quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Numero 257




Wikileaks continua sendo o assunto do dia. À medida em que novos telegramas passam ao conhecimento dos leitores de alguns jornais e de blogs, confirma-se o que sugeri na semana atrasada aqui: que não eram apenas “fofocas”, pelo contrário, temos uma gama muito interessante de assuntos que dizem respeito ao mundo inteiro e, inclusive, ao Brasil. Um artigo do nosso colaborador José de Souza Castro elucida mais alguns pontos. E ficamos sabendo, inclusive, dos planos que o Serra tinha para o pré-sal, todos de total apoio dos EUA, claro. Indico mais um punhado de links para você, leitor(a) poder entender as razões da prisão do responsável pelo Wikileaks.
Há, ainda, neste Boletim, um artigo do Rudá Ricci sobre as diretrizes do Mec para o ensino fundamental e um da Anita Leocádia Prestes sobre os historiadores comprometidos com as lutas populares.




Wikeleaks é mais que conversa de cabeleireiras
José de Souza Castro

Estamos em plena temporada de caça ao Wikileaks. Os blogs que se cuidem, poderá sobrar chumbo também para eles. Por enquanto, duas coisas estão certas: o fundador do Wikileaks, Julian Assange, está preso na Inglaterra e poderá ser deportado para a Suécia, onde foi denunciado pela cubana Ana Ardin. Segundo o jornalista Renato Pompeu, em Caros Amigos, a moça trabalhou para a ONG anticastrista Miscelánia Cubana, financiada pela CIA.
O crime atribuído a Assange: em meio a uma sessão de sexo consensual com uma mulher, durante o ato a camisinha foi retirada, o que na Suécia é equivalente ao estupro, e dá dois anos de prisão.
Parece ridículo, mas nem tanto. A caçada é coisa de gente grande. Começa pela desmoralização de Assange e prossegue com a ridicularização do próprio vazamento dos cerca de 250 mil telegramas diplomáticos – está certo, não são mais telegramas, mas o nome dado aos despachos não mudou.
Esse é um trabalho reservado a jornalistas. (E essa é a segunda coisa certa, de que falei no primeiro parágrafo.) Ninguém melhor para a tarefa do que o jornalista português João Pereira Coutinho, colunista da “Folha de S. Paulo” e do “Correio da Manhã”, de Lisboa. Ele arregaçou as mangas, e no dia 7 de dezembro o jornalão paulista publicou artigo intitulado “Conversa de cabeleireiras”, logo reproduzido pelo colunista da “Veja” Augusto Nunes em seu blog e por muitos outros simpatizantes do Tio Sam. Apesar do Coutinho afirmar, em seu sítio (que é como os portugueses chamam o “site”), com um ar de menosprezo, que não lê blogs. Bem ao contrário dos homens da CIA que levam os blogs a sério.
Trecho do artigo de Coutinho:
“Desilusão. Indigestão. A WikiLeaks soltou mais de 250 mil telegramas do Departamento de Estado norte-americano, e a comida é rançosa. Eu esperava um complô de Washington para dominar o mundo. O império do mal é o império do mal.
Encontro conversa de cabeleireiras. Cristina Kirchner é mentalmente instável (bocejo). Chávez é louco (idem). Berlusconi gosta de orgias (abençoado homem). Gaddafi é “hipocondríaco” (bem-vindo ao clube) e gosta de viajar acompanhado por uma “voluptuosa” enfermeira ucraniana (partilha, irmão, partilha). Sarkozy é “irritadiço” e “autoritário” (é sério?). Putin e Medvedev são o “Batman” e o “Robin” da política internacional (mas que gay!).
Quero o meu dinheiro de volta. Se os segredos da diplomacia americana se resumem a isso, eu começo a temer pelo futuro do império do mal. Ou será do bem?
Aliás, não temo apenas pelo futuro da América. Temo pelo futuro do próprio jornalismo. Tempos houve em que os jornalistas tinham a nobre função de vigiar e criticar o poder. Uma tarefa necessária, solitária, tantas vezes perigosa, que implicava “pesquisa”, “filtragem”, “interpretação”. Uma fonte era uma fonte. O início do processo, não o seu fim preguiçoso.
Com a WikiLeaks, o jornalismo transformou-se no latão de lixo de um delinquente cibernético. Não existe “pesquisa”, “filtragem” ou “interpretação” alguma. Os jornalistas foram cúmplices da pirataria e da espionagem de um foragido. De Watergate para a WikiLeaks: o meu reino não é mais deste mundo.”
Fim da citação, e hora de apontar as principais falhas de raciocínio do português. Para isso, nada melhor que esses esclarecimentos de Renato Pompeu:
“A opinião pública em geral tende a imaginar que estão ao alcance de qualquer pessoa 250 mil cabogramas de diplomatas americanos em todos os países enviados ao Departamento de Estado em Washington. Mas a verdade é que só uma pequena parte disso está à disposição de qualquer pessoa na Internet. Da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, por exemplo, na primeira semana só estavam disponíveis na primeira semana uns poucos cabogramas, menos de dez. E mais, nem sempre é possível acessar o site, porque são frequentes as vezes em que ele não está no ar.
Mesmo se estivesse tudo no ar, à disposição de toda e qualquer pessoa, a importância ainda seria relativa. A revista “Carta Capital” informou que o WikiLeaks teve acesso à rede internética do Departamento de Estado, disponível normalmente para 2,5 milhões de pessoas no mundo inteiro, e não às redes dos órgãos de segurança nacional dos EUA, disponíveis normalmente para 850 mil pessoas no mundo todo. As informações cruciais, evidentemente, nunca entram no formato eletrônico.
Além dos cabogramas revelados no site, o WikiLeaks também disponibiliza pequenas cotas exclusivas a jornais, revistas e sites do mundo inteiro. A “Folha de S. Paulo”, por exemplo, recebeu uma cota de 53 cabogramas, que só ela pode divulgar, pelo menos no Brasil. Em suma, 53 dos alardeados 1.800 cabogramas emanados da Embaixada dos EUA em Brasília.”
Portanto, digo eu, não é possível que Coutinho tenha tomado conhecimento dos mais de 250 mil telegramas, a ponto de ter indigestão. Supondo que ele tenha lido todos os já publicados, ele teria percebido – se não estivesse a fim de anunciar o fim do jornalismo, começando por si mesmo – que nada foi publicado pela imprensa sem passar por “pesquisa”, “filtragem” ou “interpretação”.
Quando se quer distorcer um fato, o céu é o limite.
É preciso esperar bastante tempo ainda para saber se alguns daqueles 250 mil telegramas são mais sérios do que “conversa de cabeleireiras”. Pessoalmente, acho que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, ainda não deu explicações razoáveis para as conversas que teve com o embaixador dos Estados Unidos relacionadas com seu colega no ministério e com o presidente boliviano. Mas, como ninguém cobra dele explicações, essa, certamente, entra no rol das conversas de cabeleireira.
Enquanto isso, eu continuo curioso sobre o conteúdo daqueles cabogramas, datados desde 1966. Como escreveu Renato Pompeu: “Eu estou particularmente interessado em saber o que a Embaixada americana informou a Washington sobre as torturas a presos políticos durante o regime militar brasileiro e os assassínios e ‘desaparecimentos’ de oposicionistas.”


fonte: www.viomundo.com.br
13 de dezembro de 2010 às 8:41
Serra prometeu a petroleira americana mudar regras do pré-sal se vencesse eleição
Petroleiras americanas eram contra novas regras para pré-sal
por JULIANA ROCHA, Folha.com
DE BRASÍLIA
As petroleiras americanas não queriam a mudança no marco de exploração de petróleo no pré-sal que o governo aprovou no Congresso, e uma delas ouviu do então pré-candidato favorito à Presidência, José Serra (PSDB), a promessa de que a regra seria alterada caso ele vencesse.
É isso que mostra telegrama diplomático dos EUA de dezembro de 2009 obtido pelo site WikiLeaks (www.wikileaks.ch). A organização teve acesso a milhares de despachos. A Folha e outras seis publicações têm acesso antecipado à divulgação no site do WikiLeaks.
“Deixa esses caras [do PT] fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava… E nós mudaremos de volta”, disse Serra a Patricia Pradal, diretora de Desenvolvimento de Negócios e Relações com o Governo da petroleira norte-americana Chevron, segundo relato do telegrama.
O despacho relata a frustração das petrolíferas com a falta de empenho da oposição em tentar derrubar a proposta do governo brasileiro.
O texto diz que Serra se opõe ao projeto, mas não tem “senso de urgência”. Questionado sobre o que as petroleiras fariam nesse meio tempo, Serra respondeu, sempre segundo o relato: “Vocês vão e voltam”.
A executiva da Chevron relatou a conversa com Serra ao representante de economia do consulado dos EUA no Rio. O cônsul Dennis Hearne repassou as informações no despacho “A indústria do petróleo conseguirá derrubar a lei do pré-sal?”.
O governo alterou o modelo de exploração — que desde 1997 era baseado em concessões –, obrigando a partilha da produção das novas reservas. A Petrobras tem de ser parceira em todos os consórcios de exploração e é operadora exclusiva dos campos. A regra foi aprovada na Câmara este mês.
A Folha teve acesso a seis telegramas do consulado dos EUA no Rio sobre a descoberta da reserva de petróleo, obtidos pelo WikiLeaks.
Datados entre janeiro de 2008 e dezembro de 2009, mostram a preocupação da diplomacia dos EUA com as novas regras. O crescente papel da Petrobras como “operadora chefe” também é relatado com preocupação.
O consultado também avaliava, em 15 de abril de 2008, que as descobertas de petróleo e o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) poderiam “turbinar” a candidatura de Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil.
O consulado cita que o Brasil se tornará um “player” importante no mercado de energia internacional.
Em outro telegrama, de 27 de agosto de 2009, a executiva da Chevron comenta que uma nova estatal deve ser criada para gerir a nova reserva porque “o PMDB precisa de uma companhia”.
Texto de 30 de junho de 2008 diz que a reativação da Quarta Frota da Marinha dos EUA, na época da descoberta do pré-sal, causou reação nacionalista. A frota é destinada a agir no Atlântico Sul, área de influência brasileira.



WikiLeaks mostrou ao mundo helicóptero americano assassinando civis no Iraque
Posted: 09 Dec 2010 05:42 AM PST
As imagens são fortes. Mas para os pilotos parece apenas mais um videogame. Por isso eu separei em dois vídeos: o primeiro, editado por mim. O segundo, mais completo, onde se vê crianças sendo metralhadas pelo helicóptero americano Apache, em 2007, Bagdá, Iraque. O vídeo foi divulgado pelo WikiLeaks em abril deste ano, e horrorizou o mundo.
Leia e veja em
http://blogdomello.blogspot.com/2010/12/wikileaks-mostrou-ao-mundo-helicoptero.html



Dissemine WikiLeaks. Seu futuro está em jogo.
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1749

Por que o mundo precisa do WikiLeaks
Asssista entrevista com o criador Julian Assange.
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1754


O bom combate
Chico Villela
O que está em jogo é a liberdade de expressão na Internet.
http://novae.inf.br/blog/?p=891


O 1º preso político global da internet e a Intifada eletrônica
Idelber Avelar - Julian Assange é o primeiro geek caçado globalmente: pela superpotência militar, por seus estados satélite e pelas principais polícias do mundo. É um australiano cuja atividade na internet catupultou-o de volta à vida real com outra cidadania, a de uma espécie de palestino sem passaporte ou entrada em nenhum lugar.
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1753


Piratas vingadores e espiões em diligência
O caso WikiLeaks tem uma dupla leitura. Por um lado, revela-se um escândalo aparente, um escândalo que só escandaliza por causa da hipocrisia que rege as relações entre os Estados, os cidadãos e a Comunicação Social. Por outro, anuncia profundas alterações a nível internacional e prefigura um futuro dominado pela recessão.
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1752


A verdade ganhará sempre
A WikiLeaks cunhou um novo tipo do jornalismo: o jornalismo científico. Trabalhamos com outros serviços informativos para trazer as notícias às pessoas, mas também para provar que é verdade. Por Julian Assange, publicado no The Australian. Em 1958 o jovem Rupert Murdoch, então proprietário e editor de The News de Adelaide, escreveu: “na corrida entre segredo e verdade, parece inevitável que a verdade ganhe sempre”.
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1751


Uma revolução começou — e será digitalizada
A diplomacia sempre incluiu jantares com as elites dominantes, acertos de bastidores e encontros clandestinos. Agora, na era digital, os relatos de todas estas festas e diálogos aristocráticos pode ser reunido numa enorme base de dados. Uma vez recolhidos em formato digital, é muito fácil compartilhá-los.
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1750


O que a mídia ainda não viu em WikiLeaks
[Por David Brook] Começo por sugerir que políticos e jornalistas a pedir a cabeça de Julian Assange numa bandeja são como brincadeira de criança para ele. Enquanto todos os olhos rastreiam o misterioso albino internacional, a infraestrutura humana e física de um movimento muito maior e mais amplo, mais difuso, continua a crescer e a consolidar-se bem longe dos holofotes. Se Assange for assassinado amanhã, se todos os servidores de WikiLeaks forem desligados por algumas horas, ou dias, ou para sempre, nada de fundamental de fato mudará.
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1748


EUA e a “Estratégia dos 5 Pilares”, do Mossad, para o Irã
[Por Farhang Jahanpour] O mais alarmante, no pacote de arquivos recentemente vazados por WikiLeaks, é o quanto os políticos norte-americanos e seus aliados israelenses vivem obcecados com o Irã. Ninguém fala das colônias israelenses na Cisjordânia, na invasão israelense ao Líbano, dos crimes de guerra em Gaza, do ataque à Flotilha da Paz, do arsenal de centenas de ogivas atômicas que se acumulam em Israel. Todos só falam sobre e pensam em e preocupam-se com o enriquecimento de urânio no Irã. É como se o único problema fosse decidir quem – Israel ou os EUA – atacará primeiro o Irã.
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1747


Wikileaks e os arquivos secretos da guerra afegã
[Antonio Martins] Como uma ferramenta colaborativa da internet revelou o desastre militar que Washington tenta ocultar — e está perturbando poderes econômicos e políticos, ao tornar públicos seus segredos.
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1551



Enviado por Guilherme Souto:

www.brasilianas.org
A educação brasileira no Le Monde
Enviado por luisnassif, qua, 08/12/2010 - 14:17
Da BBC Brasil
Desigualdade na educação 'é calcanhar de Aquiles do Brasil', diz jornal
Uma análise publicada nesta quarta-feira pelo jornal francês Le Monde afirma que as desigualdades no sistema educacional são o "calcanhar de Aquiles do Brasil".
Intitulado "As desigualdades da educação, calcanhar de Aquiles do Brasil", o artigo repercute o resultado de um levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que coloca o nível educacional do Brasil no mesmo nível de Trinidad e Tobago.
"Elogiado por seus inúmeros progressos nos campos econômico e social, o Brasil permanece estagnado em uma área crucial: a educação", diz o texto.
A análise nota que o país conseguiu "praticamente vencer" o analfabetismo entre os mais jovens, mas "continua a castigar um em cada dez brasileiros de 15 a 17 anos". "Na prática, a escolarização não é universal."
Para o jornal francês, "o marasmo brasileiro é resultado em parte da democratização do ensino promovida nos anos 1990. O afluxo de milhões de novas crianças levou a uma queda no nível de ensino, acentuada pela rejeição a expulsar os piores estudantes de das escolas".
"A mediocridade do ensino público está no centro do problema", diz o texto, segundo o qual "os professores são mal formados e mal pagos". "Muitos têm pouca bagagem escolar e experiência", afirma o Monde.
Além disso, "a estrutura federal do Brasil – em três escalões – agrava esses fenômenos" ao criar mais burocracia e abrir espaço para a corrupção no setor.
"Assim se perpetua, com algumas exceções, um ensino de base em dois níveis: público, gratuito, muitas vezes em estado de calamidade, para as crianças das famílias pobres; privado, pago, de bom nível, para os filhos das famílias abastadas, mais bem preparados para o vestibular e gozar do terceiro ciclo e dos centros de pesquisa financiados com dinheiro público", descreve o vespertino francês.
O jornal avalia que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ensaiou algumas ações, "reais, embora tardias e insuficientes". Exemplo disso é o orçamento da saúde, que "tem crescido, mas permanece muito longe, em termos per capita, dos níveis do Chile ou a Argentina", lista o artigo.
"O Brasil tomou consciência do seu calcanhar de Aquiles diante de uma dupla urgência, econômica e social. De um lado, seu forte crescimento obriga à formação da mão-de-obra qualificada que lhe falta, sob pena de perder competitividade. De outro, uma classe média em plena ascensão reivindica seu direito ao conhecimento, chave de um futuro melhor", avalia o vespertino francês.
"Esta dupla necessidade deveria incitar a presidente eleita, Dilma Rousseff, a prolongar o ciclo virtuoso que mal começou a ser esboçado sob o governo de seu predecessor."




O historiador comprometido com as lutas populares perante a história oficial
Aos intelectuais comprometidos cabe a missão de contribuir para a formação tanto de militantes combativos quanto de lideranças
03/12/2010
Anita Leocádia Prestes http://www.brasildefato.com.br/node/5205

Não existe História neutra ou História que seja uma mera reprodução dos fatos ocorridos em determinado momento histórico. O fato histórico é sempre uma escolha do historiador, um recorte feito por ele e que reflete sua subjetividade, seu posicionamento diante do mundo e daquela realidade que está sendo por ele descrita. Não há duas narrativas de um mesmo acontecimento que sejam iguais ou coincidentes. A História é uma construção, construção esta que pode ter maior ou menor compromisso com a evidência, mas na qual existe sempre uma carga indiscutível de subjetividade.
Numa sociedade atravessada, e movida, por conflitos sociais, ou seja, numa sociedade onde há explorados e exploradores, onde há, portanto, classes antagônicas, a História é sempre uma construção que reflete os interesses dos grupos sociais dominantes, que controlam os meios de comunicação. Em outras palavras, a História é uma construção das classes sociais que detém o poder e os meios de comunicação. E isso é verdade, mesmo quando tal situação é mascarada, não estando explicitada, quando não é evidente.
Por isso mesmo, o historiador, aquele que se propõe a compreender e explicar os fenômenos que têm lugar nas sociedades humanas, precisa ser um questionador, uma vez que ele, sendo um personagem do seu tempo, inserido em determinada sociedade de uma determinada época, não é nem pode ser neutro. No máximo, conseguirá manter uma neutralidade aparente.
Nos dias de hoje, a luta ideológica é a principal forma da luta de classes, que não deixará de existir enquanto perdurarem o capitalismo e a exploração do homem pelo homem. As classes dominantes buscam a hegemonia através do consenso. Mas, quando necessário, apelam para a coerção.
Eis a razão por que a elaboração da História Oficial adquire uma importância crescente nas sociedades contemporâneas. Trata-se de proclamar e difundir as vitórias e os sucessos alcançados pelos donos do poder, de hoje e do passado, nos permanentes conflitos sociais presentes na história mundial. Trata-se de consagrar o capitalismo. Em contrapartida, os ideais e as lutas dos setores, que não obtiveram êxito em seus propósitos revolucionários e transformadores e, muitas vezes, sofreram duras derrotas, são, segundo a lógica da História Oficial, esquecidos, silenciados, deturpados e combatidos. Em nossas sociedades contemporâneas, são os intelectuais comprometidos com a burguesia que cumprem a função de produzir tal História Oficial. Dessa forma, são consagradas inúmeras deformações históricas, inúmeras inverdades históricas e silenciados numerosos acontecimentos que não são do interesse dos setores dominantes que sejam do conhecimento da grande maioria das pessoas e, em particular, das novas gerações.
Entretanto, a hegemonia das classes dominantes nunca é absoluta, pois a exploração capitalista e o agravamento dos conflitos sociais levam ao surgimento de intelectuais comprometidos com os interesses dos trabalhadores, dos explorados e dos oprimidos. Observação fundamental para quem, como nós, quer contribuir para a construção de uma outra História, uma História comprometida com a evidência, uma História que possa, portanto, ajudar na elaboração de propostas libertadoras e de emancipação da grande maioria dos homens e mulheres explorados, oprimidos e subordinados na sociedade capitalista em que vivemos. O historiador comprometido com tal proposta – e também o professor de História, responsável pela formação das novas gerações – poderá transformar-se num intelectual a serviço dos interesses populares, dos interesses da maioria do povo brasileiro, se estiver atento para a postura militante que deve assumir diante da História Oficial, produzida pelos intelectuais comprometidos com a burguesia.
Nesse esforço, parece-me importante resgatar a memória daqueles que lutaram por justiça social, mas não conseguiram alcançar a vitória, deixando, entretanto um legado importante para as gerações subsequentes. A respeito, gostaria de citar dois autores – o poeta francês e resistente durante a ocupação nazista da França, Paul Eluard e o intelectual inglês do final do séc. 19, William Morris :
Paul Eluard: “Ainda que não tivesse tido, em toda minha vida, mais do que um único momento de esperança, teria travado este combate. Inclusive, se hei de perdê-lo, outros o ganharão. Todos os outros.”
William Morris: “A Comuna de Paris não é senão um elo na luta que teve lugar ao longo da história dos oprimidos contra os opressores; e, sem todas as derrotas do passado, não teríamos a esperança de uma vitória final.”
Finalmente, gostaria de destacar o papel dos intelectuais – e, em particular, dos historiadores e professores de História - junto aos movimentos populares, mas principalmente nas escolas, nas salas de aula e no trabalho de pesquisa histórica, no sentido de formar jovens questionadores, cidadãos que não aceitem o consenso dominante, que estejam dispostos a se contrapor à hegemonia dos setores dominantes. Aos intelectuais comprometidos com as lutas populares cabe a missão de contribuir para a formação tanto de militantes combativos quanto de lideranças orientadas para uma perspectiva de elaboração de uma alternativa de emancipação social para nosso povo, perspectiva que, a meu ver, só poderá ser socialista. Mas um socialismo que não seja “nem cópia nem decalque, mas sim criação heroica” do nosso povo, nas palavras de um grande revolucionário latino-americano - José Carlos Mariátegui.
Anita Leocádia Prestes é professora do Programa de Pós-graduação em História Comparada de UFRJ e presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes.



Fonte: www.rudaricci.blogspot.com

MEC define diretrizes para o Ensino Fundamental de 9 anos
O Ministério da Educação (MEC) homologou as diretrizes para o Ensino Fundamental de nove anos, elaboradas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), tornando-se resolução número 7 de 2010. O texto deverá servir de base para a elaboração do currículo em todas as escolas do País já no início de 2011. O ponto central é a definição dos três primeiros anos do Esino Fundamental como um único ciclo, que não tenha reprovação, mas que não tenha aprovação automática. Trata-se de um imenso avanço, algo que venho propagandeando neste blog.

Sobre os Princípios:

Éticos: de justiça, solidariedade, liberdade e autonomia; de respeito à dignidade da pessoa humana e de compromisso com a promoção do bem de todos, contribuindo para combater e eliminar quaisquer manifestações de preconceito e discriminação.


Políticos: de reconhecimento dos direitos e deveres de cidadania, de respeito ao bem comum e à preservação do regime democrático e dos recursos ambientais; de busca da equidade no acesso à educação, à saúde, ao trabalho, aos bens culturais e outros benefícios; de exigência de diversidade de tratamento para assegurar a igualdade de direitos entre os alunos que apresentam diferentes necessidades; de redução da pobreza e das desigualdades sociais e regionais.


Estéticos: de cultivo da sensibilidade juntamente com o da racionalidade; de enriquecimento das formas de expressão e do exercício da criatividade; de valorização das diferentes manifestações culturais, especialmente as da cultura brasileira; de construção de identidades plurais e solidárias.

Objetivos

Propiciar o desenvolvimento do educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe os meios para que ele possa progredir no trabalho e em estudos posteriores, segundo o artigo 22 da Lei nº 9.394/96 (LDB), bem como os objetivos específicos dessa etapa da escolarização (artigo 32 da LDB), devem convergir para os princípios mais amplos que norteiam a Nação brasileira.

A peculiaridade desta etapa de desenvolvimento

Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a criança desenvolve a capacidade de
representação, indispensável para a aprendizagem da leitura, dos conceitos matemáticos básicos e para a compreensão da realidade que a cerca, conhecimentos que se postulam para esse período da escolarização. O desenvolvimento da linguagem permite a ela reconstruir pela memória as suas ações e descrevê-las, bem como planejá-las, habilidades também necessárias às aprendizagens previstas para esse estágio. A aquisição da leitura e da escrita na escola, fortemente relacionada aos usos sociais da escrita nos ambientes familiares de onde veem as crianças, pode demandar tempos e esforços diferenciados entre os alunos da mesma faixa etária. A criança nessa fase tem maior interação nos espaços públicos, entre os quais se destaca a escola. Esse é, pois, um período em que se deve intensificar a aprendizagem das normas da conduta social, com ênfase no desenvolvimento de habilidades que facilitem os processos de ensino e de aprendizagem.

Currículo

O acesso ao conhecimento escolar tem, portanto, dupla função: desenvolver habilidades intelectuais e criar atitudes e comportamentos necessários para a vida em sociedade. O aluno precisa aprender não apenas os conteúdos escolares, mas também saber se movimentar na instituição pelo conhecimento que adquire de seus valores, rituais e normas, ou seja, pela familiaridade com a cultura da escola.
O currículo da base nacional comum do Ensino Fundamental deve abranger obrigatoriamente, conforme o artigo 26 da LDB, o estudo da Língua Portuguesa e da Matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente a do Brasil, bem como o ensino da Arte, a Educação Física e o Ensino Religioso.

Os componentes curriculares obrigatórios do Ensino Fundamental serão assim organizados em relação às áreas de conhecimento:
I – Linguagens:
a) Língua Portuguesa
b) Língua materna, para populações indígenas
c) Língua Estrangeira moderna
d) Arte
e) Educação Física
II – Matemática
III – Ciências da Natureza
IV – Ciências Humanas:
a) História
b) Geografia
V - Ensino Religioso

O Ensino Fundamental deve ser ministrado em língua portuguesa, mas às
comunidades indígenas é assegurada também “a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem” (Constituição Federal, art. 210, §2º, e art. 32, §3º da LDB).



Alguns motivos para visitar o Café História:

MISCELÂNEA CAFÉ HISTÓRIA

História da África para Download
Coleção “História Geral da África” ganha edição em língua portuguesa e pode ser baixado por qualquer pessoa através do site da Unesco. São mais de seis mil páginas que prometem melhorar ainda mais o ensino de história nas escolas brasileiras

História no volume Máximo
Registros textuais, imagens e até mesmo registros sonoros na íntegra. Saiba como a pesquisa histórica está sendo beneficiada por sites que disponibilizam importantes acervos

CAFÉ EXPRESSO NOTÍCIAS

Escolas vão receber material sobre as vítimas da ditadura
MPF pede que Arquivo Nacional facilite acesso a documentos da ditadura
Flamengo terá memorial em homenagem a Stuart Angel, morto durante a ditadura

VÍDEO EM DESTAQUE

Os 100 Anos da Revelta da Chibata
Assista: http://cafehistoria.ning.com/video/os-100-anos-da-revolta-da

Entrevista com o Historiador Carlos Guilherme Mota - Roda Viva
Assista: http://cafehistoria.ning.com/video/entrevista-com-o-historiador-2

Historiador José Murilo de Carvalho fala sobre a onda de violência no Rio de Janeiro
Assista: http://cafehistoria.ning.com/video/historiador-jose-murilo-de

Entrevista com Mark Zuckerberg, fundador do Facebook
Assista: http://cafehistoria.ning.com/video/entrevista-com-mark-zuckerberg

FÓRUNS EM DISCUSSÃO
Tortura: grupos militares criam obstáculos a investigação da justiça?
Participe: http://cafehistoria.ning.com/forum/topics/tortura-grupos-militares-criam


Por que a Arqueologia é tão ignorada no Brasil?
Participe: http://cafehistoria.ning.com/forum/topics/por-que-a-arqueologia-e-tao

Houve a presença de visigodos ou celtas nas Américas ?
Participe: http://cafehistoria.ning.com/forum/topics/houve-a-presenca-de-visigodos

Visite Cafe Historia em: http://cafehistoria.ning.com/?xg_source=msg_mes_network


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Numero 256




Hoje, um feriado nublado em Belo Horizonte, fazemos um boletim com algumas matérias que dão continuidade a assuntos abordados no número anterior.
O que está acontecendo no Rio ainda é motivo para muitos comentários e artigos. Recebi algumas colaborações que julguei pertinente transcrever aqui.
Além disso, temos ainda a repercussão dos documentos “secretos” que mais de 2 milhões de cidadãos norte-americanos podiam acessar e, claro, sempre algum deles poderia “vazar”. O que me espanta nessa questão toda é que dois temas muito caros à nossa imprensa – democracia e liberdade de expressão – não aparecem em momento algum.
Ora se vê pessoas tentando desacreditar a importância dos documentos, ora se vê gente dizendo que não passa de fofocas. Mas ninguém comenta o fato de que numa Democracia, se é o povo que está no poder por meio de seus representantes, esse mesmo povo ignora o que os ditos representantes estão a fazer mundo afora. E a prisão eminentemente política do criador do site Wikileaks não é apontada por nenhum jornal como cerceamento da liberdade de expressão.
Muito estranho esse jornalismo tupiniquim.



Colaboração de Ana Cláudia:


Reality show em tempo real

É moralmente inadmissível essa assimilação de uma tragédia urbana, com mortes e sofrimento, a um show de TV. Nem faz justiça ao comportamento da polícia: o Bope sentiu-se prejudicado, em plena ação, pela cobertura televisiva; o secretário de Segurança enfatizou que "não há nada a celebrar". O comedimento da polícia é uma crítica implícita à falta de consciência crítica dos jornalistas.
"A fascinante violência no Rio de Janeiro foi de novo um sucesso."

A frase final de um artigo do editor de Destak (sexta-feira, 26/11), jornal carioca de distribuição gratuita nos sinais de trânsito, vale como sintoma do que foi a cobertura jornalística (imprensa escrita e televisão) do terrorismo delinquente nas ruas do Rio e da consequente reação das forças policiais. Em termos de modelagem ideológico-editorial, não há diferença entre a pequena e a grande imprensa.

Como preliminar, é preciso deixar claro que a operação policial, com o apoio logístico da Marinha e reforço posterior do Exército e da Polícia Federal, foi recebida com aplausos pela população, inclusive a maior parte dos moradores do complexo de favelas invadido, todos já psicologicamente saturados dos efeitos desgastantes do domínio dos bandos ilegalistas sobre os cidadãos de todas as classes sociais. Na sociedade e na web: uma ligeira vista de olhos pelas redes sociais permite localizar endereços de Facebook com caveiras (emblema do Bope) estampadas.

Por outro lado, se nas ruas do "asfalto" o medo ronda pedestres e motoristas, nos morros, ou "comunidades periféricas", registra-se o imenso alívio de moradores que, além do cerceamento do direito constitucional de ir e vir, eram ultimamente obrigados a servir comida a marginais desfalcados da renda costumeira do tráfico de drogas, em virtude da ação das "unidades pacificadoras".

Jornalismo "técnico"

Mas não há nada de "fascinante" nisso tudo, nem mesmo a ser "celebrado", como frisou o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame. A hora é de preocupação ou de pausa para a reflexão, bem ao contrário da espetacularização encenada pela mídia. Na verdade, é mesmo ocasião para alguma tristeza em face do número elevado de mortos e da convicção de que a situação a que agora se chegou é o resultado de desgovernos anteriores e da crescente mafialização da vida pública. Este fenômeno abrange a composição de partes significativas de câmaras legislativas, a corrupção policial, a fragilidade do Poder Judiciário, a disseminação das milícias (potencialmente mais perigosas do que o narcotráfico) e a escandalosa indiferença da própria sociedade ao consumo de drogas.

A mídia é aqui também objeto de preocupação.

É verdade que foi provavelmente uma imagem veiculada pela TV Globo (dezenas de bandidos armados e reunidos na Vila Cruzeiro, o bunker das ações terroristas nas ruas) a deflagradora da invasão e ocupação do local por tropas de elite da polícia, escudadas por veículos blindados da Marinha. Imagens de TV – mas também o risco de arranhão na imagem internacional da cidade que abrigará a Copa e as Olimpíadas – são claramente motivadoras da ação. Afinal, o poder constituído sabia desde muito tempo atrás do incremento exponencial de sua contrapartida nas favelas, o poder do ilegalismo.

Mas a cobertura jornalística dos acontecimentos, a televisiva principalmente, revelou o anacronismo cívico de um jornalismo puramente "técnico", movido pelo espetáculo do fato e praticado nos moldes de uma presumida filmagem, ao vivo, da realidade. "Globocop", nome do helicóptero da TV Globo, é a máquina equipada com quatro tripulantes e uma câmera capaz de girar em 360 graus e de captar imagens com precisão a um quilômetro de distância.

"Como Copa do Mundo"

Evocativa de Robocop, conhecido personagem cinematográfico, a máquina televisiva associou-se à metáfora da "máquina de guerra", usada pela mídia para caracterizar as ações policiais. Com ela, a cobertura converteu-se numa espécie de "Tropa de Elite 3", produzindo efeitos de identificação projetiva, segundo os quais estariam entrando em ação aqueles que o colunista Merval Pereira designou como "centenas de capitães Nascimento encarnados em cada um dos soldados do Bope" (O Globo, 26/11/2010).

Como num filme ou numa telenovela, constrói-se uma polaridade (os bons contra os maus), da qual se alimenta a narrativa midiática. O texto de Destak é explícito: "Éramos nós atirando, acenando com bandeiras brancas sobre lajes e nos escondendo dos tiros dentro de casa, contra eles, que fugiam ou nos afrontavam. (...) A cidade se uniu diante da TV, tentando torcer por si". Essa polaridade ("nós" contra "eles") é tão falsa quanto a polaridade entre polícia e bandido, já que, na corrupção cotidiana, não raro um termo equivale ao outro.

Mas a lógica do espetáculo demanda uma oposição folhetinesca. Assim, as palavras em itálico (cena, torcida) são índices semióticos da espetacularização, confirmada na coluna de Merval Pereira: a cobertura seria de fato "um reality show em tempo real". Seria algo como um game, encenação televisiva de um "show da vida" ou uma partida de futebol, capaz de converter o cidadão em torcedor: "Uma sensação parecida com ver um jogo de Copa do Mundo. Em vez de um time representando o país, eram policiais. Em vez de gol, a vibração surgiu no momento em que dois traficantes em fuga a pé foram alvejados" (Destak).

Razões da impunidade

Há algo de socialmente obsceno nesse transbordamento do espetáculo. É moralmente inadmissível essa assimilação de uma tragédia urbana, com mortes e sofrimento, a um show de TV. Nem faz justiça ao comportamento da polícia: o Bope sentiu-se prejudicado, em plena ação, pela cobertura televisiva; o secretário de Segurança enfatizou que "não há nada a celebrar". O comedimento da polícia é uma crítica implícita à falta de consciência crítica dos jornalistas.

Como poderia manifestar-se essa consciência?

Antes de tudo, no questionamento desse modelo de jornalismo, que confunde a informação responsável do fato com a exposição obscena (em seu sentido radical, esta palavra de origem latina significa postar-se diante da cena – ob-scenum – sem as devidas mediações culturais) dos acontecimentos. Simplesmente mostrar não é informar. Pode ser, no limite, um modo de excitar a pulsão escopofílica do espectador.

Informar criticamente – o que se revela socialmente imprescindível no caso em pauta – seria comunicar os acontecimentos dentro do quadro explicativo de suas causas, aliás bastante evidentes para qualquer observador atento. Pode-se começar com os constituintes de 1988, que legislaram em matéria penal com a ditadura e o preso político em mente e, ao fundo, a doutrina liberal-individualista do direito pós-Revolução Francesa. Resultou daí uma legislação tíbia frente ao delinquente comum, com a impunidade no horizonte. Mata-se por dá cá essa palha.

Comedimento e responsabilidade

Em seguida, seria preciso colocar em pauta a corrupção avassaladora de governos, políticos, policiais etc. Não deixar também de indagar sobre a responsabilidade da sociedade civil (se é que esse conceito se aplica ao Brasil) no tocante às drogas e à mafialização generalizada, que vem pondo em segundo plano o problema do tráfico de drogas. Finalmente, tentar jogar alguma luz sobre as perspectivas de emprego para quem se dispõe a abandonar o crime.

Certo, o jornalista poderá responder a tudo isso com a alegação de que o imediato de sua condição profissional lança-o sob pressão sobre a superfície do fato, para dar conta a seu público das ocorrências em bruto. A notícia seria, assim, a pura e simples mercadoria de sua prática industrial. É o que se aprende, é o que se faz – e o que dá certo em termos de audiência e mercado publicitário.

Esse é, de fato, o modelo consagrado pelo jornalismo tal como o conhecemos e talvez não possa ser mudado sem mais nem menos. Mas é certamente um modelo sem amanhã cívico; portanto, algo a ser debatido e repensado.

Nesse meio tempo, seria oportuno um pouco mais de comedimento e responsabilidade social. A morte violenta do outro não pode converter-se em fantástico show da vida.
Publicado por Observatório da Imprensa.

Colaboração de Vânia Facury:

Eu ajudei a destruir o Rio!

Fonte: Jornal de Brasília

Sylvio Guedes, editor-chefe do Jornal de Brasília, critica o "cinismo" ...dos jornalistas, artistas e intelectuais ao defenderem o fim do poder paralelo dos chefes do tráfico de drogas. Guedes desafia a todos que "tanto se drogaram nas últimas décadas que venham a público assumir: eu ajudei a destruir o Rio de Janeiro".

Leia o artigo na íntegra:

É irônico que a classe artística e a categoria dos jornalistas estejam agora na, por assim dizer, vanguarda da atual campanha contra a violência enfrentada pelo Rio de Janeiro. Essa postura é produto do absoluto cinismo de muitas das pessoas e instituições que vemos participando de atos, fazendo declarações e defendendo o fim do poder paralelo dos chefões do tráfico de drogas.

Quando a cocaína começou a se infiltrar de fato no Rio de Janeiro, lá pelo fim da década de 70, entrou pela porta da frente. Pela classe média, pelas festinhas de embalo da Zona Sul, pelas danceterias, pelos barzinhos de Ipanema e Leblon. Invadiu e se instalou nas redações de jornais e nas emissoras de TV, sob o silêncio comprometedor de suas chefias e diretorias.

Quanto mais glamuroso o ambiente, quanto mais supostamente intelectualizado o grupo, mais você podia encontrar gente cheirando carreiras e carreiras do pó branco. Em uma espúria relação de cumplicidade, imprensa e classe artística (que tanto se orgulham de serem, ambas, formadoras de opinião) de fato contribuíram enormemente para que o consumo das drogas, em especial da cocaína, se disseminasse no seio da sociedade carioca - e brasileira, por extensão. Achavam o máximo; era, como se costumava dizer, um barato.

Festa sem cocaína era festa careta. As pessoas curtiam a comodidade proporcionada pelos fornecedores: entregavam a droga em casa, sem a necessidade de inconvenientes viagens ao decaído mundo dos morros, vizinhos aos edifícios ricos do asfalto.

Nem é preciso detalhar como essa simples relação econômica de mercado terminou. Onde há demanda, deve haver a necessária oferta. E assim, com tanta gente endinheirada disposta a cheirar ou injetar sua dose diária de cocaína, os pés-de-chinelo das favelas viraram barões das drogas.

Há farta literatura mostrando como as conexões dos meliantes rastacuera, que só fumavam um baseado aqui e acolá, se tornaram senhores de um império, tomaram de assalto a mais linda cidade do país e agora cortam cabeças de quem ousa lhes cruzar o caminho e as exibem em bandejas, certos da impunidade.

Qualquer mentecapto sabe que não pode persistir um sistema jurídico em que é proibida e reprimida a produção e venda da droga, porém seu consumo é, digamos assim, tolerado. São doentes os que consomem. Não sabem o que fazem. Não têm controle sobre seus atos. Destroem famílias, arrasam lares, destroçam futuros.

Que a mídia, os artistas e os intelectuais que tanto se drogaram nas três últimas décadas venham a público assumir:

"Eu ajudei a destruir o Rio de Janeiro."
Façam um adesivo e preguem no vidro de seus Audis, BMWs e Mercedes.




Jobim: nos tempos de Jango?
Quando disse ao diplomata americano que o ministro Samuel Pinheiro Guimarães “odeia os Estados Unidos e trabalha para criar problemas na relação entre Brasília e Washington", Nelson Jobim se afigurou como triste personagem de uma geopolítica de vice-reinado.
Gilson Caroni Filho (www.cartamaior.com.br)

O professor Boaventura de Souza Santos, da Universidade de Coimbra, escreveu, há 11 anos, que: “uma parte do que de importante ocorre no mundo é em segredo e em silêncio, fora do alcance dos cidadãos. E o dilema para a democracia daqui resultante é que os segredos só podem ser conhecidos a posteriori, depois de deixarem de ser, depois de produzirem fatos consumados que escaparam ao controle democrático". Referia-se ele, na época, ao Acordo Multilateral de Investimentos (AMI), que vinha sendo negociado na surdina, entre os países desenvolvidos da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), por iniciativa dos Estados Unidos e da União Européia, com cinco países observadores, entre eles o Brasil de FHC. Tratava-se de uma carta magna das corporações transnacionais que não deixava aos países da periferia qualquer margem de soberania.

Graças ao vazamento do site Wikileaks, organização que confirma o surgimento de uma nova esfera informativa mundial, os fatos e manobras que permaneciam ocultos, na lúcida observação de Boaventura, se tornaram de conhecimento público, expondo, no caso brasileiro, o tamanho da queda que nos querem impor, ou a que estamos sujeitos.

Os telegramas de Clifford Sobel, ex-embaixador dos EUA no Brasil, dando conta dos serviços prestados pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, a um país estrangeiro são emblemáticos. A presença de Jobim no futuro governo pode ter se tornado inviável. Mais do que nunca é importante lembrar a existência de uma relação íntima entre a intensidade da ameaça e a firmeza da resposta. Não há justificativa plausível, nem mesmo na lógica de uma estreita Realpolitik, para a continuação de Jobim à frente da pasta da Defesa. Um pequeno histórico se faz necessário quando mentalidades mórbidas voltam a atacar a soberania nacional, como se fosse praga e empecilho a ser removido.

Ao se abrirem os anos 1960, a diplomacia brasileira, refletindo tanto as novas realidades internacionais quanto a correlação interna das forças sociopolíticas, desenvolveu os seus primeiros esforços no sentido de divorciar-se do caduco alinhamento incondicional ao imperialismo, herança dos tempos da Guerra Fria. Foram dados, então, os passos do que, à época, ficou conhecido como "política externa independente"

O golpe de 1964 interrompeu esse processo. O regime emergente de 1º de abril, medularmente comprometido com o imperialismo estadunidense, acoplou à repressão no interior ("segurança nacional") o reacionarismo na política externa (fronteiras ideológicas). O posicionamento internacional daí resultante só poderia ter sido aquilo que que sabemos: a subserviência mais lamentável aos desígnios do Império - de que permanece, como triste exemplo, a nossa intervenção na República Dominicana, no bojo da sinistra "Força Interamericana de Paz".

Pouco a pouco, todavia, este posicionamento - lesivo à verdadeira soberania nacional, aviltante para uma república soberana - foi sendo ultrapassado pela realidade da vida. Entre as complicações de um mundo cada vez menos definível segundo o maniqueísmo dos “blocos" e as contradições do desenvolvimento das forças produtivas no país, a concepção das "fronteiras ideológicas" passou, de fato, à categoria de figura de retórica. Especialmente a partir dos primeiros anos da década de 70, os governos militares foram compelidos a descolar-se do jogo internacional do imperialismo.

E sempre que o fizeram, conflitando com sua política interna e com seu próprio discurso global, marcaram posições progressistas que lhes valeram significativos créditos entre a comunidade das nações. Basta pensar na postura brasileira em face da luta de libertação dos povos africanos, diante da Organização para Libertação da Palestina (OLP) e em relação às Malvinas.

A importância deste descolamento, conduzido consequentemente após a redemocratização, configurou o perfil que as forças democráticas reclamam para o Brasil: o de um país independente, com uma posição internacional e soberana e autônoma. Este cenário, evidentemente, é função da situação nacional. Somente um regime democrático, como o que temos hoje, assentado na mais ampla participação popular, pode aprofundar as tendências progressistas de nossa política externa. Vale dizer: a luta pela reorganização democrática da sociedade continua sendo conjugada à luta para sistematizar uma inserção internacional que corresponda aos interesses da maioria do nosso povo.

No limiar do futuro, a sociedade brasileira aparenta ser prisioneira do seu passado que, por ainda não ter sido dominado, ameaça se voltar contra ela. Pois é na hora do vôo livre para uma área ainda por construir, porém promissora, que a vontade não pode se distrair na desconfiança de que, mais uma vez, reiteramos antigos erros.

Quando disse ao diplomata americano que o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, “odeia os Estados Unidos e trabalha para criar problemas na relação entre Brasília e Washington", Nelson Jobim se afigurou como triste personagem de uma geopolítica de vice-reinado.

Por aí, estaríamos condenados a viver em um território estranho à dialética, oscilando mecanicamente entre velhas sístoles e diástoles, vítimas de uma conspiração da nossa própria história. Cabe à presidente eleita avaliar se vale a pena apostar no atual ministro da Defesa. Por seu desempenho nos últimos anos e pelas confidências reveladas pelo site, Jobim está empenhado em uma aventura que lhe permita tomar o passado de assalto, obrigando o país a viver uma vida que não é a sua, como se fosse a única possível. Seria Jango o seu alvo?

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil


Colaboração de Guilherme Souto:

Fonte: www.brasilianas.org
O golpe de Honduras, segundo o Departamento de Estado
Enviado por luisnassif, sab, 04/12/2010 - 09:36
Por Nilson Fernandes
Telegrama mostra que Brasil estava certo em Honduras, diz Amorim
O chanceler Celso Amorim disse nesta sexta-feira que o telegrama em que o embaixador americano em Honduras, Hugo Llorens, afirma não ter dúvidas de que houve um golpe "ilegal e inconstitucional" no país mostra que o Brasil estava certo no episódio.
"Fomos criticados aqui por muitos e o embaixador americano reconhece que aquilo ali foi um golpe, que contrariava a democracia nas Américas."
O telegrama, vazado pelo site WikiLeaks, foi enviado a Washington em 23 de julho de 2009, quase um mês depois da deposição do presidente Manuel Zelaya.
No texto, Llorens analisa juridicamente o episódio e afirma que a ação dos militares, da Corte Suprema e do Congresso Nacional não teve respaldo na Constituição hondurenha.
O embaixador americano diz que a tese de que Zelaya violara a lei ao organizar um referendo sobre a convocação de uma Assembleia Constituinte "não foi provada" e que a acusação de que ele pretendia prolongar seu mandato é uma "suposição".
Llorens também chama de "ilegítimo" o governo de Roberto Micheletti, que assumiu após a expulsão de Zelaya de Honduras.
Para Amorim, será preciso esperar os vazamentos de documentos "de setembro ou outubro" de 2009 para ver por que os EUA, depois de condenarem o golpe, passaram a apoiar a eleição presidencial realizada sob os golpistas.
"Havia ligações grandes de setores do establishment norte-americano com o hondurenho, isso é público", disse o chanceler.
O governo brasileiro ainda não normalizou as relações com o presidente eleito em novembro de 2009, Porfirio Lobo, e mantém-se contra a revogação da decisão que suspendeu Honduras da OEA (Organização dos Estados Americanos), com base na Carta Democrática da entidade.
Amorim disse que o Brasil ainda espera que Zelaya possa voltar ao país e que o novo governo dê "garantias de direitos humanos, de liberdade de expressão". "Ele [Zelaya] devia ter voltado como presidente nem que fosse para passar o cargo, presidir as eleições. Do contrário seria fácil, você não gosta de uma situação, dá um golpe e depois faz eleição."
NUCLEAR
O ministro também comentou telegramas em que a embaixada americana em Paris relata preocupação do governo francês com a posição de Brasil, Turquia e China em relação ao Irã.
Um desses documentos, de janeiro deste ano, cita um conselheiro do presidente Nicolas Sarkozy segundo o qual o Brasil foi ingênuo ao desconhecer "os limites" da proposta de Obama de iniciar diálogo com Teerã.
"O assessor do presidente [Sarkozy] com quem mantive diálogo direto várias vezes nos estimulou a continuar [buscando acordo sobre a questão nuclear]. Não vou dizer que ele achasse tudo resolvido, nem nós achávamos", disse Amorim.
Para o chanceler, a França tinha interesse em que o Brasil resolvesse o problema da francesa Clotilde Reiss, que foi presa no Irã por dez meses, acusada de espionagem, e libertada por gestão do presidente Lula durante sua visita a Teerã, em maio deste ano.
"Aquilo habilitaria a retomar um diálogo entre a França e o Irã, o que ocorreu. O resto são comentários."
O chanceler brasileiro não criticou os franceses ontem, mas na época Lula ficou irritado porque Sarkozy demorou quase dois meses para telefonar ao iraniano Mahmoud Ahmadinejad e agradecer pela libertação, como havia sido combinado.
No Planalto, hoje existe a certeza de que Sarkozy jogava duplo. Seu interesse na libertação de Reiss estaria ligado às eleições regionais francesas de março deste ano, em que sua coalizão foi derrotada. A soltura ocorreu dois meses depois.
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/840591-telegrama-mostra-que-brasil-estava-certo-em-honduras-diz-amorim.shtml





“Italianos eram os nordestinos do início do século XX”
Para historiador, preconceito está ancorado em toda a sociedade brasileira
Eduardo Sales de Lima
Da Redação (www.brasildefato.com.br)


Ficou a dúvida. A atitude da estudante de Direito Mayara Petruso hostilizando os nordestinos por causa do peso dessa região na vitória de Dilma Rousseff nas eleições teria sido algo isolado?

Para responder essa e outras questões que emergiram a partir da atitude da garota, o Brasil de Fato entrevistou, por e-mail, o professor de História da USP, Francisco Alambert. Leia a seguir.

Brasil de Fato - A atitude da estudante de Direito, Mayara Petruso (… afogar os nordestinos), logo após a vitória de Dilma, pode ser vista como algo isolado, ou ela se ancora e se legitima dentro de setores da sociedade paulista?

Francisco Alambert - Está plenamente ancorada na sociedade brasileira (até na nordestina). O melhor termômetro são os blogs de opinião política da direita, inclusive o de grandes veículos, como a Revista Veja. Observe os textos de colunistas como Reinaldo Azevedo (ou de gente como Luis Felipe Pondé, da Folha). Sua linguagem brutalista, estupidificante e raivosa reverbera e se duplica nos “comentários”. Sob um discurso contra a “esquerda” e pela “ética” aparece toda uma desfaçatez e uma violência de classe que não tem vergonha de dizer seu nome. O episódio da demissão de Maria Rita Khel no Estadão, por dizer exatamente que a elite acha que o voto dos pobres deveria valer menos que o seu, é outro exemplo de como isso está ancorado na visão de mundo dos ricos e “inteligentes”.

O professor acredita que essas eleições serviram para desvelar um preconceito já existente latente em setores da sociedade paulista? É possível que tal comportamento se restrinja à "elite"?

Dilma é tão “sulista” quanto Serra. Não foram as eleições que desvelaram o preconceito, mas o “sucesso” (e digo isso sem euforia, porque não sou mais petista, sou um critico à esquerda do PT) do governo Lula e do programa Bolsa Família, que na visão senhorial da elite serviu para diminuir sua margem de lucro com os miseráveis (“eles não querem mais trabalhar pelo salário mínimo para mim, do jeito que eu quero, com quantas horas eu quero”). Mas se fosse só a elite, o PSDB não teria tantos votos quanto teve, nem o Tiririca seria o fenômeno do momento (nordestino ou não). Boa parte dos mais pobres tem horror de se ver no espelho da sua condição de classe.

Quais seriam os elementos históricos-chave que teriam moldado uma suposta visão racista dessa elite regional? A origem do preconceito em relação aos nordestinos seria antes de tudo econômica?

No caso específico de São Paulo, os italianos eram os nordestinos do início do século XX. Quando eles imigraram em massa para o Estado, e especialmente para a cidade, eles ocuparam os setores mais baixos do trabalho. Eram a ralé, e assim eram tratados pelos “quatrocentões” ou por quem se considerava “brasileiro de verdade”, “paulista de quatro costados”, etc. O desenvolvimentismo dos anos 50 a 70 fez com que boa parte desses imigrantes, que chegaram miseráveis e eram objeto de desprezo, ascendessem de classe, fossem para a classe média, por exemplo. A partir desse período começaram a chegar cada vez mais novos imigrantes, só que agora migrantes do Brasil mais pobre, especialmente do nordeste. Eles ocuparam o lugar que um dia foi dos “estrangeiros”, inclusive no que tange ao preconceito de classe. O bizarro é que boa parte dos imigrantes e seus descendentes, ou seja, da nova classe média, se esqueceu de seu passado, e passou a tratar os nordestinos como eles eram tratados (inclusive na sua origem, na Itália, por exemplo): como a escória social. O fato do sobrenome dessa estudante indicar sua ascendência estrangeira é muito sintomático disso.

É possível falar em segregação espacial na cidade de São Paulo?

Em qualquer cidade do mundo capitalista: Los Angeles, Nova York, Paris, Londres (uma segregação que explode sempre em violência). No caso de São Paulo, desde sempre, desde os bairros que um dia segregaram os imigrantes estrangeiros até as periferias de hoje, verdadeiros campos de concentração de miséria e descaso do Estado. E quando esses lugares são ocupados pela violência, pelo tráfico de drogas ou pelo crime organizado, a maioria, os pobres, é que são os “culpados” que devem ser expulsos para que os lugares sejam “revitalizados” (como quer projetos como o da Nova Luz). É sempre o mesmo: culpar as árvores pelo incêndio na floresta.






a Revista Espaço Acadêmico, edição nº 115, dezembro de 2010, foi publicada. Acesse: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/issue/current

Leia nesta edição o DOSSIÊ ELEIÇÕES 2010 E PERSPECTIVAS POLÍTICAS.




Dossiê comemorativo dos 80 anos da Revolução de 1930


Está disponível no portal CPDOC um dossiê comemorativo dos 80 anos da Revolução de 1930. Faz parte do dossiê uma entrevista inédita com o historiador Boris Fausto, que faz um balanço de seu livro “A Revolução de 1930”, passados 40 anos de sua primeira edição.

Acesse o portal: http://cpdoc.fgv.br

Itinerância da mostra etnográfica no Cineclube FGV

O Cineclube FGV abrigará, em 9 de dezembro, a mostra "Itinerância Universitária", promovida pelo festival "Mostra Internacional do Filme Etnográfico". Será exibido o documentário Avós: Saudades do que não vivi (2009, 78'), de André Paz.

Data: 9 de dezembro (quinta-feira) de 2010
Horário: 17h
Local: Fundação Getulio Vargas
Praia de Botafogo, 190. Auditório 318 (3º andar)




Leia no www.outraspalavras.net:


A Outra Europa que desperta
Mobilizações estudantis na Itália e Inglaterra relembram 1968, combatem cortes de direitos sociais e abalam governos que os adotam. Berlusconi pode cair dia 14. Por Antonio Martins

Os extremos climáticos expostos em Cancún
O que revelam os novos estudos sobre aquecimento global. Por que a conferência da ONU hesita em enfrentar o problema. Por Stephen Leahy, da Agência IPS-Envolverde

Clima: a opção do Orçamento de Carbono
Dois cientistas chineses propõem mecanismo para enfrentar aquecimento global assegurando vida digna para todos e combatendo suntuosidade e desperdício. Por Ricardo Abramovay

Muito longe do equilíbrio
Como nos anos 1970, os EUA respondem à crise com guerra e manipulação do dólar. Mas não se resistirá com propostas ingênuas. Por José Luís Fiori

Uma revolução começou. E será digitalizada
O que ocorrer com o direito à informação definirá a democracia no próximo século. Por isso o Wikileaks é importante. Por Heether Brooke, do The Guardian

A mídia livre depois das eleições
O grande desafio é encontrar fórmulas para remunerar e oferecer vida digna a jornalistas capazes e dispostos a ser independentes. Porque ninguém escapa da ditadura das contas. Por Tadeu Breda, no site Latitude Sul

Educar para um novo poder
Por uma utopia possível: invocar Paulo Freire e Michel Foucault para superar o autoritarismo e o clientelismo que persistem na sociedade brasileira. Por Marilza de Melo Foucher

O canto dos escravos
Nesses tempos de guerra e cantoria, mudou a racionalidade, mudaram as ações e legitimidades. Bíblia muda pra lei, chicote muda pra algemas. Mas a África continua a encher nossas almas. Por Hugo Fanton, no site Latitude Sul

A Falha e a Folha de São Paulo
Numa entrevista em vídeo, os criadores do site que o jornal da família Frias conseguiu censurar questionam: quem tem moral para falar em "liberdade de expressão"?

Enquete: o combate ao crime organizado
Que priorizar: ações como as do Morro do Alemão? Programas de distribuição de renda? Ambos, de modo coordenado? A legalização das drogas? Responda e opine

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Numero 255


Esta semana a noticia bomba não foi o caos do Rio de Janeiro, mas a divulgação de alguns dos 251.000 documentos até então secretos enviados por embaixadores norte-americanos e que caíram nas mãos de alguns jornais graças ao WikiLeaks.

Dois fieis leitores se apressaram a me enviar material que reproduzo a seguir.
Ontem tive oportunidade de ler um artigo no Observatório da Imprensa, em que o articulista deixa a entender a falta de relevância desses documentos. Chega a dizer mesmo que se trata de fofocas. Discordo.
O que se pode ver neles é a proverbial arrogância de políticos, embaixadores e autoridades norte-americanas, que classificam os líderes mundiais de forma depreciativa.
Um embaixador norte-americano que afirma ser a primeira-ministra alemã uma pessoa que não é capaz de formular um pensamento não está fazendo fofoca. Está emitindo um parecer arrogante a respeito da mais alta autoridade política alemã. E é um parecer OFICIAL, caso contrário, se fosse uma FOFOCA, ele seria publicado pelas revistas Contigo, Caras e outras do mesmo naipe. Não ficaria catalogado entre documentos secretos.
O caos do Rio, fora da ótica triunfalista da mídia, pode ser lido aqui também, num artigo da mais alta importância, porque desnuda problemas que não serão resolvidos pela ocupação, e que, evidentemente, são problemas que não aparecem no horário nobre...
Outros assuntos relevantes estão nos artigos escrito pelo jornalista José de Castro e pelos dirigentes do Conselho Nacional de Educação. O primeiro versa sobre as chuvas que caíram em Belo Horizonte na semana passada e o segundo aborda a questão levantada por um parecer a respeito de uma das obras de Monteiro Lobato.
Temos também um informe precioso para os professores: a possibilidade de baixarem filmes africanos, asiáticos e latino-americanos. E um novo livro sobre a História de Belo Horizonte, próprio para alunos do nível fundamental.
Vejam tudo isso e mais alguma coisa no boletim de hoje.
Bom proveito!



Enviado por Leila Brito e Guilherme Souto:

Vazamento de mensagens causa crise diplomática global
US embassy cables leak sparks global diplomatic crisis
28/11/2010, do jornal britânico Guardian
Tradução do coletivo da Vila Vudu, com colaboração do Viomundo

Os EUA foram lançados em uma crise diplomática mundial com o vazamento, para o jornal britânico Guardian e outros veículos internacionais, de mais de 250 mil telegramas secretos de embaixadas dos EUA, alguns dos quais enviados em fevereiro de 2010.
Na prim
eira matéria de uma série sobre telegramas diplomáticos diários enviados pelas embaixadas dos EUA e classificados como “secretos” o Guardian já pode informar que líderes árabes têm pressionado privadamente em defesa de ataque aéreo contra o Irã e que funcionários de embaixadas dos EUA receberam instruções para espionar líderes da ONU.
Essas duas primeiras revelações já reverberam em todo o mundo. Mas os telegramas secretos aos quais WikiLeaks teve acesso também revelam avaliações feitas por Washington sobre várias outras questões internacionais altamente sensíveis.
Entre os telegramas vazados há notícias de importante alteração nas relações entre China e República Popular Democrática da Coreia, sobre a crescente instabilidade no Paquistão e detalhes dos esforços clandestinos dos EUA para combater a al-Qaeda no Iêmen.
Dentre centenas de outras revelações que causarão furor em todo o mundo, os telegramas detalham:
• Grave temor em Washington e Londres sobre a segurança do programa nuclear do Paquistão, com autoridades alertando que enquanto o país corre o risco de colapso econômico, funcionários públicos poderiam contrabandear material nuclear suficiente para terroristas construirem a bomba;
• Suspeitas de corrupção no governo afegão, com um telegrama alegando que o vice-presidente Zia Massoud estava carregando 52 milhões de dólares em dinheiro quando foi parado durante uma visita ao Emirados Árabes Unidos. Massoud nega que tenha tirado dinheiro do Afeganistão.
• Como os ataques de hacker que forçaram o Google a abandonar a China em janeiro foram orquestrados por um membro importante do Politburo, que deu uma busca com seu nome na versão global do buscador e encontrou artigos que o criticavam pessoalmente.
• A extraordinariamente próxima relação entre Vladimir Putin, o primeiro-ministro russo, e Silvio Berlusconi, o primeiro-ministro italiano, que está causando intensa suspeição nos Estados Unidos. Os telegramas detalham de supostos “presente suntuosos” a contratos lucrativos no setor de energia e o uso, por Berlusconi, de um sombrio italiano que fala russo como intermediário.
•  Alegações de que a Rússia e seus serviços de inteligência estão usando chefes da máfia para praticar operações criminosas, com um telegrama falando que a relação é tão próxima que o país se tornou “um virtual estado mafioso”.
• Críticas devastadoras das operações militares britânicas no Afeganistão por comandantes militares dos Estados Unidos, pelo presidente afegão e por autoridades locais de Helmand. Os despachos revelar desprezo particular pelo fracasso de dar segurança a Sangin — a cidade que custou mais baixas britânicas que qualquer outra no país.
• Declarações impróprias de um integrante da família real britânica sobre uma agência de segurança do Reino Unido em um país estrangeiro.
Os EUA têm contatos particularmente íntimos com a Grã-Bretanha e alguns dos telegramas saídos da embaixada de Londres em Grosvenor Square serão lidos com extremo desconforto em Whitehall e Westminster. Incluem desde sérias críticas políticas contra David Cameron até pedido para que a embaixada fornecesse informações especiais de inteligência sobre membros do Parlamento britânico.
O arquivo de telegramas inclui denúncias específicas de corrupção contra líderes estrangeiros, e duras críticas, feitas pelo pessoal diplomático de embaixadas dos EUA, aos governantes de países onde estão instaladas, desde pequenas ilhas do Caribe até a China e a Rússia.
O material inclui uma referência a Vladimir Putin como “um cão alfa”, a Hamid Karzai como doido, “homem de reações paranóicas” e a Angela Merkel, da qual os norte-americanos dizem que “evita riscos e raramente tem alguma ideia criativa”. E há telegrama em que Mahmoud Ahmadinejad é comparado a Adolf Hitler.
Os telegramas incluem nomes de países envolvidos no financiamento de terroristas e descreve “quase desastre ambiental” há cerca de um ano, com uma carga de urânio enriquecido de um “estado bandido” [ing. “rogue state”]. Há telegramas em que se expõem detalhadamente negociações secretas entre EUA e Rússia sobre um míssil nuclear em Genebra; há também um perfil do líder líbio Muammar Gaddafi, o qual, segundo diplomata dos EUA, andaria por toda parte acompanhado de uma “voluptuosa loira” enfermeira ucraniana.
Os telegramas cobrem as atividades da secretária de Estado Hillary Clinton no governo Obama, e há milhares de arquivos do governo de George Bush. A secretária Clinton comandou pessoalmente essa semana uma tentativa frenética de limitação de danos em Washington, preparando governos estrangeiros para as revelações. Contatou líderes na Alemanha, Arábia Saudita, no Golfo, na França e no Afeganistão.
Embaixadores dos EUA em outras capitais foram instruídos a informar antecipadamente seus respectivos hospedeiros sobre os vazamentos e sobre relatos pouco lisonjeiros ou relatórios cruamente francos de transações entre eles e os EUA, que foram escritos para serem mantidos sob eterno sigilo. Washington enfrenta agora a difícil tarefa de convencer contatos em todo o mundo de que, no futuro, alguma conversação será mantida sob regras confiáveis de sigilo.
“Estamos nos preparando para o que vier e condenamos WikiLeaks pela divulgação de material secreto”, disse o porta-voz do departamento de Estado PJ Crowley. “Porão sob ameaça vidas e interesses. É atitude irresponsável”.
O conselheiro jurídico do Departamento de Estado escreveu ao fundador de Wikileaks Julian Assange e a seu advogado londrino, advertindo que os telegramas foram obtidos por meios ilegais e que a divulgação geraria risco a vida de incontáveis inocentes (…) a operações militares em andamento (…) e à cooperação entre países”.
O arquivo eletrônico contendo os telegramas diplomáticos de embaixadas dos EUA em todo o mundo, ao que se sabe, foi recolhido por um soldado norte-americano no início do ano e entregue a WikiLeaks. Assange repassou o arquivo ao jornal britânico Guardian e a quatro outros jornais: o New York Times, Der Spiegel na Alemanha, Le Monde na França e El País na Espanha. Os cinco jornais planejam publicar excertos dos telegramas mais significativos, mas decidiram nem divulgar o arquivo completo nem publicar nomes que ponham em risco a vida de indivíduos inocentes. WikiLeaks diz que, ao contrário do que teme o departamento de Estado, também planeja divulgar só alguns excertos de telegramas e encobrir as identidades.
Os telegramas divulgados hoje revelam como os EUA usam suas embaixadas como parte de uma rede global de espionagem, com diplomatas encarregados de arrancar não só informações dos seus contatos, mas também detalhes pessoais, como números e detalhes de cartões de créditos, de telefones e, até, material para exames de DNA.
Instruções secretas sobre “inteligência humana” assinadas por Hillary Clinton ou sua antecessora, Condoleeza Rice, instruem os funcionários a reunir informações sobre instalações militares, detalhes de armas e veículos de líderes políticos, além de scans de íris, impressões digitais e DNA.
Os mais controversos alvos dessas ações são os líderes da ONU. Essa específica instrução exigia especificação de “sistemas de telecomunicações e de tecnologia de inteligência usados pelos mais altos funcionários da ONU e respectivas equipes e detalhes das redes VIP privadas usadas para comunicação oficial, incluindo upgrades, medidas de segurança, senhas e chaves pessoais de decodificação”.
Quando o Guardian informou Crowley sobre o conteúdo dos telegramas específicos, o porta-voz do departamento de Estado disse: “Permita-me garantir a você: nossos diplomatas são apenas isso, diplomatas. Não se envolvem em atividades de inteligência. Representam nosso país em todo o mundo, mantêm contatos abertos e transparentes com outros governos e com figuras do mundo privado e reportam ao nosso governo. É o trabalho dos diplomatas há centenas de anos.”
Os telegramas também lançam luz sobre questões diplomáticas mais antigas. Um telegrama, por exemplo, revela que Nelson Mandela ficou “furioso” quando um alto conselheiro impediu que ele se encontrasse com Margaret Thatcher para explicar por que o Conselho Nacional Africano tinha objeções à política britânica de “engajamento construtivo” com o regime do apartheid.
“Entendemos que Mandela desejasse muito encontrar-se com Thatcher, mas [o secretário Zwelakhe] Sisulu argumentou persuasivamente contra o encontro”, segundo o telegrama. E continua: “Mandela já várias vezes dissera o quanto desejava encontrar-se com Thatcher para manifestar as objeções co CNA à política britânica. Surpreendeu-nos portanto que o encontro não tenha acontecido em sua visita a Londres em meados de abril e desconfiamos que os linhas-duras do CNA intrometeram-se nos planos de Mandela”.
Os telegramas diplomáticos dos EUA levam a marca “Sipdis” – secret internet protocol distribution. Foram compilados como parte de um programa que seleciona telegramas considerados moderadamente secretos, mas que podem ser partilhados com outras agências e os descarrega automaticamente nos websites protegidos das embaixadas, e linkados com o sistema de internet Siprnet militar.
São classificados em vários níveis, até “SECRET NOFORN” [ing. no foreigners, “proibidos para estrangeiros”]. Mais de 11 mil telegramas são marcados como “secretos e cerca de 9,000 são “noforn”. As embaixadas de origem da maioria dos telegramas são Ancara, Bagdá, Amã, Kuwait e Tóquio.
Mais de 3 milhões de funcionários e soldados norte-americanos, muitos deles extremamente jovens, têm credencial que lhes dá possibilidade de acesso a esse material, apesar de os telegramas conterem nomes e identificação de informantes estrangeiros e contatos considerados sensíveis em regimes ditatoriais. Alguns dos telegramas são identificados como “protegido” ou “estritamente protegido”.
Na primavera passada, um analista de inteligência de 22 anos, Bradley Manning, foi acusado de ter vazado muitos desses telegramas, junto com um vídeo em que se via a tripulação de um helicóptero Apache matando dois repórteres da agência Reuters em Bagdá, em 2007; material que, depois, foi distribuído por WikiLeaks. Manning está preso e é provável que seja julgado por uma corte marcial. (…)
Um ex-hacker, Adrian Lamo, que denunciou Manning às autoridades norte-americanas, disse que o soldado lhe dissera, em mensagens por chat, que os telegramas diplomáticos mostravam “como o primeiro mundo explora o terceiro, em detalhes”.
Disse também, segundo Lamo, que Clinton “e vários milhares de diplomatas em todo o mundo vão ter um ataque do coração quando acordarem, um belo dia, e descobrirem que todo o arquivo de toda a política externa está acessível ao grande público, em formato que permite pesquisas” (…) “onde quer que haja um posto norte-norteamericano, ali há um escândalo diplomático que será revelado”.
Perguntado sobre por que material tão sensível circulava em rede acessível a milhares de funcionários do governo, o porta-voz do departamento de Estado disse ao Guardian: “Os ataques de 11/9 e o período imediatamente posterior revelaram falhas no sistema de distribuição de informações dentro do governo. Desde os ataquea de 11/9, o governo dos EUA tomou medidas para facilitar significativamente a partilha de informações. Esses esforços visaram a oferecer aos especialistas da diplomacia, aos militares e aos agentes de inteligência e da justiça acesso mais rápido e mais fácil a mais dados, para que pudessem fazer seu trabalho com mais eficácia”.
E acrescentou: “Temos tomado medidas agressivas nas últimas semanas e meses para aumentar a segurança de nossos sistemas e para evitar vazamento de informações”.



A crise no Rio e o pastiche midiático
LUIZ EDUARDO SOARES


Sempre mantive com jornalistas uma relação de respeito e cooperação. Em alguns casos, o contato profissional evoluiu para amizade. Quando as divergências são muitas e profundas, procuro compreender e buscar bases de um consenso mínimo, para que o diálogo não se inviabilize. Faço-o por ética –supondo que ninguém seja dono da verdade, muito menos eu--, na esperança de que o mesmo procedimento seja adotado pelo interlocutor. Além disso, me esforço por atender aos que me procuram, porque sei que atuam sob pressão, exaustivamente, premidos pelo tempo e por pautas urgentes. A pressa se intensifica nas crises, por motivos óbvios. Costumo dizer que só nós, da segurança pública (em meu caso, quando ocupava posições na área da gestão pública da segurança), os médicos e o pessoal da Defesa Civil, trabalhamos tanto –ou sob tanta pressão-- quanto os jornalistas.
Digo isso para explicar por que, na crise atual, tenho recusado convites para falar e colaborar com a mídia:
(1) Recebi muitos telefonemas, recados e mensagens. As chamadas são contínuas, a tal ponto que não me restou alternativa a desligar o celular. Ao todo, nesses dias, foram mais de cem pedidos de entrevistas ou declarações. Nem que eu contasse com uma equipe de secretários, teria como responder a todos e muito menos como atendê-los. Por isso, aproveito a oportunidade para desculpar-me. Creiam, não se trata de descortesia ou desapreço pelos repórteres, produtores ou entrevistadores que me procuraram.
(2) Além disso, não tenho informações de bastidor que mereçam divulgação. Por outro lado, não faria sentido jogar pelo ralo a credibilidade que construí ao longo da vida. E isso poderia acontecer se eu aceitasse aparecer na TV, no rádio ou nos jornais, glosando os discursos oficiais que estão sendo difundidos, declamando platitudes, reproduzindo o senso comum pleno de preconceitos, ou divagando em torno de especulações. A situação é muito grave e não admite leviandades. Portanto, só faria sentido falar se fosse para contribuir de modo eficaz para o entendimento mais amplo e profundo da realidade que vivemos. Como fazê-lo em alguns parcos minutos, entrecortados por intervenções de locutores e debatedores? Como fazê-lo no contexto em que todo pensamento analítico é editado, truncado, espremido –em uma palavra, banido--, para que reinem, incontrastáveis, a exaltação passional das emergências, as imagens espetaculares, os dramas individuais e a retórica paradoxalmente triunfalista do discurso oficial?
(3) Por fim, não posso mais compactuar com o ciclo sempre repetido na mídia: atenção à segurança nas crises agudas e nenhum investimento reflexivo e informativo realmente denso e consistente, na entressafra, isto é, nos intervalos entre as crises. Na crise, as perguntas recorrentes são: (a) O que fazer, já, imediatamente, para sustar a explosão de violência? (b) O que a polícia deveria fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas? (c) Por que o governo não chama o Exército? (d) A imagem internacional do Rio foi maculada? (e) Conseguiremos realizar com êxito a Copa e as Olimpíadas?
Ao longo dos últimos 25 anos, pelo menos, me tornei “as aspas” que ajudaram a legitimar inúmeras reportagens. No tópico, “especialistas”, lá estava eu, tentando, com alguns colegas, furar o bloqueio à afirmação de uma perspectiva um pouquinho menos trivial e imediatista. Muitas dessas reportagens, por sua excelente qualidade, prescindiriam de minhas aspas –nesses casos, reduzi-me a recurso ocioso, mera formalidade das regras jornalísticas. Outras, nem com todas as aspas do mundo se sustentariam. Pois bem, acho que já fui ou proporcionei aspas o suficiente. Esse código jornalístico, com as exceções de praxe, não funciona, quando o tema tratado é complexo, pouco conhecido e, por sua natureza, rebelde ao modelo de explicação corrente. Modelo que não nasceu na mídia, mas que orienta as visões aí predominantes. Particularmente, não gostaria de continuar a ser cúmplice involuntário de sua contínua reprodução.
Eis por que as perguntas mencionadas são expressivas do pobre modelo explicativo corrente e por que devem ser consideradas obstáculos ao conhecimento e réplicas de hábitos mentais refratários às mudanças inadiáveis. Respondo sem a elegância que a presença de um entrevistador exigiria. Serei, por assim dizer, curto e grosso, aproveitando-me do expediente discursivo aqui adotado, em que sou eu mesmo o formulador das questões a desconstruir. Eis as respostas, na sequência das perguntas, que repito para facilitar a leitura:
(a) O que fazer, já, imediatamente, para sustar a violência e resolver o desafio da insegurança?
Nada que se possa fazer já, imediatamente, resolverá a insegurança. Quando se está na crise, usam-se os instrumentos disponíveis e os procedimentos conhecidos para conter os sintomas e salvar o paciente. Se desejamos, de fato, resolver algum problema grave, não é possível continuar a tratar o paciente apenas quando ele já está na UTI, tomado por uma enfermidade letal, apresentando um quadro agudo. Nessa hora, parte-se para medidas extremas, de desespero, mobilizando-se o canivete e o açougueiro, sem anestesia e assepsia. Nessa hora, o cardiologista abre o tórax do moribundo na maca, no corredor. Não há como construir um novo hospital, decente, eficiente, nem para formar especialistas, nem para prevenir epidemias, nem para adotar procedimentos que evitem o agravamento da patologia. Por isso, o primeiro passo para evitar que a situação se repita é trocar a pergunta. O foco capaz de ajudar a mudar a realidade é aquele apontado por outra pergunta: o que fazer para aperfeiçoar a segurança pública, no Rio e no Brasil, evitando a violência de todos os dias, assim como sua intensificação, expressa nas sucessivas crises?
Se o entrevistador imaginário interpelar o respondente, afirmando que a sociedade exige uma resposta imediata, precisa de uma ação emergencial e não aceita nenhuma abordagem que não produza efeitos práticos imediatos, a melhor resposta seria: caro amigo, sua atitude representa, exatamente, a postura que tem impedido avanços consistentes na segurança pública. Se a sociedade, a mídia e os governos continuarem se recusando a pensar e abordar o problema em profundidade e extensão, como um fenômeno multidimensional a requerer enfrentamento sistêmico, ou seja, se prosseguirmos nos recusando, enquanto Nação, a tratar do problema na perspectiva do médio e do longo prazos, nos condenaremos às crises, cada vez mais dramáticas, para as quais não há soluções mágicas.
A melhor resposta à emergência é começar a se movimentar na direção da reconstrução das condições geradoras da situação emergencial. Quanto ao imediato, não há espaço para nada senão o disponível, acessível, conhecido, que se aplica com maior ou menor destreza, reduzindo-se danos e prolongando-se a vida em risco.
A pergunta é obtusa e obscurantista, cúmplice da ignorância e da apatia.
(b) O que as polícias fluminenses deveriam fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas?
Em primeiro lugar, deveriam parar de traficar e de associar-se aos traficantes, nos “arregos” celebrados por suas bandas podres, à luz do dia, diante de todos. Deveriam parar de negociar armas com traficantes, o que as bandas podres fazem, sistematicamente. Deveriam também parar de reproduzir o pior do tráfico, dominando, sob a forma de máfias ou milícias, territórios e populações pela força das armas, visando rendimentos criminosos obtidos por meios cruéis.
Ou seja, a polaridade referida na pergunta (polícias versus tráfico) esconde o verdadeiro problema: não existe a polaridade. Construí-la –isto é, separar bandido e polícia; distinguir crime e polícia-- teria de ser a meta mais importante e urgente de qualquer política de segurança digna desse nome. Não há nenhuma modalidade importante de ação criminal no Rio de que segmentos policiais corruptos estejam ausentes. E só por isso que ainda existe tráfico armado, assim como as milícias.
Não digo isso para ofender os policiais ou as instituições. Não generalizo. Pelo contrário, sei que há dezenas de milhares de policiais honrados e honestos, que arriscam, estóica e heroicamente, suas vidas por salários indignos. Considero-os as primeiras vítimas da degradação institucional em curso, porque os envergonha, os humilha, os ameaça e acua o convívio inevitável com milhares de colegas corrompidos, envolvidos na criminalidade, sócios ou mesmo empreendedores do crime.
Não nos iludamos: o tráfico, no modelo que se firmou no Rio, é uma realidade em franco declínio e tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidade econômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociais predominantes, em nosso horizonte histórico. Incapaz, inclusive, de competir com as milícias, cuja competência está na disposição de não se prender, exclusivamente, a um único nicho de mercado, comercializando apenas drogas –mas as incluindo em sua carteira de negócios, quando conveniente. O modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, pesado, anti-econômico: custa muito caro manter um exército, recrutar neófitos, armá-los (nada disso é necessário às milícias, posto que seus membros são policiais), mantê-los unidos e disciplinados, enfrentando revezes de todo tipo e ataques por todos os lados, vendo-se forçados a dividir ganhos com a banda podre da polícia (que atua nas milícias) e, eventualmente, com os líderes e aliados da facção. É excessivamente custoso impor-se sobre um território e uma população, sobretudo na medida que os jovens mais vulneráveis ao recrutamento comecem a vislumbrar e encontrar alternativas. Não só o velho modelo é caro, como pode ser substituído com vantagens por outro muito mais rentável e menos arriscado, adotado nos países democráticos mais avançados: a venda por delivery ou em dinâmica varejista nômade, clandestina, discreta, desarmada e pacífica. Em outras palavras, é melhor, mais fácil e lucrativo praticar o negócio das drogas ilícitas como se fosse contrabando ou pirataria do que fazer a guerra. Convenhamos, também é muito menos danoso para a sociedade, por óbvio.
(c) O Exército deveria participar?
Fazendo o trabalho policial, não, pois não existe para isso, não é treinado para isso, nem está equipado para isso. Mas deve, sim, participar. A começar cumprindo sua função de controlar os fluxos das armas no país. Isso resolveria o maior dos problemas: as armas ilegais passando, tranquilamente, de mão em mão, com as benções, a mediação e o estímulo da banda podre das polícias.
E não só o Exército. Também a Marinha, formando uma Guarda Costeira com foco no controle de armas transportadas como cargas clandestinas ou despejadas na baía e nos portos. Assim como a Aeronáutica, identificando e destruindo pistas de pouso clandestinas, controlando o espaço aéreo e apoiando a PF na fiscalização das cargas nos aeroportos.
(d) A imagem internacional do Rio foi maculada?
Claro. Mais uma vez.
(e) Conseguiremos realizar com êxito a Copa e as Olimpíadas?
Sem dúvida. Somos ótimos em eventos. Nesses momentos, aparece dinheiro, surge o “espírito cooperativo”, ações racionais e planejadas impõem-se. Nosso calcanhar de Aquiles é a rotina. Copa e Olimpíadas serão um sucesso. O problema é o dia a dia.
Palavras Finais
Traficantes se rebelam e a cidade vai à lona. Encena-se um drama sangrento, mas ultrapassado. O canto de cisne do tráfico era esperado. Haverá outros momentos análogos, no futuro, mas a tendência declinante é inarredável. E não porque existem as UPPs, mas porque correspondem a um modelo insustentável, economicamente, assim como social e politicamente. As UPPs, vale dizer mais uma vez, são um ótimo programa, que reedita com mais apoio político e fôlego administrativo o programa “Mutirões pela Paz”, que implantei com uma equipe em 1999, e que acabou soterrado pela política com “p” minúsculo, quando fui exonerado, em 2000, ainda que tenha sido ressuscitado, graças à liderança e à competência raras do ten.cel. Carballo Blanco, com o título GPAE, como reação à derrocada que se seguiu à minha saída do governo. A despeito de suas virtudes, valorizadas pela presença de Ricardo Henriques na secretaria estadual de assistência social --um dos melhores gestores do país--, elas não terão futuro se as polícias não forem profundamente transformadas. Afinal, para tornarem-se política pública terão de incluir duas qualidades indispensáveis: escala e sustentatibilidade, ou seja, terão de ser assumidas, na esfera da segurança, pela PM. Contudo, entregar as UPPs à condução da PM seria condená-las à liquidação, dada a degradação institucional já referida.
O tráfico que ora perde poder e capacidade de reprodução só se impôs, no Rio, no modelo territorializado e sedentário em que se estabeleceu, porque sempre contou com a sociedade da polícia, vale reiterar. Quando o tráfico de drogas no modelo territorializado atinge seu ponto histórico de inflexão e começa, gradualmente, a bater em retirada, seus sócios –as bandas podres das polícias-- prosseguem fortes, firmes, empreendedores, politicamente ambiciosos, economicamente vorazes, prontos a fixar as bandeiras milicianas de sua hegemonia.
Discutindo a crise, a mídia reproduz o mito da polaridade polícia versus tráfico, perdendo o foco, ignorando o decisivo: como, quem, em que termos e por que meios se fará a reforma radical das polícias, no Rio, para que estas deixem de ser incubadoras de milícias, máfias, tráfico de armas e drogas, crime violento, brutalidade, corrupção? Como se refundarão as instituições policiais para que os bons profissionais sejam, afinal, valorizados e qualificados? Como serão transformadas as polícias, para que deixem de ser reativas, ingovernáveis, ineficientes na prevenção e na investigação?
As polícias são instituições absolutamente fundamentais para o Estado democrático de direito. Cumpre-lhes garantir, na prática, os direitos e as liberdades estipulados na Constituição. Sobretudo, cumpre-lhes proteger a vida e a estabilidade das expectativas positivas relativamente à sociabilidade cooperativa e à vigência da legalidade e da justiça. A despeito de sua importância, essas instituições não foram alcançadas em profundidade pelo processo de transição democrática, nem se modernizaram, adaptando-se às exigências da complexa sociedade brasileira contemporânea. O modelo policial foi herdado da ditadura. Ele servia à defesa do Estado autoritário e era funcional ao contexto marcado pelo arbítrio. Não serve à defesa da cidadania. A estrutura organizacional de ambas as polícias impede a gestão racional e a integração, tornando o controle impraticável e a avaliação, seguida por um monitoramento corretivo, inviável. Ineptas para identificar erros, as polícias condenam-se a repeti-los. Elas são rígidas onde teriam de ser plásticas, flexíveis e descentralizadas; e são frouxas e anárquicas, onde deveriam ser rigorosas. Cada uma delas, a PM e a Polícia Civil, são duas instituições: oficiais e não-oficiais; delegados e não-delegados.
E nesse quadro, a PEC-300 é varrida do mapa no Congresso pelos governadores, que pagam aos policiais salários insuficientes, empurrando-os ao segundo emprego na segurança privada informal e ilegal.
Uma das fontes da degradação institucional das polícias é o que denomino "gato orçamentário", esse casamento perverso entre o Estado e a ilegalidade: para evitar o colapso do orçamento público na área de segurança, as autoridades toleram o bico dos policiais em segurança privada. Ao fazê-lo, deixam de fiscalizar dinâmicas benignas (em termos, pois sempre há graves problemas daí decorrentes), nas quais policiais honestos apenas buscam sobreviver dignamente, apesar da ilegalidade de seu segundo emprego, mas também dinâmicas malignas: aquelas em que policiais corruptos provocam a insegurança para vender segurança; unem-se como pistoleiros a soldo em grupos de extermínio; e, no limite, organizam-se como máfias ou milícias, dominando pelo terror populações e territórios. Ou se resolve esse gargalo (pagando o suficiente e fiscalizando a segurança privada /banindo a informal e ilegal; ou legalizando e disciplinando, e fiscalizando o bico), ou não faz sentido buscar aprimorar as polícias.
O Jornal Nacional, nesta quinta, 25 de novembro, definiu o caos no Rio de Janeiro, salpicado de cenas de guerra e morte, pânico e desespero, como um dia histórico de vitória: o dia em que as polícias ocuparam a Vila Cruzeiro. Ou eu sofri um súbito apagão mental e me tornei um idiota contumaz e incorrigível ou os editores do JN sentiram-se autorizados a tratar milhões de telespectadores como contumazes e incorrigíveis idiotas.
Ou se começa a falar sério e levar a sério a tragédia da insegurança pública no Brasil, ou será pelo menos mais digno furtar-se a fazer coro à farsa.


À espera do dilúvio final
José de Souza Castro

A desculpa é a mesma dos outros anos: choveu mais do que o esperado. Mais dois anos, e o prefeito Márcio Lacerda (PSB), poderá anunciar um número redondo: foi a maior chuva dos últimos 100 anos. Hoje, em entrevista de mais de 11 minutos no MGTV 1ª Edição da TV Globo, ele foi mais modesto: “Chuva como esta não dava em Belo Horizonte há 98 anos”.

No começo da madrugada de terça-feira, boa parte dos 2,45 milhões de moradores da capital mineira dormiam tranquilamente e muitos puderam continuar assim, sem perceber o drama de centenas de pessoas retiradas de suas casas pelo dilúvio. Como registrou horas depois o Portal O Tempo: “Segundo o Centro de Climatologia TempoClima/PUC Minas, em apenas oito horas choveram 145 mm em Belo Horizonte, volume que corresponde a mais de 50% do esperado para todo o mês na capital. De acordo com os bombeiros, até o final desta manhã foram registrados 22 chamados por risco de desabamento, 74 por inundação e 42 solicitações por queda de árvores. Foi a maior chuva na capital desde 1912.”

José Saramago, o genial autor de “Caim”, poderia ter escrito: “Ao princípio pareceu não se notar a diferença do efeito das cataratas que continuamente se despenhavam do céu com um rugido ensurdecedor”. Os efeitos... Vamos ao que escreveu no dia seguinte, quarta-feira, o jornal “Estado de Minas”:

“Falha de avaliação do risco da chuva pode ter sido uma das causas dos transtornos para moradores de três regiões da capital. Embora soubesse da possibilidade de um temporal, a Prefeitura de Belo Horizonte teria decidido não causar pânico à população e nada comunicou aos moradores até o começo da chuva. Segundo meteorologistas, a PBH foi informada na manhã de segunda-feira sobre a previsão de uma tempestade.”

Pois é, quando Deus enviou o dilúvio para apagar os pecados do mundo antigo, ele também só avisou a Noé, a tempo de ele construir a barca. Não avisou a todos os que seriam atingidos, para não causar pânico, certamente. Márcio Lacerda e sua laboriosa equipe aprenderam bem com Deus.

Mas, se não é para avisar, para não criar pânico, por que hoje, na sua amável entrevista à Globo – amável, porque os dois entrevistadores foram muito gentis nessa hora de grande tristeza do nosso alcaide – Márcio Lacerda informou que a prefeitura importou equipamentos de radares meteorológicos, que estão à espera do desembaraço na alfândega, para construir 42 pontos de coletas de dados às margens dos córregos? Eles vão indicar a ocorrência de temporais e “a gente pode avisar com alguma antecedência”, disse o prefeito. Ah, bom...

Márcio Lacerda parece que já tem solução para as enchentes, ao contrário do que ele deixou transparecer em abril último, quando disse que a solução para a greve dos professores municipais era a polícia (não foi preciso, a greve terminou depois de 27 dias, com um reajuste salarial de 4,11% e muitas promessas de melhorias futuras).

O que não faltou na entrevista de hoje foram promessas. Prometeu decretar nos próximos dias Estado de Calamidade Pública numa área, a ser delimitada ainda, atingida pelas enchentes de terça-feira, para ajudar financeiramente os desabrigados e os que sofreram prejuízos. (Disse que no ano passado a prefeitura gastou cerca de R$ 3 milhões para ajudar os que sofreram com as chuvas no Barreiro e “vamos fazer a mesma coisa”.) Prometeu que os radares meteorológicos estarão instalados e funcionando até 2011. Prometeu que o governador Anastasia vai ajudar técnica e financeiramente com as obras de contenção de enchentes. Que serão concluídas as obras em andamento do PAC, que representam gastos municipais, estaduais e federais de R$400 milhões. Que existem mais R$ 400 milhões de recursos assegurados para outras obras que o prefeito prometeu licitar no primeiro semestre de 2011. Que em dois ou três anos serão retiradas as últimas 4 mil famílias (eram 14 mil há oito anos, segundo Lacerda) moradoras em encostas que podem desabar com as chuvas e que todas terão casa-própria construída pelo governo. Que, que, que... Ou, como diria Shakespeare: Palavras, palavras, palavras.

Cético, eu? É que ainda me lembro de começo dos anos 80, quando o então prefeito Hélio Garcia tomou empréstimos internacionais de 20 milhões de dólares para resolver definitivamente o problema da poluição da Pampulha...

O atual prefeito diz que 400 milhões de reais estão sendo gastos, 400 milhões estão assegurados, mais 300 milhões de Contagem também ajudarão a conter as enchentes na capital, mas que esses 1,100 bilhão serão insuficientes.

De fato, não haverá bueiro suficiente para escoar tanto dinheiro público, que, na área de saneamento, tem o mau hábito de se esvair também pelos bolsos dos políticos e dos empreiteiros.

Mas eu nem sei se haverá dinheiro, pois o próprio prefeito reconhece que está fazendo mesuras com o chapéu alheio. Pois prometeu na entrevista resolver problemas em três anos, mas avisou: se ele fosse gastar apenas recursos da Prefeitura, seriam necessários pelo menos 10 anos. Espero que tenha combinado com os russos.

Enquanto isso, Márcio Garcia – ops! Lacerda – poderia tomar pelo menos uma medida efetiva. Mandar suspender imediatamente aquela campanha publicitária que faz a alegria do Departamento Comercial da TV Globo, por exemplo, dizendo como é bom viver em Belo Horizonte. Talvez assim deixasse de atrair, para a capital, multidões de desesperançados do interior do Estado em busca da nova Canaã e que acabam agravando o problema das encostas e das áreas sujeitas às inundações.


Enviado por Laura Nogueira

Publicado na Folha de São Paulo de 25 de novembro

A questão étnico-racial na educação do país
ANTONIO CARLOS C. RONCA, FRANCISCO APARECIDO CORDÃO e NILMA GOMES

O Conselho Nacional de Educação (CNE) tem função normativa e é sua atribuição, como órgão de Estado, pronunciar-se sobre temas relativos à educação nacional. A questão étnico-racial é um desses temas.
Recentemente, a Câmara de Educação Básica (CEB) aprovou, por unanimidade, o parecer CNE/CEB nº 15/2010, com orientações quanto às políticas públicas para uma educação antirracista, no qual faz referência ao livro "Caçadas de Pedrinho", de Monteiro Lobato.
O referido parecer foi elaborado a partir de denúncia recebida, e no seu posicionamento apresenta ações e recomendações; dentre estas, reafirma os critérios anteriormente definidos pelo MEC para análise de obras literárias a serem adotadas no Programa Nacional Bibl ioteca da Escola (PNBE).
Em nenhum momento a CEB cogitou a hipótese de impor veto a essa obra literária ou a outra similar, impondo qualquer forma de censura, discriminação e segregação, seja com relação a grupos, segmentos e classes sociais, seja com relação às suas distintas formas de livre criação, manifestação e expressão.
O CNE entende que uma sociedade democrática deve proteger o direito de liberdade de expressão e, nesse sentido, não cabe veto à circulação de nenhuma obra literária e artística. Porém, essa mesma sociedade deve também garantir o direito à não discriminação, nos termos constitucionais.
Reconhecendo o importante valor literário da obra de Monteiro Lobato, especificamente do livro "Caçadas de Pedrinho", mas também sendo coerente com todos os avanços da legislação educacional brasileira, o parecer discute a presença de estereótipos raciais na literatura e apresenta sugestões e orientações ao MEC, à e ditora e aos que atuam na formação de professores.
Uma dessas orientações é a de que a editora tome o mesmo cuidado em relação à temática étnico-racial como o que já foi adotado em relação à questão ambiental no livro, sugerindo a inclusão, na apresentação, de uma nota de esclarecimento, a fim de contextualizar a obra, sem perder de vista o seu valor literário.
Mais do que focar a análise no autor em si, o que está em questão é colocar em pauta a necessária discussão sobre a temática étnico-racial na educação e sua efetivação como política pública.
O CNE está aberto ao debate. A repercussão do seu posicionamento revela o quanto ainda é preciso falar sobre a questão racial e discutir formas de superação do racismo e o quanto esse é um tema de interesse nacional.
Os receios, as ressalvas e os apoios feitos ao parecer são compreendidos pelo CNE, especialmente no que tange à necessidade de se contextualizar obras clá ssicas.
Entendemos que, assim como é importante o contexto histórico em que se produziu a obra, tão ou mais importante é o contexto histórico em que se produz a leitura dessa obra. É preciso considerar quem são os leitores e que efeitos de sentidos, usos e funções serão atribuídos a determinada obra na atualidade. A obra permanece, mas os leitores e a sociedade mudam.
É em função desse novo contexto que cabe, sim, interrogar em que condições a sociedade e, sobretudo, a escola lerão obras produzidas em momentos nos quais pouco se questionava o preconceito racial e o racismo. O propósito central do parecer e do CNE é, portanto, pautar a questão étnico-racial como tema relevante da educação nacional.
________________________________________
ANTONIO CARLOS CARUSO RONCA é presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE).
FRANCISCO APARECIDO CORDÃO é presidente da Câmara de Educação Básica do CNE.
NILMA GOMES é a relatora do parecer nº 15 da Câmara de Educação Básica do CNE.



Livro

HISTÓRIA DE BELO HORIZONTE

Obra didática para as séries iniciais do ensino fundamental.
Apresenta duas unidades:

Primeira unidade: com quatro capítulos organizados segundo o critério temporal ou cronológico. Aborda fatos e processos da História da capital mineira, desde a ocupação inicial do território, com a Fazenda do Cercado, até a realidade da metrópole belo-horizontina no século XXI.

Segunda unidade: temática, com seis capítulos sobre histórias setoriais da cidade - moradias, transportes, comércio, educação, saúde e lazer e cultura.

Principais características da obra:
- texto didático orientado pelas temáticas da atualidade e conforme diretrizes dos PCN;
- muito bem ilustrada, com muitas fotografias e desenhos didáticos;
- divertida, com muitas tirinhas, charges e vários fatos engraçados da História da cidade;
- atividades orais para o aluno ao longo dos capítulos e atividades que exigem registro somente ao final do estudo dos capítulos.

O jornalismo ‘independente’ de Ali Kamel, a ‘bomba’ do Faustão que parou Ipanema. E mais: Procter & Gamble, Grendene e Coca-Cola
Leia em






O Estado não caiu de Marte
Na abertura da primeira Conferência do Desenvolvimento, nesta quarta-feira, em Brasília, o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães defendeu que o Brasil precisa investir em planejamento e no incremento das taxas de desenvolvimento do país, especialmente em áreas estratégicas como educação, saúde e cultura. A idéia do planejamento, lembrou, ainda tem muitos inimigos, dentro e fora do Brasil. "Ela não é muito aceita por aqueles que pensam que é o mercado que deve decidir sobre o planejamento". O fracasso do Consenso de Washington, porém, recoloca essa questão na ordem do dia. O artigo é de Katarina Peixoto.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17211&boletim_id=795&componente_id=13196




III SIMPÓSIO NACIONAL ANÔNIMOS NA HISTÓRIA.
TEMÁTICA: História e Direitos Humanos - 09 a 11 de dezembro do corrente ano. Auditório da Reitoria. UFS.
simposioanonimos.com
Na abertura teremos a homenagem a 11 (onze) anônimos da História. Entregaremos troféus a sujeitos anônimos que trabalharam ou trabalham com os Direitos humanos e não são (re) conhecidos pelo grande público. Um dos homenageados é um pescador que comia ovos de tartaruga e matava esse animal para sua alimentação e atualmente tornou-se educador de outros pescadores para não cometerem o mesmo que no passado ele fizera. E o que isto tem a ver com os Direitos Humanos? É só pensar no direito a natureza, a vida... e ao respeito aos outros (animais).
Outro homenageado é um médico que atuou nos primeiros tempos dos casos da AIDS em Sergipe. Também serão homenageados aqueles que trabalham ou trabalharam com moradores de (na) rua, com presos, com a terceira idade e com as minorias sociais, etc. Incluem-se nessa homenagem um representante dos alunos da terceira idade que participaram do curso de historia de Sergipe (carga horária 180 horas) e sujeitos ordinários, perscrutados por alunos das disciplinas Temas de História de Sergipe I e II do curso presencial e à distância. Os discentes pesquisaram, com auxilio do professor Dr. Antonio Lindvaldo Sousa, vários homens e mulheres acima de 65 (sessenta e cinco) anos de idade, moradores em diversos lugares do território sergipano. Tivemos mais de 50 entrevistas de História oral para escolher 3 (três) homenageados. A maioria das entrevistas contem memórias que nos fazem pensar a História de Aracaju e outras localidades de Sergipe a partir do "olhar" não oficial. Suas trajetórias de vida nos fazem refletir sobre os caminhos diversos da História. Entre essas entrevistas, destaquemos a memória de um descendente de índios e um vaqueiro. Ambos são personagens anônimos da história de Sergipe nem sempre “ouvidos” como parte das fontes que nos chegam aos bancos escolares.
As homenagens trazem auto-estima aos “anônimos” e à comunidade de que eles fazem parte.
Com este propósito, a universidade corrobora para diminuir a distância entre ela e a sociedade.



Audiovisual das Américas, Diversidade Cultural e Mídia Digital
29 de novembro a 12 de dezembro
Pioneiro no país, Imagem dos Povos irá oferecer parte de seu acervo de filmes pela internet
19 filmes serão disponibilizados no site oficial do evento para escolas e associações comunitárias entre os dias 29 de novembro e 12 de dezembro
O festival internacional IMAGEM DOS POVOS realizará mais uma ação para aproximar o público das produções audiovisuais das Américas e África, entre os dias 29 de novembro e 12 de dezembro. Durante esse período e pela primeira vez no país, um Festival disponibilizará, durante 14 dias para escolas, associações comunitárias e organizações culturais o acesso gratuito via internet ao repertório de filmes africanos, caribenhos e afro americanos. A iniciativa do festival faz parte também das atividades comemorativas do mês da consciência negra.
O repertório de filmes estará disponível no site www.imagemdospovostv.com e serão exibidos por streaming. A escola, organização ou associação interessada em acessar os filmes deve solicitar a inscrição através do e-mail iptv@imagemdospovos.com.br. Esta mensagem será respondida com uma senha de acesso que terá a validade de 24 horas a partir do primeiro acesso. Cada senha dará direito a acesso a apenas um filme por vez, no entanto, uma mesma instituição pode solicitar acesso a filmes diferentes durante o período de exibição via internet.
Os filmes poderão ser assistidos diretamente na tela do computador ou conectados em projetores ou aparelhos de televisão. No entanto, é necessário estar conectado pela internet durante todo o tempo da projeção. Caso seja necessário, no espaço de 24 horas, a sessão poderá ser interrompida e reiniciada.
A seleção de filmes:
Os filmes que estarão disponíveis na internet foram organizados em três blocos, segundo sua origem:
África: Serão disponibilizados 16 filmes dirigidos por jovens cineastas africanos. Os filmes foram divididos em cinco programas diferentes pela curadora Mahen Boneti:
Primeiro programa - A idade da Inocência
Segundo programa - Cinema Popular (o Chamado de Nollywwod)
Terceiro programa - Libertação Popular (O espírito da Independência)
Quarto programa - Popular Longing for Home (Procura por Novos Espaços)
Quinto programa - Redemption.
Caribe: No segundo bloco estão reunidas produções relacionadas com o Caribe. Serão apresentados dois programas dirigidos por Steve e Sthèphanie James com produção da Shakti Productions de Guadalupe no Caribe. Esses dois programas apresentam as experiências de mulheres afro caribenhas em diversos lugares do mundo.
Brasil: O terceiro bloco é composto de uma animação realizada em Belo Horizonte “Oxossi e o pássaro das feiticeiras”, do diretor Tatu Guerra.
A sinopse completa dos filmes disponíveis em cada bloco está disponível no endereço: www.imagemdospovostv.com.




O Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas (CPDOC/FGV) convida para a palestra Think Tanks: The Global, Regional and National Dimension, com o professor James McGann.
Dr. McGann é Senior Fellow no Foreign Policy Research Inistitute, onde dirige o Think Tanks and Civil Societies Program e coordena o International Survey of Think Tanks que avalia a influência política e econômica de 817 think-tanks em 95 países.
Haverá tradução simultânea.
Think Tanks: The Global, Regional and National Dimension
Dr. James McGann (Senior Fellow, Foreign Policy Research Institute
Data: 7 de dezembro, 17h
Local: Auditório 12º andar - Fundação Getulio Vargas
Praia de Botafogo 190, Rio de Janeiro
Dúvidas ou informações sobre este evento, escreva para ri@fgv.br.
A FGV não permite o acesso de pessoas com shorts ou bermudas nem com sandálias tipo havaiana.


Concurso Docente UNESP/Rio Claro
Sociologia e História Econômica

Acham-se abertas, nos termos do Despacho do Despacho nº 1346/2010-RUNESP, de 04, publicado no Diário Oficial do Estado – DOE – Poder Executivo – Seção I de 05.11.2010, com base no Estatuto e Regimento Geral da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – UNESP, bem como na legislação em vigor, as inscrições para o concurso público de provas e títulos para provimento de 01 (um) cargo de PROFESSOR ASSISTENTE, com titulação mínima de Doutor, em Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa – RDIDP, junto ao Departamento de Planejamento Territorial e Geoprocessamento do Instituto de Geociências e Ciências Exatas do Campus de Rio Claro, no conjunto de disciplinas “Sociologia” e “História Econômica do Brasil”.

INSCRIÇÕES
2.1. inscrições serão recebidas, em dias úteis, no período de 24.11.2010 a 03.01.2011,
no horário das 9 às 11 e das 14 às 17 horas, na Seção de Comunicações,
à Av. 24-A, 1515 – Bairro Bela Vista – Rio Claro-SP.