morrido”, enfatiza a testemunha, lembrando que Neruda se preparava para viajar ao México – viagem que, insinua Manuel Araya, era indesejável para a ditadura de Pinochet. O Partido Comunista chileno, na figura de seu presidente Guillermo Teillier, já manifestou-se dizendo que é “um dever moral” da sigla exigir uma investigação sobre o assunto. Pablo Neruda também era militante comunista e teve papel político destacado durante o governo de Salvador Allende (1970-1973).
'É Pentágono/OTAN versus BRICS'
A decisão dos BRICS sobre o Oriente Médio é um terremoto geopolítico. A diplomacia russa coordenou, com os outros países BRICS, um murro tectônico na mesa: não admitiremos qualquer tipo de nova intervenção dos EUA – seja “humanitária” ou a que for – no Oriente Médio. Agora, é Pentágono/OTAN versus os BRICS. Brasil, Índia e China estão acompanhando tão de perto quanto a Rússia, os movimentos de França e Turquia que estariam incentivando a eclosão de uma guerra civil na Síria. O artigo é de Pepe Escobar.
Pepe Escobar - Al-Jazeera
Poucos prestaram atenção, quando, semana passada, a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Victoria Nuland anunciou, em linguagem cifrada, que Washington “deixará de atender a alguns dos dispositivos do Tratado das Forças Militares Convencionais na Europa, no que tenha a ver com Rússia”.
Tradução: Washington deixará de informar a Rússia sobre deslocamentos de sua armada global. A estratégia de “reposicionamento” planetário do Pentágono virou segredo.
É preciso atualizar algumas informações de fundo. Esse tratado, CFE, foi assinado nos anos 1990 – quando o Pacto de Varsóvia ainda era vigente, e cabia à OTAN defender o ocidente “livre” contra o que então estava sendo pintado como um muito ameaçador Exército Vermelho.
Na Parte I, esse Tratado CFE estabelecia significativa redução no número de tanques, artilharia pesadíssima, jatos e helicópteros de guerra, e dizia também, aos dois lados, que todos teriam de nunca parar de falar do Tratado CFE.
A Parte II do Tratado CFE foi assinada em 1999, no mundo pós-URSS. A Rússia transferiu grande parte de seu arsenal para trás dos Montes Urais, e a OTAN nunca parou de avançar diretamente contra as fronteiras russas –movimento que aberta e descaradamente descumpria a promessa que George Bush-Pai fizera, pessoalmente, a Mikhail Gorbachev.
Em 2007, entra Vladimir Putin, que decide suspender a participação da Rússia no Tratado CFE, até que EUA e OTAN ratifiquem a Parte II do CFE. Washington nada fez, nada de nada; e passou quatro anos pensando sobre o que fazer. Agora, decidiu que nem falar falará (“Washington deixará de atender”, etc. etc.).
"Não se metam na Síria"
Moscou sempre soube, há anos, o que o Pentágono quer: Polônia, República Checa, Hungria, Lituânia. Mas o sonho da OTAN é completamente diferente: já delineado num encontro em Lisboa há um ano, o sonho da OTAN é converter o Mediterrâneo em “um lago da OTAN”.
Em Bruxelas, diplomatas da União Europeia confirmam, off the record, que a OTAN discutirá, numa reunião chave no início de dezembro, o que fazer para fixar uma cabeça-de-praia muito próxima da fronteira sul da Rússia, para dali turbinar a desestabilização da Síria.
Para a Rússia, qualquer intervenção ocidental na Síria é caso resolvido de "não-e-não-e-não" absoluto. A única base naval russa em todo o Mediterrâneo Ocidental está instalada no porto (sírio) de Tartus.
Não por acaso, a Rússia instalou seu sistema de mísseis de defesa aérea S-300 – dos melhores do mundo, comparável ao Patriot, dos EUA – em Tartus. E é iminente a atualização para sistema ainda mais sofisticado, o S-400.
Mais importante: pelo menos 20% do complexo industrial militar russo enfrentaria crise profunda, no caso de perder seus assíduos clientes sírios.
Em resumo, seria suicídio, para a OTAN – para nem falar em Israel – tentar atacar a Síria por mar. A inteligência russa trabalha hoje sobre a hipótese de o ataque vir via Arábia Saudita. E vários outros países também sabem, com riqueza de detalhes, dessa estratégia de “Líbia remix”, da OTAN.
Vejam o caso, por exemplo, da reunião da semana passada, em Moscou, dos vice-ministros de Relações Exteriores dos países do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Os BRICS não poderiam ter sido mais claros: esqueçam qualquer tipo de intervenção externa na Síria; disseram, exatamente que “não se deverá considerar qualquer interferência externa nos negócios da Síria, que não esteja perfeitamente conforme o que determina a Carta das Nações Unidas”. Os BRICS também condenam as sanções extras contra o Irã (são “contraproducentes”) e qualquer possibilidade de algum ataque. A única solução – para os dois casos, Síria e Irã – é negociações e diálogo. Esqueçam a conversa de um voto da Liga Árabe levar a nova resolução, do Conselho de Segurança da ONU, de “responsabilidade de proteger” (responsibility to protect - R2P). Esqueçam.
O que temos aí é um terremoto geopolítico. A diplomacia russa coordenou, com outros países BRICS, um murro tectônico na mesa: não admitiremos qualquer tipo de nova intervenção dos EUA – seja “humanitária” ou a que for – no Oriente Médio. Agora, é Pentágono/OTAN versus os BRICS.
Brasil, Índia e China estão acompanhando tão de perto quanto a Rússia, o que a França – sob o comando do neonapolêonico Libertador da Líbia, Nicolas Sarkozy – e a Turquia, os dois países membros da OTAN, estão empenhados e fazer hoje, sem qualquer limite ou contenção, contrabandeando armas e apostando em uma guerra civil na Síria, ao mesmo tempo em que tudo fazem para impedir qualquer tipo de diálogo entre o governo de Assad e a oposição síria, essa, em frangalhos.
Alerta máximo nos gargalos
Tampouco é segredo dos BRICS que a estratégia de “reposicionamento” do Pentágono implica mal disfarçada tentativa de impor, no longo prazo, uma “negativa de acesso” à marinha chinesa expedicionária [capaz de operar em alto mar], em acelerada expansão.
Agora, o “reposicionamento” na África e na Ásia tem a ver, diretamente, com os gargalos. Não surpreende que três dos gargalos mais cruciais do mapa do mundo é questão de alta segurança nacional para a China, em termos do fluxo do suprimento de petróleo.
O Estreito de Ormuz é gargalo global crucial (por ali passam 16 milhões de barris de petróleo por dia, 17% de todo o petróleo negociado no planeta, mais de 75% do petróleo exportado para a Ásia).
O Estreito de Malacca é elo crucial entre o Oceano Índico e o Mar do Sul da China e o Oceano Pacífico, a rota mais curta entre o Golfo Persa e a Ásia, com fluxo de cerca de 14 milhões de barris de petróleo/dia.
E o Bab el-Mandab, entre o Chifre da África e o Oriente Médio, passagem estratégica entre o Mediterrâneo e o Oceano Índico, com fluxo de cerca de 4 milhões de barris/dia.
Thomas Donilon, conselheiro de segurança nacional do governo Obama tem repetido, insistentemente, que os EUA têm de “reequilibrar” a ênfase estratégica – do Oriente Médio, para a Ásia.
Assim se explica boa parte do movimento de Obama, de mandar Marines para Darwin, no norte da Austrália, movimento já analisado em outro artigo para Al Jazeera. Darwin é cidade bem próxima de outro gargalo – Jolo/Sulu, sudoeste das Filipinas.
O primeiro secretário-geral da OTAN, Lord “Pug” Ismay, cunhou o famoso mantra segundo o qual a aliança Atlântica deveria “manter os russos fora, os americanos dentro e os alemães abaixo.” Hoje, o mantra da OTAN parece ser “manter os chineses fora e os russos abaixo”.
Mas o que os movimentos do Pentágono/OTAN – todos inscritos na doutrina da Dominação de Pleno Espectro [Full Spectrum Dominance] – estão realmente fazendo é manter Rússia e China cada vez mais próximas –não apenas dentro dos BRICS mas, sobretudo, dentro da Organização de Cooperação de Xangai expandida , que rapidamente se vai convertendo, não só em bloco econômico mas, também, em bloco militar.
A doutrina da Dominação de Pleno Espectro implica centenas de bases militares e agora também de sistemas de mísseis de defesa (ainda não testados). O que também implica, crucialmente, a ameaça mãe de todas as ameaças: capacidade para lançar o primeiro ataque.
Pequim, pelo menos por hora, não tomou a expansão do Comando dos EUA na África, Africom, como ataque aos seus interesses comerciais, nem tomou o posicionamento de Marines na Austrália como ato de guerra.
Mas a Rússia – tanto no caso da expansão dos mísseis de defesa posicionados contra Europa e Turquia, como na atitude de “sem conversas” sobre o Tratado CFE, e posicionada já contra os planos da OTAN para a Síria – está-se tornando bem mais incisiva.
Esqueçam a conversa de Rússia e China, “competidores estratégicos” dos EUA, serem tímidos na defesa da própria soberania, ou dados a pôr em risco a própria segurança nacional. Alguém aí tem de avisar aqueles generais no Pentágono: Rússia e China não são, não, de modo algum, Iraque e Líbia.
Tradução: Vila Vudu
Fonte: Al- Jazeera
Para suavizar um pouco, ai está a magnífica cúpula da Catedral de Florença, obra grandiosa de Brunelleschi, com 100 metros de altura e 41 metros de diâmetro (foto RMF).Tradução: Washington deixará de informar a Rússia sobre deslocamentos de sua armada global. A estratégia de “reposicionamento” planetário do Pentágono virou segredo.
É preciso atualizar algumas informações de fundo. Esse tratado, CFE, foi assinado nos anos 1990 – quando o Pacto de Varsóvia ainda era vigente, e cabia à OTAN defender o ocidente “livre” contra o que então estava sendo pintado como um muito ameaçador Exército Vermelho.
Na Parte I, esse Tratado CFE estabelecia significativa redução no número de tanques, artilharia pesadíssima, jatos e helicópteros de guerra, e dizia também, aos dois lados, que todos teriam de nunca parar de falar do Tratado CFE.
A Parte II do Tratado CFE foi assinada em 1999, no mundo pós-URSS. A Rússia transferiu grande parte de seu arsenal para trás dos Montes Urais, e a OTAN nunca parou de avançar diretamente contra as fronteiras russas –movimento que aberta e descaradamente descumpria a promessa que George Bush-Pai fizera, pessoalmente, a Mikhail Gorbachev.
Em 2007, entra Vladimir Putin, que decide suspender a participação da Rússia no Tratado CFE, até que EUA e OTAN ratifiquem a Parte II do CFE. Washington nada fez, nada de nada; e passou quatro anos pensando sobre o que fazer. Agora, decidiu que nem falar falará (“Washington deixará de atender”, etc. etc.).
"Não se metam na Síria"
Moscou sempre soube, há anos, o que o Pentágono quer: Polônia, República Checa, Hungria, Lituânia. Mas o sonho da OTAN é completamente diferente: já delineado num encontro em Lisboa há um ano, o sonho da OTAN é converter o Mediterrâneo em “um lago da OTAN”.
Em Bruxelas, diplomatas da União Europeia confirmam, off the record, que a OTAN discutirá, numa reunião chave no início de dezembro, o que fazer para fixar uma cabeça-de-praia muito próxima da fronteira sul da Rússia, para dali turbinar a desestabilização da Síria.
Para a Rússia, qualquer intervenção ocidental na Síria é caso resolvido de "não-e-não-e-não" absoluto. A única base naval russa em todo o Mediterrâneo Ocidental está instalada no porto (sírio) de Tartus.
Não por acaso, a Rússia instalou seu sistema de mísseis de defesa aérea S-300 – dos melhores do mundo, comparável ao Patriot, dos EUA – em Tartus. E é iminente a atualização para sistema ainda mais sofisticado, o S-400.
Mais importante: pelo menos 20% do complexo industrial militar russo enfrentaria crise profunda, no caso de perder seus assíduos clientes sírios.
Em resumo, seria suicídio, para a OTAN – para nem falar em Israel – tentar atacar a Síria por mar. A inteligência russa trabalha hoje sobre a hipótese de o ataque vir via Arábia Saudita. E vários outros países também sabem, com riqueza de detalhes, dessa estratégia de “Líbia remix”, da OTAN.
Vejam o caso, por exemplo, da reunião da semana passada, em Moscou, dos vice-ministros de Relações Exteriores dos países do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Os BRICS não poderiam ter sido mais claros: esqueçam qualquer tipo de intervenção externa na Síria; disseram, exatamente que “não se deverá considerar qualquer interferência externa nos negócios da Síria, que não esteja perfeitamente conforme o que determina a Carta das Nações Unidas”. Os BRICS também condenam as sanções extras contra o Irã (são “contraproducentes”) e qualquer possibilidade de algum ataque. A única solução – para os dois casos, Síria e Irã – é negociações e diálogo. Esqueçam a conversa de um voto da Liga Árabe levar a nova resolução, do Conselho de Segurança da ONU, de “responsabilidade de proteger” (responsibility to protect - R2P). Esqueçam.
O que temos aí é um terremoto geopolítico. A diplomacia russa coordenou, com outros países BRICS, um murro tectônico na mesa: não admitiremos qualquer tipo de nova intervenção dos EUA – seja “humanitária” ou a que for – no Oriente Médio. Agora, é Pentágono/OTAN versus os BRICS.
Brasil, Índia e China estão acompanhando tão de perto quanto a Rússia, o que a França – sob o comando do neonapolêonico Libertador da Líbia, Nicolas Sarkozy – e a Turquia, os dois países membros da OTAN, estão empenhados e fazer hoje, sem qualquer limite ou contenção, contrabandeando armas e apostando em uma guerra civil na Síria, ao mesmo tempo em que tudo fazem para impedir qualquer tipo de diálogo entre o governo de Assad e a oposição síria, essa, em frangalhos.
Alerta máximo nos gargalos
Tampouco é segredo dos BRICS que a estratégia de “reposicionamento” do Pentágono implica mal disfarçada tentativa de impor, no longo prazo, uma “negativa de acesso” à marinha chinesa expedicionária [capaz de operar em alto mar], em acelerada expansão.
Agora, o “reposicionamento” na África e na Ásia tem a ver, diretamente, com os gargalos. Não surpreende que três dos gargalos mais cruciais do mapa do mundo é questão de alta segurança nacional para a China, em termos do fluxo do suprimento de petróleo.
O Estreito de Ormuz é gargalo global crucial (por ali passam 16 milhões de barris de petróleo por dia, 17% de todo o petróleo negociado no planeta, mais de 75% do petróleo exportado para a Ásia).
O Estreito de Malacca é elo crucial entre o Oceano Índico e o Mar do Sul da China e o Oceano Pacífico, a rota mais curta entre o Golfo Persa e a Ásia, com fluxo de cerca de 14 milhões de barris de petróleo/dia.
E o Bab el-Mandab, entre o Chifre da África e o Oriente Médio, passagem estratégica entre o Mediterrâneo e o Oceano Índico, com fluxo de cerca de 4 milhões de barris/dia.
Thomas Donilon, conselheiro de segurança nacional do governo Obama tem repetido, insistentemente, que os EUA têm de “reequilibrar” a ênfase estratégica – do Oriente Médio, para a Ásia.
Assim se explica boa parte do movimento de Obama, de mandar Marines para Darwin, no norte da Austrália, movimento já analisado em outro artigo para Al Jazeera. Darwin é cidade bem próxima de outro gargalo – Jolo/Sulu, sudoeste das Filipinas.
O primeiro secretário-geral da OTAN, Lord “Pug” Ismay, cunhou o famoso mantra segundo o qual a aliança Atlântica deveria “manter os russos fora, os americanos dentro e os alemães abaixo.” Hoje, o mantra da OTAN parece ser “manter os chineses fora e os russos abaixo”.
Mas o que os movimentos do Pentágono/OTAN – todos inscritos na doutrina da Dominação de Pleno Espectro [Full Spectrum Dominance] – estão realmente fazendo é manter Rússia e China cada vez mais próximas –não apenas dentro dos BRICS mas, sobretudo, dentro da Organização de Cooperação de Xangai expandida , que rapidamente se vai convertendo, não só em bloco econômico mas, também, em bloco militar.
A doutrina da Dominação de Pleno Espectro implica centenas de bases militares e agora também de sistemas de mísseis de defesa (ainda não testados). O que também implica, crucialmente, a ameaça mãe de todas as ameaças: capacidade para lançar o primeiro ataque.
Pequim, pelo menos por hora, não tomou a expansão do Comando dos EUA na África, Africom, como ataque aos seus interesses comerciais, nem tomou o posicionamento de Marines na Austrália como ato de guerra.
Mas a Rússia – tanto no caso da expansão dos mísseis de defesa posicionados contra Europa e Turquia, como na atitude de “sem conversas” sobre o Tratado CFE, e posicionada já contra os planos da OTAN para a Síria – está-se tornando bem mais incisiva.
Esqueçam a conversa de Rússia e China, “competidores estratégicos” dos EUA, serem tímidos na defesa da própria soberania, ou dados a pôr em risco a própria segurança nacional. Alguém aí tem de avisar aqueles generais no Pentágono: Rússia e China não são, não, de modo algum, Iraque e Líbia.
Tradução: Vila Vudu
Fonte: Al- Jazeera
2. Vale a pena ler
“Escola da desordem”
RAYMUNDO DE LIMA
Embora o filme seja resultado do contexto sócio-cultural dos Estados Unidos da década de 1980, tem pontos em comum com o sistema educacional do Brasil. No início de 2010, causou constrangimento na Secretaria de Educação do Paraná a denuncia de um pai sobre a alteração da nota do filho pela escola; o fato gerou debates na TV Globo... LEIA NA ÍNTEGRA: http://espacoacademico.wordpress.com/2011/11/30/escola-da-desordem/
Leia no WWW.outraspalavras.net
Esperança e realidade no Occupy Wall Street
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A miséria do “novo desenvolvimentismo”
José Luís Fiori polemiza: em busca de mais uma “terceira via”, corrente busca composições impossíveis e abandona debate sobre poder, classes e nações
Para repensar Ciência e Política
Vinte anos após seu lançamento, Mindwalk parece mais atual que nunca, ao questionar uma sociedade agora em crise aberta. Por Arlindenor Pedro
Brasil e aids: quem te viu, quem te vê
No momento em que surgem novas drogas e tratamentos contra doença, país parece perder capacidade de enfrentá-la com políticas pioneiras. Por Veriano Terto Jr. e Renata Reis
Iêmen: a revolução ignorada
ONU não se importou com assassinatos num país sem reservas petrolíferas e cujo ditador apoiava a “guerra contra o terror”. Por Monica Prieto
A nova etapa dos movimentos globais
Immanuel Wallerstein analisa: primeira fase teve êxito fantástico; diante da surdez do sistema, outra onda está se desenhando
A crise vem brava
A crise do euro começou nos países de menor importância econômica: Irlanda, Portugal e Grécia e agora atinge economias maiores como Espanha e Itália, já apontando a França como a nova bola da vez. Sobraria como país importante só a Alemanha, que ainda pensa que está imune à crise. Fato é que sua sorte depende fundamentalmente da saúde desses países em recessão no seu intercâmbio comercial e nos reflexos que poderão vir do colapso do sistema financeiro de algum desses países. O artigo é de Amir Khair.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19118&boletim_id=1067&componente_id=17063
Mudança climática: o futuro é agora
A mudança climática no Brasil ou no mundo ainda é tratada como uma questão de ambientalistas contra setores da economia em expansão, ou contra os tradicionais emissores de gases estufa, como as petrolíferas, montadoras, siderúrgicas. No país mais poderoso do mundo, ainda hoje elas controlam o debate. Levando em consideração apenas eventos extremos recentes, a partir de 2009, o inventário de tragédias no mundo é muito grande, impressionante, e não reflete a preocupação das lideranças em definir medidas para enfrentar a situação. O artigo é de Najar Tubino.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19135&boletim_id=1068&componente_id=17091
3. Informações
SEMINÁRIOS
VII Seminário Nacional do Centro de Memória "Memória, Cidade e Educaçâo das Sensibilidades" Será realizado nos dias 13, 14 e 15 de fevereiro de 2012, na UNICAMP.
todas as informações podem ser acessadas no site www.cmu.unicamp.br/viiseminário
Já se encontra no ar o site do IV Encontro Internacional de História Colonial.
http://www.ufpa.br/cma/eihc_belem/
A partir do dia 5 de dezembro (até o dia 20/12), um formulário on-line estará disponível para envio de propostas de Simpósios Temáticos, Mesas Redondas e Mini-cursos.
EDITAL CONCURSO UNILA –
5 VAGAS PARA HISTÓRIA - A Universidade Federal da Integração Latino-americana - UNILA, informa que estão abertas as inscrições para o Concurso Público de Provas e Títulos destinado a selecionar candidatos para o cargo de Professor.
São várias disciplinas e para a História são para as seguintes áreas e números de vagas:
História Pré-Colonial e Grupos Étnicos na História da América - Doutorado em História – 02 vagas
História da América e da Europa - Doutorado em História - 02 vagas
História da África e da Ásia Contemporâneas - Doutorado em História – 01 vaga
A inscrição será efetuada exclusivamente no endereço eletrônico: http://www.unila.edu.br , do dia 17 de novembro às 23h59min do dia 16 de dezembro de 2011.
Maiores informações em http://www.unila.edu.br/sites/default/files/edital_de_abertura_portugues.pdf
CHAMADA DE ARTIGOS
PERSEU: HISTÓRIA, MEMÓRIA E POLÍTICA abriu edital de chamada de artigos para seu oitavo número, que terá como dossiê “Verdade e Memória na História da Esquerda” e para o qual pedimos a atenção dos colegas bem como a sua divulgação.
Para a visualização do edital, acesse:
http://www.fpabramo.org.br/blog/revista-perseu-abre-chamada-de-artigos-para-sua-oitava-edicao
PUBLICAÇÕES
O NOVO NÚMERO DA “FÊNIX – REVISTA DE HISTÓRIA E ESTUDOS CULTURAIS” ESTÁ DISPONÍVEL NO SITE www.revistafenix.pro.br
Participe e Divulgue a Consulta Eletrônica da Campanha pelos 10% do PIB Já!
A Campanha pelos 10% do PIB está colhendo votos em todo o país, através do Plebiscito Nacional.
A campanha também está fazendo uma consulta eletrônica com o objetivo de ampliar a participação popular e de divulgar a coleta oficial de votos e dessa forma, avançar na luta pelo investimento de 10% do PIB para a Educação Pública Já!
Para participar da Consulta basta clicar neste link http://www.dezporcentoja.com.br/ e votar. Repasse para seus colegas, familiares, amigos, etc. Mas não se esqueça: a coleta de votos não terminou! Diga para esses mesmos colegas, amigos e familiares que a votação nas urnas também é fundamental para fortalecer a campanha!
SINDFAFEID - Sindicato dos Docentes.
Filiado ao ANDES/SN.
Rua da Gloria nº 187. Bairro Centro. Diamantina - MG
CEP 39100-000
Fone:(38) 3532-6000 - RAMAL (6103)
Entrevista à TV Assembléia - MG, sobre transporte e patrimônio ferroviário, que contou com a participação da ONGTrem:
http://www.almg.gov.br/acompanhe/tv_assembleia/videos/index.html?idVideo=640908 1º Bloco
http://www.almg.gov.br/acompanhe/tv_assembleia/videos/index.html?idVideo=640924 2º Bloco
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