quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Numero 243



O Boletim de hoje está, fundamentalmente, baseado em dois temas. O primeiro, algumas impressões iniciais de minha viagem ao Canadá. Deixando à parte possíveis análises sociológicas ou históricas, vou tratar de alguns temas na condição de turista. Se for possível, é claro...
O segundo tema é a eleição que ocorrerá em menos de um mês. Até agora me abstive de falar muita coisa a respeito, porque, como eu suspeitava desde o ano passado, estou confirmando a sujeira da campanha, especialmente aquela promovida pelos tucanos.
Antes que alguém me acuse de petista, comunista, dilmista ou qualquer coisa que o valha, quero deixar claro que não sou eleitor da Dilma. Muito provavelmente irei votar no Plinio, mesmo sabendo que ele não irá vencer.
Mas é irritante ao extremo ver a campanha suja que a grande mídia tem feito e que, com certeza, neste final de campanha vai se tornar pior. Haja vista essa história da violação do sigilo de pessoas do PSDB. E como a grande imprensa fala e o que ela diz se torna “a verdade”, é bom que pessoas conscientes leiam alguma coisa que pode esclarecer o porquê dessa história. Inclusive entenderem porque algumas “violações” foram feitas em Minas Gerais...
E ficarem prevenidos para o que virá, conforme nos mostra o Luiz Nassif num dos artigos que selecionei.




O Canadá é um país muito interessante. Pelo menos a pequena região que visitei, Toronto e cercanias. Fiquei na cidade de Mississauga, de 700.000 habitantes, que faz limite com Toronto (2 milhões e meio de habitantes) e com deliciosas cidadezinhas de 25, 30 mil habitantes.
Hoje vou falar da qualidade de vida a partir das edificações urbanas na cidade em que fiquei, e que pude verificar – en passant – que se repetem em várias das cidades.
As comparações são inevitáveis. Quando cheguei ao apartamento em que meu filho reside e olhei as redondezas, veio-me à mente as quadras vizinhas ao edifício onde moro em BH.
Vejam essas duas fotos
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Em cada uma das quadras foi erguido um edifício residencial com 22 andares e 15 apartamentos por andar, aproximadamente. Ou seja, 330 unidades residenciais.

Não pensem que são pocilgas urbanas, pelo contrário, a limpeza é impressionante. Todos os edifícios possuem um galpão onde os moradores devem levar – e levam, efetivamente – o lixo passível de reciclagem. Em contêineres à parte fica o lixo orgânico.

Mas observem: em volta do único edifício construído em uma quadra, um pequeno bosque. Toda a área é gramada e ostenta árvores diversas. Além disso, alguns constroem áreas de lazer para as crianças. E a poucas quadras dali existem enormes áreas de lazer para todas as idades, um verdadeiro parque.

Quero comparar isso com uma quadra que acabou de ser edificada em frente ao prédio onde moro. Vejam a diferença. Não deu para fotografar porque eu precisaria estar numa altura semelhante à do Canadá, o que não acontece. Mas a descrição vai permitir a vocês a comparação.
Nesta quadra, uma única construtora está terminando de edificar 320 unidades residenciais. Só que em OITO edifícios de 10 andares cada um e QUATRO unidades por andar. Não é necessário enfatizar que os oito edifícios ocuparam toda a quadra, um tampando o sol do outro. E não há um centímetro de grama, nem uma única árvore plantada.

Impressionante.

Essa foi a primeira impressão que tive. Nos próximos números do Boletim abordarei outras, particularmente a educação dos cidadãos e o trânsito.

Vejam agora, os artigos políticos dessa edição:


Como será a bala de prata na campanha
Luis Nassif apud WWW.novae.inf.br
Qual a bala de prata, a reportagem que será apresentada no Jornal Nacional na quinta-feira que antecederá as eleições, visando virar o jogo eleitoral, sem tempo para a verdade ser restabelecida e divulgada?
Ontem, no Sarau, conversei muito com um dos nossos convivas. Para decifrar o enigma, ele seguiu o seguinte roteiro:
1. Há tempos a velha mídia aboliu qualquer escrúpulo, qualquer limite. Então tem que ser o episódio mais ignóbil possível, aquele campeão, capaz de envergonhar a velha mídia por décadas mas fazê-la acreditar ser possível virar o jogo. Esse episódio terá que abordar fatos apenas tangenciados até agora, mas que tenham potencial de afetar a opinião pública.
2. Nas pesquisas qualitativas junto ao eleitor médio, tem sobressaído a questão da militância de Dilma Rousseff na guerrilha. Aliás, por coincidência, conversei com a Bibi que me disse, algo escandalizada, que coleguinhas tinham falado que Dilma era "bandida" e "assassina". Aqui em BH, a Sofia, neta do meu primo Oscar, disse que em sua escola - em Curitiba - as coleguinhas repetem a mesma história.
As diversas pesquisas de Ibope e Datafolha devem ter chegado a essa conclusão, de que o grande tema de impacto poderá ser a militância de Dilma na guerrilha. A insistência da Folha com a ficha falsa de Dilma e, agora, com a ficha real, no Supremo Tribunal Militar, é demonstração clara desse seu objetivo. Assim como a insistência de Serra de atropelar qualquer lógica de marketing, para ficar martelando a suposta falta de limites da campanha de Dilma – em cima de um episódio que não convenceu sequer a Lúcia Hipólito.
Aliás, o ataque perpetrado por Serra contra Lúcia – através do seu blogueiro – é demonstração cabal da importância que ele está dando à versão da falta de limites, mesmo em cima de um episódio que qualquer avaliação comezinha indicaria como esgotado.
A quebra de sigilo é apenas uma peça do jogo, preparando a jogada final.
A partir daí, meu interlocutor passou a imaginar como seria montada a cena.
Provavelmente alguém seria apresentado como ex-companheiro de guerrilha, arrependido, que, em pleno Jornal Nacional, diria que Dilma participou da morte de fulano ou beltrano. Choraria na frente da câmera, como o José Serra chora. Aí a reportagem mostraria fotos da suposta vítima, entrevistaria seus pais e se criaria o impacto.
No dia seguinte, sem horário gratuito não haveria maneiras de explicar a armação em meios de comunicação de massa.
Será um desafio do jornalismo brasileiro saber quem serão os colunistas que endossarão essa ignomínia – se realmente vier a ocorrer -, quem serão aqueles que colocarão seu nome e reputação a serviço esse lixo.
Essa loucura - que, tenho certeza, ocorrerá - será a pá de cal nesse tipo de militância de Serra e de falta de limites da mídia. Marcará a ferro e fogo todos os personagens que se envolverem nessa história. Incendiará a blogosfera. Todos os jornalistas que participarem desse jogo serão estigmatizados para sempre.
Todas essas possibilidades são meras hipóteses que parte do pressuposto da falta de limites total da velha mídia.
Mas a hipótese fecha plenamente.




Pó pará, Serra!
A via do desespero pode custar caro a Serra. Além das ações judiciais, começam a circular informações dando conta de algumas “coincidências” entre a data em que teria ocorrido a violação do sigilo fiscal de sua filha e o período da guerra surda que travou com o ex-governador de Minas, Aécio Neves.
por Marco Aurélio Weissheimer

O corregedor-geral eleitoral, ministro Aldir Passarinho Junior arquivou nesta quinta-feira a representação da coligação O Brasil Pode Mais, do candidato José Serra (PSDB), que pedia a cassação do registro da candidatura de Dilma Rousseff (PT) à presidência da República. Na representação, a coligação de Serra acusa Dilma e outras seis pessoas (o candidato ao Senado por Minas Gerais, Fernando Pimentel, os jornalistas Amaury Junior e Luiz Lanzetta, o secretário da Receita Federal Otacílio Cartaxo, e o corregedor-geral da Receita Federal, Antonio Carlos Costa D’Ávila) de “usar a Receita Federal para quebrar o sigilo fiscal de pessoas ligadas ao candidato Serra, com a intenção de prejudicá-lo em benefício da campanha da candidata Dilma”.
Como se sabe, Serra não apresentou nenhuma prova para sustentar essa grave acusação. Ou, nas palavras do ministro Aldir Passarinho Junior, não apresentou “concreta demonstração” de que a candidata Dilma Rousseff teria se beneficiado dos atos. Além disso, o ministro não reconheceu a existência de “lesividade na conduta capaz de desequilibrar a disputa eleitoral”. Os fatos narrados, destacou ainda o ministro, podem “configurar falta disciplinar e infração penal comum que devem ser apuradas em sede própria, que não é a seara eleitoral”.
Mas Serra já havia atingido seu objetivo: criar um factóide que, graças aos braços midiáticos de sua campanha, ganharam as manchetes dos grandes jornais e uma edição do Jornal Nacional de quarta-feira que, pelo seu evidente caráter manipulatório, lembrou aquela feita no famoso debate entre Lula e Collor. Em queda livre nas pesquisas, sem programa, sem discurso e mudando de linha a cada semana, o candidato José Serra partiu para o vale-tudo. Queria que o episódio ganhasse manchetes para ele usar no horário eleitoral. Conseguiu isso. Esse é, no momento, o programa que o candidato tucano tem a oferecer ao Brasil.
A estratégia desesperada pode ter o efeito totalmente inverso ao esperado. Maria Inês Nassif escreveu hoje no Valor:
“É tênue a separação entre uma acusação – a de que Dilma é a responsável pela quebra de sigilo – e a infâmia, no ouvido do eleitor. Quando a onda está contra o candidato que faz a acusação, um erro é fatal. Essa sintonia não parece que está sendo conseguida. O aumento da rejeição do candidato tucano, desde o início da propaganda eleitoral, é alarmante.”
Pior ainda: além do aumento da já crescente rejeição ao candidato tucano, o episódio pode expor a montagem de uma farsa (e de um crime) com cúmplices espalhados em várias redações brasileiras. A farsa: a campanha de Dilma teria quebrado o sigilo fiscal da filha de Serra. O crime: as acusações desprovidas de prova e fundamento dirigidas contra a pessoa da candidata. O PT anunciou hoje que decidiu entrar com duas ações judiciais contra Serra e uma contra o presidente do PSDB, Sérgio Guerra.
A primeira medida é uma representação no TSE, com base no artigo 323 do código que regula as eleições. O crime previsto é imputar fato sabidamente não praticado pelo adversário para atingir objetivos nas eleições. Neste caso, segundo José Eduardo Cardozo, secretário geral do PT, Serra e o PSDB sabem que o PT e a campanha de Dilma Rousseff não tiveram qualquer participação na quebra de sigilo de pessoas ligadas aos tucanos, mas assim mesmo fazem acusações. Além desta, o partido decidiu entrar com outra ação judicial contra José Serra por calúnia, difamação e injúria. A última medida é a representação na Procuradoria Geral da República contra Sérgio Guerra, por crime contra a honra devido às repetidas declarações de Guerra, acusando o PT e Dilma de serem os responsáveis por quebras de sigilo fiscal.
A estratégia pode custar caro a Serra. Além das ações, começaram a circular informações nesta quinta-feira, dando conta das incríveis “coincidências” entre a data em que teria ocorrido a violação do sigilo da filha de Serra e a da guerra que o ex-governador de São Paulo travou com o ex-governador de Minas, Aécio Neves. Essa guerra tem uma trama novelesca, envolvendo confusões policiais em festas, acusações de agressões, chantagens e investigações especiais realizadas pelos dois lados em disputa. Pois ambas as coisas, a quebra do sigilo com uso de procuração falsa e o ápice da guerra Serra-Aécio ocorreram no mesmo mês, setembro de 2009.
Conforme foi amplamente noticiado, o jornal Estado de Minas estaria, neste período, preparando uma “investigação especial” sobre Serra. O jornalista Amaury Ribeiro Jr., que trabalhou no Estado de Minas, anunciou o lançamento de um livro sobre os bastidores do processo de privatizações. Esse trabalho atingiria Serra e aliados. Em novembro de 2009, o blog de Juca Kfouri publicou uma nota afirmando que Aécio teria agredido a namorada em uma festa. A virulência desta guerra pode ser atestada em um inacreditável artigo de Mauro Chaves (jornalista, advogado, escritor, administrador de empresas e pintor, conforme ele mesmo se apresenta), publicado no jornal O Estado de São Paulo em 28 de fevereiro de 2009. O recado do artigo, que critica as aspirações políticas de Aécio Neves, está resumido no título “Pó Pará, governador?” A expressão aparece na última linha de modo inteiramente abrupto, como quem não quer nada:
O problema tucano, na sucessão presidencial, é que na política cabocla as ambições pessoais têm razões que a razão da fidelidade política desconhece. Agora, quando a isso se junta o sebastianismo - a volta do rei que nunca foi -, haja pressa em restaurar o trono de São João Del Rey... Só que Aécio devia refletir sobre o que disse seu grande conterrâneo João Guimarães Rosa: "Deus é paciência. O diabo é o contrário." E hoje talvez ele advertisse: Pó pará, governador?
Curiosamente, o jornal O Estado de Minas, ligado a Aécio, deu pouquíssima repercussão ao caso da filha de Serra. O mesmo ocorreu com o Correio Brasiliense. Ambos os jornais pertencem ao mesmo grupo, os Diários Associados. Ao contrário da imensa maioria dos jornalões brasileiros, não julgaram o tema relevante. Coisas da nossa brava imprensa, não é mesmo?
Nada disso importa a Serra, o homem que Pode Mais. O ex-governador de São Paulo é conhecido por isso: acredita que pode qualquer coisa. Pode? O povo brasileiro dará a resposta. E, pegando carona na expressão do articulista do Estadão, ele poderá dizer:
Pó pará, Serra!



As estradas levam a Minas
Se o responsável pela quebra do sigilo foi Amaury ou qualquer outro reporter resta a Polícia Federal investigar. Mas pelo silêncio do Jornal Estado de Minas na semana passada, estampando manchetes sobre poluição em Belo Horizonte, enquanto os jornais no resto do país noticiavam o escandalo, é de se desconfiar que as estradas da quebra do sigilo de Verônica levam a Minas Gerais.
Leia. Comente

http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1571


O livro que aloprou Serra e o PSDB
Livro desvenda tenebrosas transações de Serra, parentes, amigos e sócios. Leia a apresentação de “Porões da privataria” postada ontem no Conversa Afiada:

Os porões da privataria

Quem recebeu e quem pagou propina. Quem enriqueceu na função pública. Quem usou o poder para jogar dinheiro público na ciranda da privataria. Quem obteve perdões escandalosos de bancos públicos. Quem assistiu os parentes movimentarem milhões em paraísos fiscais. Um livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., que trabalhou nas mais importantes redações do país, tornando-se um especialista na investigação de crimes de lavagem do dinheiro, vai descrever os porões da privatização da era FHC. Seus personagens pensaram ou pilotaram o processo de venda das empresas estatais. Ou se aproveitaram do processo. Ribeiro Jr. promete mostrar, além disso, como ter parentes ou amigos no alto tucanato ajudou a construir fortunas. Entre as figuras de destaque da narrativa estão o ex-tesoureiro de campanhas de José Serra e Fernando Henrique Cardoso, Ricardo Sérgio de Oliveira, o próprio Serra e três dos seus parentes: a filha Verônica Serra, o genro Alexandre Bourgeois e o primo Gregório Marin Preciado. Todos eles, afirma, tem muito o que explicar ao Brasil.
Ribeiro Jr. vai detalhar, por exemplo, as ligações perigosas de José Serra com seu clã. A começar por seu primo Gregório Marín Preciado, casado com a prima do ex-governador Vicência Talan Marín. Além de primos, os dois foram sócios. O “Espanhol”, como é conhecido, precisa explicar onde obteve US$ 3,2 milhões para depositar em contas de uma empresa vinculada a Ricardo Sérgio de Oliveira, homem-forte do Banco do Brasil durante as privatizações dos anos 1990. E continuará relatando como funcionam as empresas offshores semeadas em paraísos fiscais do Caribe pela filha – e sócia - do ex-governador, Verônica Serra e por seu genro, Alexandre Bourgeois. Como os dois tiram vantagem das suas operações, como seu dinheiro ingressa no Brasil e de que maneira o próprio Serra teria sido beneficiado por decisões da filha.
Atrás da máxima “Siga o dinheiro!”, Ribeiro Jr perseguiu o caminho de ida e volta dos valores movimentados por políticos e empresários entre o Brasil e os paraísos fiscais do Caribe, mais especificamente as Ilhas Virgens Britânicas, descoberta por Cristóvão Colombo em 1493 e por muitos brasileiros espertos depois disso. Nestas ilhas, uma empresa equivale a uma caixa postal, as contas bancárias ocultam o nome do titular e a população de pessoas jurídicas é maior do que a de pessoas de carne e osso. Não é por acaso que todo dinheiro de origem suspeita busca refúgio nos paraísos fiscais, onde também são purificados os recursos do narcotráfico, do contrabando, do tráfico de mulheres, do terrorismo e da corrupção.
A trajetória do empresário espanhol naturalizado brasileiro Gregório Marin Preciado, ex-sócio, doador de campanha e primo do candidato do PSDB à Presidência da República mescla uma atuação no Brasil e no exterior. Ex-integrante do conselho de administração do Banco do Estado de São Paulo (Banespa), então o banco público paulista – nomeado quando Serra era secretário de planejamento do governo estadual, Preciado obteve uma redução de sua dívida no Banco do Brasil de R$ 448 milhões (1) para irrisórios R$ 4,1 milhões. Na época, Ricardo Sérgio de Oliveira era diretor da área internacional do BB e o todo-poderoso articulador das privatizações sob FHC.
Ricardo Sérgio também ajudaria o primo de Serra, representante da Iberdrola , da Espanha, a montar o consórcio Guaraniana. Sob influência do ex-tesoureiro de Serra e de FHC, mesmo sendo Preciado devedor milionário e relapso do BB, o banco também se juntaria ao Guaraniana para disputar e ganhar o leilão de três estatais do setor elétrico (2).
O que é mais inexplicável, segundo o autor, é que o primo de Serra, imerso em dívidas, tenha depositado US$ 3,2 milhões no exterior através da chamada conta Beacon Hill, no banco JP Morgan Chase, em Nova York. É o que revelam documentos inéditos obtidos dos registros da própria Beacon Hill em poder de Ribeiro Jr. E mais importante ainda é que a bolada tenha beneficiado a Franton Interprises. Coincidentemente, a mesma empresa que recebeu depósitos do ex-tesoureiro de Serra e de FHC, Ricardo Sérgio de Oliveira, de seu sócio Ronaldo de Souza e da empresa de ambos, a Consultatun. A Franton, segundo Ribeiro, pertence a Ricardo Sérgio.
A documentação da Beacon Hill levantada pelo repórter investigativo radiografa uma notável movimentação bancária nos Estados Unidos realizada pelo primo supostamente arruinado do ex-governador. Os comprovantes detalham que a dinheirama depositada pelo parente do candidato tucano à Presidência na Franton oscila de US$ 17 mil (3 de outubro de 2001) até US$ 375 mil (10 de outubro de 2002). Os lançamentos presentes na base de dados da Beacon Hill se referem a três anos. E indicam que Preciado lidou com enormes somas em dois anos eleitorais – 1998 e 2002 – e em outro pré-eleitoral – 2001. Seu período mais prolífico foi 2002, quando o primo disputou a presidência contra Lula. A soma depositada bateu em US$ 1,5 milhão.
O maior depósito do endividado primo de Serra na Beacon Hill, porém, ocorreu em 25 de setembro de 2001. Foi quando destinou à offshore Rigler o montante de US$ 404 mil. A Rigler, aberta no Uruguai, outro paraíso fiscal, pertenceria ao doleiro carioca Dario Messer, figurinha fácil desse universo de transações subterrâneas. Na operação Sexta-Feira 13, da Polícia Federal, desfechada no ano passado, o Ministério Público Federal apontou Messer como um dos autores do ilusionismo financeiro que movimentou, através de contas no exterior, US$ 20 milhões derivados de fraudes praticadas por três empresários em licitações do Ministério da Saúde.
O esquema Beacon Hill enredou vários famosos, entre eles o banqueiro Daniel Dantas. Investigada no Brasil e nos Estados Unidos, a Beacon Hill foi condenada pela justiça norte-americana, em 2004, por operar contra a lei.
Percorrendo os caminhos e descaminhos dos milhões extraídos do país para passear nos paraísos fiscais, Ribeiro Jr. constatou a prodigalidade com que o círculo mais íntimo dos cardeais tucanos abre empresas nestes édens financeiros sob as palmeiras e o sol do Caribe. Foi assim com Verônica Serra. Sócia do pai na ACP Análise da Conjuntura, firma que funcionava em São Paulo em imóvel de Gregório Preciado, Verônica começou instalando, na Flórida, a empresa Decidir.com.br, em sociedade com Verônica Dantas, irmã e sócia do banqueiro Daniel Dantas, que arrematou várias empresas nos leilões de privatização realizados na era FHC.
Financiada pelo banco Opportunity, de Dantas, a empresa possui capital de US$ 5 milhões. Logo se transfere com o nome Decidir International Limited para o escritório do Ctco Building, em Road Town, ilha de Tortola, nas Ilhas Virgens Britânicas. A Decidir do Caribe consegue trazer todo o ervanário para o Brasil ao comprar R$ 10 milhões em ações da Decidir do Brasil.com.br, que funciona no escritório da própria Verônica Serra, vice-presidente da empresa. Como se percebe, todas as empresas tem o mesmo nome. É o que Ribeiro Jr. apelida de “empresas-camaleão”. No jogo de gato e rato com quem estiver interessado em saber, de fato, o que as empresas representam e praticam é preciso apagar as pegadas. É uma das dissimulações mais corriqueiras detectada na investigação.
Não é outro o estratagema seguido pelo marido de Verônica, o empresário Alexandre Bourgeois. O genro de Serra abre a Iconexa Inc no mesmo escritório do Ctco Building, nas Ilhas Virgens Britânicas, que interna dinheiro no Brasil ao investir R$ 7,5 milhões em ações da Superbird. com.br que depois muda de nome para Iconexa S.A…Cria também a Vex capital no Ctco Building, enquanto Verônica passa a movimentar a Oltec Management no mesmo paraíso fiscal. “São empresas-ônibus”, na expressão de Ribeiro Jr., ou seja, levam dinheiro de um lado para o outro.
De modo geral, as offshores cumprem o papel de justificar perante o Banco Central e à Receita Federal a entrada de capital estrangeiro por meio da aquisição de cotas de outras empresas, geralmente de capital fechado, abertas no país. Muitas vezes, as offshores compram ações de empresas brasileiras em operações casadas na Bolsa de Valores. São frequentemente operações simuladas tendo como finalidade única internar dinheiro nas quais os procuradores dessas offshores acabam comprando ações de suas próprias empresas…Em outras ocasiões, a entrada de capital acontecia através de sucessivos aumentos de capital da empresa brasileira pela sócia cotista no Caribe, maneira de obter do BC a autorização de aporte do capital no Brasil. Um emprego alternativo das offshores é usá-las para adquirir imóveis no país.
Depois de manusear centenas de documentos, Ribeiro Jr. observa que Ricardo Sérgio, o pivô das privatizações — que articulou os consórcios usando o dinheiro do BB e do fundo de previdência dos funcionários do banco, a Previ, “no limite da irresponsabilidade” conforme foi gravado no famoso “Grampo do BNDES” – foi o pioneiro nas aventuras caribenhas entre o alto tucanato. Abriu a trilha rumo às offshores e as contas sigilosas da América Central ainda nos anos 1980. Fundou a offshore Andover, que depositaria dinheiro na Westchester, em São Paulo, que também lhe pertenceria. Hoje, através de seu sócio Ronaldo de Souza opera a Consultatun Corp e a Antar Venture Investments. Depois dele, vieram a filha e o genro de Serra, o ex-ministro das comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros (dono da offshore Montferrand Holding), o ex-diretor da Previ e braço direito de Ricardo Sérgio no episódio da privataria, João Bosco Madeiro da Costa (Beluga e Hill Trading).
Ribeiro Jr. promete outras revelações. Uma delas diz respeito a um dos maiores empresários brasileiros, suspeito de pagar propina durante o leilão das estatais, o que sempre desmentiu. Agora, porém, existe evidência, também obtida na conta Beacon Hill, do pagamento da US$ 410 mil por parte da empresa offshore Infinity Trading, pertencente ao empresário, à Franton Interprises, ligada a Ricardo Sérgio.

(1) A dívida de Preciado com o Banco do Brasil foi estimada em US$ 140 milhões, segundo declarou o próprio devedor. Esta quantia foi convertida em reais tendo-se como base a cotação cambial do período de aproximadamente R$ 3,2 por um dólar.
(2) As empresas arrematadas foram a Coelba, da Bahia, a Cosern, do Rio Grande do Norte, e a Celpe, de Pernambuco.



HÁ 188 ANOS
7 de setembro, um factóide

Por Alberto Dines em 6/9/2010
Comentário para o programa radiofônico do OI, 6/9/2010

A independência do Brasil foi proclamada no dia 7 de setembro, há 188 anos, às margens do Ipiranga, com um brado retumbante – certo ou errado? Errado. Erradíssimo. Quem garante? Os jornais da época, claro.
Quando o Brasil separou-se de Portugal havia cinco jornais em circulação – o precursor da imprensa livre, o Correio Braziliense, o chapa-branca Gazeta do Rio de Janeiro, o Revérbero Fluminense, a Idade do Ouro do Brasil da Bahia e O Espelho. Nenhum deles fala no épico episódio protagonizado por D. Pedro nas redondezas de São Paulo às margens de um riacho.
Todos os cinco periódicos eram a favor da emancipação, estavam por dentro do assunto, reproduziram os documentos e a azeda troca de cartas entre o rei D. João VI e o seu filho príncipe-regente, em agosto. Mas em matéria de datas os cinco estão mais preocupados com o 12 de outubro – quando D. Pedro seria proclamado pelo povo e assim legitimado como Imperador do Brasil.
O Sete de Setembro foi uma construção política posterior, bem posterior, e não um fato político. Para usar o jargão moderno: o Sete de Setembro foi um factóide, muito bem construído para facilitar a repercussão externa – mas um factóide.
História e jornalismo
Então nossos professores de história estavam enganados ou nos enganaram? Não propriamente. O que aconteceu foi uma desatenção da historiografia brasileira pelo jornalismo brasileiro. E esta desatenção foi em parte causada pelos preconceitos contra os principais jornalistas da época, majoritariamente maçons.
Este desencontro entre o fato e a construção do fato torna-se ainda mais significativo quando lembramos que há dois anos, em 2008, quando deveríamos lembrar os 200 anos da criação da imprensa brasileira, nossa mídia embargou a data e passou uma esponja no passado. Agora, quando identificamos alguns desajustes entre os livros de história e as coleções de periódicos, evidencia-se o crime que a nossa imprensa cometeu contra a sua própria imagem.




Reiteramos o convite para o evento Preserve 2010 - XI Seminário Nacional de Preservação e Revitalização Ferroviária, que realizaremos no Rio de Janeiro - RJ, no período de 16 a 18 de setembro corrente, na forma do folder com a programação preliminar, anexo.
No dia 16, 5a. feira, as atividades serão realizadas no Auditório do CREA-RJ - Rua Buenos Aires, 40 - Centro; no dia 17, 6a. feira, quando os participantes se dividirão em grupos temáticos, os trabalhos acontecerão no Centro Universitário Metodista Bennett - Rua Marquês de Abrantes, 55 - Flamengo (próximo à Estação Flamengo do Metrô); a manhã do sábado, dia 18, será reservada para visitas técnicas opcionais ao Sistema de Bondes de Santa Teresa ou ao Trem do Corcovado.

Além das exposições que teremos no primeiro dia, no CREA-RJ, a programação incluirá no segundo dia, no Centro Universitário Metodista Bennett, a apresentação de 24 comunicações técnicas, divididas pelos seguintes grupos temáticos (8 para cada grupo), à escolha de cada participante do Seminário:
- Grupo A - Memória - Museologia, História e Documentação
- Grupo B - Patrimônio Construído
- Grupo C - Turismo Cultural Ferroviário
Os temas e expositores das comunicações técnicas serão divulgados pela Internet até o dia 3 de setembro.
A programação, informações sobre opções de hospedagem e a ficha de inscrição on line estão disponíveis nos seguintes sites:
www.trembrasil.org.br
www.institutouniarte.org.br
www.sesef.com.br

Serão fornecidos certificados aos participantes com frequência de, no mínimo, 75% das atividades.
As inscrições são gratuitas. Reserve desde já sua vaga e faça suas opções, clicando nos links dos sites acima indicados
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Gostaria de convidá-los a participar do V Simpósio Nacional de História Cultural a realizar-se na UnB entre os dias 8 e 12 de novembro. Coordenarei, ao lado da Profa. Silvana Seabra (PUC-Minas) o Simpósio Temático 25: Interartes:Paisagens urbanas, Memória e Ethos na História, abaixo resumido. Por favor, divulguem em suas listas. A inscrição deve ser feita pelo site: http://soac.bce.unb.br/index.php/SIHC/ até o dia 19 de setembro.
Saudações universitárias,
Profa. Andréa Casa Nova Maia (História-UFRJ).
25-INTERARTES: PAISAGENS URBANAS, MEMÓRIA E ETHOS NA HISTÓRIA
PROPONENTES:
ANDRÉA CASA NOVA MAIA
(Professora da UFRJ – Doutora em História Social da Cultura pela UFF)
SILVANA SEABRA (Professora da PUC-MINAS – Doutora em Literatura Comparada pela UFMG)

O simpósio procura reunir trabalhos que contemplem o debate sobre a relação entre o(s) projeto(s) urbanístico(s) da cidade, moderna e contemporânea, e as sensibilidades que lhe são adjacentes. Se por um lado, muito tem sido discutido sobre os processos racionais de construção e de controle das metrópoles, pouco se tem debatido e produzido sobre as paisagens sensíveis que lhes acompanham. As formas da “alta cultura” e da arte canônica podem ser lugares especialmente sugestivos, mas não únicos. Os espaços de trabalho e lazer no cotidiano, as possibilidades de utilização das incontáveis intervenções na cidade, seja no patrimônio, seja em outros lugares para alguns menos relevantes que estes, podem ser fontes para a percepção aos historiadores dessas formas de sentir que são envoltas pela ordem do poder. Assim, no movimento frenético, a cidade conta com uma instauração contínua de narrativas em palimpsestos, tempos sobrepostos, memórias que podemos tratar como formas do sensível que a cidade abriga. Longe da antiga dicotomia romântica, que reduzia a cidade unicamente a um monstro, nos defrontamos hoje com outras possibilidades na medida em que várias gerações são oriundas de metrópoles e megalópoles. Se antes o indivíduo se via na cidade, hoje ele é “da” cidade, o ethos urbano se confirmou. O simpósio visa ainda discutir metodologias que possibilitem tratar as “formas do sensível” numa perspectiva interdisciplinar. Nosso objetivo é colocar pesquisadores para discutir a cidade na sua modalidade cotidiana, nas suas representações, e em especial naquelas formas mais recônditas de paisagens menos visíveis, nas artes pequenas, nos relatos miúdos, para as quais contribuem de forma conflituosa e dialógica a ordem e o sentimento. Trabalhos sobre ethos artístico na literatura, na dança, no teatro e na cultura visual em geral serão bem vindos.




informo que a Revista Espaço Acadêmico, edição nº 112, setembro de 2010, foi publicada. acesse: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/issue/current
Por favor, colabore com a divulgação da revista! Envie aos amigos, colegas e listas que participem. Permanecemos abertos às sugestões, críticas e contribuições.


A delinqüência acadêmica
por MAURÍCIO TRAGTENBERG
O tema é amplo: a relação entre a dominação e o saber, a relação entre o intelectual e a universidade como instituição dominante ligada à dominação, a universidade antipovo. A universidade está em crise. Isto ocorre porque a sociedade está em crise; através da crise da universidade é que os jovens funcionam detectando as contradições profundas do social, refletidas na universidade. A universidade não é algo tão essencial como a linguagem; ela é simplesmente uma instituição dominante ligada à dominação. Não é uma instituição neutra; é uma instituição de classe, onde as contradições de classe aparecem. Para obscurecer esses fatores ela desenvolve uma ideologia do saber neutro, científico, a neutralidade cultural e o mito de um saber “objetivo”, acima das contradições sociais... LEIA NA ÍNTEGRA: http://espacoacademico.wordpress.com/2010/09/04/a-delinquencia-academica/


Sugiro, ainda, a leitura de:

VII Colóquio de Pesquisa Sobre Instituições Escolares
por ANTONIO OZAÍ DA SILVA
Realizou-se nos dias 1, 2 e 3 de setembro, no Centro de Pós-Graduação da Uninove, São Paulo, o VII Colóquio de Pesquisa sobre Instituições Escolares. Além das várias comunicações e apresentação de pôsters, foram realizadas várias mesas-redondas. Fiz parte da mesa-redonda A Universidade e a construção da práxis contra-hegemônica, realizada no dia 02/09/2010, na companhia do Prof. Dr. Alvaro Acevedo Tarazona (Universidade Industrial de Santander – Colômbia) e Prof. Dr. Carlos Bauer (PPGE-UNINOVE). A minha fala teve como base o texto A Delinquência Acadêmica, de Maurício Tragtenberg, e Somos todos delinqüentes acadêmicos?, de minha autoria... LEIA NA ÍNTEGRA: http://antoniozai.wordpress.com/2010/09/04/vii-coloquio-de-pesquisa-sobre-instituicoes-escolares/

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