quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Numero 291























Este número do Boletim é enviado diretamente da cidade de Milton, na província de Ontário, Canadá. Estou aqui visitando meu filho, minha nora e meu neto.
Milton é uma cidade com cerca de 100 mil habitantes, muito verde (pelo menos antes do inverno chegar), plano urbanístico muito interessante.
Algumas imagens mostram a vocês o enorme estresse que o trânsito daqui provoca nas pessoas.












Bem, falamos hoje do Chile, da Libia, de Hobsbawm, entre outras coisas.
Aguardamos seu comentário, como sempre!


Rebelião no Chile: Movimento dos estudantes ganha apoio e marca novas manifestações

Por Bárbara Mengardo (Correio Caros Amigos)

Enviada Especial

Santiago (Chile) – Santiago está em ebulição. Em todos os cantos da capital chilena, a qualquer hora é possível encontrar pixações, eventos culturais e atividades de apoio às manifestações que se estendem há três meses por todo o país, e não se limitam mais às demandas dos estudantes.

O movimento cresceu tanto, e tem tanto apoio popular (o jornal La Tercera, que há meses tenta esconder e desqualificar as movimentações, publicou matéria no último sábado afirmando que 76% da população chilena apóia os protestos), que é impossível saber com exatidão quais atividades vão ocorrer pela cidade.

A praça Ñuñoa, localizada a mais ou menos meia hora do centro de Santiago, em um bairro de classe média, é palco todas as noites de manifestações e confrontos com os carabineiros. Cerca de 3.000 pessoas se deslocam diariamente ao local para participar de panelaços e, geralmente, são recebidos pela polícia que se utiliza de gás lacrimogênio e jatos fortes de água para tentar interromper as atividades.

Esses carros que descarregam água na multidão foram apelidados pela população de Guanacos, que são animais parecidos com Lhamas que vivem nos Andes, e costumam a cuspir nas pessoas. Catalina Gamboa, estudante secundarista que acompanhava uma das manifestações na praça Ñuñoa, explica que o líquido expelido pelos Guanacos da polícia não é apenas água “Quando isso cai no rosto arde. Fizeram algumas análises e viram que tinham fezes nessa água”.

Nos sites das Federações de estudantes brotam relatos de casos de extrema violência policial aplicada pelos Carabineiros. O portal da Federação de Estudantes da Universidade de Valparaiso postou a história de um estudante de História que foi pego por policiais enquanto observava um confronto e levado para um ônibus, onde foi violentamente golpeado.

As agressões resultaram em uma grave fratura nasal, e o estudante necessitou de uma cirurgia. Quando viu a gravidade do machucado, um dos policiais, conta o site, perguntou: “O que se passou filho, porque está sangrando?” o garoto respondeu que eles o haviam agredido, e ouviu a resposta “Nós não batemos em ninguém, você sozinho bateu em uma porta”.

As manifestações, entretanto, não estão presentes apenas nos bairros mais ricos da cidade. Ocupações em universidades e colégios de ensino médio e fundamental se estendem também pela periferia. Estudantes estimam que cerca de 700 colégios estejam ocupados, 200 deles só na capital.

Já no ensino superior ninguém soube dizer quantas ocupações estão em andamento no Chile. Sabe-se que todas as universidade chamadas tradicionais, que foram criadas até a década de 1960 e eram gratuitas até o regime ditatorial de Augusto Pinochet (1973-1990), estão ocupadas ou paralizadas. Andando pelas ruas de Santiago, entretanto, é possível se deparar com dezenas de universidades públicas ou privadas cujos portões estão bloqueados por cadeiras ou os muros estão cobertos com cartazes com dizeres como “fim ao lucro”.

Isso porque, na educação superior chilena, o lucro foi proibido durante a ditadura, com uma lei que instituía que todas as universidades, públicas ou privadas, seriam pagas, mas não poderiam obter lucro.

Atualmente, todas as universidades chilenas são pagas, e a maioria recebe ajuda financeira do governo. Neste cenário, muitos donos de universidades acharam brechas na lei, e obtém muito lucro com as instituições de ensino. É comum que os integrantes dos diretórios acadêmicos, que estão acima dos reitores, possuam também imobiliárias, e repassem dinheiro a partir de obras superfaturadas.

O fim do lucro se tornou uma das principais reivindicações dos estudantes que começaram a realizar marchas e manifestações desde junho. A esse ponto somaram-se muitos outros, sendo um dos principais a educação gratuita e de qualidade que, para todos os atores do movimento que já é conhecido como “inverno chileno”, deve acompanhar uma reforma integral da educação no país.

Sobre o assunto, a Federação dos Estudantes da Universidade do Chile, que tem sido muito ativa durante as manifestações, afirmou em um documento onde reúne todas as pautas do movimeno estudantil: “Nos une a firme convicção de que a educação é um componente essencial para alcançar um novo projeto histórico de desenvolvimento democrático que tanto anseia o país para superar as escandalosas brechas de desigualdade que presenciamos hoje. Desta forma, foi exposta a necessidade urgente de recuperar a educação como um direito social e humano universal que deve ser garantido pela Constituição Chilena.”

Outras demandas importantes são a criação de um novo sistema de financiamento, pois o atual faz com que cerca de 40% dos estudantes deixem as universidades endividados e a desmunicipalização da educação, já que Pinochet desmantelou o Ministério da Educacao, passando a responsabilidade administrativa e financeira para as comunas, que, grosso modo, podem ser comparadas a subprefeituras. Esse sistema faz com que a distribuição de verbas seja desigual entre as comunas.

Atualmente, entretanto, não são só os estudantes que pautam suas reivindicações. No dia 8 deste mês, os trabalhadores do Banco de Santiago começaram uma greve por reajustes salariais, e nos últimos meses ocorreram também paralisações de mineiros e taxistas.

Um hospital público de Santiago, Posta Central, interrompe suas atividades toda vez que ocorrem marchas, e são convocadas também panelaços nos quais muitos adultos e idosos batem panelas para manifestar seu apoio aos estudantes.

Até agora, o governo ainda não apresentou nenhuma proposta satisfatória para os manifestantes. A última tentativa, de estabelcer uma mesa de diálogo com o Congresso, foi rechaçada pelos estudantes universitários, mas bem vista pelos secundaristas. Muitos setores que compõem a ala universitária do movimento acreditam que a melhor solução para o impasse colocado é a realização de um plebiscito, e não veem essa mesa de diálogo como capaz de realizar a mudanca estrutural que desejam.

Desta forma, seguem as mobilizações no Chile, e já está fechado um calendário nacional de mobilizações para as próximas semanas. No dia 16 está marcada uma “velaton”, e todos que apóiam o movimento devem colocar velas em suas janelas. Na quinta, dia 18, acontecerá uma jornada de protesto nacional, e estão marcadas marchas e panelaços. Nos dias 24 e 25 haverá uma greve geral, puxada pela CUT (Central Unitária dos Trabalhadores do Chile).

Em Santiago, está marcado um bem humorado protesto na Praça das Armas, no qual todos deverão se reunir para fazer um grande “iiiiiiiii” pela educação, fazendo referência ao prefeito da comuna de Santiago, Pablo Zalaquett, que, devido a um tique, utiliza essas vogais no meio de suas frases.

O governo também se diz preocupado com a possibilidade dos estudantes perderem o ano. Quanto a isso, Patricio Perez, 16 anos, estudante de um colégio ocupado, responde com uma frase que muito está se ouvindo: “Perder o ano, mas ganhar o futuro”.

Assista vídeo sobre as manifestações:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=4veIe5sXZBo


Chile: tensão nas grandes alamedas, tensão na memória
O governo chileno acaba de divulgar uma nova cifra oficial dos mortos e desaparecidos durante a ditadura do general Augusto Pinochet, que durou de 1973 a 1990: 3.065. Com isso, o total de vítimas – entre presos, seqüestrados, torturados, executados e desaparecidos – chega a exatos 40.018. O anúncio coincide com um período de profundas turbulências enfrentadas pelo primeiro presidente de direita eleito desde o fim da ditadura. O artigo é de Eric Nepomuceno.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18299&boletim_id=988&componente_id=15897


:: População chilena realiza paralisação nacional de 48 horas com forte adesão de movimentos
http://www.adital.com.br/site//noticia.asp?boletim=1&cod=59524&lang=PT


Enviado por Guilherme Souto:
fonte: www.viomundo.com.br
New York Times: A “mão livre” das companhias de petróleo na Líbia
The Scramble for Access to Libya’s Oil Wealth Begins
By CLIFFORD KRAUSS, em 22.08.2011, no New York Times

Houston — A luta ainda não acabou em Trípoli, mas a disputa para assegurar acesso à riqueza do petróleo da Líbia já começou.
Antes da rebelião começar, em fevereiro, a Líbia exportava 1,3 milhão de barris de petróleo por dia. Embora isso represente menos de 2% das necessidades globais, apenas um pequeno número de países pode fornecer o equivalente do mesmo tipo de petróleo do qual muitas refinarias do mundo dependem. O retorno da produção líbia ajudaria a derrubar os preços de petróleo na Europa e, indiretamente, os preços da gasolina na costa Leste dos Estados Unidos.
Nações ocidentais — especialmente os países da OTAN, que deram apoio aéreo crucial aos rebeldes — querem ter certeza de que suas companhias ficarão em posição destacada para bombear o petróleo líbio.
O ministro das Relações Exteriores da Itália, Franco Frattini, disse na TV estatal segunda-feira que a companhia petrolífera italiana Eni “terá o papel número um no futuro” no país norte-africano. O sr. Frattini chegou a afirmar que técnicos da Eni já estavam a caminho do leste da Líbia para reiniciar a produção. (A Eni rapidamente desmentiu que tinha mandado pessoal para a região ainda em disputa, que é a maior fonte do petróleo importado pela Itália).
A produção líbia foi praticamente suspensa durante o longo conflito entre as forças rebeldes e as tropas leais ao líder da Líbia, coronel Muammar el-Qaddafi.
A Eni, com a britânica BP, a Total da França, a Repsol YPF da Espanha e a OMV da Áustria, foram todas grandes produtoras na Líbia antes da guerra civil, e estão em posição para ganhar mais assim que o conflito terminar. As companhias americanas Hess, ConocoPhillips e Marathon também fizeram acordos com o regime de Qaddafi, embora os Estados Unidos dependam em menos de 1% das importações da Líbia para seu consumo.
Mas permanece incerto se um governo rebelde honraria os contratos fechados pelo regime de Qaddafi ou que tipo de postura assumiria nas negociações para acordos de produção com as companhias dispostas a investir nos poços existentes ou na exploração de novos.
Mesmo antes de assumir, os rebeldes sugeriram que relembrarão seus amigos e inimigos e negociarão levando isso em conta.
“Não temos problemas com países ocidentais como os italianos, franceses e companhias britânicas”, disse o porta-voz da companhia de petróleo dos rebeldes, Agoco, Abdeljalil Mayouf, segundo a Reuters. “Mas teremos algumas questões políticas com a Rússia, China e Brasil”.
A Rússia, a China e o Brasil não deram apoio a fortes sanções contra o regime de Qaddafi, e em geral apoiaram uma solução negociada para por fim ao conflito. Todos os três países têm grandes companhias de petróleo que tentam negócios na África.
O preço básico do petróleo na Europa caiu moderadamente na segunda-feira, com a especulação de que a produção líbia de petróleo seria rapidamente retomada. Os preços do petróleo Brent inicialmente cairam mais de 3%, mas terminaram o dia basicamente com o mesmo valor em Nova York, U$ 108,42 o barril. O preço básico dos Estados Unidos, que é menos sensível a eventos no Oriente Médio, subiu U$ 2,01, para U$ 84,42.
O coronel Qaddafi provou ser um parceiro problemático para as companhias de petróleo internacionais, frequentemente aumentando impostos e taxas e fazendo outras exigências. Um novo governo com relações próximas com a OTAN poderia ser um parceiro mais fácil para as nações ocidentais. Alguns especialistas dizem que, com a mão mais livre, as companhias de petróleo poderiam encontrar consideravelmente mais petróleo na Líbia do que foram capazes sob as restrições impostas pelo governo Qaddafi.
Analistas de petróleo dizem que é provável que as companhias de petróleo, particularmente a Total e a Eni, compitam ferozmente por contratos para explorar as melhores propriedades, com os respectivos governos fazendo lobby em nome delas. Mas primeiro os rebeldes deverão consolidar seu controle sobre o país.
“Se você não tem um ambiente de segurança estável, quem vai colocar os trabalhadores de volta no país?”, disse Helima Croft, estrategista geopolítica da Barclays Capital.
A guerra civil forçou grandes companhias de petróleo a retirar seu pessoal da Líbia e a produção despencou nos últimos meses para minúsculos 60 mil barris por dia, de acordo com a Agência Internacional de Energia. Isso seria suficiente para atender 20% das necessidades domésticas de petróleo da Líbia. Os rebeldes foram capazes de exportar pequenas quantidades de petróleo que estavam estocadas em portos e venderam o produto a dinheiro nos mercados internacionais através do [emirado do] Qatar.
Especialistas em petróleo alertam que a Líbia poderia levar mais de um ano para fazer os reparos e colocar seus poços em produção total, embora as exportações possam ser retomadas em alguns meses.
Como o petróleo é o recurso econômico mais importante da Líbia, qualquer novo governo seria obrigado a fazer da produção sua mais alta prioridade. Isso significa ter segurança nos maiores campos de petróleo, nos oleodutos, refinarias e portos. O governo também precisaria rapidamente estabelecer relações com as companhias de petróleo estrangeiras, algumas das quais consultaram tanto os rebeldes quanto o coronel Qaddafi durante o conflito, visando garantir suas apostas.
As companhias de petróleo envolvidas na Líbia evitaram comentários a respeito da situação no país ou disseram que pretendem avaliar a evolução da segurança antes de mandar seu pessoal de volta ao país.
“Claramente, estamos monitorando a situação como todos”, disse Jon Pepper, um vice-presidente da Hess. “Obviamente a situação precisa estabilizar antes que as pessoas comecem a pensar em retomar a produção”.
Em anos recentes, a Itália depende da Líbia para mais de 20% de suas importações de petróleo. A França, a Suiça, a Irlanda e a Áustria todas dependiam da Líbia para mais de 15% de suas importações antes do início da guerra civil.
A importância da Líbia para a França foi sublinhada na segunda-feira, quando o presidente Nicolas Sarkozy convidou o chefe do conselho de transição nacional, Mustafa Abdel-Jalil, para consultas em Paris.
Apesar de os Estados Unidos dependerem muito pouco da Líbia, a redução da quantidade de petróleo de alta qualidade nos mercados mundiais empurrou para cima os preços do petróleo e da gasolina também para os norte-americanos.
Analistas da indústria dizem que a maior parte das empresas de serviço do setor continou a pagar salários a suas equipes líbias durante a guerra, indicando que houve danos relativamente pequenos à maioria das instalações. Isso sugere que a produção poderia ser retomada em questão de semanas.
Mas as exportações dependem em grande escala da rapidez dos reparos a serem feitos nos terminas de exportação de Ras Lanuf, Melitah e Es Sider e do quanto o novo governo será capaz de dar segurança aos campos e oleodutos que ficam em áreas que tradicionalmente apoiavam o antigo regime.
O fechamento às pressas de poços quando a guerra se espraiou, em fevereiro, além da falta de manutenção nos últimos meses, podem significar que os consertos necessários vão levar meses, particularmente nos campos mais antigos.
As experiências de outros países da região oferecem razões para cautela. Analistas dizem que disputas políticas no Irã reduziram a produção do país por décadas e foram necessários oito anos para a produção do Iraque se recuperar depois da invasão liderada pelos Estados Unidos para derrubar Saddam Hussein.
O presidente da Eni, Giuseppe Recchi, disse recentemente a analistas que provavelmente levaria um ano para a Líbia voltar aos níveis normais de exportação. Na segunda-feira, ele negou que sua companhia fosse enviar imediatamente pessoal para a Líbia, mas disse a repórteres que espera que o novo governo líbio respeite os contratos fechados previamente pela companhia.
Elisabetta Povoledo contributed reporting from Rome.


Altamiro Borges: FHC apóia a faxina que ele nunca fez
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Estranho: até FHC apóia “faxina” de Dilma
Por Altamiro Borges, em seu blog

Segundo o jornalista Kennedy Alencar, FHC parece que está empolgado com a alardeada operação “faxina” da presidenta Dilma Rousseff. “Nas conversas reservadas com dirigentes do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem defendido que o partido dê apoio à presidente Dilma Rousseff no combate à corrupção”, informa o repórter na Folha online de hoje.
Ainda segundo seu relato, “o ex-presidente conversou sobre o assunto com os governadores Geraldo Alckmin (SP) e Antonio Anastasia (MG). A recomendação foi transmitida ao senador mineiro Aécio Neves, hoje o primeiro da fila tucana para disputar o Palácio do Planalto em 2014. A presença de FHC no encontro de Dilma com governadores do Sudeste, na quinta (18/08), em São Paulo, foi calculada para se transformar num gesto de apoio à presidente”.

FHC nunca enfrentou a corrupção

A excitação do grão-tucano deveria gerar alguma desconfiança no Palácio do Planalto – ao menos, entre os seus ocupantes mais tarimbados, que não confundem assessoria com puxa-saquismo. Afinal, FHC nunca foi um opositor civilizado de Lula ou de Dilma. Pelo contrário. Desde que se converteu ao neoliberalismo, ele sempre articulou as forças de direita contra qualquer projeto de esquerda no país. Egocêntrico e elitista, ele nunca tolerou o êxito de um governo presidido por um peão, um operário.
Sua cruzada contra a corrupção e seu apoio entusiástico à “faxina” no governo Dilma só iludem os ingênuos e os pragmáticos que infestam a política nativa – que desprezam a luta de classes e não têm visão sobre as batalhas futuras. Quem é FHC para falar em combate à corrupção? Uma breve lembrança do que foi o seu longo reinado talvez sirva de alertar os ingênuos que não percebem a manobra do tucano para desgastar o atual governo, paralisá-lo, implodir sua base de apoio e criar fissuras entre Dilma e Lula.


Os indícios das roubalheiras tucanas

Para aliciar sua base de apoio no Congresso Nacional e manter a governabilidade, FHC sempre foi complacente com a corrupção. A aliança principal do grão-tucano foi com o ex-PFL, atual DEM – e sabe-se lá qual será o novo nome da organização fisiológica que sucumbe na crise. Um dos líderes de FHC no parlamento foi o demo José Roberto Arruda, o mesmo que foi pego com a mão da botija no esquema do mensalão do governo do Distrito Federal. A lista de indícios de roubalheira no governo FHC foi grande:

Denúncias abafadas: Já no início do seu primeiro mandato, em 19 de janeiro de 1995, FHC fincou o marco que mostraria a sua conivência com a corrupção. Ele extinguiu, por decreto, a Comissão Especial de Investigação, criada por Itamar Franco e formada por representantes da sociedade civil, que visava combater o desvio de recursos públicos. Em 2001, fustigado pela ameaça de uma CPI da Corrupção, ele criou a Controladoria-Geral da União, mas este órgão se notabilizou exatamente por abafar denúncias.

Caso Sivam. Também no início do seu primeiro mandato, surgiram denúncias de tráfico de influência e corrupção no contrato de execução do Sistema de Vigilância e Proteção da Amazônia (Sivam/Sipam). O escândalo derrubou o brigadeiro Mauro Gandra e serviu para FHC “punir” o embaixador Júlio César dos Santos com uma promoção. Ele foi nomeado embaixador junto à FAO, em Roma, “um exílio dourado”. A empresa ESCA, encarregada de incorporar a tecnologia da estadunidense Raytheon, foi extinta por fraude comprovada contra a Previdência. Não houve CPI sobre o assunto. FHC bloqueou.

Pasta Rosa. Em fevereiro de 1996, a Procuradoria-Geral da República resolveu arquivar definitivamente os processos da pasta rosa. Era uma alusão à pasta com documentos citando doações ilegais de banqueiros para campanhas eleitorais de políticos da base de sustentação do governo. Naquele tempo, o procurador-geral, Geraldo Brindeiro, ficou conhecido pela alcunha de “engavetador-geral da República”.

Compra de votos. A reeleição de FHC custou caro ao país. Para mudar a Constituição, houve um pesado esquema para a compra de voto, conforme inúmeras denúncias feitas à época. Gravações revelaram que os deputados Ronivon Santiago e João Maia, do PFL do Acre, ganharam R$ 200 mil para votar a favor do projeto. Eles foram expulsos do partido e renunciaram aos mandatos. Outros três deputados acusados de vender o voto, Chicão Brígido, Osmir Lima e Zila Bezerra, foram absolvidos pelo plenário da Câmara. Como sempre, FHC resolveu o problema abafando-o e impedido a constituição de uma CPI.

Vale do Rio Doce. Apesar da mobilização da sociedade em defesa da CVRD, a empresa foi vendida num leilão por apenas R$ 3,3 bilhões, enquanto especialistas estimavam seu preço em ao menos R$ 30 bilhões. Foi um crime de lesa-pátria, pois a empresa era lucrativa e estratégica para os interesses nacionais. Ela detinha, além de enormes jazidas, uma gigantesca infra-estrutura acumulada ao longo de mais de 50 anos, com navios, portos e ferrovias. Um ano depois da privatização, seus novos donos anunciaram um lucro de R$ 1 bilhão. O preço pago pela empresa equivale hoje ao lucro trimestral da CVRD.

Privatização da Telebras. O jogo de cartas marcadas da privatização do sistema de telecomunicações envolveu diretamente o nome de FHC, citado em inúmeras gravações divulgadas pela imprensa. Vários “grampos” comprovaram o envolvimento de lobistas com autoridades tucanas. As fitas mostraram que informações privilegiadas foram repassadas aos “queridinhos” de FHC. O mais grave foi o preço que as empresas privadas pagaram pelo sistema Telebrás, cerca de R$ 22 bilhões. O detalhe é que nos dois anos e meio anteriores à “venda”, o governo investiu na infra-estrutura do setor mais de R$ 21 bilhões. Pior ainda, o BNDES ainda financiou metade dos R$ 8 bilhões dados como entrada neste meganegócio. Uma verdadeira rapinagem contra o Brasil e que o governo FHC impediu que fosse investigada.

Ex-caixa de FHC. A privatização do sistema Telebrás foi marcada pela suspeição. Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-caixa das campanhas de FHC e do senador José Serra e ex-diretor do Banco do Brasil, foi acusado de cobrar R$ 90 milhões para ajudar na montagem do consórcio Telemar. Grampos do BNDES também flagraram conversas de Luiz Carlos Mendonça de Barros, então ministro das Comunicações, e André Lara Resende, então presidente do banco, articulando o apoio da Previ para beneficiar o consórcio do Opportunity, que tinha como um dos donos o economista Pérsio Arida, amigo de Mendonça de Barros e de Lara Resende. Até FHC entrou na história, autorizando o uso de seu nome para pressionar o fundo de pensão. Além de “vender” o patrimônio público, o BNDES destinou cerca de 10 bilhões de reais para socorrer empresas que assumiram o controle das estatais privatizadas. Em uma das diversas operações, ele injetou 686,8 milhões de reais na Telemar, assumindo 25% do controle acionário da empresa.

Juiz Lalau. A escandalosa construção do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo levou para o ralo R$ 169 milhões. O caso surgiu em 1998, mas os nomes dos envolvidos só apareceram em 2000. A CPI do Judiciário contribuiu para levar à cadeia o juiz Nicolau dos Santos Neto, ex-presidente do TRT, e para cassar o mandato do senador Luiz Estevão, dois dos principais envolvidos no caso. Num dos maiores escândalos da era FHC, vários nomes ligados ao governo surgiram no emaranhado das denúncias. O pior é que FHC, ao ser questionado por que liberara as verbas para uma obra que o Tribunal de Contas já alertara que tinha irregularidades, respondeu de forma irresponsável: “assinei sem ver”.

Farra do Proer. O Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Sistema Financeiro Nacional (Proer) demonstrou, já em sua gênese, no final de 1995, como seriam as relações do governo FHC com o sistema financeiro. Para ele, o custo do programa ao Tesouro Nacional foi de 1% do PIB. Para os ex-presidentes do BC, Gustavo Loyola e Gustavo Franco, atingiu 3% do PIB. Mas para economistas da Cepal, os gastos chegaram a 12,3% do PIB, ou R$ 111,3 bilhões, incluindo a recapitalização do Banco do Brasil, da CEF e o socorro aos bancos estaduais. Vale lembrar que um dos socorridos foi o Banco Nacional, da família Magalhães Pinto, a qual tinha como agregado um dos filhos de FHC.

Desvalorização do real. De forma eleitoreira, FHC segurou a paridade entre o real e o dólar apenas para assegurar a sua reeleição em 1998, mesmo às custas da queima de bilhões de dólares das reservas do país. Comprovou-se o vazamento de informações do Banco Central. O PT divulgou uma lista com o nome de 24 bancos que lucraram com a mudança e de outros quatro que registraram movimentação especulativa suspeita às vésperas do anúncio das medidas. Há indícios da existência de um esquema dentro do BC para a venda de informações privilegiadas sobre câmbio e juros a determinados bancos ligados à turma de FHC. No bojo da desvalorização cambial, surgiu o escandaloso caso dos bancos Marka e FonteCindam, “graciosamente” socorridos pelo Banco Central com 1,6 bilhão de reais. Houve favorecimento descarado, com empréstimos em dólar a preços mais baixos do que os praticados pelo mercado.

Sudam e Sudene. De 1994 a 1999, houve uma orgia de fraudes na Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), ultrapassando R$ 2 bilhões. Ao invés de desbaratar a corrupção e pôr os culpados na cadeia, FHC extinguiu o órgão. Já na Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), a farra também foi grande, com a apuração de desvios de R$ 1,4 bilhão. A prática consistia na emissão de notas fiscais frias para a comprovação de que os recursos do Fundo de Investimentos do Nordeste foram aplicados. Como fez com a Sudam, FHC extinguiu a Sudene, em vez de colocar os culpados na cadeia
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Como mudar o mundo, novo livro de Hobsbawm

Após se sentir parte da geração com a qual se extinguiria o marxismo da vida política e intelectual do Ocidente, as crises financeiras, a espiral conflitiva do capitalismo e as mudanças na América Latina deram a Eric Hobsbawm, aos 94 anos, a alegria de voltar a Marx.

Fernando Bogado* Página/12

Em seu novo livro, que tem o sugestivo título Como mudar o mundo, o historiador refuta com sua habitual lucidez as más interpretações, arquiva os preceitos que envelheceram e utiliza as ferramentas oferecidas pelo autor de O Capital para entender o mundo no século 21 e fazê-lo um lugar melhor.

Aos 94 anos, depois de publicar suas extraordinárias memórias (Tempos Interessantes), o grande historiador inglês Eric Hobsbawm – que dedicou sua vida à análise e explicação da era moderna, desde a Revolução Francesa até os estertores do século 20 – tinha um livro a mais para escrever: Como mudar o mundo. Após se sentir parte da geração com a qual se extinguiria o marxismo da vida política e intelectual do Ocidente, as crises financeiras, a espiral conflitiva do capitalismo e as mudanças na América Latina lhe deram a alegria de voltar ao seu querido Marx. No livro, refuta com sua habitual lucidez as más interpretações, arquiva os preceitos que envelheceram e utiliza as ferramentas oferecidas pelo autor de O Capital para entender o mundo no século 21 e fazê-lo um lugar melhor.

Imaginem a cena: Eric Hobsbawm, reconhecido historiador inglês de corte marxista, e George Soros, uma das mentes financeiras mais importantes do mundo, encontram-se para um jantar. Soros, talvez para iniciar a conversa, talvez com o objetivo de continuar alguma outra, pergunta a Hobsbawm sobre a opinião que este tem de Marx. Hobsbawm escolhe dar uma resposta ambígua para evitar o conflito, e respondendo em parte a esse culto à reflexão antes que ao confronto direto que caracteriza seus trabalhos. Soros, ao contrário, é conclusivo: “Há 150 anos esse homem descobriu algo sobre o capitalismo que devemos levar em conta”.

A estória parece quase seguir a estrutura de uma piada (“Soros e Hobsbawm se encontram em um bar...”), mas é o melhor exemplo que o historiador inglês encontra para mostrar, no começo do seu livro, essa ideia que está pairando no ar há tempos: o legado filosófico de Karl Marx (1818-1883) está longe de ter se esgotado e, muito pelo contrário, as publicações especializadas da atualidade, o discurso político cotidiano, a organização social de qualquer país não fazem outra coisa que invocar o seu fantasma para lidar com esse angustiante problema que tomou o nome histórico de “capitalismo”.

No livro, recentemente publicado em castelhano, que leva o sugestivo título Como mudar o mundo, Hobsbawm volta a oferecer seu indiscutível talento para colocar as proposições daquele filósofo alemão que seguem tendo uma vigência definidora para construir o presente.

Repassemos antes a presunção de morte que se pendurou no pescoço de Marx durante o último quartel do século 20: a crise do petróleo de 1973 desencadeou um processo político e econômico que organizou o que Hobsbawm qualificou como reductio ad absurdum das tendências da economia de mercado. A situação provocou o surgimento de governos conservadores nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha (com Ronald Reagan e Margaret Thatcher à frente de seus países), ao mesmo tempo que implicou em diversos territórios a implantação de economias de claro corte financeiro, situação que na América Latina trouxe aparelhado o surgimento de governos de fato que impuseram este tipo de organização pela força, suplantando as estratégias de desenvolvimento industrial e substituição das importações por facilidades para os capitais andorinha, a especulação e a desestruturação das organizações sindicais (somados, é claro, às estratégias de repressão dispostas há muito tempo antes dos golpes, como mostra a história nacional).

Aquela série de mudanças culminou com a queda do Muro de Berlim e do bloco soviético em 1989-1991: a URSS não podia resistir muito mais tempo com sua particular versão do marxismo e sua economia planejada. Francis Fukuyama, pensador norte-americano de corte neoliberal, se apropriou de algumas noções da filosofia hegeliana para dar a sentença final acerca desta sucessão de acontecimentos: estávamos diante do “fim da História”, o desaparecimento do mundo organizado em blocos opostos que havia marcado o destino de tudo o que conhecemos desde o final da 2ª Guerra Mundial em diante.

É neste panorama conciliador da economia globalizada e aparente pacificação social que, ao longo da década de 1990, todo o mundo deu por enterrado o pensamento marxista, inclusive com certas justificativas de índole ética: o nome de Karl Marx sempre vinha acompanhado de Joseph Stalin, entre muitos outros. Marx não era apenas uma má palavra para um guru econômico, mas também para um cidadão das zonas mais pobres da Rússia, que via com prazer a forma como caíam as estátuas de Lênin, Stalin e do próprio Marx.

Quem teria dito então que veríamos uma foto de Sarkozy lendo O Capital e o papa Bento XVI elogiando a capacidade analítica de seu autor?

Entre 2007 e 2009 (2001, para nós), uma série de crises do sistema capitalista financeiro (ou “capitalismo tardio”, tal como o identificaram pensadores como Frederic Jameson ou Jürgen Habermas), demonstrou que o que se pensou como o começo de uma era de tranquilidade em termos políticos, sociais e, sobretudo, econômicos para depois de 1989, na verdade não era nada disso. O mercado entregue pura e exclusivamente à “mão invisível” de Adam Smith, amparado pela domesticação do Estado, começou a trincar sem necessidade de conflito com outro sistema econômico-político.

A revolução não é um sonho eterno

Disse-o muito bem a Times após a queda financeira de 2008: “Voltou”. Quem? Marx. Três anos depois, o panorama não melhorou e neste clima pouco promissor, muitos revisam sua figura para recuperar o que foi que disse e o que se pode extrair de sua análise com o objetivo de superar a crise que afeta por estes dias as principais economias do mundo globalizado (basta revisar como começamos cada semana com uma nova “segunda-feira negra”, por não somar mais dias ao calendário).

Aos 94 anos, Hobsbawm observa acertadamente que Marx havia sentenciado qual seria o destino do capitalismo ao seguir a linha que em meados do século 19 insinuava com perfeita clareza: a concentração do capital em poucas mãos produziria um mundo onde apenas um número muito pequeno de pessoas teria o maior número de riquezas, ao passo que o sistema não poderia seguir o ritmo de seu próprio crescimento desproporcionado. A quantidade de riquezas produzidas e o contínuo aumento da população não permitiriam o desenvolvimento igualitário de todos os indivíduos, ao que se somava o fato de que o ritmo de crises cíclicas acabaria aumentando com o tempo até chegar ao ponto da inevitável queda do sistema.

Em 2002, o economista indiano Meghnad Desai já anunciava em um trabalho, A vingança de Marx, onde afirmava que muitos acreditaram que o pensamento do alemão se extinguiria com a queda dos Estados socialistas, mas as teses e observações realizadas nos trabalhos iniciais vão muito além desses 70 anos de governos comunistas que constituíram apenas um “episódio” da virada para o socialismo: os marxismos não ofuscam as observações de Marx, e é esse núcleo básico que é preciso voltar a ler.

Hobsbawm concorda com Desai: uma coisa são os trabalhos originais e outra a maneira como esses livros (com seus avatares particulares, suas más traduções ou suas publicações tardias) formaram escolas ao longo de todo o mundo. Essa história da escola marxista é a que terminou com a queda do Muro, e não a força política e filosófica das primeiras explicações. Este renascer de Marx é o que entusiasma agora um Hobsbawm que se apresentava um tanto decepcionado com a ideia de que, durante a década de 1980 até finais de 2000, o “mundo marxista ficou reduzido a pouco mais que um conjunto de ideias de um corpo de sobreviventes anciãos e de média idade que lentamente se ia erodindo”.

Quais são essas ideias? Que coisas de Marx é preciso conservar? Em primeiro lugar, a natureza política de seu pensamento. Para ele, mudar o mundo é o mesmo que interpretá-lo (parafraseando uma das míticas Teses de Feuerbach); Hobsbawm considera que há um temor político em vários marxistas de se verem comprometidos com uma causa, sabendo de antemão que, para entrar na leitura de Marx, teve que haver primeiro um desejo de tipo político: a intenção de mudar o mundo.

Em segundo lugar, a grande descoberta científica de Marx, a mais-valia, também tem lugar neste ensaio histórico de erro e acerto. Reconhecer que há parte do salário do operário que o capitalista conserva para si com o objetivo de aumentar os lucros, com a passagem do tempo é encontrar a prova de uma opressão histórica, o primeiro passo para chegar a uma verdadeira sociedade sem classes, sem oprimidos. Os operários estão conscientes dessa injustiça e só mediante uma organização política coerente poderão “dar uma reviravolta”. Ao contrário do que acreditavam os gurus da globalização, nem os operários nem o Estado são conceitos em desuso: Hobsbawm esclarece que “os movimentos operários continuam existindo porque o Estado-nação não está em vias de extinção”.

Por último, a existência de uma economia globalizada demonstra aquilo que Marx reconheceu como a capacidade destruidora do capitalismo, mais um problema a resolver que um sistema histórico definitivo. Hobsbawm chama a atenção, a partir do filósofo alemão, para essa “irresistível dinâmica global do desenvolvimento econômico capitalista e sua capacidade de destruir todo o anterior, incluindo também aqueles aspectos da herança do passado humano dos quais o capitalismo se beneficiou, como, por exemplo, as estruturas familiares”. O capitalismo é selvagem por natureza e seu final – ao menos, o final da ideia clássica de capitalismo – é evidente para qualquer pessoa no mundo.

É muito difícil dizer que da análise de Marx se possa tirar um plano de ação “à prova de bala”. A teoria marxista clássica falou muito pouco sobre modelos de Estado ou do que aconteceria uma vez instalada a revolução, mas muito sobre análise econômica: pensando o que acontece é que se pode saber como agir. O que Marx deu foram ferramentas, não receitas dogmáticas. Como bem disse Hobsbawm, os livros de Marx “não formam um corpus acabado, mas são, como todo pensamento que merece este nome, um interminável trabalho em curso. Ninguém vai convertê-lo em dogma, e menos ainda em uma ortodoxia institucionalmente ancorada”.

Mas, claro, a vida oferece surpresas: embora haja colocações de Marx que se conservam, há muitas outras que o curso da História (e dos homens que a vivem) mudou. Por exemplo, um dos paradoxos do século é que, embora Marx acreditasse que a revolução acabaria se dando em todo o mundo (“Trabalhadores do mundo, uni-vos!”), os levantamentos que terminaram com o marxismo no poder durante o século 20 se deram em países bem diferentes da Alemanha, Inglaterra e França, o triângulo em que, para Marx, tudo começaria.

Por sua vez, o marxismo se misturaria com movimentos de mudança ou grupos que reconheciam diferentes injustiças sociais em territórios insuspeitados. Na Rússia, por exemplo, a filosofia marxista se mesclou com o nacionalismo agrário narodnik, ao menos em um primeiro momento. Na China, a revolução se deu em uma cultura agrícola não-ocidental, imperial e milenar. Por sua vez, todos esses modelos de país tinham muito pouco com a ideia original: assim como afirma Hobsbawm, “no período posterior a 1956, uma grande maioria de marxistas se viu obrigada a concluir que os regimes socialistas existentes, desde a URSS até Cuba e Vietnã, estavam longe daquilo que eles mesmos teriam desejado que fosse uma sociedade socialista, ou uma sociedade encaminhada ao socialismo”.

Talvez o artigo mais determinante seja aquele dedicado à redação do Manifesto do Partido Comunista, o texto breve de 1848 onde Marx e Engels declaravam a inevitável presença de um partido que não era, nessa época, o mesmo tipo de organização que o século 20 conhecerá depois das propostas operativas de Lênin. O objetivo fundamental da criação de um PC era distinguir sua proposta da de toda outra forma de avatar socialista, sobretudo em suas variáveis utópicas: de Saint-Simon aos falanstérios de Fourier, onde a liberdade sexual (e as correspondentes “orgias coreografadas”) se equiparavam a uma liberdade de trabalho. Um século e pouco depois, talvez esse PC tenha sido mal entendido.

Pensar a transição de sociedades agrárias para sociedades socialistas, ou revisar a mudança histórica do feudalismo ao capitalismo, foi um dos pontos que mais preocuparam o último Marx: ali se encontra a possibilidade de entender desde o presente os movimentos revolucionários em países com estruturas agrárias como as presentes na América Latina, África ou algumas zonas do Oriente. Para além das condições para que se dê a mudança (descontentamento social, consciência do conflito, etc.), o marxismo clássico do século 19 defendia a necessidade de certas condições objetivas para a revolução: desenvolvimento industrial e comercial em grande escala (longe do artesanato e do comércio “cara a cara”). A América Latina conheceu a refutação destas condições no Che Guevara: onde havia uma necessidade, não havia apenas um direito, mas também uma possível revolução. Hobsbawm, atento a este tipo de experiência, demonstra o interesse particular que existe para revisar a mudança ao socialismo fora dos limites da Europa.

A cintura cósmica de Marx

Em uma entrevista concedida ao jornal The Guardian, e realizada por Tristram Hunt – que acaba de publicar, oh casualidade, a biografia de Engels também resenhada nestas páginas – e publicada em janeiro deste ano, Eric Hobsbawm falou com entusiasmo da recuperação de certa linguagem econômica e política que se acreditava esgotada depois do auge liberal das últimas décadas do século 20: “Atualmente, ideologicamente, sinto-se mais em casa na América Latina porque segue sendo a única parte do mundo onde as pessoas ainda falam e conduzem sua política na velha linguagem, na linguagem do século 19 e do século 20 do socialismo, do comunismo e do marxismo”. Embora a pergunta apontasse para a saída de Lula do governo e a localização do Brasil dentro do grupo de países com perspectivas de liderança mundial (o BRIC, junto com a Rússia, a Índia e a China), a resposta renova a repercussão da conjuntura política latino-americana dentro do panorama mundial e a presença de diversos governos de esquerda e centro-esquerda no continente.

Um dos últimos artigos do livro, “Marx e o trabalho: o longo século”, assinala precisamente que as organizações proletárias com fins políticos não necessariamente vão de mãos dadas com a teoria marxista. O melhor caso para explicar seu ponto de vista o encontra em nosso intrigante país: “Os socialistas e comunistas, frustrados há tempos na Argentina, não podiam compreender como um movimento operário radical e politicamente independente podia desenvolver-se, na década de 1940, naquele país, cuja ideologia (o peronismo) consistia basicamente na lealdade a um general demagogo”.

A vitória de partidos operários no continente, alimentados pela perspectiva marxista de justiça e progresso igualitário, mas não ligados a organizações de claro corte comunista, apresenta a possibilidade de uma transição a um Estado socialista não mediada por uma revolução, assim como se colocou nos termos da URSS e da histórica Revolução de 1917, ou como o imaginário atual lê o futuro da revolução cubana de 1959. Em definitiva, há coisas que a própria História, não Marx ou suas muitas interpretações, demonstraram que são inviáveis: o socialismo russo fracassou por manter uma economia de guerra a curto prazo que se propunha objetivos difíceis que implicavam esforços e sacrifícios excessivos (desde concentrar todo o excedente e o esforço produtivo com a finalidade de conquistar o espaço exterior e mudar as práticas de produção agrária). Distinguir Lênin e Stalin do pensamento de Marx é um acontecimento dado nos últimos anos que pode mostrar as facetas mais interessantes para uma teoria do presente. Ou seja, algo necessário que permite pensar as circunstâncias atuais para escorar a mudança dentro da complexa geografia latino-americana.

O marxismo teve várias crises ao longo de sua história. Desde que se propôs colocar Hegel “de pernas para o ar” e transformar todo o discurso do espiritual em atenção ao material, já em 1890 apareceram os primeiros críticos às formulações básicas desta filosofia. Contudo, há algo nas ideias de Marx que segue interpelando o homem contemporâneo, que segue falando de uma mudança não considerada como mero desejo existencial ou aspiração utópica, mas como situação possível de levar a cabo na atualidade, sobretudo, pela via democrática e partidária.

Como bem pergunta Soros, e como escreve Hobsbawm: “Não podemos prever as soluções para os problemas que o mundo enfrentará no século 21, mas para que haja alguma possibilidade de êxito devemos fazer-nos as perguntas de Marx”.

(*) Publicado originalmente em português por IHU Online. A tradução é do Cepat.


Boaventura de Sousa Santos: Os limites da ordem
As sociedades contemporâneas estão gerando um combustível altamente inflamável que flui nos subsolos da vida coletiva. Trata-se de um combustível constituído pela mistura de quatro componentes: a promoção conjunta da desigualdade social e do individualismo, a mercantilização da vida individual e coletiva, a prática do racismo em nome da tolerância e o sequestro da democracia por elites privilegiadas, com a consequente transformação da política na administração do roubo “legal” dos cidadãos e do mal estar que provoca.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18278


Ataques com mortes aumentam tensão no Oriente Médio
Após os ataques contra dois ônibus que deixaram um saldo de ao menos 14 mortos e 31 feridos na cidade israelense de Eliat, na fronteira com o Egito, Tel Aviv ordenou um bombardeio em Gaza que provocou a morte de seis palestinos, entre eles o líder do Comitê de Resistência Popular. O ministro de Defesa israelense, Ehud Barak, assegurou que “a origem dos atentados terroristas de hoje está em Gaza”. O Hamas negou participação nos ataques.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18280&boletim_id=986&componente_id=15864


O mito do efeito dominó no Oriente Médio
A primavera-verão-outono árabe não só demonstrou que as velhas fronteiras coloniais permanecem invioladas – espantoso tributo ao imperialismo, suponho -, como também que cada revolução tem características próprias. Isso já foi dito por Saif Kadafi no princípio de sua própria queda: “A Líbia não é a Tunísia...será uma guerra civil. Haverá banho de sangue nas ruas”. E assim ocorreu. As teorias do efeito dominó são uma fraude. A primavera árabe durará anos. O artigo é de Robert Fisk.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18310&boletim_id=989&componente_id=15917


Porque os Estados Unidos sempre foram contra o “nacionalista” Amorim
http://www.conversaafiada.com.br/politica/2011/08/13/wikileaks-por-que-os-eua-sempre-foram-contra-o-%e2%80%9cnacionalista%e2%80%9d-amorim/



Vem ai o Festival de Historia em Diamantina
Site do festival de historia em Diamantina. www.festivaldehistoria.com.br


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MISCELÂNEA CAFÉ HISTÓRIA

Festival de História


Evento inédito na área de história acontece em outubro na cidade Diamantina e pode reunir aproximadamente cinco mil pessoas

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PROMOÇÃO: SORTEIO DE 3 ASSINATURAS DA REVISTA DE HISTÓRIA

O “Festival de História" está chegando! E para comemorar, o Café História e a Revista de História da Biblioteca Nacional vão sortear três assinaturas da melhor revista da história do Brasil: a Revista de História.

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O canadense "Amores Imaginários" chega aos cinemas brasileiros.

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Confira as primeiras celebrações em torno do Festival de HIstória em Diamantina

FÓRUM EM DESTAQUE

Seria o ideal de "nação" a idéia mais fatal da História Contemporânea?

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Provas de múltipla escolha são boas avaliações na área de história?

Participe: http://cafehistoria.ning.com/forum/topics/provas-de-multipla-escolha-sao

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Informações da ANPUH

V SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA: CULTURA E IDENTIDADES
Data: 29 de agosto a 01 de setembro de 2011
Local: Universidade Federal de Goiás - Campus II Goiânia


III COLÓQUIO FESTAS E SOCIALIDADES
Data: 31 de agosto a 02 de setembro de 2011
Local: Universidade Federal de Minas Gerais, FAFICH

CHAMADAS DE TEXTOS

CADERNOS DO CEDEM
Tema: Memória social ou memória da universidade
Prazo: 30 de agosto de 2011


REVISTA CADERNO ESPAÇO FEMININO
Tema: Gênero, cultura e arte
Prazo: 30 de agosto

REVISTA CADERNOS DE PESQUISA CDHIS / UFU
Tema: Cultura e Política no Brasil República: entre práticas e representações
Prazo: 30 de agosto de 2011

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Numero 290




O tema da crise predomina neste número do Boletim. Nem podia ser de outra forma...



Nouriel Roubini: “Karl Marx estava certo”
Na avaliação de Nouriel Roubini, professor de economia na Universidade de Nova York, a não ser que haja outra etapa de massivo incentivo fiscal ou uma reestruturação da dívida universal, o capitalismo continuará a experimentar uma crise, dado o seu defeito sistêmico identificado primeiramente por Karl Marx há mais de um século. Roubini, que há quatro anos previu a crise financeira global diz que uma das críticas ao capitalismo feitas por Marx está se provando verdadeira na atual crise financeira global.
Joseph Lazzaro - The International Business Time
(www.cartamaior.com.br)


Há um velho axioma que diz que “sábia é a pessoa que aprecia a sinceridade quase tanto como as boas notícias”, e com ele como guia, situa decididamente o futuro na categoria da sinceridade.

O professor de economia da Universidade de Nova York, doutor Nouriel “Dr. Catástrofe” Roubini disse que, a não ser que haja outra etapa de massivo incentivo fiscal ou uma reestruturação da dívida universal, o capitalismo continuará a experimentar uma crise, dado o seu defeito sistêmico identificado primeiramente pelo economista Karl Marx há mais de um século.

Roubini, que há quatro anos previu acuradamente a crise financeira global disse que uma das críticas ao capitalismo feitas por Marx está se provando verdadeira na atual crise financeira global.

A crítica de Marx em vigor, agora
Dentre outras teorias, Marx argumentou que o capitalismo tinha uma contradição interna que, ciclicamente, levaria a crises e isso, no mínimo, faria pressão sobre o sistema econômico. As corporações, disse Roubini, motivam-se pelos custos mínimos, para economizar e fazer caixa, mas isso implica menos dinheiro nas mãos dos empregados, o que significa que eles terão menos dinheiro para gastar, o que repercute na diminuição da receita das companhias.

Agora, na atual crise financeira, os consumidores, além de terem menos dinheiro para gastar devido ao que foi dito acima, também estão motivados a diminuírem os custos, a economizarem e a fazerem caixa, ampliando o efeito de menos dinheiro em circulação, que assim não retornam às companhias.

“Karl Marx tinha clareza disso”, disse Roubini numa entrevista ao The Wall Street Journal: "Em certa altura o capitalismo pode destruir a si mesmo. Isso porque não se pode perseverar desviando a renda do trabalho para o capital sem haver um excesso de capacidade [de trabalho] e uma falta de demanda agregada. Nós pensamos que o mercado funciona. Ele não está funcionando. O que é racional individualmente ... é um processo autodestrutivo”.

Roubini acrescentou que uma ausência forte, orgânica, de crescimento do PIB – coisa que pode aumentar salários e o gasto dos consumidores – requer um estímulo fiscal amplo, concordando com outro economista de primeira linha, o prêmio Nobel de economia Paul Krugman, em que, no caso dos Estados Unidos, o estímulo fiscal de 786 bilhões de dólares aprovado pelo Congresso em 2009 era pequeno demais para criar uma demanda agregada necessária para alavancar a recuperação da economia ao nível de uma auto expansão sustentável.

Na falta de um estímulo fiscal adicional, ou sem esperar um forte crescimento do PIB, a única solução é uma reestruturação universal da dívida dos bancos, das famílias (essencialmente das economias familiares), e dos governos, disse Roubini. No entanto, não ocorreu tal reestruturação, comentou.

Sem estímulo fiscal adicional, essa falta de reestruturação levou a “economias domésticas zumbis, bancos zumbis e governos zumbis”, disse ele.

Fora o estímulo fiscal ou a reestruturação da dívida, não há boas escolhas

Os Estados Unidos, disse Roubini, pode, em tese: a) crescer ele mesmo por fora do atual problema (mas a economia está crescendo devagar demais, daí a necessidade de mais estímulo fiscal); ou b) retrair-se economicamente, a despeito do mundo (mas se muitas companhias e cidadãos o fizerem junto, o problema identificado por Marx é ampliado); ou c) inflacionar-se (mas isso gera um extenso dano colateral, disse ele).

No entanto, Roubini disse que não pensa que os EUA ou o mundo estão atualmente num ponto em que o capitalismo esteja em autodestruição. “Ainda não chegamos lá”, disse Roubini, mas ele acrescentou que a tendência atual, caso continue, “corre o risco de repetir a segunda etapa da Grande Depressão”—o erro de ‘1937’.

Em 1937, o presidente Franklin D. Roosevelt, apesar do fato de os primeiros quatro anos de massivo incentivo fiscal do New Deal ter reduzido o desemprego nos EUA, de um cambaleante 20,6% na administração Hoover no começo da Grande Depressão, a 9,1%, foi pressionado pelos republicanos congressistas – como o atual presidente Barack Obama fez com o Tea Party, que pautou a bancada republicana no congresso em 2011 – , rendeu-se aos conservadores e cortou gastos do governo em 1937. O resultado? O desemprego estadunidense começou o ano de 1938 subindo de novo, e bateu a casa dos 12,5%.

Cortar os gastos do governo prematuramente feriu a economia dos EUA em 1937, ao reduzir a demanda, e Roubini vê o mesmo padrão ocorrendo hoje, ao se seguir as medidas de austeridade implementadas pelo acordo da dívida implemented by the U.S. debt deal act.

Roubini também argumenta que os levantes sociais no Egito e em outros países árabes, na Grécia e agora no Reino Unido têm origem econômica (principalmente no desemprego, mas também, no caso do Egito, no aumento do custo de vida). Em seguida, argumenta que, ao passo que não se deve esperar um colapso iminente do capitalismo, ou mesmo um colapso da sua versão estadunidense, o capitalismo corporativo – capitalismo e mercados livres são rápidos demais e capazes de se adaptarem - dizer que a ordem econômica atual não está experimentando uma crise não é correto.


Fonte: http://www.ibtimes.com/articles/197468/20110813/roubini-nouriel-roubini-dr-doom-financial-crisis-debt-crisis-europe.htm

Tradução: Katarina Peixoto


Os distúrbios de rua que sacudiram Londres e outras cidades inglesas nos últimos dias representam mais um capítulo da jornada de protestos que vem atingindo diversos desde o final de 2010. Dos protestos no Egito aos saques em Londres, há um percurso que, se por um lado apresenta diferenças e características próprias a cada país, por outro, trazem um elemento comum: a crise econômica e financeira internacional iniciada em 2008 está cobrando seu preço. O fracasso retumbante do modelo neoliberal de desregulamentação e enfraquecimento do Estado aparece nas ruas hoje como falta de emprego, moradia, vida digna e perspectiva de futuro. Não é irrelevante o fato de que esse modelo que agora sangra nas ruas nasceu em larga medida da Inglaterra de Margaret Thatcher.

Conforme mostra matéria do correspondente da Carta Maior em Londres, Marcelo Justo, os protestos dos últimos dias não começaram em Tottenham por acaso:

Tottenham é a zona com o maior nível de desemprego de Londres e uma das dez mais pobres do Reino Unido. Com 75% de cortes no orçamento do bairro, desapareceram os clubes juvenis, essenciais durante o verão e as férias escolares. Com tanto tempo livre nas mãos, com uma desigualdade onde as receitas dos mais ricos cresceram 273 vezes mais que as dos mais pobres, em uma sociedade na qual o dinheiro se converteu em valor supremo, surpreende realmente que estes fatosocorram?

A Carta Maior preparou um especial para este fim de semana com reportagens e artigos que analisam esses protestos à luz de um modelo fracassado que foi cantado em prosa e verso durante pelo menos duas décadas.
Leia os artigos deste especial aqui
http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm?home_id=121&alterarHomeAtual=1



Enviado por Beth Queijo
Muito além de delinquência

Por trás dos saques na Inglaterra, decadência dos serviços públicos, domínio do Estado pelas finanças, sensação de desigualdade e desamparo
Por
Alessandro Dal Lago, no Liberazione. Tradução: Daniela Frabasile e Pep Valenzuela

Não surpreende que as revoltas que explodiram em quase todas as grandes cidades inglesas sejam recebidas pelo governo, pelos tablóides e pelos maiores meios de comunicação, pelo menos inicialmente, com os clichês habituais: além da referência óbvia a bandos, a instrumentalização dos protestos por criminosos, as gangs jovens, os provocadores que chegaram de forae assim por diante. É o exorcismo de sempre frente aquilo que poderia ser mais ou menos previsto e que tem notáveis precedentes nas metrópoles ocidentais: dos riots de Los Angeles em 1992 até a explosão das periferias parisienses em 2005.


Uma rápida análise dos vídeos transmitidos pela BBC, ou por sites como os do The Guardian e Al Jazeera deixa claro, porém, que a realidade é completamente diferente. A revolta é capilar, amplamente espontânea, por mais que tenha sido facilitada pela disponibilidade de tecnologias de informação de baixo custo, e sobretudo transversal. Nas ruas, veem-se jovens encapuzados, adolescentes que enfrentam a polícia e gente de todas as idades que saqueia lojas. De toda origem e proveniência, mas se agrupam por viverem nos distritos mais pobres que rodeiam o centro privilegiado e de moda de uma das capitais financeiras do mundo.


Não surpreende que, além da polícia, muito odiada, o alvo dos saques sejam lojas como Sony, Foot Locker, McDonald's, joalherias e magazines de grandes marcas. Ou seja, os símbolos tangíveis da opulência alta ou média de que, evidentemente, uma grande parte da população londrina está excluída. Exatamente como em Los Angeles em 1992, quando a população de South Central ocupou os bairros ocidentais e acomodados na metrópole. Ou em Paris, em 2005, quando os habitantes das banlieues atacaram a ferro e fogo os Campos Elíseos.


O saque está relacionado à luta de classes, em uma forma elementar e pré-política. Exatamente isso que o establishment inglês, exorciza falando de mero vandalismo, e as primeiras e tímidas vozes de especialistas de várias comunidades locais, ou ativistas sociais, começam a definir como aquilo que realmente é: reação aos cortes [de serviços públicos] impostos pelo governo conservador.


Por outro lado, as manifestações do ano passado contra o aumento das taxas universitárias eram um sinal do mal-estar juvenil diante da proletarização dos membros mais fracos das camadas médias. O bem-estar de uma das sociedades consideradas mais estáveis do Ocidente foi sempre uma imagem falsa. Ou melhor, é um bem-estar limitado aos que vivem das finanças e de seus derivados (comércio, informação, serviços, luxo, etc.), mas que não chega ao resto da sociedade, amplamente desindustrializada e empobrecida.


A proibição até das partidas de futebol, tradicionalmente considerado na Inglaterra como um esporte capaz de absorver os conflitos sociais e de geração, diz muito. Não se trata somente de uma medida de ordem pública. É um sinal de que a sociedade inglesa, por debaixo da aparência de seus rituais de massas, está profundamente em crise.


O que mais surpreende é que ninguém tenha relacionado as revoltas inglesas com a crise financeira, que há anos atinge o Ocidente e hoje parece prestes a converter-se em catástrofe. Londres particularmente, como terceiro centro financeiro no mundo, é a expressão do dominio das finanças sobre a economia real.


No mundo, o volume das transações financeiras é, hoje, seis vezes maior que o das trocas comerciais. O ataque à dívida pública, ou seja a soberania do Estado, por parte da especulação internacional, encontra somente as respostas habituais de uma política econômica recessiva e submetida às imposições das agências de risco, ou dos bancos norte-americanos e ingleses. Mas aonde podem levar os cortes das pensões, da formação superior, da segurança social e da assistência médica? Exatamente ao que está acontecendo na Inglaterra.

Nesse sentido, Londres e Birmingham, Bristol e Manchester antecipam o que inevitavelmente acontecerá na Espanha, Itália e provavelmente na França, quando a sociedade tiver que pagar o preço de uma política amplamente liberal e das guerras insensatas que estão esgotando os recursos dos Estados ocidentais. Certamente, as revoltas não podem ser previstas, mas uma crise social sem precedentes está por vir, ou, na realidade, já começou.




Raul Prebisch teria muito a dizer sobre a crise financeira atual, diz biógrafo canadense
Edgar Dosman lança sua obra no Brasil e diz que parceiro de Celso Furtado, defensor do papel do Estado como organizador do desenvolvimento, desconfiava do quão sustentável seria uma economia voltada à exportação de commodities, enquanto as nações do Norte investem em indústria e inovação.
Leia resenha aqui http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18268&boletim_id=984&componente_id=15842



Enviado por Helena Campos


Pierre Piccinin: Síria, uma realidade editada

Durante o mês de julho, viajei pela Síria, com o objetivo de entender melhor, pessoalmente, a origem do atual conflito político. Circulei livremente pelo país, a partir de Dera, por Damasco, Homs, Hama, Maraat-an-Numan, Jisr-al-Shigur, na fronteira com a Turquia, até Deir-ez-Sor, locais, todos esses, onde a imprensa noticiou irrupções de violência.

Testemunhei várias lutas internas, algumas das quais violentas, movidas por objetivos que absolutamente nada têm a ver com objetivos democráticos ou pacifistas. A Fraternidade Muçulmana, por exemplo, trabalha para fazer da Síria uma república islâmica, o que, por sua vez, aterroriza os cristãos e outras minorias.

Embora não fosse objetivo da minha pesquisa, surpreendeu-me o quanto a imagem que a imprensa tem oferecido da Síria, país que estaria vivendo processo revolucionário em grande escala, absolutamente não corresponde, de modo algum, à realidade em campo.

De fato, os movimentos de protesto em grande escala já estão esvaziados, devido em parte à repressão; hoje, os manifestantes não ultrapassam poucas centenas, concentrados em volta das mesquitas e, na maioria, com marcas claras da influência dos movimentos islâmicos.

Exatamente por isso, só na cidade de Hama, reduto cultural da Fraternidade Muçulmana e atualmente sob estado de sítio, ainda se veem protestos mais amplos.

Centro de violenta revolta em 1982, que foi esmagada por Hafez al-Assad, pai do atual presidente, Hama está hoje cercada pelo exército, pesadamente armado. Mas o governo optou por não atacar a cidade, o que geraria um banho de sangue, temeroso das repercussões e das críticas da comunidade internacional.

Entrei em Hama dia 15 de julho, sexta-feira. Rapidamente, fui cercado por jovens que policiam a cidade. Mostrei-lhe meu passaporte belga, e a situação acalmou-se: "Belgicaa! Belgicaa!". Como único observador estrangeiro na cidade, levaram-me até o centro das manifestações. De um ponto elevado da cidade, tirei várias fotos, que mostram a extensão da destruição da cidade.

Na praça Asidi, ao final da grande avenida El-Alamein, as orações estavam para começar, e via-se muita gente aproximando-se da praça, vinda de todos os lados da cidade, aos gritos, desafiadores de ‘Allah Akbar!’

Naquela mesma noite, 15 de julho, recebi o noticiário da AFP, que noticiava manifestações em toda a Síria, 500 mil só em Hama. Mas em Hama, como eu podia ver, não havia mais de 10 mil manifestantes.

Essa "informação" é ainda mais absurda, se se sabe, como qualquer um pode verificar, que a cidade de Hama tem população de apenas 370 mil habitantes.

Claro que há uma margem de variação razoável, conforme as fontes. Mas, nesse caso, não se tratava de estimativa: a AFP claramente desinformou – pura propaganda. Os números foram inventados para criar uma notícia: 500 mil manifestantes poderiam abalar qualquer governo; 10 mil, pouco significam.

Além do mais, todas as "informações" sobre a situação na Síria têm sido distorcidas, sempre na mesma direção, já há vários meses.

Que fontes a Agência FrancePresse (AFP) cita?

A mesma fonte que sistematicamente é citada por toda a imprensa e que já tem hoje declarado monopólio da informação sobre os protestos na Síria: o Observatório Sírio para Direitos Humanos [orig. Syrian Observatory for Human Rights (SOHR)].

Sob verniz superficial de respeitabilidade e profissionalismo, esconde-se uma organização política com sede em Londres, presidida por ninguém menos que Rami Abdel Raman, declarado inimigo político do regime Baath, com laços com a Fraternidade Muçulmana.

Por isso, já há vários meses, a imprensa ocidental divulga uma realidade editada, colhida sempre de uma única fonte, cuja versão, pelo que se vê, nenhum jornal ou rede de televisão, e nenhum jornalista, achou necessário questionar ou confirmar.

A versão segundo a qual a Síria estaria em processo de revolução ampla, com o governo do partido Baath à beira do fim, absolutamente não corresponde à realidade. O governo sírio mantém-se plenamente no controle da situação e o que resta das manifestações está dividido em vários grupos, consideravelmente marginalizados.

Mas as consequências desse mais recente caso de desinformação pela imprensa têm longo alcance: parece que ainda não se aprenderam as lições de Timisoara, da Guerra do Golfo ou dos eventos na Iugoslávia.

A imprensa europeia continua a deixar-se enganar por informações construídas a partir de notícias de segunda mão, mal sistematizadas e jamais conferidas. Assim, pouco faz além de criar uma realidade virtual, sem qualquer fundamento em fatos, que oferece como se fosse informação aos leitores/telespectadores/ouvintes.

Sempre que a imprensa falha e não cumpre seu dever de oferecer informação genuína e bem construída, por mais que toda a imprensa perca, o maior risco que se cria é contra a democracia.

*Pierre Piccinin é professor de História e Ciência Política em Bruxelas.
Fonte: Blog Open Santi, traduzido por Castor Filho


Países ricos saqueiam a Somália e depois fazem 'campanhas humanitárias' para aplacar fome que impuseram.
Leia o texto e veja um vídeo em http://blogdomello.blogspot.com/2011/08/paises-ricos-saqueiam-somalia-e-depois.html




O significado da universidade brasileira. Ensaio de história política

por UBIRACY DE SOUZA BRAGA
Após abrir os portos do Brasil às chamadas “nações amigas” (cf. Aguiar, 1960), D. João VI assinou, em 18 de fevereiro de 1808, o documento que mandou criar a Escola de Cirurgia da Bahia, atual Universidade Federal da Bahia – UFBA, e deu início ao ensino da medicina no país. No mesmo ano, a Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ foi criada pelo príncipe regente D. João, por Carta Régia, ou seja, por decreto, assinada no dia 5 de novembro de 1808, com o nome de Escola de Anatomia, Medicina e Cirurgia, e instalada. Assim, desde a sua progênie a desigualdade social na distribuição de médicos no Brasil acompanha outros abismos sociais existentes no país, como é o caso dos professores universitários e o significado da universidade brasileira para o 3º Milênio (cf. Ribeiro, 1969; 1978; 1993). LEIA NA ÍNTEGRA: http://espacoacademico.wordpress.com/2011/08/13/o-significado-da-universidade-brasileira-ensaio-de-historia-politica/


Ana Claudia me enviou



Recebi e estou lendo “68: a Geração que queria mudar o mundo”, obra editada pela Comissão de Anistia e pelo Ministério da Justiça.
Esperei por esse livro tal qual a personagem de “Felicidade Clandestina”, conto de Clarice Lispector, em que a menina, personagem central, ao ter entre as mãos “Reinações de Narizinho” de Lobato, deixa de ser menina e, nas palavras da Autora, passa a se sentir mulher, uma mulher com seu amante.
Pois é, “uma mulher com seu amante”. É assim que me sinto, tal a excitação, que me toma da cabeça aos pés, ou “do cóccix até o pescoço”, como diria Elza Soares, tal o desejo de devorar aquela obra.
São 687 páginas, e embora já tenha lido metade do livro, a sede não passa. É sede de retirante quem sabe de lobo no deserto.
Edição muitíssimo bem cuidada, a obra é dividida em tópicos, o que possibilita uma leitura a partir do meio, do fim, ou quem sabe, aos mais organizados e menos ansiosos, do início ao final. É o que não faço. Começo pelos autores que conheço, pelos títulos que me atraem mais, embora todos me atraiam. Mas vamos lá. Mesmo este comentário deixando a desejar por ser incompleto, não resisto à tentação de passar minhas impressões sobre tantos textos reveladores e interessantes.
Nesta obra caleidoscópica, textos dramáticos convivem com outros em que a ternura, a solidariedade, e não poucas vezes o humor, nos levam a chorar e a rir, e quando isso acontece, amenizam as lembranças do que vivemos.
Acredito que nunca mais o mundo terá uma geração como a nossa. E com isso não quero desmerecer a juventude atual. Apenas constatar que a situação que vivemos exigiu aquele tipo de atuação. Não concordo com os que dizem que a juventude de hoje é alienada e nada faz. Apenas vejo que os interesses e os objetivos são outros.
Mas voltando ao livro: nele encontrei textos para ler e reler muitas vezes. Começaria pelo do poeta pernambucano Marcelo Mário que escreveu sobre o líder camponês Francisco Julião, e diz que ele era “o único a levar a multidão às ovações”. E mais adiante comenta que Julião era poeta, e pura poesia eram seus discursos. O líder utilizava em suas falas metáforas e comparações que tinham a ver com sua vivência de camponês, e assim se fazia compreender tanto pelo intelectual como pelo homem do povo. Belíssimo o texto de Marcelo Mário.
Logo adiante “Geração 68 e avalanche Cultural”, de Leôncio de Queiroz”. O autor relembra que a de 68 foi a geração que leu Monteiro Lobato, e completo: a figura de Emília se eternizou em cada um de nós, e é ela que até hoje nos cutuca quando nos vemos diante de alguma injustiça.
Leo faz justiça aos governos Juscelino e Jango, além do curtíssimo período do Jânio, quando diz que foram “os de mais fecunda criação artística e cultural no Brasil”. E relembra que foi durante aqueles anos que surgiu o cinema novo, os grandes compositores, escritores, os grandes nomes do teatro e da arquitetura, além do destaque que dá aos geógrafos e educadores. Nunca mais o país foi o mesmo. Sim, nossa geração não apenas quis, ela conseguiu mudar muita coisa no mundo.
Dos mais importantes esse registro do Léo, pois não se faz uma revolução só com armas, mas também, e principalmente, com Arte. E ele reconhece isso.
Mais adiante me deparo com o depoimento de Affonso Henriques G. Correa, em “Agitação no Salão de Tortura” que nos leva às lágrimas ao contar que na autópsia de Virgílio Gomes da Silva, preso assassinado pela repressão, consta que todos os ossos foram quebrados, e todos os órgãos danificados. Apenas um ficou intacto: o coração. Hoje quando emoção e sensibilidade parecem estar fora de moda, é bom parar a leitura, descansar o livro sobre a mesa, e refletir.
É de Ivan Cavalcanti Proença um dos mais belos textos da obra. “Aquele Primeiro de Abril”, saído das mãos de um mestre da escrita, a que se alia a emoção do que registrou. É preciso não perder uma palavra, uma vírgula desse texto, ler as entrelinhas, e saber a que leva a dignidade de um homem quando toma uma decisão que irá mudar para sempre sua vida.
Mas tem também os textos com um humor leve, deliciosos, que se mescla à tristeza, nas palavras de Inês Oludé da Silva ao relembrar, em um deles, o amigo que fingia estar sempre a morrer. Inês nos prende do início ao fim do seu relato.
E há o maravilhoso “Paissandu e Oklahama” de Eliete Ferrer, que coordenou a publicação do livro. Tenho a impressão de que poderia ser assinado por qualquer um de nós. Foi a sensação que tive, tão bem ela retrata o modo de viver da nossa geração. É só trocar os nomes dos bares, os endereços das repúblicas, os nomes dos amigos, e teremos o mesmo clima, as mesmas casas, os mesmos bares, as mesmas faculdades...Belíssimo texto.
Vou ao texto do Velso Ribas que escreveu sobre seu pai . Que saudade me deu das suas mensagens ao Grupo “osamigosde68”. Não cheguei a conhecê-lo pessoalmente, embora tenha ido ao hospital visitá-lo dois dias antes de seu falecimento, e o reencontro nesse texto que me levou às lágrimas, não sei se pelo pai, não sei se pelo filho.
Mas é impossível parar sem ler o que Urariano escreveu. Em todos se revela a sensibilidade do autor. A mão do mestre a relembrar os amigos e as situações vividas com eles.
Uma das coisas a me chamar mais a atenção é o sentimento de amizade que perpassa nas páginas do livro. Em quase todas nas lembranças que revivem existe a presença de algum amigo. Alguns não falam de suas dores, mas sim do que presenciaram de sofrimento em alguém.
Sinto uma ponta de tristeza ao constatar que Sílvio Tendler não conseguiu realizar seu primeiro filme aos 18 anos, por culpa da repressão. Que as filmagens de João Cândido que ele confiara a uma pessoa, foram queimadas por medo da repressão. Perdemos com isso as últimas palavras do almirante negro, que já bem doente deu sua última entrevista ao hoje nosso grande cineasta.
No depoimento de Roque Aparecido da Silva revivo a greve de Osasco de 68, que acompanhei de perto na época. Situações difíceis que o autor superou driblando a polícia. Ora trocando de nome, ora fingindo que sua mulher na época, Ana Maria Gomes, desconhecia sua participação.
E há o relato de Lao, que narra a sua cerimônia de casamento em 1970, escondendo dos familiares sua participação na luta contra a ditadura, e falando das marcas que a ditadura lhe deixou, a ponto de até hoje sentir dificuldade de visitar o Memorial da Resistência.
Há os belos textos de Pedro Viegas, herói do movimento dos Marinheiros. Em um deles, "Operação Salvamento" ,conta uma passagem em que ele era um dos que precisaram resgatar um companheiro de luta sob a suspeita do resgatado, que achava estar sendo levado por inimigos. Texto que mostra bem o clima de desconfiança existente nas relações, e como para salvar o amigo ele enfrentou aquelas suspeitas.
Mas o livro não traz apenas textos em prosa. De repente em meio às paginas nos deparamos com “Claros Sonâmbulos da noite”, a belíssima canção do Exílio de Guilem Rodrigues da Silva, em que vê na pátria distante a mulher amada que se é forçado a abandonar.
Continuo lendo a obra aleatoriamente. Em cada página encontro um motivo para recordar, me emocionar, me entristecer, me revoltar...e também para rir.
Vou ler todos os textos. Não perderei nenhuma vírgula, nenhum espaço. E cada vez mais me convenço: que linda é a história da nossa Geração!


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MISCELÂNEA CAFÉ HISTÓRIA

O Homossexual no Cinema: O Dilema da Representação

Fábio Silveira, jornalista especializado em cinema e música, escreve excelente artigo sobre a forma como a temática gay vem sendo sendo discutida e representada pela narrativa cinematográfica mundial

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CAFÉ EXPRESSO NOTÍCIAS

Historiador diz que 'brancos viraram negros' e causa polêmica

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DOCUMENTO HISTÓRICO

Carta de 1925 representa o conjunto documental denominado "Revolução de 1924", hoje em posse do Arquivo Histórico de São Paulo.

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Projeto Todos os Meninos

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Egito Antigo: politeísta ou monoteísta ?

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Por que os professores estão tão despreocupados com o ensino de História?
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Vinte anos para mudar o mundo
Immanuel Wallerstein alerta: os Estados Unidos declinarão mais rapidamente, mas isso não garante nada. É hora dos projetos de longo prazo

Demétria, terra livre no Brasil
Como se organizam trabalho e vida social numa comunidade que produz sem agrotóxicos, confinamento do gado ou propriedade privada. Por Anjee Cristina

“Comuns”: novo projeto para a revolução?
As revoltas de indignados realçam obra de Toni Negri, para quem já não se enfrenta capitalismo tomando Palácios de Inverno. Por Ed Emery

“Parem de mimar os super-ricos”
Warren Buffet, mega-milionário global alerta: ao não tributarem grandes fortunas, em meio à crise, governos e parlamentos estão à beira da desmoralização ...

Cenas de uma Londres conflagrada
Dois brasileiros narram semana em que a cidade foi tomada primeiro pela revolta das gangs pobres; depois, pelo conservadorismo dos amedrontados. Por Fabi Borges e Hilan Bensusan

quarta-feira, 10 de agosto de 2011








Esquecendo um pouco a crise, hoje o Boletim traz três matérias bem tupiniquins. A crítica ao Judiciário, a crítica ao Legislativo e a crítica à mídia que não quer deixar a presidenta em paz.






Chame o ladrão, chame o ladrão!


Texto de José de Souza Castro (publicado no blog da Kikacastro, imagem inclusive)
Depois de escrever “Injustiçados – O caso Portilho”, eu me sentia dispensado de continuar me preocupando com o poder judiciário, apesar de algumas recaídas, como aquela que levou uma juíza federal mineira a me ameaçar com um processo por injúria e difamação. No tempo em que escrevi o livro, a imprensa raramente se ocupava dos malfeitos dos juízes, o que não ocorre agora. Que o diga o mais novo ministro do Supremo, José Antônio Dias Toffoli, com sua ainda inexplicável gazeta à ilha de Capri, na Itália, para assistir ao casamento do advogado criminalista Roberto Podval, com despesas de hospedagem pagas pelo noivo.
O que me traz de volta ao tema é a notícia de hoje de que o Supremo Tribunal Federal quer elevar os vencimentos dos seus ministros, dos atuais 26.725 reais, para 30.667 reais, em 2012. Se o pleito for aprovado, mais um rombo nas finanças públicas.
E por que não seria, se os que têm algum poder de decisão sobre isso, eles também seriam beneficiados com esse aumento de 14,8% para os ministros do Supremo, já que o novo teto de todo o funcionalismo público subiria para 30.677 reais?
Pior, o aumento de 14,8% teria efeito cascata, tornando ainda mais confortável a vida dos juízes, país afora. Para não falar na presidente da República, senadores, deputados federais, deputados estaduais, governadores, vereadores e um carrilhão de outros que são eleitos com nossos votos – ou não. Como o procurador geral da Justiça que não é eleito com nossos votos, mas sim indicados pelo presidente da República, se federal, ou pelos governadores, se estaduais.
O que poderia impedir a desfaçatez, eu diria, é o clamor público. Se houver.
E pode haver, pois ninguém aguenta mais ter seus salários na iniciativa privada reajustados em nível bem mais baixo do que o aumento dos impostos que ocorre sempre, para que os governantes possam arcar com as despesas do funcionalismo público – e dos juros, como a cereja no bolo.
Vale lembrar que o funcionário público, ao se aposentar, carrega consigo o valor integral dos vencimentos – 26.725 no caso dos que ganham pelo teto, hoje – e não o teto do INSS, de pouco mais de 3.600 reais, e cujos benefícios para os aposentados (a imensa maioria ganhando apenas o salário mínimo) foram reajustados pela última vez em cerca de 6%.
Antes de encerrar, é preciso reafirmar que a justiça, além de ineficiente, é muito cara. Só o Supremo Tribunal Federal quer ter um orçamento, em 2012, de 614 milhões de reais, dos quais 391 milhões para gastos com pessoal.
Então, para que não se diga que não participei desse clamor público, estou protestando aqui. Pela primeira vez, acho que não estarei clamando no deserto.


Colaboração de Ana Cláudia:

Protesto contra o salário absurdo dos deputados


Publicado em 11/07/2011 Rhodrigo Deda o rhodrigodeda@gmail.com
O Poder Legislativo brasileiro tem sido protagonista de tantos episódios desastrosos no que se refere à moralidade pública, que em algum momento certamente alguém iria questionar os valores gastos para manter os parlamentares e suas estruturas nababescas de trabalho. E, ao que tudo indica, os questionamentos sobre custo e qualidade da representação política acabam de começar. Com uma estratégia de mobilização via redes sociais, Vinícius Ribeiro e Janz Léo iniciaram uma campanha no Facebook chamada "Protesto contra o salário absurdo dos Deputados".

A partir da zero hora de hoje, vão deflagrar articulações no mundo virtual para realizar um protesto em nível nacional, que deverá acontecer no dia 7 de setembro deste ano nas ruas das cidades brasileiras. A intenção é unir forças ao "Manifesto Contra a Corrupção", que também vem se organizando via redes e irá realizar eventos no Dia da Independência do Brasil.

Prestes a começar mestrado em Ciências Políticas na Suécia, Vinícius Ribeiro afirma que o Brasil é o país que mais gasta com parlamentares no mundo. "Enquanto gastamos cerca de R$ 10,2 milhões anuais com parlamentares, a Itália - o país que mais gasta depois de nós - despende R$ 3,9 milhões."

Ao menos na internet, o ambiente para o protesto é favorável. Segundo Ribeiro, a campanha "Apoie a redução do salário dos políticos brasileiros" já tem mais de 14 mil apoiadores, no "Causes" - um site no qual os internautas podem conhecer e apoiar "grandes causas". Atenção para o detalhe, a cifra de 14,5 mil apoiadores foi conseguida em 16 dias.

Se Vinícius Ribeiro e Janz Léo conseguirem transpor o mesmo êxito viral obtido na internet para as praças públicas do país, no Dia da Independência, estarão realizando um feito notável. Até porque, nas palavras de Ribeiro, "o Brasil é um país no qual as pessoas mais tendem a evitar a política", afirma Ribeiro. Curiosamente, diz ele, é nos países onde menos se discute política em sala de aula que os gastos são os mais altos.

Na página do "Protesto contra o salário absurdo dos Deputados", no Facebook, Ribeiro e Léo se dizem inconformados com a apatia da população brasileira. "O jornal El País perguntou: "¿Por qué los brasileños no reaccionan ante la impunidad, hipocresía, corrupción y falta de ética de muchos de los que les gobiernan?" (http://bit.ly/rdspjK). E como todos nós já estamos fartos deste indiferentismo brasileiro, dessa vez vamos mostrar-lhes que não é bem assim." A publicação a que se referem feita no El País, trata-se de uma análise do correspondente daquele jornal, Juan Arias, datada de 7 de julho, em que analisa o motivo pelo qual não se vê reação dos brasileiros contra a corrupção.
Em sua análise, Arias comenta os episódios recentes da queda de Antonio Palocci (PT), da Casa Civil, e de Alfredo Nascimento (PR), do Ministério dos Trans¬portes, e lamenta que os jovens não manifestem um mínimo de reação diante da corrupção dos governantes. "Será que os jovens, especialmente [os brasileiros], não têm motivos para exigir um Brasil não somente mais rico a cada dia, ou pelo menos menos pobre, (...), mas também um Brasil menos corrupto em suas esferas políticas (...)?"

A pergunta dele é pertinente. Quais são os motivos que conduziram a essa apatia, ainda mais num momento em que em vários lugares do mundo, na Europa e no mundo árabe se veem jovens reivindicando medidas anticorrupção e mudanças que tornem as instituições mais democráticas? Vinícius Ribeiro acredita que esse quadro de passividade do brasileiro pode mudar. "Nós vemos o papel importante que as redes sociais, o Facebook, tiveram nos protestos no Egito, na Tunísia, e em outros países da África."
As redes sociais na internet têm facilitado a mobilização dos cidadãos, em especial os jovens. Mas, ainda é difícil dizer se elas bastam para que saiam às ruas, ou permaneçam mobilizados contra a corrupção e os maus costumes políticos. Se Vinícius Ribeiro estiver certo, em 7 de setembro os parlamentares terão motivos para rever sua conduta.
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?tl=1&id=1145876&tit=O-custo-dos-parlamentares-na-mira



Outra colaboração da Ana Cláudia:

A Globo vai partir pra cima de Amorim: isso prova que Dilma escolheu bem!
por Rodrigo Vianna

Acabo de receber a informação, de uma fonte que trabalha na TV Globo: a ordem da direção da emissora é partir para cima de Celso Amorim, novo ministro da Defesa.

O jornalista, com quem conversei há pouco por telefone, estava indignado: “é cada vez mais desanimador fazer jornalismo aqui”. Disse-me que a orientação é muito clara: os pauteiros devem buscar entrevistados – para o JN, Jornal da Globo e Bom dia Brasil – que comprovem a tese de que a escolha de Celso Amorim vai gerar “turbulência” no meio militar. Os repórteres já recebem a pauta assim, direcionada: o texto final das reportagens deve seguir essa linha. Não há escolha.

Trata-se do velho jornalismo praticado na gestão de Ali Kamel: as “reportagens” devem comprovar as teses que partem da direção.

Foi assim em 2005, quando Kamel queria provar que o “Mensalão” era “o maior escândalo da história republicana”. Quem, a exemplo do então comentarista Franklin Martins, dizia que o “mensalão” era algo a ser provado foi riscado do mapa. Franklin acabou demitido no início de 2006, pouco antes de a campanha eleitoral começar.

No episódio dos “aloprados” e do delegado Bruno, em 2006, foi a mesma coisa. Quem, a exemplo desse escrevinhador e de outros colegas na redação da Globo em São Paulo, ousou questionar (“ok, vamos cobrir a história dos aloprados, mas seria interessante mostrar ao público o outro lado – afinal, o que havia contra Serra no tal dossiê que os aloprados queriam comprar dos Vedoin?”) foi colocado na geladeira. Pior que isso: Ali Kamel e os amigos dele queriam que os jornalistas aderissem a um abaixo-assinado escrito pela direção da emissora, para “defender” a cobertura eleitoral feita pela Globo. Esse escrevinhador, Azenha e o editor Marco Aurélio (que hoje mantem o blog “Doladodelá”) recusamo-nos a assinar. O resultado: demissão.

Agora, passada a lua-de-mel com Dilma, a ordem na Globo é partir pra cima. Eliane Cantanhêde também vai ajudar, com os comentários na “Globo News”. É o que me avisa a fonte. “Fique atento aos comentários dela; está ali para provar a tese de que Amorim gera instabilidade militar, e de que o governo Dilma não tem comando”.
Detalhe: eu não liguei para o colega jornalista. Foi ele quem me telefonou: “rapaz, eu não tenho blog para contar o que estou vendo aqui, está cada vez pior o clima na Globo.”

A questão é: esses ataques vão dar certo? Creio que não. Dilma saiu-se muito bem nas trocas de ministros. A velha mídia está desesperada porque Dilma agora parece encaminhar seu governo para uma agenda mais próxima do lulismo (por mais que, pra isso, tenha tido que se livrar de nomes que Lula deixou pra ela – contradições da vida real).

Nada disso surpreende, na verdade.

O que surprendeu foi ver Dilma na tentativa de se aproximar dessa gente no primeiro semestre. Alguém vendeu à presidenta a idéia de que “era chegada a hora da distensão”. Faltou combinar com os russos.

A realidade, essa danada, com suas contradições, encarregou-se de livrar Dilma de Palocci, Jobim e de certa turma do PR. Acho que aos poucos a realidade também vai indicar à presidenta quem são os verdadeiros aliados. Os “pragmáticos” da esquerda enxergam nas demissões de ministros um “risco” para o governo. Risco de turbulência, risco de Dilma sofrer ataques cada vez mais violentos sem contar agora com as “pontes” (Palocci e Jobim eram parte dessas pontes) com a velha mídia (que comanda a oposição).

Vejo de outra forma. Turbulência e ataques não são risco. São parte da política.

Ao livrar-se de Jobim (que vai mudar para São Paulo, e deve ter o papel de alinhar parcela do PMDB com o demo-tucanismo) e nomear Celso Amorim, Dilma fez uma escolha. Será atacada por isso. Atacada por quem? Pela direita, que detesta Amorim.

Amorim foi a prova – bem-sucedida – de que a política subserviente de FHC estava errada. O Brasil, com Amorim, abandonou a ALCA, alinhou-se com o sul, e só cresceu no Mundo por causa disso.
Amorim é detestado pelos méritos dele. Ou seja: apanhar porque nomeou Amorim é ótimo!

Como disse um leitor no twitter: “Demóstenes, Álvaro Dias e Reinaldo Azevedo atacam o Celso Amorim; isso prova que Dilma acertou na escolha”.

Não se governa sem turbulência. Amorim é um diplomata. Dizer que ele não pode comandar a Defesa porque “diplomatas não sabem fazer a guerra” (como li num jornal hoje) é patético.

O Brasil precisa pensar sua estratégia de Defesa de forma cada vez mais independente. É isso que assusta a velha mídia – acostumada a ver o Brasil como sócio menor e bem-comportado dos EUA. Amorim não é nenhum incediário de esquerda. Mas é um nacionalista. É um homem que fala muitas línguas, conhece o mundo todo. Mas segue a ser profundamente brasileiro. E a gostar do Brasil.

O mundo será, nos próximos anos, cada vez mais turbulento. EUA caminham para crise profunda na economia. Europa também caminha para o colpaso. Para salvar suas economias, precisam inundar nosso crescente mercado consumidor com os produtos que não conseguem vender nos países deles. O Brasil precisa se defender disso. A defesa começa por medidas cambiais, por política industrial que proteja nosso mercado. Dilma já deu os primeiros passos nessa direção.

Mas o Brasil – com seus aliados do Cone Sul, Argentna à frente - não será respeitado só porque tem mercado consumidor forte, diversidade cultural e instituições democráticas. Precisamos, sim, reequipar nossas forças armadas. Precisamos fabricar aviões, armas. Precisamos terminar o projeto do submarino com propulsão nuclear.

Não se trata de “bravata” militarista. Trata-se do mundo real. A maioria absoluta dos militares brasileiros – que gostam do nosso país – não vai dar ouvidos para Elianes e Alis; vai dar apoio a Celso Amorim na Defesa, assim que perceber que ele é um nacionalista moderado, que pode ajudar a transformar o Brasil em gente grande, também na área de Defesa.

O resto é choro de anões que povoam o parlamento e as redações da velha mídia.


Trabalho intenso na pós-graduação: servidão voluntária?

ANTONIO OZAÍ DA SILVA
Os professores vinculados à pós-graduação vêem-se pressionados a atingir metas e obedecer a critérios definidos por outros alheios aos programas que participam. No frigir dos ovos, o que importa não é a qualidade do aprendizado, da formação dos mestrandos e doutorandos, mas sim cumprir as exigências da Capes... LEIA NA ÍNTEGRA: http://antoniozai.wordpress.com/2011/08/06/trabalho-intenso-na-pos-graduacao-servidao-voluntaria/


A Revista Espaço Acadêmico, nº 123, agosto de 2011, foi publicada. Acesse: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/issue/current


Nesta edição destacamos o DOSSIÊ HOMOFOBIA, SEXUALIDADE E DIREITO (Org.: Alexander Martins Vianna)
Agradecemos ao Prof. Alexander Martins Vianna, aos autores que contribuíram com o dossiê e aos colunistas e colaboradores.
Pedimos que, por favor, colaborem com a divulgação da revista. Enviem aos amigos, colegas e listas que participem.



Livro pioneiro do historiador Schwartz ganha nova edição
Estudo de 1973 aponta as contradições da burocracia no Brasil colonial
RONALDO VAINFAS
ESPECIAL PARA A FOLHA (6/8/2011)
"Burocracia e Sociedade no Brasil Colonial" é livro datado de 1973, na versão inglesa, e traduzido para o português em 1979.
Integra a vasta obra do historiador Stuart B. Schwartz, especialista na história ibero-americana, em particular a luso-brasileira.
Entre seus livros encontram-se "Segredos Internos" (1988) -obra sobre a economia e a sociedade escravistas na Bahia colonial- e o recente "Cada um na Sua Lei" (2009), sobre a tolerância religiosa no mundo ibérico.
O livro em causa permanece incrivelmente atual após 40 anos. Diria mesmo que se rejuvenesceu, pois, nos anos 70, os estudos sobre o período colonial no Brasil privilegiavam as interpretações gerais de tipo socioeconômico.
Na vanguarda das discussões destacava-se a polêmica que opunha a teoria dos modos de produção coloniais (Ciro Cardoso, Jacob Gorender) à do antigo sistema colonial (Fernando Novais).
O foco do debate residia em definir o caráter da economia colonial escravista: se integrava um "sistema" cuja lógica era determinada pelo capitalismo comercial europeu ou se possuía uma dinâmica própria, parcialmente autônoma em relação ao exclusivo mercantil metropolitano.
Os estudos vinculados a instituições de governo eram escassos, não raro associados a uma história tradicional.

PROBLEMA INSTIGANTE
Schwartz foi ousado ao lançar seu "Burocracia e Sociedade" naquele contexto, um estudo monográfico sobre o Tribunal da Relação da Bahia -órgão máximo do aparelho judiciário colonial-entre 1609 e 1751.
Desde o início o livro teve boa recepção entre os especialistas, pois o autor imprimiu abordagem muito original ao tema.
Longe de apenas reconstituir a máquina judiciária colonial, Schwartz pôs em causa um problema instigante: o de como uma instituição régia incumbida de arbitrar as disputas e os delitos no foro judicial pôde se adaptar à sociedade colonial.
Uma sociedade baseada na escravidão e naquilo que Gilberto Freyre chamou de "privatismo senhorial", como sistema de poder, face à debilidade das instituições estatais.
O livro de Schwartz foi pioneiro no estudo de uma questão que, somente a partir dos anos 1990, passou a interessar aos pesquisadores.
Em sua tese central, o autor demonstra o "abrasileiramento da burocracia" por meio dos enlaces familiares entre os desembargadores e as elites baianas, comprovando a mescla entre o exercício da alta magistratura e os interesses privados, não obstante os conflitos de praxe.
Estudos mais recentes sobre as instituições de governo na colônia têm realçado a descentralização do poder metropolitano, inspirados no modelo de Antônio Hespanha: um Estado polissinodal vigente no próprio reino.
O livro de Schwartz não embarca nessa viagem. Ainda bem.
Aposta na centralização, embora matize essa tendência, ao reconstituir a fusão entre as elites burocráticas e coloniais -prova cabal da mistura entre o público e o privado nas raízes do Brasil.
RONALDO VAINFAS é professor de história moderna da UFF.
BUROCRACIA E SOCIEDADE NO BRASIL COLONIAL
AUTOR Stuart B. Schwartz
EDITORA Companhia das Letras
TRADUÇÃO Berilo Vargas
QUANTO R$ 59,50 (416 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo


De Ferro e de Flor
Nova edição das "Memórias" de Gregório Bezerra traz à tona vida assombrosa de líder comunista

FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

Gregório Bezerra (1900-1983) nasceu miserável no agreste pernambucano.
Foi empregado doméstico, jornaleiro, peão de obra, sargento do Exército. Alfabetizou-se aos 25 anos.
Tornou-se militante comunista. Passou ao todo 22 anos preso, em quatro ocasiões de quatro diferentes décadas.
Na cadeia, fez amizade com o cangaceiro Antonio Silvino. Elegeu-se deputado federal constituinte pelo PCB em 1946. Organizou sindicatos de trabalhadores rurais. Morou com Luís Carlos Prestes. Foi torturado em 35 e em 64, desta feita em praça pública, aos 64 anos. Consta que nunca delatou um colega.
Um dos presos trocados pelo embaixador americano Charles Elbrick em 1969, viveu dez anos exilado na União Soviética, voltando ao país com a Anistia de 1979.
Ferreira Gullar fez para ele um poema, Oscar Niemeyer projetou um memorial em sua homenagem (que ainda não saiu do papel) e por estes dias até inspirou um personagem da novela "Amor e Revolução", no ar no SBT.
Antes de virar lenda, Gregório Bezerra registrou essa vida assombrosa em suas "Memórias", editadas originalmente em 1979 em dois volumes e que agora ganham reedição pela Boitempo.
O lançamento, que agrega os dois volumes num único, reúne fotografias, cronologia, índice onomástico, artigos, depoimentos e poema em cordel de Gullar, "História de um Valente" (leia a história e um trecho ao lado).
O prefácio é de Anita Leocadia Prestes, filha de Prestes com Olga Benario, que conheceu Gregório ainda menina, quando ele morou na casa da família no Rio, e mais tarde no exílio soviético.

SEM JIPE
Escrito em tom confessional, quase como um diário, o livro mais vale como documento histórico que como literatura. Vai da infância pobre até 69, quando é exilado. Começou a ser escrito na cadeia e foi concluído em Moscou, onde viveu por dez anos.
À parte as convicções profundas, revela uma admiração pelo regime soviético característica de um militante que era acolhido por ele. A obra ajuda a esclarecer o episódio da tortura em 2 de abril de 64, na alvorada da ditadura, quando Gregório foi espancado e humilhado por militares pelas ruas do bairro de Casa Forte, no Recife.
Livros e textos sobre o período dizem que o comunista foi arrastado por um jipe. Gregório não cita o veículo.
Conta que, após ter os pés mergulhados em solução de bateria e ser obrigado a caminhar sobre britas, teve três cordas amarradas ao pescoço e foi puxado como bicho enquanto um coronel incitava a população a linchá-lo.
"É exagero popular", diz sobre o jipe o cineasta Cláudio Barroso, que prepara um longa sobre Gregório. A versão também é contestada por Roberto Arrais, que foi secretário do esquerdista e escreve a orelha da nova edição.
MEMÓRIAS
AUTOR Gregório Bezerra
EDITORA Boitempo
QUANTO R$ 74 (648 págs.)
LANÇAMENTOS com debates, 1o/9 no Recife, às 18h, na Fundação Joaquim Nabuco; 13/9 no Rio, às 10h, no IFCS da UFRJ; 14/9 em São Paulo, às 18h30, na Apeoesp


Leia no Café Historia:
DOCUMENTO HISTÓRICO

Documento com mudanças a serem feitas nos referidos decretos.Clique na imagem para ver este e outros documentos em posse do Museu Imperial, em Petrópolis (RJ).

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MURAL DO HISTORIADOR

Museu Imperial

Estão abertas até 30 de agosto as inscrições de ouvintes para o Seminário Nacional de Digitalização, Preservação e Difusão de Acervos Patrimoniais, que será promovido pelo Museu Imperial de 19 a 21 de outubro.

Saiba mais: http://cafehistoria.ning.com (Página Principal)


MISCELÂNEA CAFÉ HISTÓRIA

Queremos Miles

Exposição no Rio de Janeiro mostra as diversas fases de Miles Davis, um dos maiores nomes da história do Jazz

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MURAL DO HISTORIADOR

Semana do Patrimônio

Acontece entre os dias 13 e 21 de agosto deste ano a Semana Fluminense do Patrimônio.O evento é organizado por diversas instituições científicas e culturais do Estado do Rio de Janeiro e tem como objetivo promover a valorização do patrimônio natural e cultural fluminense, ampliando o conhecimento da população sobre o seu patrimônio em suas diversas formas de expressão.

Chamada para Publicação

Revista Ars historica homenageia o historiador José Murilo de Carvalho com revista dedicada ao tema da "Formaçâo dos Estados Nacionais e o pensamento social na América Latina".

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VÍDEO EM DESTAQUE

Entrevista com o historiador José Murilo de Carvalho

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DOCUMENTO HISTÓRICO

O Instituto Moreira Salles mantém um site bastante completo sobre um dos principais fotógrafos do Brasil: Marc Ferrez.

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CONTEÚDO DA SEMANA

"Construindo um Império", do canal History Channel, é o conteúdo da semana.

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Leia no www.outraspalavras.net


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