quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Numero 290




O tema da crise predomina neste número do Boletim. Nem podia ser de outra forma...



Nouriel Roubini: “Karl Marx estava certo”
Na avaliação de Nouriel Roubini, professor de economia na Universidade de Nova York, a não ser que haja outra etapa de massivo incentivo fiscal ou uma reestruturação da dívida universal, o capitalismo continuará a experimentar uma crise, dado o seu defeito sistêmico identificado primeiramente por Karl Marx há mais de um século. Roubini, que há quatro anos previu a crise financeira global diz que uma das críticas ao capitalismo feitas por Marx está se provando verdadeira na atual crise financeira global.
Joseph Lazzaro - The International Business Time
(www.cartamaior.com.br)


Há um velho axioma que diz que “sábia é a pessoa que aprecia a sinceridade quase tanto como as boas notícias”, e com ele como guia, situa decididamente o futuro na categoria da sinceridade.

O professor de economia da Universidade de Nova York, doutor Nouriel “Dr. Catástrofe” Roubini disse que, a não ser que haja outra etapa de massivo incentivo fiscal ou uma reestruturação da dívida universal, o capitalismo continuará a experimentar uma crise, dado o seu defeito sistêmico identificado primeiramente pelo economista Karl Marx há mais de um século.

Roubini, que há quatro anos previu acuradamente a crise financeira global disse que uma das críticas ao capitalismo feitas por Marx está se provando verdadeira na atual crise financeira global.

A crítica de Marx em vigor, agora
Dentre outras teorias, Marx argumentou que o capitalismo tinha uma contradição interna que, ciclicamente, levaria a crises e isso, no mínimo, faria pressão sobre o sistema econômico. As corporações, disse Roubini, motivam-se pelos custos mínimos, para economizar e fazer caixa, mas isso implica menos dinheiro nas mãos dos empregados, o que significa que eles terão menos dinheiro para gastar, o que repercute na diminuição da receita das companhias.

Agora, na atual crise financeira, os consumidores, além de terem menos dinheiro para gastar devido ao que foi dito acima, também estão motivados a diminuírem os custos, a economizarem e a fazerem caixa, ampliando o efeito de menos dinheiro em circulação, que assim não retornam às companhias.

“Karl Marx tinha clareza disso”, disse Roubini numa entrevista ao The Wall Street Journal: "Em certa altura o capitalismo pode destruir a si mesmo. Isso porque não se pode perseverar desviando a renda do trabalho para o capital sem haver um excesso de capacidade [de trabalho] e uma falta de demanda agregada. Nós pensamos que o mercado funciona. Ele não está funcionando. O que é racional individualmente ... é um processo autodestrutivo”.

Roubini acrescentou que uma ausência forte, orgânica, de crescimento do PIB – coisa que pode aumentar salários e o gasto dos consumidores – requer um estímulo fiscal amplo, concordando com outro economista de primeira linha, o prêmio Nobel de economia Paul Krugman, em que, no caso dos Estados Unidos, o estímulo fiscal de 786 bilhões de dólares aprovado pelo Congresso em 2009 era pequeno demais para criar uma demanda agregada necessária para alavancar a recuperação da economia ao nível de uma auto expansão sustentável.

Na falta de um estímulo fiscal adicional, ou sem esperar um forte crescimento do PIB, a única solução é uma reestruturação universal da dívida dos bancos, das famílias (essencialmente das economias familiares), e dos governos, disse Roubini. No entanto, não ocorreu tal reestruturação, comentou.

Sem estímulo fiscal adicional, essa falta de reestruturação levou a “economias domésticas zumbis, bancos zumbis e governos zumbis”, disse ele.

Fora o estímulo fiscal ou a reestruturação da dívida, não há boas escolhas

Os Estados Unidos, disse Roubini, pode, em tese: a) crescer ele mesmo por fora do atual problema (mas a economia está crescendo devagar demais, daí a necessidade de mais estímulo fiscal); ou b) retrair-se economicamente, a despeito do mundo (mas se muitas companhias e cidadãos o fizerem junto, o problema identificado por Marx é ampliado); ou c) inflacionar-se (mas isso gera um extenso dano colateral, disse ele).

No entanto, Roubini disse que não pensa que os EUA ou o mundo estão atualmente num ponto em que o capitalismo esteja em autodestruição. “Ainda não chegamos lá”, disse Roubini, mas ele acrescentou que a tendência atual, caso continue, “corre o risco de repetir a segunda etapa da Grande Depressão”—o erro de ‘1937’.

Em 1937, o presidente Franklin D. Roosevelt, apesar do fato de os primeiros quatro anos de massivo incentivo fiscal do New Deal ter reduzido o desemprego nos EUA, de um cambaleante 20,6% na administração Hoover no começo da Grande Depressão, a 9,1%, foi pressionado pelos republicanos congressistas – como o atual presidente Barack Obama fez com o Tea Party, que pautou a bancada republicana no congresso em 2011 – , rendeu-se aos conservadores e cortou gastos do governo em 1937. O resultado? O desemprego estadunidense começou o ano de 1938 subindo de novo, e bateu a casa dos 12,5%.

Cortar os gastos do governo prematuramente feriu a economia dos EUA em 1937, ao reduzir a demanda, e Roubini vê o mesmo padrão ocorrendo hoje, ao se seguir as medidas de austeridade implementadas pelo acordo da dívida implemented by the U.S. debt deal act.

Roubini também argumenta que os levantes sociais no Egito e em outros países árabes, na Grécia e agora no Reino Unido têm origem econômica (principalmente no desemprego, mas também, no caso do Egito, no aumento do custo de vida). Em seguida, argumenta que, ao passo que não se deve esperar um colapso iminente do capitalismo, ou mesmo um colapso da sua versão estadunidense, o capitalismo corporativo – capitalismo e mercados livres são rápidos demais e capazes de se adaptarem - dizer que a ordem econômica atual não está experimentando uma crise não é correto.


Fonte: http://www.ibtimes.com/articles/197468/20110813/roubini-nouriel-roubini-dr-doom-financial-crisis-debt-crisis-europe.htm

Tradução: Katarina Peixoto


Os distúrbios de rua que sacudiram Londres e outras cidades inglesas nos últimos dias representam mais um capítulo da jornada de protestos que vem atingindo diversos desde o final de 2010. Dos protestos no Egito aos saques em Londres, há um percurso que, se por um lado apresenta diferenças e características próprias a cada país, por outro, trazem um elemento comum: a crise econômica e financeira internacional iniciada em 2008 está cobrando seu preço. O fracasso retumbante do modelo neoliberal de desregulamentação e enfraquecimento do Estado aparece nas ruas hoje como falta de emprego, moradia, vida digna e perspectiva de futuro. Não é irrelevante o fato de que esse modelo que agora sangra nas ruas nasceu em larga medida da Inglaterra de Margaret Thatcher.

Conforme mostra matéria do correspondente da Carta Maior em Londres, Marcelo Justo, os protestos dos últimos dias não começaram em Tottenham por acaso:

Tottenham é a zona com o maior nível de desemprego de Londres e uma das dez mais pobres do Reino Unido. Com 75% de cortes no orçamento do bairro, desapareceram os clubes juvenis, essenciais durante o verão e as férias escolares. Com tanto tempo livre nas mãos, com uma desigualdade onde as receitas dos mais ricos cresceram 273 vezes mais que as dos mais pobres, em uma sociedade na qual o dinheiro se converteu em valor supremo, surpreende realmente que estes fatosocorram?

A Carta Maior preparou um especial para este fim de semana com reportagens e artigos que analisam esses protestos à luz de um modelo fracassado que foi cantado em prosa e verso durante pelo menos duas décadas.
Leia os artigos deste especial aqui
http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm?home_id=121&alterarHomeAtual=1



Enviado por Beth Queijo
Muito além de delinquência

Por trás dos saques na Inglaterra, decadência dos serviços públicos, domínio do Estado pelas finanças, sensação de desigualdade e desamparo
Por
Alessandro Dal Lago, no Liberazione. Tradução: Daniela Frabasile e Pep Valenzuela

Não surpreende que as revoltas que explodiram em quase todas as grandes cidades inglesas sejam recebidas pelo governo, pelos tablóides e pelos maiores meios de comunicação, pelo menos inicialmente, com os clichês habituais: além da referência óbvia a bandos, a instrumentalização dos protestos por criminosos, as gangs jovens, os provocadores que chegaram de forae assim por diante. É o exorcismo de sempre frente aquilo que poderia ser mais ou menos previsto e que tem notáveis precedentes nas metrópoles ocidentais: dos riots de Los Angeles em 1992 até a explosão das periferias parisienses em 2005.


Uma rápida análise dos vídeos transmitidos pela BBC, ou por sites como os do The Guardian e Al Jazeera deixa claro, porém, que a realidade é completamente diferente. A revolta é capilar, amplamente espontânea, por mais que tenha sido facilitada pela disponibilidade de tecnologias de informação de baixo custo, e sobretudo transversal. Nas ruas, veem-se jovens encapuzados, adolescentes que enfrentam a polícia e gente de todas as idades que saqueia lojas. De toda origem e proveniência, mas se agrupam por viverem nos distritos mais pobres que rodeiam o centro privilegiado e de moda de uma das capitais financeiras do mundo.


Não surpreende que, além da polícia, muito odiada, o alvo dos saques sejam lojas como Sony, Foot Locker, McDonald's, joalherias e magazines de grandes marcas. Ou seja, os símbolos tangíveis da opulência alta ou média de que, evidentemente, uma grande parte da população londrina está excluída. Exatamente como em Los Angeles em 1992, quando a população de South Central ocupou os bairros ocidentais e acomodados na metrópole. Ou em Paris, em 2005, quando os habitantes das banlieues atacaram a ferro e fogo os Campos Elíseos.


O saque está relacionado à luta de classes, em uma forma elementar e pré-política. Exatamente isso que o establishment inglês, exorciza falando de mero vandalismo, e as primeiras e tímidas vozes de especialistas de várias comunidades locais, ou ativistas sociais, começam a definir como aquilo que realmente é: reação aos cortes [de serviços públicos] impostos pelo governo conservador.


Por outro lado, as manifestações do ano passado contra o aumento das taxas universitárias eram um sinal do mal-estar juvenil diante da proletarização dos membros mais fracos das camadas médias. O bem-estar de uma das sociedades consideradas mais estáveis do Ocidente foi sempre uma imagem falsa. Ou melhor, é um bem-estar limitado aos que vivem das finanças e de seus derivados (comércio, informação, serviços, luxo, etc.), mas que não chega ao resto da sociedade, amplamente desindustrializada e empobrecida.


A proibição até das partidas de futebol, tradicionalmente considerado na Inglaterra como um esporte capaz de absorver os conflitos sociais e de geração, diz muito. Não se trata somente de uma medida de ordem pública. É um sinal de que a sociedade inglesa, por debaixo da aparência de seus rituais de massas, está profundamente em crise.


O que mais surpreende é que ninguém tenha relacionado as revoltas inglesas com a crise financeira, que há anos atinge o Ocidente e hoje parece prestes a converter-se em catástrofe. Londres particularmente, como terceiro centro financeiro no mundo, é a expressão do dominio das finanças sobre a economia real.


No mundo, o volume das transações financeiras é, hoje, seis vezes maior que o das trocas comerciais. O ataque à dívida pública, ou seja a soberania do Estado, por parte da especulação internacional, encontra somente as respostas habituais de uma política econômica recessiva e submetida às imposições das agências de risco, ou dos bancos norte-americanos e ingleses. Mas aonde podem levar os cortes das pensões, da formação superior, da segurança social e da assistência médica? Exatamente ao que está acontecendo na Inglaterra.

Nesse sentido, Londres e Birmingham, Bristol e Manchester antecipam o que inevitavelmente acontecerá na Espanha, Itália e provavelmente na França, quando a sociedade tiver que pagar o preço de uma política amplamente liberal e das guerras insensatas que estão esgotando os recursos dos Estados ocidentais. Certamente, as revoltas não podem ser previstas, mas uma crise social sem precedentes está por vir, ou, na realidade, já começou.




Raul Prebisch teria muito a dizer sobre a crise financeira atual, diz biógrafo canadense
Edgar Dosman lança sua obra no Brasil e diz que parceiro de Celso Furtado, defensor do papel do Estado como organizador do desenvolvimento, desconfiava do quão sustentável seria uma economia voltada à exportação de commodities, enquanto as nações do Norte investem em indústria e inovação.
Leia resenha aqui http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18268&boletim_id=984&componente_id=15842



Enviado por Helena Campos


Pierre Piccinin: Síria, uma realidade editada

Durante o mês de julho, viajei pela Síria, com o objetivo de entender melhor, pessoalmente, a origem do atual conflito político. Circulei livremente pelo país, a partir de Dera, por Damasco, Homs, Hama, Maraat-an-Numan, Jisr-al-Shigur, na fronteira com a Turquia, até Deir-ez-Sor, locais, todos esses, onde a imprensa noticiou irrupções de violência.

Testemunhei várias lutas internas, algumas das quais violentas, movidas por objetivos que absolutamente nada têm a ver com objetivos democráticos ou pacifistas. A Fraternidade Muçulmana, por exemplo, trabalha para fazer da Síria uma república islâmica, o que, por sua vez, aterroriza os cristãos e outras minorias.

Embora não fosse objetivo da minha pesquisa, surpreendeu-me o quanto a imagem que a imprensa tem oferecido da Síria, país que estaria vivendo processo revolucionário em grande escala, absolutamente não corresponde, de modo algum, à realidade em campo.

De fato, os movimentos de protesto em grande escala já estão esvaziados, devido em parte à repressão; hoje, os manifestantes não ultrapassam poucas centenas, concentrados em volta das mesquitas e, na maioria, com marcas claras da influência dos movimentos islâmicos.

Exatamente por isso, só na cidade de Hama, reduto cultural da Fraternidade Muçulmana e atualmente sob estado de sítio, ainda se veem protestos mais amplos.

Centro de violenta revolta em 1982, que foi esmagada por Hafez al-Assad, pai do atual presidente, Hama está hoje cercada pelo exército, pesadamente armado. Mas o governo optou por não atacar a cidade, o que geraria um banho de sangue, temeroso das repercussões e das críticas da comunidade internacional.

Entrei em Hama dia 15 de julho, sexta-feira. Rapidamente, fui cercado por jovens que policiam a cidade. Mostrei-lhe meu passaporte belga, e a situação acalmou-se: "Belgicaa! Belgicaa!". Como único observador estrangeiro na cidade, levaram-me até o centro das manifestações. De um ponto elevado da cidade, tirei várias fotos, que mostram a extensão da destruição da cidade.

Na praça Asidi, ao final da grande avenida El-Alamein, as orações estavam para começar, e via-se muita gente aproximando-se da praça, vinda de todos os lados da cidade, aos gritos, desafiadores de ‘Allah Akbar!’

Naquela mesma noite, 15 de julho, recebi o noticiário da AFP, que noticiava manifestações em toda a Síria, 500 mil só em Hama. Mas em Hama, como eu podia ver, não havia mais de 10 mil manifestantes.

Essa "informação" é ainda mais absurda, se se sabe, como qualquer um pode verificar, que a cidade de Hama tem população de apenas 370 mil habitantes.

Claro que há uma margem de variação razoável, conforme as fontes. Mas, nesse caso, não se tratava de estimativa: a AFP claramente desinformou – pura propaganda. Os números foram inventados para criar uma notícia: 500 mil manifestantes poderiam abalar qualquer governo; 10 mil, pouco significam.

Além do mais, todas as "informações" sobre a situação na Síria têm sido distorcidas, sempre na mesma direção, já há vários meses.

Que fontes a Agência FrancePresse (AFP) cita?

A mesma fonte que sistematicamente é citada por toda a imprensa e que já tem hoje declarado monopólio da informação sobre os protestos na Síria: o Observatório Sírio para Direitos Humanos [orig. Syrian Observatory for Human Rights (SOHR)].

Sob verniz superficial de respeitabilidade e profissionalismo, esconde-se uma organização política com sede em Londres, presidida por ninguém menos que Rami Abdel Raman, declarado inimigo político do regime Baath, com laços com a Fraternidade Muçulmana.

Por isso, já há vários meses, a imprensa ocidental divulga uma realidade editada, colhida sempre de uma única fonte, cuja versão, pelo que se vê, nenhum jornal ou rede de televisão, e nenhum jornalista, achou necessário questionar ou confirmar.

A versão segundo a qual a Síria estaria em processo de revolução ampla, com o governo do partido Baath à beira do fim, absolutamente não corresponde à realidade. O governo sírio mantém-se plenamente no controle da situação e o que resta das manifestações está dividido em vários grupos, consideravelmente marginalizados.

Mas as consequências desse mais recente caso de desinformação pela imprensa têm longo alcance: parece que ainda não se aprenderam as lições de Timisoara, da Guerra do Golfo ou dos eventos na Iugoslávia.

A imprensa europeia continua a deixar-se enganar por informações construídas a partir de notícias de segunda mão, mal sistematizadas e jamais conferidas. Assim, pouco faz além de criar uma realidade virtual, sem qualquer fundamento em fatos, que oferece como se fosse informação aos leitores/telespectadores/ouvintes.

Sempre que a imprensa falha e não cumpre seu dever de oferecer informação genuína e bem construída, por mais que toda a imprensa perca, o maior risco que se cria é contra a democracia.

*Pierre Piccinin é professor de História e Ciência Política em Bruxelas.
Fonte: Blog Open Santi, traduzido por Castor Filho


Países ricos saqueiam a Somália e depois fazem 'campanhas humanitárias' para aplacar fome que impuseram.
Leia o texto e veja um vídeo em http://blogdomello.blogspot.com/2011/08/paises-ricos-saqueiam-somalia-e-depois.html




O significado da universidade brasileira. Ensaio de história política

por UBIRACY DE SOUZA BRAGA
Após abrir os portos do Brasil às chamadas “nações amigas” (cf. Aguiar, 1960), D. João VI assinou, em 18 de fevereiro de 1808, o documento que mandou criar a Escola de Cirurgia da Bahia, atual Universidade Federal da Bahia – UFBA, e deu início ao ensino da medicina no país. No mesmo ano, a Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ foi criada pelo príncipe regente D. João, por Carta Régia, ou seja, por decreto, assinada no dia 5 de novembro de 1808, com o nome de Escola de Anatomia, Medicina e Cirurgia, e instalada. Assim, desde a sua progênie a desigualdade social na distribuição de médicos no Brasil acompanha outros abismos sociais existentes no país, como é o caso dos professores universitários e o significado da universidade brasileira para o 3º Milênio (cf. Ribeiro, 1969; 1978; 1993). LEIA NA ÍNTEGRA: http://espacoacademico.wordpress.com/2011/08/13/o-significado-da-universidade-brasileira-ensaio-de-historia-politica/


Ana Claudia me enviou



Recebi e estou lendo “68: a Geração que queria mudar o mundo”, obra editada pela Comissão de Anistia e pelo Ministério da Justiça.
Esperei por esse livro tal qual a personagem de “Felicidade Clandestina”, conto de Clarice Lispector, em que a menina, personagem central, ao ter entre as mãos “Reinações de Narizinho” de Lobato, deixa de ser menina e, nas palavras da Autora, passa a se sentir mulher, uma mulher com seu amante.
Pois é, “uma mulher com seu amante”. É assim que me sinto, tal a excitação, que me toma da cabeça aos pés, ou “do cóccix até o pescoço”, como diria Elza Soares, tal o desejo de devorar aquela obra.
São 687 páginas, e embora já tenha lido metade do livro, a sede não passa. É sede de retirante quem sabe de lobo no deserto.
Edição muitíssimo bem cuidada, a obra é dividida em tópicos, o que possibilita uma leitura a partir do meio, do fim, ou quem sabe, aos mais organizados e menos ansiosos, do início ao final. É o que não faço. Começo pelos autores que conheço, pelos títulos que me atraem mais, embora todos me atraiam. Mas vamos lá. Mesmo este comentário deixando a desejar por ser incompleto, não resisto à tentação de passar minhas impressões sobre tantos textos reveladores e interessantes.
Nesta obra caleidoscópica, textos dramáticos convivem com outros em que a ternura, a solidariedade, e não poucas vezes o humor, nos levam a chorar e a rir, e quando isso acontece, amenizam as lembranças do que vivemos.
Acredito que nunca mais o mundo terá uma geração como a nossa. E com isso não quero desmerecer a juventude atual. Apenas constatar que a situação que vivemos exigiu aquele tipo de atuação. Não concordo com os que dizem que a juventude de hoje é alienada e nada faz. Apenas vejo que os interesses e os objetivos são outros.
Mas voltando ao livro: nele encontrei textos para ler e reler muitas vezes. Começaria pelo do poeta pernambucano Marcelo Mário que escreveu sobre o líder camponês Francisco Julião, e diz que ele era “o único a levar a multidão às ovações”. E mais adiante comenta que Julião era poeta, e pura poesia eram seus discursos. O líder utilizava em suas falas metáforas e comparações que tinham a ver com sua vivência de camponês, e assim se fazia compreender tanto pelo intelectual como pelo homem do povo. Belíssimo o texto de Marcelo Mário.
Logo adiante “Geração 68 e avalanche Cultural”, de Leôncio de Queiroz”. O autor relembra que a de 68 foi a geração que leu Monteiro Lobato, e completo: a figura de Emília se eternizou em cada um de nós, e é ela que até hoje nos cutuca quando nos vemos diante de alguma injustiça.
Leo faz justiça aos governos Juscelino e Jango, além do curtíssimo período do Jânio, quando diz que foram “os de mais fecunda criação artística e cultural no Brasil”. E relembra que foi durante aqueles anos que surgiu o cinema novo, os grandes compositores, escritores, os grandes nomes do teatro e da arquitetura, além do destaque que dá aos geógrafos e educadores. Nunca mais o país foi o mesmo. Sim, nossa geração não apenas quis, ela conseguiu mudar muita coisa no mundo.
Dos mais importantes esse registro do Léo, pois não se faz uma revolução só com armas, mas também, e principalmente, com Arte. E ele reconhece isso.
Mais adiante me deparo com o depoimento de Affonso Henriques G. Correa, em “Agitação no Salão de Tortura” que nos leva às lágrimas ao contar que na autópsia de Virgílio Gomes da Silva, preso assassinado pela repressão, consta que todos os ossos foram quebrados, e todos os órgãos danificados. Apenas um ficou intacto: o coração. Hoje quando emoção e sensibilidade parecem estar fora de moda, é bom parar a leitura, descansar o livro sobre a mesa, e refletir.
É de Ivan Cavalcanti Proença um dos mais belos textos da obra. “Aquele Primeiro de Abril”, saído das mãos de um mestre da escrita, a que se alia a emoção do que registrou. É preciso não perder uma palavra, uma vírgula desse texto, ler as entrelinhas, e saber a que leva a dignidade de um homem quando toma uma decisão que irá mudar para sempre sua vida.
Mas tem também os textos com um humor leve, deliciosos, que se mescla à tristeza, nas palavras de Inês Oludé da Silva ao relembrar, em um deles, o amigo que fingia estar sempre a morrer. Inês nos prende do início ao fim do seu relato.
E há o maravilhoso “Paissandu e Oklahama” de Eliete Ferrer, que coordenou a publicação do livro. Tenho a impressão de que poderia ser assinado por qualquer um de nós. Foi a sensação que tive, tão bem ela retrata o modo de viver da nossa geração. É só trocar os nomes dos bares, os endereços das repúblicas, os nomes dos amigos, e teremos o mesmo clima, as mesmas casas, os mesmos bares, as mesmas faculdades...Belíssimo texto.
Vou ao texto do Velso Ribas que escreveu sobre seu pai . Que saudade me deu das suas mensagens ao Grupo “osamigosde68”. Não cheguei a conhecê-lo pessoalmente, embora tenha ido ao hospital visitá-lo dois dias antes de seu falecimento, e o reencontro nesse texto que me levou às lágrimas, não sei se pelo pai, não sei se pelo filho.
Mas é impossível parar sem ler o que Urariano escreveu. Em todos se revela a sensibilidade do autor. A mão do mestre a relembrar os amigos e as situações vividas com eles.
Uma das coisas a me chamar mais a atenção é o sentimento de amizade que perpassa nas páginas do livro. Em quase todas nas lembranças que revivem existe a presença de algum amigo. Alguns não falam de suas dores, mas sim do que presenciaram de sofrimento em alguém.
Sinto uma ponta de tristeza ao constatar que Sílvio Tendler não conseguiu realizar seu primeiro filme aos 18 anos, por culpa da repressão. Que as filmagens de João Cândido que ele confiara a uma pessoa, foram queimadas por medo da repressão. Perdemos com isso as últimas palavras do almirante negro, que já bem doente deu sua última entrevista ao hoje nosso grande cineasta.
No depoimento de Roque Aparecido da Silva revivo a greve de Osasco de 68, que acompanhei de perto na época. Situações difíceis que o autor superou driblando a polícia. Ora trocando de nome, ora fingindo que sua mulher na época, Ana Maria Gomes, desconhecia sua participação.
E há o relato de Lao, que narra a sua cerimônia de casamento em 1970, escondendo dos familiares sua participação na luta contra a ditadura, e falando das marcas que a ditadura lhe deixou, a ponto de até hoje sentir dificuldade de visitar o Memorial da Resistência.
Há os belos textos de Pedro Viegas, herói do movimento dos Marinheiros. Em um deles, "Operação Salvamento" ,conta uma passagem em que ele era um dos que precisaram resgatar um companheiro de luta sob a suspeita do resgatado, que achava estar sendo levado por inimigos. Texto que mostra bem o clima de desconfiança existente nas relações, e como para salvar o amigo ele enfrentou aquelas suspeitas.
Mas o livro não traz apenas textos em prosa. De repente em meio às paginas nos deparamos com “Claros Sonâmbulos da noite”, a belíssima canção do Exílio de Guilem Rodrigues da Silva, em que vê na pátria distante a mulher amada que se é forçado a abandonar.
Continuo lendo a obra aleatoriamente. Em cada página encontro um motivo para recordar, me emocionar, me entristecer, me revoltar...e também para rir.
Vou ler todos os textos. Não perderei nenhuma vírgula, nenhum espaço. E cada vez mais me convenço: que linda é a história da nossa Geração!


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O Homossexual no Cinema: O Dilema da Representação

Fábio Silveira, jornalista especializado em cinema e música, escreve excelente artigo sobre a forma como a temática gay vem sendo sendo discutida e representada pela narrativa cinematográfica mundial

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Carta de 1925 representa o conjunto documental denominado "Revolução de 1924", hoje em posse do Arquivo Histórico de São Paulo.

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