quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Numero 249














Não tem jeito...continuo devendo o final das observações sobre o Canadá... afinal, o dia 31 está ai, né?
Só peço licença para mais um comercialzinho...
É que saiu agora a versão de nosso livro Estudos de História, em volume único, para o ensino médio. Como o livro é apenas um pouco mais sintético do que a edição anterior, em 3 volumes (que continua no mercado), remeto os interessados para conhecer o livro no blog
http://colecaoestudosdehistoria.blogspot.com






Recebi, por email, este Manifesto, com mais de 1.000 assinaturas, as quais, evidentemente, não cabem neste Boletim. Transcrevi apenas as 11 iniciais, mas se alguém quiser saber de todos que assinaram é só me pedir que envio.

http://emdefesadaeducacao.wordpress.com/2010/10/15/manifesto-de-professos-universitario-em-defesa-da-educacao-publica/



MANIFESTO DE PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS EM DEFESA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA
(atualizado às 22h30, 18/10)

15/10/2010

Manifesto em Defesa da Educação Pública

Nós, professores universitários, consideramos um retrocesso as propostas
e os métodos políticos da candidatura Serra. Seu histórico como
governante preocupa todos que acreditam que os rumos do sistema
educacional e a defesa de princípios democráticos são vitais ao futuro
do país.

Sob seu governo, a Universidade de São Paulo foi invadida por policiais
armados com metralhadoras, atirando bombas de gás lacrimogêneo. Em seu
primeiro ato como governador, assinou decretos que revogavam a relativa
autonomia financeira e administrativa das Universidades estaduais
paulistas. Os salários dos professores da USP, Unicamp e Unesp vêm sendo
sistematicamente achatados, mesmo com os recordes na arrecadação de
impostos. Numa inversão da situação vigente nas últimas décadas, eles se
encontram hoje em patamares menores que a remuneração dos docentes das
Universidades federais.

Esse “choque de gestão” é ainda mais drástico no âmbito do ensino
fundamental e médio, convergindo para uma política de sucateamento da
Rede Pública. Desde 2005, São Paulo perde sistematicamente colocações no
ranking do Ideb, que avalia o ensino médio. Neste ciclo, onde se sente
mais claramente as deficiências dos anos anteriores de aprendizado, São
Paulo passou de quarto para sexto colocado.

Os salários da Rede Pública no Estado mais rico da federação são menores
que os de Tocantins, Roraima, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espírito
Santo, Acre, entre outros. Somada aos contratos precários e às condições
aviltantes de trabalho, a baixa remuneração tende a expelir desse
sistema educacional os professores qualificados e a desestimular quem
decide se manter na Rede Pública. Diante das reivindicações por melhores
condições de trabalho, Serra costuma afirmar que não passam de
manifestação de interesses corporativos e sindicais, de “tró-ló-ló” de
grupos políticos que querem desestabilizá-lo. Assim, além de evitar a
discussão acerca do conteúdo das reivindicações, desqualifica movimentos
organizados da sociedade civil, quando não os recebe com cassetetes.

Serra escolheu como Secretário da Educação Paulo Renato, ministro nos
oito anos do governo FHC. Neste período, nenhuma Escola Técnica Federal
foi construída e as existentes arruinaram-se. As universidades públicas
federais foram sucateadas ao ponto em que faltou dinheiro até mesmo para
pagar as contas de luz, como foi o caso na UFRJ. A proibição de novas
contratações gerou um déficit de 7.000 professores. Em contrapartida,
sua gestão incentivou a proliferação sem critérios de universidades
privadas. Já na Secretaria da Educação de São Paulo, Paulo Renato
transferiu, via terceirização, para grandes empresas educacionais
privadas a organização dos currículos escolares, o fornecimento de
material didático e a formação continuada de professores. O Brasil não
pode correr o risco de ter seu sistema educacional dirigido por
interesses econômicos privados.

No comando do governo federal, o PSDB inaugurou o cargo de “engavetador
geral da república”. Em São Paulo, nos últimos anos, barrou mais de
setenta pedidos de CPIs, abafando casos notórios de corrupção que estão
sendo julgados em tribunais internacionais. Sua campanha promove uma
deseducação política ao imitar práticas da extrema direita
norte-americana em que uma orquestração de boatos dissemina a difamação,
manipulando dogmas religiosos. A celebração bonapartista de sua pessoa,
em detrimento das forças políticas, só encontra paralelo na campanha de
1989, de Fernando Collor.

Antonio Candido, USP

Alfredo Bosi, USP

Fábio Konder Comparato, USP

Joel Birman, UFRJ

Carlos Nelson Coutinho, UFRJ

Otávio Velho, UFRJ

Marilena Chaui, USP

Walnice Nogueira Galvão, USP

Renato Ortiz, Unicamp

Laymert Garcia dos Santos, Unicamp

Dermeval Saviani, Unicamp





SERRA & DOM BERGONZINI: UM ENREDO PARA GABRIEL GARCIA MÁRQUEZ.
(do site WWW.cartamaior.com.br)

Dom Bergonzini, bispo da extrema direita num país latinoamericano, encomenda 20 milhões de panfletos que simulam a chancela da Igreja católica para atacar e caluniar a candidata da esquerda nas eleições presidenciais. Um lote do material é descoberto na gráfica da irmã do coordenador da campanha adversária, encabeçada por um falso carola, um papa hostia de ocasião, apoiado pelos endinheirados e conservadores, cuja hipocrisia explode na figura da esposa, uma bailarina que fez aborto e acusa a adversária do marido de ser ' a favor de matar as criancinhas’. A imprensa sem escrúpulos resiste em perguntar:

--De onde veio o dinheiro, Dom Bergonzini?

Tampouco cogita indagar se o bispo e os donos da gráfica tem contato com outro personagem obscuro, um certo Paulo Preto -- que o candidato da hipocrisia conservadora chama de 'Paulo afro-descendente'. Apontado como o caixa 2 da campanha da direita, Paulo desviou R$ 4 milhões, mas guarda segredos e faz ameaças, obrigando o líder a ir aos jornais para declará-lo um cidadão acima de qualquer suspeita.

Leia outras perguntas silenciadas:

1- Desde quando o bispo de Guarulhos tem dinheiro para imprimir 20 milhões de panfletos apócrifos?
2- Quem paga as gráficas?
3- De onde veio o dinheiro?
4- Em que conta da diocese ele foi depositado?
5- Quem orientou o texto a falsear a chancela da CNBB?
6- Dom Bergonzini conhece 'Paulo Preto', o homem acusado de sumir com R$ 4 milhões do caixa 2 da campanha de Serra -- que guarda segredos com força suficiente para obrigarem Serra a tratá-lo, alternadamente, num dia como 'factóide' e no outro, como 'competente e inocente' -- tudo isso num hiato de apenas 12 horas depois que Paulo Preto ameaçou Serra na Folha dizendo:' não se abandona um líder ferido na estrada; não cometam esse erro'.
7- Quem, afinal, está abastecendo o caixa da diocese de Guarulhos para transformá-la num bunker eleitoral anti-Dilma?

Com a palavra, a operosa Polícia Federal de SP e a não menos operosa vice-procuradora do TSE, Sandra Cureau.


Carta aberta à CNBB: crime eleitoral
Em carta à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Marcelo Zelic, vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais-SP e membro da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, pede ação efetiva da entidade para coibir a produção e divulgação de panfletos falsos, como os que foram flagrados em uma gráfica em SP por encomenda do Bispo Diocesano de Guarulhos. A falsificação de panfletos em nome da CNBB é um fato extremamente grave que exige uma resposta firme dos bispos brasileiros.
Redação (WWW.cartamaior.com.br)
Carta Aberta à CNBB.

São Paulo 17 de outubro de 2010.

Como membro da CJP-SP fui chamado pelo Deputado Estadual Adriano Diogo a registrar o flagrante de crime eleitoral na Editora Gráfica Pana LTDA, que foi contratada pelo Bispo Diocesano de Guarulhos para reproduzir 2,1 milhões de panfletos falsos da CNBB e estava para distribuir, ontem, pelo país 1,1 milhão de cópias do material e fiz estes registros, por ter ciência da orientação de nossa Comissão Brasileira de Justiça e Paz a partir do documento que li, recebido dias atrás sobre a falsificação de panfleto em nome da CNBB.

A encomenda foi realizada a pedido Mitra Diocesana de Guarulhos conforme imagens abaixo, a saber: email de encomenda, cópia do boleto bancário e carta de Dom Luiz Gonzaga Bergonzini ao Pe. Jean Rogers Rodrigo de Souza, solicitando distribuição, que encaminho também anexo para divulgação, uma vez que constituem a documentação probatória da encomenda e do crime eleitoral praticado.

A gráfica iria entregar 2,1 milhões de panfletos, cuja informação fornecida pelo gerente da empresa pego em flagrante, pode variar em sua tiragem de 20 a 50 milhões. Foram apreendidos somente 1 milhão dos panfletos falsos, cuja liminar de apreensão já foi expedida pelo juiz responsável. Isso significa que muitos panfletos podem ter sido feitos em outras gráficas e continuarão a ser distribuído pelo país, caso não haja uma ação efetiva da CNBB.

Penso que nossos Bispos devam considerar, dada a gravidade dos fatos, encaminhar a Nota de Esclarecimento elabora no encontro de Itaici, para ser lida em todas as paróquias, em todas as missas do próximo domingo, sua publicação no Jornal O São Paulo e demais revistas e jornais católicos, bem como a leitura nas Tvs e rádios da igreja, buscando por fim ao assunto.

Recomendo esta atitude para nossos pastores reunidos em Itaici, entendendo ser este um gesto que favorecerá a distensão dos mal-entendidos provocados, visando o amplo esclarecimento dos fiéis que receberam tal documento apócrifo e criminoso, sobre a real posição de nossos bispos do Regional 1 e da CNBB, contribuindo desta forma para serenarmos os conflitos gerados entre os católicos, reafirmando a integridade da CNBB e reforçando a cidadania, a democracia e a livre escolha de todos os brasileiros, tão atingidas com esta manifestação difamatória, que desvirtua o foco do debate que interessa à nação e o sentido das eleições de 2010.

A cizânia que a calúnia, as ofensas e as mentiras imputadas geram entre aos cristãos, por ações como está promovida pelo Bispo Diocesano de Guarulhos, estão explicitadas de forma dramática nos fatos que ocorreram hoje em Canindé, no Ceará, onde a missa acabou em TUMULTO, uma vez que o padre corretamente, informou aos presentes que o documento que estava sendo distribuído na missa era falso e acabou sendo atacado por um político, durante a celebração. Pergunto aos nossos Bispos da CNBB; quando na igreja uma missa tão tradicional como a de Canindé, acabou desta maneira? Os fatos demonstram a gravidade do momento e a tentativa de aparelhamento do sentimento religioso em nosso país, conforme nota publicada pla CNBB.

Faz-nos refletir a justeza das palavras da candidata Dilma Rousseff, divulgadas na imprensa recentemente, sobre a campanha de ódio que estas ações subterrâneas estão gerando nos corações e mentes dos brasileiros por todo nosso país. Isso pode ficar mais grave ainda, se não for feita uma ampla campanha de esclarecimento junto aos fiéis. A CNBB e o país tem muito a perder com isso. É preciso por um basta a esta campanha baseada na mentira, na calúnia, na difamação!

Só a Verdade nos libertará.

Atenciosamente:
Marcelo Zelic
Vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais-SP e membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo
Coordenador do Projeto Armazém Memória



Enviado por luisnassif, seg, 18/10/2010 - 00:33
Por Ricardo Carneiro
O VOTO DO NORDESTE: para além do preconceito
Tânia Bacelar de Araujo*

A ampla vantagem da candidata Dilma Rousseff no primeiro turno no Nordeste reacende o
preconceito de parte de nossas elites e da grande mídia face às camadas mais pobres da
sociedade brasileira e em especial face ao voto dos nordestinos. Como se a população mais
pobre não fosse capaz de compreender a vida política e nela atuar em favor de seus
interesses e em defesa de seus direitos. Não "soubesse" votar.
Desta vez, a correlação com os programas de proteção social, em especial o "Bolsa
Família" serviu de lastro para essas análises parciais e eivadas de preconceito. E como a
maior parte da população pobre do país está no Nordeste, no Norte e nas periferias das
grandes cidades (vale lembrar que o Sudeste abriga 25% das famílias atendidas pelo "Bolsa
Família"), os "grotões"- como nos tratam tais analistas ? teriam avermelhado. Mas os
beneficiários destes Programas no Nordeste não são suficientemente numerosos para
responder pelos percentuais elevados obtidos por Dilma no primeiro turno : mais de 2/3 dos
votos no MA, PI e CE, mais de 50% nos demais estados, e cerca de 60% no total ( contra
20% dados a Serra).
A visão simplista e preconceituosa não consegue dar conta do que se passou nesta região
nos anos recentes e que explica a tendência do voto para Governadores, parlamentares e
candidatos a Presidente no Nordeste.
A marca importante do Governo Lula foi a retomada gradual de políticas nacionais,
valendo destacar que elas foram um dos principais focos do desmonte do Estado nos anos
90. Muitas tiveram como norte o combate às desigualdades sociais e regionais do Brasil. E
isso é bom para o Nordeste.
Por outro lado, ao invés da opção estratégica pela "inserção competitiva" do Brasil na
globalização - que concentra investimentos nas regiões já mais estruturadas e dinâmicas e
que marcou os dois governos do PSDB -, os Governos de Lula optaram pela integração
nacional ao fundar a estratégia de crescimento na produção e consumo de massa, o que
favoreceu enormemente o Nordeste. Na inserção competitiva, o Nordeste era visto apenas
por alguns "clusters" (turismo, fruticultura irrigada, agronegócio graneleiro...) enquanto
nos anos recentes a maioria dos seus segmentos produtivos se dinamizaram, fazendo a
região ser revisitada pelos empreendedores nacionais e internacionais.
Por seu turno, a estratégia de atacar pelo lado da demanda, com políticas sociais, política de
reajuste real elevado do salário mínimo e a de ampliação significativa do crédito, teve
impacto muito positivo no Nordeste. A região liderou - junto com o Norte - as vendas no
comercio varejista do país entre 2003 e 2009. E o dinamismo do consumo atraiu
investimentos para a região. Redes de supermercados, grandes magazines, indústrias
alimentares e de bebidas, entre outros, expandiram sua presença no Nordeste ao mesmo
tempo em que as pequenas e medias empresas locais ampliavam sua produção.
Além disso, mudanças nas políticas da Petrobras influíram muito na dinâmica econômica
regional como a decisão de investir em novas refinarias (uma em construção e mais duas
previstas) e em patrocinar - via suas compras - a retomada da indústria naval brasileira, o
que levou o Nordeste a captar vários estaleiros.
Igualmente importante foi a política de ampliação dos investimentos em infra-estrutura -
foco principal do PAC - que beneficiou o Nordeste com recursos que somados tem peso no
total dos investimentos previstos superior a participação do Nordeste na economia nacional.
No seu rastro,a construção civil "bombou" na região.
A política de ampliação das Universidades Federais e de expansão da rede de ensino
profissional também atingiu favoravelmente o Nordeste, em especial cidades médias de seu
interior. Merece destaque ainda a ampliação dos investimentos em C&T que trouxe para
Universidades do Nordeste a liderança de Institutos Nacionais ? antes fortemente
concentrados no Sudeste - dentre os quais se destaca o Instituto de Fármacos ( na UFPE) e
o Instituto de Neurociências instalado na região metropolitana de Natal sob a liderança do
cientista brasileiro Miguel Nicolelis que organizará uma verdadeira ?cidade da ciência?
num dos municípios mais pobres do RN ( Macaíba).
Igualmente importante foi quebrar o mito de que a agricultura familiar era inviável. O
PRONAF mais que sextuplicou seus investimentos entre 2002 e 2010 e outros programas e
instrumentos de política foram criados ( seguro ? safra , Programa de Compra de
Alimentos, estimulo a compras locais pela Merenda Escolar, entre outros) e o recente
Censo Agropecuário mostrou que a agropecuária de base familiar gera 3 em cada 4
empregos rurais do país e responde por quase 40% do valor da produção agrícola nacional.
E o Nordeste se beneficiou muito desta política, pois abriga 43% da população
economicamente ativa do setor agrícola brasileiro.
Resultado: o Nordeste liderou o crescimento do emprego formal no país com 5,9% de
crescimento ao ano entre 2003 e 2009, taxa superior a de 5,4% registrada para o Brasil
como um todo, e aos 5,2% do Sudeste, segundo dados da RAIS.
Daí a ampla aprovação do Governo Lula em todos os Estados e nas diversas camadas da
sociedade nordestina se refletir na acolhida a Dilma. Não é o voto da submissão - como
antes - da desinformação, ou da ignorância. É o voto da auto- confiança recuperada, do
reconhecimento do correto direcionamento de políticas estratégicas e da esperança na
consolidação de avanços alcançados - alguns ainda incipientes e outros insuficientes. É o
voto na aposta de que o Nordeste não é só miséria (e, portanto, "Bolsa Família"), mas uma
região plena de potencialidades.

*Tânia Bacelar de Araujo é especialista em desenvolvimento regional, economista,
socióloga e professora do Departamento de Economia da UFPE (Universidade Federal de
Pernambuco).



Luciana Macedo me encaminhou esta carta de uma doutoranda da UFMG:

Pessoas queridas,

eu não costumo enviar este tipo de email, mas estou tão tocada com estas eleições que não pude me conter.

Certamente o Brasil de Lula e Dilma não é o país dos nossos sonhos, mas o pesadelo que prenuncia a candidatura FHC/Serra é por demais assustador.

Queria citar três experiências pessoais que me levam a dizer isto.

Em 1997, quando eu estudava na Escola Técnica Federal de Goiás, uma escola reconhecida por sua excelência no ensino e na formação tal como as diversas escolas técnicas federais espalhadas pelo país naquela época, o Presidente FHC fez o decreto 2208. O decreto era um golpe à estrutura das escolas técnicas federais por separar o ensino médio do técnico, um dos fatores centrais da qualidade de educação nestes centros. Para mim foi um momento muito marcante pois eu começava minha militância no movimento estudantil e compartilhei com muitos colegas e professores o drama da implementação do decreto que passou por cima de experiências riquíssimas de ensino concomitante entre o científico e o técnico que formava centenas de jovens capacitados para a sociedade brasileira. O governo obedecia na época uma diretriz do Banco Mundial para a educação, a de formar mão de obra direcionada para as demandas do mercado, restringindo a formação destes jovens e inclusive sua empregabilidade futura em outras áreas dada a especificidade da formação. Com o governo Lula o decreto foi revertido, a maioria das escolas técnicas foram transformadas em centros de formação tecnológica de nível médio e superior, equipadas e reestruturadas e uma série de novas unidades foram criadas por todo o país. Isso sem falar na geração de emprego que triplicou, dando oportunidade aos que se formavam e nas 14 universidades federais criadas por Lula contra nenhuma criada por FHC dando a chance do prosseguimento nos estudos.

Uma outra experiência pessoal e que tem relação com esta campanha foi a minha estada em 2008 em Portugal quando realizava uma parte do meu doutorado. Na época acompanhei de perto um rico processo em que um dos países mais católicos do mundo aprovou a Lei da Interrupção Voluntária da Gravidez, ou o aborto. Foi uma campanha linda da sociedade civil com mobilização, debate e exercício democrático da opinião através de referendum que legitimou a lei. Estou estupefata com o uso político que se tem dado a esta questão nas eleições no Brasil por um casal absolutamente hipócrita, o Sr. Serra e sua esposa, que são a favor do aborto, inclusive por já terem optado pela realização de um, segundo relatos de uma das alunas da esposa do Serra. Esta mesma senhora usou frases chulas como: contra uma candidata que desde o início falava nas entrevistas que tratava o aborto como uma questão de saúde pública, independente de sua posição pessoal. Eu pessoalmente sou a favor do aborto e acho que esta campanha oportunista em si já representa um atraso para esta temática no Brasil. Eu quero educar as minhas filhas para um mundo em que elas tenham liberdade para decidir sobre suas convicções religiosas e pessoais e expressá-las livres de constrangimentos morais oportunos e completamente atrasados. Quero para minhas filhas inclusive um país em que a interrupção voluntária de uma gravidez não seja crime, mas um direito da mulher. Mas isto nunca foi assim defendido por Dilma, como alegam os boatos, até porque o programa que ela representa não é da cabeça dela mas fruto de um conjunto de acúmulos possíveis nas últimas décadas pós-redemocratização.

Uma terceira e última experiência que gostaria de relatar - teria outras mais em vários temas - é a do papel do governo Lula no cenário internacional. Principalmente na parte Sul do mundo. Eu estou neste momento em fase de conclusão da minha tese de doutorado na UFMG em que estudo os movimentos contra-hegemonicos no sul global, especialmente o fórum social mundial e sua ocorrência no Brasil, na Índia e no Quênia. Devido às minhas atividades internacionais tive a oportunidade de estar nos últimos anos pelo menos 5 vezes na África. Primeiro é impressionante quão profundas e urgentes são as demandas daquele povo em todos os quesitos, desde comida, saneamento e remédios à estruturas políticas mínimas para o exercício da expressão popular e de governos livres do constrangimento pós-colonial. O presidente Lula esteve em absolutamente todos os países da África, em vários foi a primeira vez que um presidente brasileiro e até latino-americano colocava os pés. Vocês imaginam o Serra indo ao Chad, ao Togo, à Eritrea ou ao Mali? O presidente Lula inverteu o eixo das relações exteriores brasileiras do norte para o sul. Muitas das relações estabelecidas são unilaterais, de apoio brasileiro às demandas dos povos destes países e não atendendo à demandas de comércio exterior brasileiro como pregava o pensamento anterior. Na minha última viagem à África do Sul, a ministra de relações exteriores pegou na minha mão e me disse olhando nos olhos: vocês precisam eleger a sucessora de Lula, pela África.

Eu não conheço a Dilma pessoalmente, não posso opinar sobre seu temperamento ou personalidade, mas eu acredito que a política é feita de acúmulos produzidos por coletivos humanos e ela faz parte de um. Ela é a continuidade de um processo ainda precário, mas que representou inúmeros avanços para a população brasileira nos últimos anos.

Eu quero fortemente que minhas filhas vivam em um país que respeite o passado heróico dos que lutaram contra a ditadura, um país livre da homofobia e que respeite os direitos dos homossexuais, um país em que o aborto não seja um crime mas um direito de cada mulher à decisão sobre seu corpo e sua vida, um país em que a luta contra a miséria não seja desdenhada mas humanizada, um país em que a liberdade de imprensa não seja usurpada mas democratizada, um país em que boatos, campanhas difamatórias e desonestidade intelectual não sejam a base da candidatura de um concorrente ao mais alto posto do nosso país. Por isso eu voto Dilma.

Ana Maria Prestes Rabelo
estudante do doutorado em ciencia política na UFMG



(Um alerta para quem não conhece o autor deste artigo: ele NÃO É petista, viu???)

Fonte: www.viomundo.com.br

SIMILITUDES

Antonio DELFIM NETTO, na CartaCapital, 20/10/2010, reproduzido na redecastorphoto

Qualquer semelhança entre a agressão da mídia no Brasil aos programas de Lula e as reações da mídia nos EUA ao New Deal, nos anos 30, não é só coincidência
Em abril de 2008, escrevi um comentário comparando o PAC e o Fome Zero do governo Lula aos programas de obras públicas e de combate ao desemprego sob o guarda-chuva do New Deal de FD Roosevelt, o presidente que conseguiu tirar a economia americana da Grande Depressão produzida a partir da quebra da Bolsa de NY, em outubro de 1929.Três quartos de século separam essas experiências: na primeira metade da década 1930-1940, os EUA e o mundo mergulharam numa crise sem precedentes.
Quando Roosevelt tomou posse, em 1933, para seu primeiro mandato, o PIB americano havia sido reduzido a praticamente a metade (56,4 bilhões de dólares) do que era em 1929 (103 bilhões de dólares).
Apesar da tragédia do desemprego, que chegava a 30% da força de trabalho, os EUA eram uma nação próspera. Havia muita riqueza e uma boa parte da sociedade afluente aceitava o desemprego como contingência natural numa economia de mercado. A melhor coisa que os governos deviam fazer era ficar fora disso.
Roosevelt surpreendeu, já no discurso de posse, anunciando o fim da era da indiferença: “Temos 15 milhões de sujeitos passando fome e nós vamos dar de comer a eles. O governo entende que é sua obrigação providenciar trabalho para que eles mesmos voltem a sustentar suas famílias.”
Para escândalo de muitos, seu governo pôs em marcha dois enormes programas, nunca antes tentados naquele país, de amparo ao trabalho e combate à miséria, com investimentos públicos em obras, cuja principal prioridade era absorver mão de obra (uma espécie de PAC). O empreendimento-símbolo foi a criação da TVA (Tennessee Valley Authority), que construiu barragens para a produção de energia e gerenciou os projetos de irrigação para a produção de alimentos.
Esses programas sofreram pesado bombardeio da oposição conservadora, que, a título de defender a livre iniciativa, esconjurava a intervenção estatal no setor privado, porque interferia na oferta e procura de mão de obra, desvirtuando o funcionamento do mercado de trabalho… Um dado interessante é que os ataques da mídia republicana evitavam agredir o presidente (e seus altos níveis de popularidade), concentrando toda a fúria contra a figura de Harry Hopkins, principal mentor dos programas de amparo ao trabalhador e gerente de obras públicas, qualificado de “perigoso socialista”. Qualquer semelhança com as agressões midiáticas recentes aos programas Fome Zero, Luz para Todos e ao PAC não é simples coincidência…
Hoje, ninguém duvida que o New Deal foi decisivo para a reconstrução da confiança dos americanos nos fundamentos do regime de economia de mercado. Suas ações ajudaram a salvar o capitalismo, na medida em que os milhões de trabalhadores que recuperaram os empregos voltaram “a acreditar na vontade e na capacidade do governo de intervir na economia para proporcionar uma igualdade mais substancial de oportunidades” (FDR numa de suas falas no rádio, Conversa ao Pé do Fogo).
O fato é que o PIB americano cresceu durante o primeiro e segundo mandatos e, em 1940, havia recuperado o nível que perdera desde o início da grande crise, medindo 101,4 bilhões de dólares. Roosevelt completou um terceiro mandato presidencial e ainda foi eleito (no fim da Segunda Guerra Mundial), para um quarto mandato, mas faleceu antes de exercê-lo.
Quando Lula assumiu o primeiro mandato, em 2002, a economia brasileira não estava na situação desesperadora da americana em 1933, mas contabilizava algo como 12% de desemprego da população economicamente ativa e vinha de um período de 20 anos de medíocre crescimento, com a renda per capita praticamente estagnada. Seu governo pôs em prática os programas de combate à fome que prometera no prólogo de sua Carta aos Brasileiros e posteriormente o PAC, que soma o investimento público e obras privadas, com foco na recuperação da desgastada infraestrutura de transportes, da matriz energética e na indústria da habitação. Setores de grande demanda de mão de obra e de promoção do desenvolvimento.
Oito anos depois (e 15 milhões de empregos a mais), os resultados são visíveis: queda acentuada das taxas do desemprego (para menos de 7% da população economicamente ativa), crescimento da renda e dos níveis de consumo da população, recuperação da autoestima do trabalhador e uma sociedade que adquiriu condições de oferecer substancial melhora na distribuição de oportunidades. Isso, tendo atravessado a segunda pior crise da economia mundial dos últimos 80 anos, com o PIB crescendo em 2010 acima de 7%.



Saindo um pouco do tema segundo turno, reproduzo duas matérias do Observatório da Imprensa. Brilhantes!

Falta análise nas reportagens
Por Mauro Malin em 19/10/2010

Como se sabe, um dos desafios postos hoje para jornais e revistas, a "velha" mídia, é oferecer não apenas a simples descrição dos fatos, tal como apurados pelos repórteres, mas também mais análises. A descrição é indispensável, mas cada vez menos suficiente porque o fato chega ao conhecimento do leitor, de uma maneira ou de outra, com uma instantaneidade que os periódicos convencionais nem sonham em alcançar.

A análise credenciada se tornou tanto mais importante na medida em que a internet, em seus 15 anos de existência no Brasil, foi deixando de ser basicamente uma plataforma de diálogo solidário, colaborativo, atributo que felizmente não perdeu, e se tornou também canal de facciosismo e de espírito de manada. Para não falar em agressividade, calúnia, injúria e difamação; o que a internet revela sobre a alma e a mentalidade de alguns internautas é constrangedor, quando não dá calafrios.

Os repórteres foram treinados, até aqui, para sobretudo se aterem aos fatos (o que já não é pouca coisa). Será necessária, possivelmente, uma revisão cultural nas redações, para que uma dose maior de análise seja incorporada à própria descrição factual. Não apenas a análise ao lado da matéria, num box, mas a análise integrada à reportagem. O treinamento dos jornalistas precisa ser modulado para fazer face a essa necessidade. Com cuidado, porque o risco de se cair no opinionismo é grande.

Outro terreno que precisa ser revisto é o da exagerada dependência de numerologia. As redações continuam viciadas. Precisam se desintoxicar.

Professores neuróticos

Duas reportagens recentes da Folha de S.Paulo ‒ que poderiam ter saído em qualquer outro grande jornal e são avaliadas aqui apenas em caráter exemplificativo ‒ mostram isso. São matérias que partem de números e não vão muito além deles.

A primeira, de 11 de outubro, foi publicada no caderno "Cotidiano" sob o título "SP dá 92 licenças por dia para docente com problema emocional". Subtítulo, ou, como se diz no jargão, linha fina: "De janeiro a julho, estado teve 19.500 afastamentos de professores com depressão e estresse". E há ainda um "olho" que antecede o início da reportagem: "Número corresponde a 70% do que foi dado em todo o ano passado; problema leva docentes a ‘explodirem’ em sala".

O texto trabalha com cases de São Paulo e do Rio e vem ilustrado com foto de uma professora que não pretende pisar nunca mais numa sala de aula. O que não se fica sabendo, entretanto, é algo a respeito do mundo de problemas que estão por trás dos colapsos nervosos de professores. A única pista vem minguada, rala:

"Relatos de professores à Folha mostram que a bagunça da sala, somada às vezes a problemas pessoais, leva a reações como batidas de apagadores, gritos, xingamentos e até violência física. Atos que acabam afastando muitos docentes das aulas."

Crianças "endiabradas"

Convenhamos: bagunça na sala de aula é pouco para fazer um professor perder as estribeiras. É um fenômeno mais velho do que a Sé de Braga. Só não há em colégios onde vigora disciplina militar, se é que eles ainda existem. Não justifica o que a matéria, curiosamente, descreve como "sintomas de um distúrbio chamado histeria". O nervo da questão não é mencionado: o formato da escola não convence mais os estudantes, não responde mais às necessidades deles. Entre outras razões, pela facilidade com que têm acesso a informações, de boa ou duvidosa qualidade.
A irreverência cresce em proporção ao sentimento de inutilidade da faina escolar. Muitos professores não têm treinamento em didática porque isso não é objeto de atenção na universidade. Há escolas em áreas altamente problemáticas, onde é arriscado entrar, ficar e sair. Muitos diretores não se empenham em manter padrões mínimos de qualidade do ensino, aprendizagem, convivência, urbanidade.

A explicação dos "problemas pessoais" não leva a lugar nenhum. Quem não os tem? Quem pode dizer que eles nunca interferiram em sua atividade profissional?

Uma nota pitoresca. A reportagem diz que "Daniela [nome fictício], 40, também não quer mais voltar. Ela tirou uma licença de 90 dias depois de ‘explodir’ na sala de aula e gritar com os alunos. Foi socorrida por colegas. Docente do 3º ano fundamental (alunos com oito anos), diz ter sido ameaçada e agredida pelo estudantes". Ora, como é que alunos com oito anos de idade podem "ameaçar e agredir" uma professora? Parece filme de terror, com crianças "endiabradas". Será que os ex-aluninhos de Daniela estão com essa bola toda?

Notícia seria o contrário

A outra reportagem também mergulha na numerologia e, quando sai do outro lado, constata-se que não disse rigorosamente nada. É do dia 14 de outubro, caderno "Poder", e tem os seguintes título e complemento: "Tiririca é o mais votado nos presídios de SP. Ele foi notificado por ação que o acusa de ter falsificado documento entregue ao STF".

Aqui, para começar, temos um caso típico em que o autor do título forçou a barra porque uma informação não tem qualquer relação com a outra. São duas matérias diferentes que alguém resolveu unificar. Ou será que o nobre redator quis dar a entender que Tiririca, por ter sido acusado de falsificação, deveria estar preso à espera de julgamento? Ou então, em outra vertente, que o fato de ter sido o "mais votado" (com 122 votos num universo de 1.464 eleitores, diga-se de passagem) é explicado pela acusação de falsificação?

É o caso de se perguntar: Tiririca foi o mais votado; e daí? Por que os presos provisórios habilitados a votar teriam comportamento diferente de seus concidadãos paulistas em liberdade que deram 1,3 milhão de votos ao candidato puxador de votos? Notícia mesmo, segundo os manuais de redação, seria exatamente o contrário: "Tiririca não foi o mais votado nos presídios", o que faria suspeitar de um nível de consciência diferenciado entre os que andam vendo o sol nascer quadrado.

Mudança cultural

Fato interessante aparece quase no pé da matéria: "O candidato a deputado federal Ney Santos (PSC), que foi acusado pela polícia de ligação com a facção criminosa PCC, conseguiu apenas dois votos nos presídios (e 40.319 votos fora deles; o Partido Social Cristão de São Paulo elegeu Marco Antônio Feliciano, com 211.855 votos, e Marcelo Theodoro de Aguiar, com 98.842 votos)".
A matéria sobre a votação de Tiririca nos presídios também esteve em destaque no serviço "Eleições 2010" do portal UOL. Ela contém toda a numerologia dos resultados produzidos por esses 1.464 votantes: presidente, governador, senador, alguns candidatos a deputado federal e outros a deputado estadual. Não chega a conclusão alguma, não contém nenhuma análise.
Sem querer desmerecer o trabalho que deu fazer essa matéria, o retrato superficial só reforça a tese de que a mudança cultural que vai garantir a saúde futura dos jornais e revistas mal começou – e precisa avançar com velocidade.


CASO MARIA RITA KEHL
Liberdade de imprensa, direito da cidadania
Por Dalmo de Abreu Dallari em 19/10/2010

A liberdade de imprensa é um dos valores fundamentais da democracia e não deve ser confundida com liberdade de empresa sem compromisso com a cidadania. Na realidade, a liberdade de imprensa é um direito dos cidadãos, que devem ter na imprensa uma fonte de informações verdadeiras e um veículo de manifestação livre do pensamento. Isso está expresso na Constituição brasileira, que no artigo 220 estabelece que nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística, dispondo também que é vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística. É importante notar que o mesmo dispositivo constitucional contém a garantia da liberdade e a proibição da censura, normas que se conjugam e se complementam, não havendo como conciliar a prática da censura com o exercício da liberdade.

Não é preciso dizer mais do que isso para que fique evidente que é absolutamente contraditório, e manifestamente inconstitucional, um órgão de imprensa exigir que seja garantido o seu direito à liberdade ao mesmo tempo em que ele próprio faz uma retaliação com evidente caráter de censura política e ideológica. Note-se que a Constituição veda toda e qualquer censura de natureza política, ideológica ou artística, seja quem for o censor.

Se a liberdade de imprensa é indispensável para assegurar aos órgãos de imprensa a liberdade de informar e de dar publicidade a manifestações de pensamento, é também indispensável que os órgãos da imprensa livre não ocultem ou distorçam os fatos relevantes que sejam verdadeiros, nem atuem como censores, impedindo as manifestações de pensamento que não forem de seu agrado e excluindo ou procurando marginalizar os que contrariem suas convicções e conveniências.

Censura inexistente

Essas observações são necessárias e oportunas para que seja de amplo conhecimento público que uma dessas contradições está ocorrendo agora no Brasil, envolvendo um tradicional órgão de imprensa e atingindo uma notável figura de intelectual, vítima de censura e retaliação por expressar verdades e convicções que não são do agrado de alguns editores. O que torna ainda mais chocantes os fatos é que os dirigentes do grande jornal, ao mesmo tempo em que posam de vítimas de uma censura, na realidade inexistente, agem como censores rigorosos e intolerantes e punem um "delito de opinião".

O jornal em questão é O Estado de S.Paulo, que vem publicando diariamente uma nota informando há quantos dias ele está sob censura, chegando agora a mais de 400 dias. Na realidade, não existe qualquer fato ou informação que ele, particularmente, esteja proibido de publicar por força de uma decisão judicial ou de imposição de alguma autoridade. Não há, portanto, qualquer censura limitando a liberdade de informação e expressão desse jornal. Ele vem usando a liberdade de imprensa, que lhe está plenamente assegurada, para divulgar diariamente, há muitos meses, uma informação que não é verdadeira.

Direito e privilégio

Como é já de amplo conhecimento público, e vem sendo motivo de indignação das pessoas que desejam e defendem a liberdade de imprensa como direito da cidadania, uma violência foi cometida por dirigentes de O Estado de S. Paulo contra a notável psicanalista, e até há pouco articulista daquele jornal, Maria Rita Kehl. Agindo e expressando-se com inatacável padrão ético e estrito respeito pela pessoa humana e pelos valores da sociedade democrática, Maria Rita Kehl vinha publicando quinzenalmente seus artigos, altamente apreciados, analisando fatos e comportamentos sociais, com a agudeza de observadora especializada em psicanálise e com o senso crítico de uma autêntica humanista.

Isso aconteceu com regularidade até o dia 2 de outubro, quando publicou um artigo intitulado "Dois pesos...", no qual, com elegância e objetividade, analisou e criticou a atitude dos que, movidos pelo egoísmo e por pretensa superioridade, manifestam indignação e inconformidade com o peso eleitoral de pessoas das camadas mais pobres da população, que, libertas das tradicionais amarras da mendicância e da dependência, adotam opção política oposta à dos tradicionais dominadores e exploradores da pobreza.

Em represália ao atrevimento da publicação desse artigo, Maria Rita Kehl foi sumariamente demitida, vítima da censura e da intolerância. Para ela a liberdade de imprensa não valia, pois na concepção dos que a despediram essa liberdade não é um direito de todos, é um privilégio dos que pertencem a uma elite superior.

Existe ainda a esperança de que do corpo dirigente daquele jornal façam parte, com voz ativa, verdadeiros democratas, que tenham consciência da importância da liberdade de imprensa para a existência de uma sociedade livre e justa, na qual não se faça qualquer censura de natureza política, ideológica ou artística. Devolva-se a Maria Rita Kehl a sua liberdade de imprensa.

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